O rabino pareceu muito melancólico e, de repente, muito velho. Não terminou a frase.
Will sentiu-se culpado. Não pessoalmente — sabia que não era culpado pela partida de TC todos aqueles anos atrás. Mas sentia-se culpado como — lutava para explicar-se —, como um representante do mundo moderno. Era isso. Era a modernidade, os Estados Unidos, que haviam atraído a jovem Tova Chaya, levando-a para longe das rotinas e ritmos que haviam modelado as vidas dos judeus durante séculos, fosse na Rússia rural ou em Crown Heights. Era Manhattan, os reluzentes prédios de vidro, as rádios, os jeans colados no corpo, Domino's Pizza, blockbusters no Cineplex, roupas de marca, HBO, revista Glamour, Andy Warhol no Museu de Arte Moderna, patinação no Central Park, American Express, compras online, Universidade de Columbia, sexo fora do casamento — tudo isso a levara embora. Como poderia a conformidade medieval da vida hassídica competir? As roupas sem graça, o calendário padronizado, todos os limites — sobre o que se podia comer, estudar, ler ou desenhar, sobre quem se podia amar. Não admirava que TC tivesse escapado.
Ainda assim, Will sentia que TC tinha perdido algo partindo. Ouvia isso na voz do rabino Mandelbaum e vira isso nos olhos dela. Sentira isso em pessoa naquelas poucas horas, antes de ser agarrado e submetido à interrogatório na noite de sexta-feira. Aquele lugar tinha alguma coisa que ele mal conhecera, sendo criado na Inglaterra ou vivendo como adulto nos Estados Unidos. A palavra branda para isso era "comunidade". As pessoas fantasiavam com demasiada freqüência a respeito. Em sua terra natal, o mito da aldeia inglesa, onde todos se conhecem, ainda exercia um poderoso fascínio, embora ele jamais reconhecesse isso de fato. Nos Estados Unidos, os bairros residenciais cercados por grades gostavam de se imaginar como comunidades — com seus transportes solidários e festas em casa —, mas não tinham o que Will vira em Crown Heights.
Ali, as pessoas envolviam-se tanto umas com as outras quanto uma única e grande família. Um elaborado sistema de bem-estar em que cada um era provedor do outro, como se sacassem de um fundo comum. Crianças entravam e saíam das casas umas das outras. Ninguém parecia estranho. TC havia explicado que a claustrofobia às vezes era sufocante: tinha de sair para respirar. Mas também descreveu uma vida calorosa e partilhada que jamais tornaria a ter.