Samantha James Alana, a Bruxa



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Capítulo V

Em questão de segundos, Alana saiu ao pátio e correu em meio à multidão que começava a se aglomerar. Um gru­po de soldados avançou em direção a Aubrey.

Estava descalça e seus cabelos soltos voavam como uma flâmula dourada. Nem sequer ligou para a dor na sola dos pés que pisavam nos pedregulhos.

— Pare, velho! — um dos normandos gritou.

— Não vai me impedir, homem — Aubrey berrou a plenos pulmões. — Nem você nem seu exército. Quero ver Alana, que para cá foi trazida por seu perverso senhor Merrick!

Dito isso, Aubrey ergueu seu cajado e golpeou os torno­zelos do soldado mais próximo. As pernas do homem bambearam, derrubando-o.

O coração de Alana disparou quando o soldado se levan­tou rapidamente, empunhando a espada.

— Não! — ela gritou. — Deixem-no! Por favor, não o machuquem!

Sôfrega, ela alcançou o aglomerado de curiosos. Graças a Deus, Aubrey não parecia ferido, exceto pelo arranhão em sua testa.

— Quem é você, moça? — um dos soldados perguntou.

— Sou quem ele procura — ela respondeu, ofegante. — Alana.

— Ele jurou matar todos nós — o homem continuou, tei­moso. — Não toleramos ameaças de saxões. Ele deve ser castigado.

— Não se atrevam! — Alana vociferou. — Se qualquer um de vocês encostar a mão nele, farei com que queime no inferno!

As pessoas começaram a murmurar. Vários saxões fize­ram o sinal da cruz, um gesto que não passou despercebido pelos normandos.

Tampouco por Alana. Dessa vez, pensou, sua legendária maldição talvez salvasse a vida de Aubrey. Ela encarou a multidão.

— Se não acreditam em mim, perguntem para ela. — Alana apontou uma das lavadeiras. — E para ele. — Indicou o assistente do ferreiro.

A lavadeira não demorou a confirmar.

— É verdade — a mulher disse. — Ela é amaldiçoada, apesar de ser filha do falecido senhor de Brynwald. Faz bru­xarias desde menina!

— Isso mesmo — outro saxão afirmou. — Todos sabem que é uma bruxa.

Os soldados estavam nervosos. Alguns recuaram. Entrelaçando os dedos, Alana discretamente pediu a Deus que a perdoasse pela mentira.

— Viu? — desafiou os normandos com uma coragem que estava longe de sentir. — Sugiro que deixem o velho ir embo­ra. Do contrário, vou transformar todos vocês em bodes!

Os presentes voltaram a murmurar. Os normandos entreolharam-se. Ninguém ousaria desafiá-la.

— Sim — Alana se empolgou. — Talvez eu também trans­forme o senhor normando em bode junto com todos vocês.

— É mesmo? — uma voz emergiu atrás dela. — Isso vai ser muito interessante, saxã.

Era Merrick. O coração de Alana deu um salto. Tinha a nítida sensação de que ele não seria tão fácil de enganar.

E, infelizmente, estava certa. Ele apontou o soldado mais próximo.

— Leve o velho para o hall e me aguarde.

O sangue de Alana pareceu congelar quando ele a segu­rou pelo braço. Embora se debatesse, percebeu que Merrick estava determinado. Levou-a até o hall e subiu para seus apo­sentos. Empurrou-a para dentro do cômodo antes de bater a porta atrás de si.

Merrick cruzou os braços. Embora a pose não fosse amea­çadora, os olhos azuis a dominavam como correntes de ferro. Alana ficou estática. Mais uma vez, ela o aborrecera.

— Os problemas a seguem como uma tempestade no oce­ano, saxã. Começo a me arrepender de tê-la trazido para cá.

Dito isso, ele se virou para sair.

— Espere! O que vai fazer com Aubrey?

Quando se voltou, o rosto de Merrick era uma máscara de pedra.

— Não o machuque — Alana pediu. — Ele nada fez.

— Não lhe devo satisfações, saxã. Muito menos obedi­ência.

O pânico a dominava. O semblante de Merrick continua­va implacável.

— Por favor, preciso saber — Alana implorou. — Aubrey não fez nada.

Merrick continuou calado.

