Sam bourne o código dos justos


DEZESSEIS SEXTA-FEIRA, 20H20, CROWN HEIGHTS, BROOKLYN



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DEZESSEIS
SEXTA-FEIRA, 20H20, CROWN HEIGHTS, BROOKLYN
A mão deixou seu ombro e foi substituída por mais duas em cada braço. Foi flanqueado por dois homens que imaginou não terem mais de 20 anos, porém muito mais altos e fortes que ele. Um tinha uma barba avermelhada, o outro apenas uns tufos de pêlo no queixo. Ambos olhavam direto para frente enquanto o forçavam a caminhar com os braços presos às costas através da multidão. Will estava chocado demais para gritar e, de qualquer forma, ninguém o escutaria. Naquela aglomeração apertada, ele sabia que as pessoas mal dariam uma segunda olhada num trio de homens espremidos uns nos outros, sobretudo desde que os dois passaram a cantar junto com a multidão com bastante entusiasmo.

Estava sendo levado para longe do trono, de volta à área da biblioteca, onde a multidão era mais esparsa. Will não era bom em cálculos — não tinha experiência suficiente em cobertura de mani­festações —, mas admitia que aquele espaço devia ter umas duas ou três mil pessoas aglomeradas lá dentro, todas cantando tão furiosa­mente que os seqüestradores poderiam tê-lo assassinado ali mesmo sem que ninguém notasse.

De repente, entraram atrás de algumas estantes e seguiram por um corredor estreito. O de barba ruiva abriu uma porta, depois outra, até chegarem afinal ao que parecia ser uma pequena sala de aula: mais bancos e mesas de madeira escura, mais estantes cheias de livros de couro com títulos em letras hebraicas douradas.

— Não entendo o que está acontecendo — disse Will com a voz fraca. — O que está acontecendo aqui? Quem são vocês?



  • Espere.

  • Por que me trouxeram para cá?

— Eu disse espere. O professor logo vai chegar. Pode falar com ele. Finalmente, conheceria o rabino.

O ruído continuava vibrante. Talvez o rabino tivesse feito afinal sua entrada; talvez desse uma volta no salão antes de vir ver Will. O cla­mor era certamente de grande triunfo; o chão tremia como as paredes de uma boate, sacudido por tons graves. E que se intensificara, como se o rabino houvesse chegado enquanto ele era arrastado para fora da sala, ele não sabia dizer.

— Muito bem, vamos começar.

Aquela mesma voz de barítono, mais uma vez atrás dele. Will ten­tou virar-se, mas as mãos apertaram-lhe ainda mais os ombros.



  • Como se chama?

  • Tom Mitchell.

  • Bem-vindo, Tom, e bom shabbos. Diga-me, por que temos o pra­zer de sua companhia em Crown Heights?

  • Estou aqui para escrever uma matéria sobre a comunidade hassídica para a revista New York. É para uma nova coluna.

  • Interessante. E por que veio logo neste fim de semana?

  • Só me designaram para fazê-la esta semana, por isso vim no primeiro fim de semana que pude.

  • Não ligou com antecedência, não quis marcar uma visita, talvez?

  • Eu só queria olhar por aí.

  • Ver como os nativos vivem em seu habitat natural?

  • Eu não descreveria assim — resmungou Will.

A força de dois homens pressionando as mãos em seus ombros co­meçava a pesar.

  • Espero não estar sendo rude, mas por que me seguram assim?

  • Sabe, Sr. Mitchell, alegra-me que tenha perguntado, porque eu não gostaria de lhe dar uma impressão errada de Crown Heights e de sua gente. Damos boas-vindas à imprensa: repórteres têm vindo aqui com freqüência. Tivemos nada menos que o New York Times numa visi­ta ocasional. Não, o motivo dessa — fez uma pausa — recepção excep­cional é que não acredito que esteja dizendo a verdade.

  • Mas eu sou repórter. Esta é a verdade.

  • Não, Sr. Mitchell, a verdade é que alguém tem bisbilhotado o que é estritamente nosso negócio, e me pergunto se esse alguém é você. — A voz, ligeiramente elevada, fez uma pausa para recuperar o equilíbrio. — Vamos relaxar um pouco, sim? É shabbos, todos tive­mos uma semana difícil. Trabalhamos duro. Agora descansamos. Portanto, não sejamos precipitados e vamos nos acalmar. Voltando à minha pergunta. Você conversou por algum tempo com Shimon Shmuel; portanto, tenho certeza de que já ouviu algumas coisas so­bre nossos costumes.


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