Sam bourne o código dos justos



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Merda.

Não, apenas andei me perguntando se deixei escapar alguma coisa que não percebi a princípio.

— Ah, eu certamente imaginaria isso.

Outra alfinetada.



  • Precisa ser muito cuidadoso, William. Muito cuidadoso. O jor­nalismo às vezes é um negócio perigoso. Nada é mais importante que a matéria, é o que sempre dizemos. E quase sempre é verdade. Mas não inteiramente. Há sempre uma coisa muito mais importante que a ma­téria, William. Sabe qual é?

  • Não, senhor.

  • É a sua vida, William. É dela que você deve cuidar. Portanto, guarde o que eu digo. Seja muito cuidadoso. — Fez uma longa pausa antes de continuar. — Direi a Harden que você vai tirar uns dias de descanso.

Com isso, o editor retirou-se de volta à penumbra e começou seu majestoso deslizar em direção à editoria "Nacional". Will desabou na cadeira de Walton e suspirou. McDougal achou que ele era um droga­do, prestes a enfiar os pés pelas mãos e levar consigo o New York Times.

E agora ia "tirar uns dias de descanso". Parecia um eufemismo ad­ministrativo para suspensão, enquanto investigavam a veracidade das matérias sobre Macrae e Baxter. Fora por isso que o livrinho de anota­ções desaparecera? Teria Townsend levado como prova?

Ainda segurava o globo de neve de Saddam, agora embaçado pela umidade da mão. Segurara-o com força durante toda a conversa com Townsend. Não deve ter parecido nada digno: não apenas os olhos ar­regalados, mas as mãos fechadas. Ao abrir os dedos, viu-a mais uma vez — a chavezinha simples que sem dúvida abriria a gaveta da mesa de Walton. Sabia que era loucura experimentá-la, após receber quase uma advertência formal do homem mais importante do jornalismo dos EUA. Mas não tinha escolha. Sua mulher era refém, e aquele livrinho sem dúvida tinha a pista para libertá-la.

Olhou à esquerda, à direita, e mais uma vez às suas costas, para ver se havia alguém por perto. Virou-se num círculo completo, ciente de que Townsend o surpreendera por trás. Então, num único e rápido mo­vimento, arrancou a chave da fita adesiva, abaixou-se e enfiou-a na fe­chadura. Uma tentativa, e ela girou.

Dentro havia diversas pastas castanho-claras bem-arrumadas. En­tre elas, muito mal escondida, a reveladora espiral de metal branco de um bloco de repórter. Will puxou-a e viu o rabisco na capa grossa.

Brownsville.

Minha nossa. Amy Woodstein não tinha brincado: Walton roubara seu livrinho de anotações. Só Deus sabia por quê. A matéria já havia sido publicada. Não tinha informação nenhuma a ser dada. Que uso poderia ter para ele? Will tirou isso da mente: já havia quebra-cabeças o suficiente a resolver sem incluir o bizarro hábito de cleptomanía jornalística de Walton.

Queria começar a folhear o livro logo, mas sabia que primeiro pre­cisava fechar a gaveta, repor a chave no lugar e voltar à sua mesa — tudo sem ser visto. Exatamente contra qual possibilidade se protegia, não tinha certeza. Já havia sido flagrado pelo editor; o estrago estava feito.

Apesar disso, teve o cuidado de debruçar-se sobre sua própria mesa antes de abrir o livro. Criou um método. Primeiro, a rápida busca por alguma coisa a que não dera importância antes: uma anotação estranha que não vira, uma mensagem rabiscada em outra caligrafia que não a sua. Talvez, por alguma feitiçaria ainda obscura, Yosef Yitzhok houvesse enfiado uma mensagem naquelas páginas. Procure no seu trabalho.

Folheou rápido, examinando as frases à procura de algo desconhe­cido. Nada, apenas sua própria letra. A redação estava tão silenciosa, a CNN na noite de sábado ficava muda, que Will ouvia as páginas vira­rem. Ouvia seu próprio cérebro.

Ficou brevemente excitado por duas frases que lhe saltaram aos olhos, com a nítida caligrafia de outra pessoa, mas acabou constatando tratar-se dos dados de contato de Rosa, a mulher que encontrara o corpo de Macrae, escritos com a própria letra dela. Agora lembrava que lhe tinha prometido enviar uma cópia da matéria assim que fosse publicada.

Não encontrou nenhum número de telefone misterioso, nenhuma mensagem secreta — não havia nada de mais dentro do seu livrinho de anotações, guardado na gaveta de Walton desde Deus sabe quando.

Em vez disso, teria de olhar muito atentamente a única pista que sabia que aquele livro de fato continha, aquilo que o levara de volta à redação. Ali estava, numa das últimas páginas, circulada em asteris­cos: a citação que valera a matéria, a de Letitia, a devotada esposa que pensara antes em se prostituir do que deixar o marido na cadeia. O homem que mataram ontem à noite talvez tenha pecado todos os dias da vida que Deus lhe deu, mas foi o homem mais justo que já conheci.

Num instante, viu-se de volta a Montana, falando com Beth ao ce­lular. Tinha sido, deu-se conta, a última conversa que tiveram antes de ela ser seqüestrada. Ele lhe contava o dia que passara cobrindo a vida e a morte de Pat Baxter. Ouvia a própria voz, falando animado, antes de compreender que Beth estava a quilômetros de distância.

"Sabe o que é estranho, fiquei logo impressionado porque ninguém usa essa palavra, ou quase nunca: a cirurgiã que operou Baxter usou a mesma palavra que aquela Letitia. Justo. Usaram até da mesma ma­neira: 'a pessoa mais justa que já conheci', o 'ato mais justo'. Não é estranho?"