— Esta manhã você me perguntou o que eu lhe daria em troca da refeição. Até agora eu não tinha uma resposta. Mas, se liberar Aubrey, eu me oferecerei a sua misericórdia.

— Misericórdia? E se eu não tiver nenhuma misericórdia?

— Então estou arruinada — ela sussurrou. Uma pontada aguda feriu seu coração. Talvez já estivesse...

— Já se esqueceu, saxã? — Merrick perguntou, sarcás­tico. — Não tem o direito de barganhar, porque não possui nada para negociar. Faço o que quero e quando quero. Já está sob minha misericórdia. E não pense que deixarei isso passar em branco. Não se engane, saxã. Terei com você mais tarde.

Dito isso, Merrick se foi. Alana correu até a porta e ten­tou abri-la. Soltou um grito quando se descobriu trancafia­da. Tombou no chão, chorando de raiva.

Muitas horas depois, ela escutou a porta se abrir. Sentada à mesa, avistou Simon com uma bandeja nas mãos.

— Após se alimentar, senhora, meu senhor deseja sua pre­sença no hall para ajudar a servir o jantar — ele a informou.

Senhora. Em outra circunstância, Alana teria gargalhado. Mas uma constatação melancólica a assolou.

— Obrigada, Simon. — Ela se levantou e pegou a ban­deja. Aquele rapaz, pensou, sorrindo, certamente se torna­ria um homem tão garboso quanto o tio... O pensamento a deteve. Merrick... garboso? Deus, sua mente tomava cami­nhos bizarros!

Estava sem apetite, mas se obrigou a comer. Em seguida, desceu até a cozinha, onde Sybil já se ocupava. A irmã imediatamente se postou diante de Alana.

— Finalmente apareceu! — exclamou com as mãos na cintura. — Todos aqui já sabem o que você aprontou hoje! Em breve, serei chamada de filha do demônio só porque é minha meia-irmã! Mas é sabido que foi sua mãe quem lhe ofereceu à maldição do diabo.



Filha do diabo... a maldição do demônio.

— Diga o que quiser a meu respeito, Sybil — Alana reba­teu, furiosa. — Quanto a minha mãe, sabe muito bem que era a alma mais bondosa da aldeia. Então, pare de falar dela.

— Ou o quê? — Sybil a desafiou. — O que vai fazer, Alana? Transformar-me em um bode?

Irmã, você não precisa de ajuda nessa área, Alana pensou e logo se envergou de si mesma. Não costumava ser despei­tada. Quando fez menção de atenuar o clima hostil, viu Sybil pegar uma bandeja e se afastar.

Magoada, disse a si mesma que não deveria se abalar com a crueldade deliberada da irmã. Inúmeras vezes vira Rowena tratar sua mãe com o mesmo desprezo. Por isso não se sur­preendeu quando Sybil a ignorou a noite toda.

Mais uma vez, Alana fez dezenas de viagens até a cozinha, equilibrando travessas pesadas de comida e jarros de cerve­ja. A multidão estava menos barulhenta que na noite anterior. Em várias ocasiões, percebeu-se alvo de cochichos e olhares desconfiados. Pelo menos agora ninguém mais ousava belis­car seus seios ou agarrar seu traseiro.

Mas havia Merrick. Sybil o servira, graças a Deus. Porém, de quando em quando, sentia o olhar arguto do normando sobre si. A promessa ainda ecoava em sua mente.



Não se engane, saxã. Terei com você mais tarde.

Tal possibilidade a fazia estremecer. Ouvira histórias acerca da natureza viciosa dos normandos. E testemunhara tal maldade na aldeia.

No mínimo, Merrick mandaria triturá-la. Ou o faria pes­soalmente. Talvez ordenasse que sua língua fosse corta­da. Alana não ousava imaginar que tipo de castigos lhe aguardava.

Mas, o que quer que fosse, sabia que Merrick não a deixa­ria escapar impune como na noite anterior.

Já era bem tarde quando uma fileira de saxões maltra­pilhos entrou no hall. Alana compadeceu-se, pois sentia o cansaço deles tanto no corpo quanto no espírito. Mas havia um em particular, cujas roupas puídas estavam manchadas de sangue e os pés e as mãos amarrados a correntes, que lhe chamou a atenção.

O homem era Radburn, o mais valente e destemido dos soldados de Kerwain, pai de Alana. Nascido como nobre, Radburn era filho de um conde do sul da Inglaterra.

