Português: contexto, interlocução e sentido



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. Acesso em: 7 nov. 2012.

A função crítica da ironia

É frequente encontrarmos ironia em diferentes textos com os quais entramos em contato diariamente. Para o desenvolvimento da nossa competência de bons leitores, é essencial que saibamos identificar a ocorrência da ironia nos textos, pois somente assim seremos capazes de dar a esses textos a interpretação pretendida pelo seu autor.

Observe o cartum.

Angeli

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© ANGELI


ANGELI. Folha de S.Paulo. São Paulo, 25 abr. 2005.
Página 170

O cartum é um gênero textual que tem como uma de suas características promover uma reflexão crítica sobre situações políticas, econômicas e sociais da atualidade.

Espera-se que, em uma sociedade democrática, todos os cidadãos tenham direitos e deveres iguais. No cartum, observa-se uma família de brasileiros pobres barrada à porta do Clube Brasil por não serem “sócios”.

É irônico que brasileiros pobres, vivendo em um país supostamente democrático, não possam participar da “festa”. Esse termo, usado também em sentido irônico, leva a concluir que apenas os privilegiados (os “sócios”) têm direito, em uma sociedade com grande desigualdade social, de fazer parte do “clube da democracia” a que, constitucionalmente, todos deveriam ter acesso. O cartunista, por meio da ironia, denuncia a existência no Brasil de diferentes “categorias” de cidadãos.

A ironia como recurso literário

A ironia é um recurso muito utilizado por autores de textos literários. Em alguns casos, ela chega a definir um estilo. É o que acontece na obra de Machado de Assis. Um narrador descrente da condição humana, como Brás Cubas, faz da ironia uma verdadeira arma para denunciar a hipocrisia de seus semelhantes.

Vejamos um exemplo.

Óbito do autor

[...] expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia — peneirava — uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso que proferiu à beira de minha cova:

— “Vós que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que têm honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado”.

Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei.

ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Ateliê, 2001. p. 69-70. (Fragmento).

Óbito: morte.
Finado: morto.
Apólices: ações, títulos de uma companhia ou de uma sociedade anônima.

Na cena, Brás Cubas narra seu próprio enterro. Quando fala dos poucos amigos que acompanharam a cerimônia, destaca um dos “fiéis da última hora” que chegou a comparar o estado da natureza à tristeza provocada pela morte de Brás. O comentário final do narrador revela a força da sua ironia e desnuda os interesses do amigo “fiel”: “Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei”. Essa observação obriga o leitor a reavaliar os motivos que levaram esse “amigo” a fazer um discurso emocionado. Na verdade, era alguém movido somente por interesses financeiros (iria herdar algumas apólices) e não por um sentimento sincero.



ATIVIDADES

Observe atentamente a charge a seguir para responder às questões 1 e 2.



Rico

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© RICO


RICO. Postado em 29 set. 2011. Disponível em: . Acesso em: 3 mar. 2016.
Página 171

1. O humor da charge é desencadeado pela pergunta feita pelo frentista após o comentário do consumidor. Como deve ser entendido o desejo manifestado pelo consumidor?

2. Embora o frentista dirija duas perguntas ao consumidor, o leitor da charge deve compreender que ele está, na verdade, fazendo um comentário. Qual a natureza desse comentário? Explique.

No texto a seguir, Gregorio Duvivier trata de forma bem-humorada de uma questão polêmica: o conflito entre taxistas e motoristas particulares que usam o aplicativo chamado Uber. Leia-o atentamente para responder às questões de 3 a 5.



Protesto contra excelência

Nós, taxistas, gostaríamos de protestar contra o excelente serviço prestado pela empresa Uber. Do jeito que a coisa anda, tudo indica que, em breve, todo passageiro vai querer respeito, conforto e educação.

Outro dia um passageiro veio me pedir pra abaixar o som. Aí você me pergunta: o carro é dele? Não. Então por que é que ele quer mandar no volume? Se o motorista quer digitar no WhatsApp enquanto dirige falando no Nextel e ouvindo a rádio do pastor é um direito dele.

[...]


Meu colega tava parado no ponto e veio um passageiro querendo ir pro subúrbio. O colega recusou. É direito dele: o colega simplesmente não estava com vontade de ir para o subúrbio, era muito fora de mão para ele, não iria ter passageiro para ele no subúrbio [...]. O passageiro chamou um Uber. Daqui a pouco não vai mais ser permitido recusar um passageiro só porque a gente não foi com a cara dele.

[...]


DUVIVIER, Gregorio. Folha de S.Paulo. São Paulo, 27 jul. 2015. Disponível em:
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