No entanto, o que ele achava era sem dúvida irrelevante. Alguém obviamente acreditava mesmo nisso — com uma intensidade que o deixava disposto a matar homens inteiramente inocentes, em todas as partes do mundo. Se essa era a motivação dos assassinos, que importância tinha ser ou não racional?
Era o que dizia a si mesmo. Mas algo continuava a preocupá-lo. Algo naquele homem e seus livros; alguma coisa no respeito que TC tinha por ele. Algo na própria TC, aliás, Tova Chaya. Essas pessoas não eram maníacas de olhos esbugalhados. Eram guardiães de uma antiga tradição que resistira desde a cidade de Sodoma. A historia dos 36 havia passado tranqüilamente de geração a geração, desde os dias de Abraão, em séculos de perambulações da Babilônia ao leste europeu, e agora aos Estados Unidos. Os judeus não eram excêntricos, obcecados por fantasias; não pelo que ele conhecia. Suas conversas com TC sempre haviam projetado a mesma impressão: que o judaísmo não se preocupava mais com o sobrenatural do que com a maneira como os seres humanos tratavam uns aos outros aqui e agora. Não pareciam acreditar em discos voadores nem em aleijados jogando fora as muletas. Tinham convicções mais realistas que isso. Portanto, se acreditavam na presença oculta de 36 homens bons, talvez houvesse um motivo.
Outra coisa atormentava os instintos em geral céticos de Will. Se não houvesse descoberto por si mesmo, jamais teria acreditado nisso. Mas Macrae e Baxter, Samak em Bancoc e Curtis em Londres tinham se encaixado à perfeição na descrição do rabino. Haviam, na verdade, feito atos de rara bondade — e em total segredo. Evitaram a publicidade, exatamente como exigia a lenda. (O forte palpite de Will era que, até ele começar a investigar, os atos justos de Baxter e Macrae, pelo menos, haviam passado inteiramente despercebidos.) As quatro pessoas de que tinha conhecimento tinham se disfarçado de pecadores, pessoas que seriam mais maltratadas que reverenciadas. Um cafetão e um político.