Sentiu-se aliviada. Teria sido uma tristeza descobrir que ele também fora assassinado pelos normandos. Ao se tornar mulher, Alana sonhara casar-se e ter filhos com Radburn, o homem que ocupara seu coração.

Ele era alto, forte e corajoso. No fundo, Alana soubera quão tolas haviam sido suas fantasias. Mesmo assim, ido­latrara Radburn. O cavaleiro sempre se mostrara gentil e atencioso naqueles breves momentos em que tinham se encontrado. E uma vez ela o pegara fitando-a com um brilho diferente no olhar. Fora algo maravilhoso. Mas a dura reali­dade logo se apresentara, pois ela o vira com uma viúva rica de York.

E, a despeito de seu pai ser Kerwain de Brynwald, ela sabia que um nobre como Radburn jamais se uniria à filha ilegítima de seu senhor.

Enfim os normandos começaram a se dispersar. Alana voltou a observar Radburn, que continuava encostado à pare­de do hall. Após uma rápida espiadela pelos arredores, ela furtou uma perna de carneiro assado de uma das mesas e a escondeu embaixo do avental. Apressada, atravessou o salão.

Radburn ergueu a cabeça quando ela se aproximou.

— Alana!


Sem palavras, ela se abaixou e lhe entregou a comida. Radburn nem sequer agradeceu. Devorou a coxa de carnei­ro, ávido para matar a fome. Quando terminou, jogou o osso para os cães.

Alana não conseguia tirar os olhos dele. O rosto estava inchado e vermelho, uma massa de hematomas e arranhões. Ela tentou tocá-lo.

— Como foi...

— Não é nada. — Radburn forçou um sorriso. — Vai sarar em alguns dias.

Indignada, Alana cerrou os lábios. Não havia palavras para expressar o que sentia. Radburn segurou-lhe as mãos.

— Testemunhei a queda de seu pai — ele disse, gentil­mente. — Alana, não sei o que dizer, exceto que ele morreu lutando bravamente.

De repente, lágrimas ofuscaram-lhe a visão.

— Alana, sinto muito — Radburn murmurou.

— Estou bem. — Ela enxugou os olhos. — Oh, odeio ver os normandos aqui. Odeio o que eles fizeram. Nossas vidas nunca mais serão as mesmas!

— Eu sei. — Ele apertou-lhe a mão. — Temos de aceitá-los, Alana, porque não podemos derrotá-los. — Radburn a encarou com intensidade.

Ele teria dito mais, mas subitamente Alana percebeu que não estavam a sós. Merrick se aproximava com aquele semblante rígido e implacável.

— Não devia estar aqui, saxã.

— Por que não? Não negligenciei meus deveres — ela se defendeu.

— De fato. Mas seus deveres ainda não terminaram. Exijo sua presença imediata em meus aposentos.

O rubor cobriu as faces de Alana. Ficou furiosa por ele envergonhá-Ia diante de seu próprio povo.

— Irei assim que...

— Não, saxã. Você vem comigo agora. — Ele a obrigou a se levantar.

— Pare!


— Não, senhora. Não vou parar. E trate de se calar por­que não tolerarei outro espetáculo como o desta manhã. — Merrick já a guiava em direção à escada. Não havia meios de escapar. Ela tentou puxar o braço, mas ele apertava-lhe a car­ne com extrema firmeza.

Tão logo adentraram o quarto, ficou evidente que o humor não havia melhorado.

— Estou curioso, saxã. O homem no hall é seu amante?

Alana o encarou, incrédula.

Amante? Não! Mas, mesmo que fosse, isso não é da sua conta!

— Discordo. É da minha conta, pois a situação mudou agora. Sou seu senhor e você é minha.

Alana ainda sofria com a humilhação.

— Por que ele está acorrentado?

— Trata-se de um homem perigoso.

— Perigoso? — ela indagou, incrédula. — Ele foi espan­cado!

— Você é uma mulher — Merrick resmungou. — Sabe muito pouco sobre o fogo que esquenta o sangue de um homem durante uma batalha. Quando foi pego, ele lutou como um javali selvagem. Meus soldados fizeram o neces­sário para rendê-lo. Alegre-se, saxã, porque ele tem sorte de estar vivo. Quando estivermos certos de que ele não mais representa perigo e que me aceita como seu senhor, as cor­rentes serão retiradas.