Não dera continuidade à questão. Logo compreendera que Beth estava em outra, preocupada com o problema que devia preocupá-lo: não conseguirem ter um filho. Sentiu a garganta ficar seca; a idéia de que Beth podia morrer sem conhecer a experiência da maternidade.

Afastou aquele pensamento da cabeça, fitando sua própria caligra­fia na página. O homem mais justo que já conheci.

Will tinha flertado com a idéia de destacar essa repetição misteriosa quando escrevia a matéria sobre Baxter, mas a descartara quase imedia­tamente. Pareceria autocomplacente demais observar uma semelhança entre duas matérias cujo único verdadeiro elo era sua assinatura. Baxter e Macrae viviam em extremos opostos do país; as mortes dos dois ob­viamente não tinham qualquer relação entre si. Noticiar uma ligação entre dois assassinatos aleatórios só fazia sentido jornalístico se as vítimas fossem famosas, os detalhes já presentes na imaginação dos leitores. Não se tratava disso, decididamente, e por isso Will descartara. Só havia voltado a pensar no caso naquela noite, quando ele e TC se instalaram de cada lado do mendigo pregador no McDonald's. Cada versículo dos Provérbios 10 que ele entoara parecia conter a mesma palavra, repetida com demasiada freqüência para ser coincidência. Justo.

Mas os assassinatos não podiam estar relacionados. Gigolôs negros em Nova York e loucos brancos na área rural de Montana não se mis­turavam nos mesmos círculos nem tinham os mesmo inimigos. Haviam vivido e morrido em mundos à parte.

E, no entanto, tinha alguma coisa estranhamente semelhante nes­sas duas histórias excêntricas. Envolviam homens que pareciam sus­peitos, mas que haviam feito uma boa ação. Ou melhor, uma ação extraordinariamente boa. Justa. Os dois tinham sido assassinados, e ne­nhum suspeito fora preso em ambos os casos.

Will girou a cadeira ao contrário e ficou de frente para a tela do computador. Navegou no site do Times e encontrou sua matéria sobre Macrae. Ia ler o texto como um médico-legista, tentando ver se havia algo mais para dar seguimento.


... Fontes policiais falam de um brutal ataque afaça, com múltiplas pu­nhaladas perfurando o abdome da vítima. Moradores dizem que o estilo do assassinato combina com a moda mais recente entre as gangues, ou nas palavras de um deles: "Facas são a febre do momento."
Os métodos de matar foram inteiramente diferentes. Baxter tinha sido baleado; Macrae, esfaqueado. Will abriu outra janela na tela, per­mitindo-lhe abrir a matéria sobre Baxter. Deslizou o texto, à procura dos parágrafos com o detalhe do médico-legista, a hora e a causa da morte. Por fim chegou à frase que buscava.
Inicialmente, os colegas do Sr. Baxter na milícia suspeitaram de um caso macabro de roubo de órgãos. Sem saber de seu anterior ato de filantropia, imaginaram que a vítima perdera o rim na noite da sua morte. Como para acrescentar mais detalhes a essa teoria, há sinais de anestesia re­cente — uma marca de agulha — no cadáver.
Will continuou lendo, à procura de mais, como se nunca houvesse lido a matéria antes. Agora queria amaldiçoar quem quer que a escrevera: nada mais havia sobre a injeção misteriosa. Fora apenas deixada em suspense.

Enfiou a mão na bolsa para recuperar o livrinho de anotações atual, o que havia levado para Seattle. Folheou as páginas para encontrar a entrevista com Geneviève Huntley, a cirurgiã que removera o rim de Baxter. Lembrou a conversa, sentado no banco da frente do carro alu­gado, com o celular no ouvido. Deixara-a falar, cauteloso para não interrompê-la. Segundo as anotações à sua frente, ele nem havia per­guntado sobre a recente marca de agulha. Refletindo melhor, entendia por quê. Tinha descartado todo o negócio assim que a cirurgiã lhe fala­ra da operação. A história havia mudado de roubo de órgãos para o homem justo, e esse detalhe inconveniente fora esquecido. Ele tinha esquecido. Além disso, Geneviève dissera que não havia ocorrido ou­tra cirurgia; portanto, a idéia de injeção recente não se encaixava.

Mas agora folheava de trás para frente algumas páginas para ler so­bre seu encontro com o médico-legista e homem de Oxford, Allan Russell. "Contemporânea" foi seu veredito sobre a marca de agulha. Estranho, mas inescapável: os assassinos de Baxter haviam-no anestesiado primeiro.

Will tornou a clicar na matéria de Macrae. Nenhuma conversa de injeções. Apenas um frenético esfaqueamento. Recostou-se na cadeira. Lá se ia outro palpite. Achara que ia provar que aquelas duas mortes de algum modo se relacionavam. Não apenas a estranha coincidência da palavra "justo", mas uma coisa física. Uma verdadeira ligação que pudesse sugerir um padrão. Mas não encontrou nada. O que havia conse­guido? Duas mortes que tinham em comum bons sujeitos como vítimas. Só isso até então. Num dos casos, o de Baxter, algo estranho: ele fora se­dado antes de ser assassinado. O mesmo não ocorrera com Macrae.

Ou melhor, Will não tinha a menor idéia se era verdade ou não. A polícia não mencionara isso — mas também ele não perguntara. Não vira o corpo de Macrae; não entrevistara o médico-legista. Não fizera esse tipo de entrevista. E se não perguntara, não podia saber. Afinal, a morte de Macrae dificilmente fora um grande acontecimento. À parte alguns resumos nas edições da noite, nenhum jornal publicara muita coisa sobre o assunto — até sair a sua matéria no New York Times, claro.

Pegou instantaneamente o celular e procurou a agenda de telefo­nes. Só uma pessoa podia ajudar. Ligou para Jay Newell.



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