— Aubrey não representou perigo nenhum para seus homens. No entanto, tiveram muito prazer em espancá-lo. — O choro ameaçava enfraquecê-la. Alana odiou-se por se expor daquela maneira.

— Aubrey voltou para sua cabana, saxã. São e salvo. — Irritava Merrick perceber que ela o via como um vilão sangui­nário. Na verdade, todos os saxões que encontrava estavam convencidos de que era um monstro!

— Você — ele prosseguiu — é tão guerreira quanto qual­quer soldado de seu pai. Seria capaz de lutar comigo, caso tivesse uma espada ou armadura. Contudo, não para de bri­gar. Sua arma principal é a língua. É por isso que a chamam de bruxa?

No fundo, Alana queria vociferar quão enganado estava ele. Mas preferiu fingir calma.

— É — respondeu. — É melhor ter cuidado, normando. Talvez eu o amaldiçoe.

Merrick sorriu.

— Você parece ser muitas coisas, saxã. Uma excelen­te caçadora. Uma bruxa. Às vezes, possui o ar tão superior quanto o da senhora do castelo. Conseguiu enganar meus sol­dados com suas histórias tolas, mas não é capaz de incitar medo em meu coração.

— E tampouco você é capaz de incitar medo em meu coração, normando!

— Não? O medo pode ser um aliado poderoso, saxã. Já aprendeu essa lição. Ameaçou transformar meus homens em bodes. Usou o medo deles contra eles próprios. Pelo jeito, somos mais parecidos do que você odiaria imaginar.

À medida que falava, Merrick se aproximava. Só parou quando ficou a poucos centímetros de distância.

Alana não conseguia tirar os olhos dele. Merrick era peri­goso. Se quisesse, poderia quebrá-la em dois pedaços com apenas um golpe.

— Ainda está zangado — ela disse. — O que mais eu podia fazer? Aubrey é um ancião. Não veio em busca de confusão. Queria apenas saber se eu estava viva e bem. Eu não podia permitir que seus soldados ferissem um homem indefeso.

Por um momento, Merrick nada disse. Perguntou-se o que ela diria, caso soubesse que admirava tamanha coragem. Em sua mente, ainda podia vê-la descalça e encantadoramente desafiadora. Porém, não podia endossar tal comportamento, pois Alana sem dúvida abusaria da boa sorte.

Segurou-a pelos ombros. Ela tentou se desvencilhar, mas ele foi firme.

— Sinto que está tremendo, saxã. É corajosa, mas tem medo. Diga-me uma coisa. O que espera que eu faça?

— Sei que pretende me castigar.

— Agora acredita que irei castigá-la. Como?

Alana sacudiu a cabeça.

— Você sabe.

— Não sei, não. O que imagina que vou fazer?

— Vai... me possuir — ela sussurrou.

— Possuí-la?

— Sim. — Alana fechou os olhos e estremeceu. — Vai me possuir em sua cama.

Por um instante, Merrick a encarou, perplexo. Se não estivesse tão ofendido, teria achado graça naquela situa­ção. As mulheres com as quais dormia encontravam prazer, não sofrimento. Mas aquela bela saxã acreditava que o ato amoroso era uma experiência de puro horror.

De súbito, viu-se tomado por uma raiva incontrolável. Se ela o via como um animal, talvez fosse hora de agir como um.

— Estas roupas me insultam — resmungou, apontando o vestido que ela usava. — Tire-as.

— Não! Não posso!

— Pode, sim, senhora. — Merrick podia ser tão teimoso quanto ela.

— E se eu não o fizer? Vai me espancar do jeito que seus homens espancaram Radburn?

— Meu Deus, mulher, você adora me provocar. Faça o que ordenei.

— Não!


— Você me nega o prazer de seu corpo. — Merrick não deixou que ela o contradissesse. — Sabe muito bem disso, mulher. Pode poupar seu corpo, mas não vai me impedir de vê-lo.

— Deus irá julgá-lo, normando — Alana murmurou, com a voz chorosa.

— Deus? Vindo de você, isso é pura riqueza. Meus homens a tem como bruxa e vocês, saxões, pensam que sou o diabo. Somos um belo casal, não acha? Agora, tire as rou­pas! E seja rápida!

O tom de voz exigia obediência. Devagar, Alana começou a se despir. Instantes depois, viu-se apenas com a combina­ção. Trêmula, retirou a última barreira e postou-se nua dian­te dele. Nua e... envergonhada.

Não havia como escapar do toque daqueles olhos cristali­nos. Por um segundo interminável, ele a explorou da cabeça aos pés com extrema sensualidade. Alana jamais se expusera tanto, nem em presença de sua mãe.

Mortificada de vergonha, fechou os olhos.

Ele sorriu.

— O que diria, saxã, se lhe pedisse que fizesse o mesmo comigo?

— O quê? — Ela arregalou os olhos. — Despi-lo?

— Exatamente.

A idéia de tirar as roupas daquele corpo de guerreiro, tocar a carne musculosa causou-lhe uma sensação bizarra no estômago. Ela estremeceu, alheia às próprias mãos que cobriam os seios.

— Não? Talvez outro dia. — Merrick acariciou o rosto delicado, para o choque de Alana. — Vai se render a mim, saxã. Mas, por enquanto, quero apenas um beijo.

— Um beijo? Você não me engana — ela protestou. — Vai fazer o que quiser...

— Se eu a possuir agora, sei que irá se martirizar. Assumiria o papel de vítima e me veria como algoz.

— Não é isso que é? — Era a vez de Alana imitá-lo. — "Somos os conquistadores e vocês são os conquistados". Essas foram suas palavras, normando. E eu... o odeio por isso.

Merrick ignorou a última frase.

— Folgo em saber que se lembra, doce bruxa. Mas, no momento, prefiro o beijo que ainda não partilhamos.

Não houve tempo para protestar ou sequer pensar. Os braços fortes a envolveram segundos antes de ele a beijar. Alana viu-se tão colada a Merrick que lutar seria impossí­vel. Seus seios estavam prensados contra o peito másculo e os braços, presos entre os corpos.

Sabendo que não conseguiria combatê-lo, sentiu o pâni­co emergir junto com algo mais, algo que jamais vivera. Mas tão logo o pensamento se formou em sua mente, os lábios de Merrick se apossaram dos dela.

Imaginara que a experiência de ser beijada por aquele normando seria tão execrável quanto ele próprio. No entan­to, os lábios não eram frios e duros. Tampouco o beijo lhe pareceu brutal. Embora nada de gentil houvesse no homem, seu beijo transmitia uma suavidade inusitada.

De repente, Merrick a segurou pela nuca a fim de posi­cionar-lhe a cabeça. Sim, ele comandava e exigia ao mesmo tempo. Guiava-a e a saboreava com lábios quentes, firmes e irresistivelmente sedutores.

Alana não pôde se conter. Viu-se envolvida pelo instan­te, por ele.

Uma onda de calor intenso a invadiu. Deveria estar cho­cada. Aliás, parte dela estava perplexa. Contudo, ela não se importava porque a outra parte almejava que o beijo con­tinuasse indefinidamente.

O tempo parecia não existir. Alana perdeu o sentido de quem era, de quem ele era. Sem cessar, Merrick a beijava de forma passional e doce. Sentia a barba por fazer arra­nhando sua pele, mas a sensação não a desgostou. A essência no normando parecia embriagá-la.

Um tremor delicioso a percorreu quando as línguas se tocaram. Alana sentiu como se uma chama se acendesse dentro de si assim que Merrick começou a explorá-la com mais ardor.

As batidas frenéticas do coração pareciam reverberar pelo corpo todo. Era como se ela estivesse derretendo, pois suas pernas não mais a sustentavam. A cabeça começou a girar.

A pressão dos braços musculosos diminuiu bruscamente. Devagar, ele interrompeu o beijo. Alana levou alguns instan­tes para cair em si e, ao abrir os olhos, notou que Merrick a observava.

Os olhos azuis se fixavam nos lábios agora túrgidos por causa do beijo.

— Ainda me detesta, saxã? — ele murmurou, traçando a curva delicada do lábio inferior.

— Sim — ela respondeu com uma voz quase inaudível.

Alana desviou o rosto. Odiou aquela expressão de triun­fo. A entrega ao beijo o agradava sobremaneira e ela se des­prezava por tamanha fraqueza. Estremeceu e somente então se lembrou de que estava nua.

— Está com frio, saxã — ele deduziu. — Dessa vez, dur­ma na cama.

Frio? Alana ficou pasma. Como podia sentir frio se o calor do beijo ainda a aquecia?

Ela começou a ajeitar-se diante da lareira, porém mais uma vez a voz de comando a deteve.

— Não, saxã. Na cama.

Obediente, dirigiu-se ao leito amplo e aconchegante. No fundo, queria berrar a plenos pulmões que a enojava dividir a cama com ele. Mas não ousou, pois não desejava provocá-lo. Já havia pago um preço alto e sabia que haveria mais.

Aflita, ergueu as cobertas e se deitou.

Merrick, que tinha acabado de se despir, acomodou-se na cama, tão nu quanto ela.

— Que bobagem é essa, saxã? Não quero que passe outra noite no chão duro e, no entanto, você age como se eu a ofendesse profundamente. Estou apenas pensando em seu prazer.

— Não encontrarei prazer algum nesta cama — Alana disse.

— Do jeito que não encontrou nenhum prazer em meu beijo? — Merrick sorriu.

Naquele instante, Alana o odiou com todas as suas forças.

— Não senti nada — declarou, furiosa. — Escutou, normando? Não senti nada porque você não é nada!

O sorriso arrogante não cedeu.

— Se fosse você, senhora, eu teria cuidado. Estou mui­to tentado a provar que está mentindo, algo que farei, certa­mente, tanto para minha satisfação quanto para sua. E não é isso que deseja?

— Que Deus degenere sua alma — ela disse com fervor. — Se é o que pretende, prefiro que o faça agora e termine logo com isso!

— Agora? — Ele riu. — Não, querida. Talvez amanhã. Não sei. Mas não se preocupe porque vou poupá-la esta noite.

Quando Merrick se aproximou, Alana tentou se afastar, mas não tinha para onde ir. Lentamente, ele traçou a curva do ombro, descendo até a clivagem entre os seios.

— Sim, vou possuí-la — Merrick murmurou, sedutor. — E você não saberá quando nem onde. Mas será minha... na verdade, você já é minha. Não se esqueça disso.

Foi tanto um aviso quanto uma promessa. Merrick então se deitou de costas para ela. Com a boca seca, Alana fitou as costas largas.



Será minha... na verdade, você já é minha.

Ele não a poupara por misericórdia ou bondade. Somente agora Alana começava a entendê-lo. Se Merrick afirmara que a possuiria, sem dúvida cumpriria a palavra. Mas a faria esperar, tornando cada noite uma expectativa torturante.

Oh, o homem era tão cruel quanto o demônio!

Cobrindo-se até o pescoço, Alana fitou o teto. Sim, ele viera e conquistara seu território. Fora vitorioso nas bata­lhas que lutara.

Mas a de Alana estava apenas começando.

Capítulo VI

Aquela foi a noite mais longa da vida de Alana. O gosto do medo era como cinzas em sua boca. A prin­cípio, acreditou que Merrick fingia estar dormindo somente para atacá-la de um minuto para o outro. Mesmo ao descobrir que o normando dormia realmente, ela permaneceu imóvel, temendo que qualquer movimento pudesse despertá-lo.

Pouco antes do amanhecer, ela por fim conseguiu conci­liar o sono.

Na verdade, parecia ter acabado de fechar os olhos quan­do percebeu que Merrick acordava. Ficara à beirada da cama para não tocá-lo. E agora, mesmo de olhos fechados, sentia-se alerta. Escutava-o transitar pelo cômodo, alimentando o fogo, vestindo suas roupas e recolhendo as armas.

Então veio o silêncio.

— Saxã.


Alana paralisou. A voz soou suave... e logo acima dela. Merrick riu. Em seguida, dedos quentes roçaram o ombro nu.

— Você não me engana, saxã. Sei que não está dormin­do.

Ainda de olhos fechados, Alana rezou para que o norman­do fosse embora logo. Mas, infelizmente, Deus tinha outros planos, porque Merrick sentou-se na cama.

— Venha para mim, saxã. Alana pulou e abriu os olhos.

— Não vou...

Merrick se inclinou e expressou aquele sorriso arrogante que ela começava a desprezar.

— Vai, sim. Ainda não descobriu isso?

Com um grito, ela o atacou. Mas os braços fortes a envol­veram. Alana tentou, em vão, protestar. A pressão do corpo viril mal permitia que ela respirasse.

Os lábios ainda sorriam, enquanto os olhos expressavam uma fome estranha. Quando acreditou que ele fosse beijá-la, sentiu simplesmente um leve roçar no queixo.

O toque quente percorreu a curva do pescoço e lá ficou, onde a pulsação de Alana adquiria o ritmo alucinado de um tambor.

Merrick a soltou e começou a acariciar os mamilos. O coração de Alana disparou quando ele beijou a protuberância de cada seio.

E, de repente, Merrick resolveu beijá-la nos lábios. Provou-a com lentidão, como se possuísse todo o tempo do mundo. A cabeça de Alana rodopiava.

Agora ele não mais sorria. Fitou-a com extrema concen­tração, um olhar que ela não foi capaz de decifrar.

— Por sua causa, não consigo deixar esta cama.

Dito isso, ele saiu, mas não antes de novamente beijar os lábios de Alana.

Trêmula, cobriu-se com as peles. A cama lhe pareceu absurdamente fria, apesar do fogo que ele reavivara na larei­ra. Tocou os próprios lábios. Ainda o sentia na pele. O odor de Merrick a impregnara.

Suspirando, Alana se levantou e vestiu-se. Estava deter­minada a não pensar em Merrick da Normandia. Sybil já trabalhava na cozinha quando lá entrou. Havia dezenas de peixes frescos e Alana logo se juntou à tarefa de limpá-los.

Sybil estava calada e não tinha muito a dizer. Alana se compadecia com a irmã, já que a nobre não fora criada para o trabalho pesado. Mas não podia mudar o que havia acon­tecido. Talvez Radburn estivesse certo. Os normandos não podiam ser derrotados. Portanto, o melhor seria aceitá-los.

Não viu Merrick outra vez até o anoitecer.

E, infelizmente, tão logo se viram a sós no quarto, os even­tos da noite anterior se repetiram. Imaginando que ele não percebera, Alana se deitou ainda vestindo sua combinação.

Que ingenuidade, pois o homem tudo via! Irritado, arran­cou o tecido que a cobria.

— Você já devia saber — ele ralhou.

E assim uma semana se passou. E, quando a noite caía, Merrick não fazia nenhum movimento para possuí-la, tal qual havia prometido.

Alana não era tola. Sabia o que ele pretendia. O normando a torturava através daquela expectativa miserável. Ousara desafiá-lo e agora Merrick a domaria. Ensinaria a ela que era o mestre e que estava sujeita a seus caprichos e vontades.

Ele não lhe permitia privacidade ou vergonha.

Tocava-a quando e como queria. Os olhos azuis sempre a observavam, enquanto ela servia o jantar. Com freqüência, escutava a voz dele ecoando em sua mente.



Você será minha, saxã... Na verdade, já é minha.

Na noite anterior, ele a abraçara por trás, aquecendo-a com o corpo másculo. Permaneceram deitados como aman­tes, embora não o fossem. O braço musculoso envolvia-lhe a cintura e a mão quente jazia sobre o ventre.

Então, para o completo constrangimento de Alana, ela acordou com o rosto colado ao tórax peludo. Ele a fitava com explícito prazer.

— Hoje à noite, linda bruxa — Merrick prometeu. — Hoje à noite.

Um terror abominável a dominou. Naquela manhã fria, deu-se conta de que jamais aceitaria os normandos, muito menos Merrick.

Então, no auge do desespero, uma idéia lhe ocorreu. Precisava fugir antes que fosse tarde demais.

Não orou por uma resposta ou salvação. Suas preces não a tinham ajudado nos últimos dias. Portanto, não ousaria ape­lar para a força divina. Se pretendia se libertar de Merrick, teria de fazê-lo por si só.

E, embora lhe doesse, não podia confiar em Sybil. Alana relembrou a noite em que haviam tentado fugir. A irmã se mostrara ávida para acusá-la. Parente ou não, pressentia que Sybil faria qualquer coisa para se defender, mesmo que isso custasse a vida de outrem.

Entretanto, Alana sabia que a irmã não era frágil. Sabia muito bem arranjar-se em situações difíceis. E, além dis­so, não fora Sybil que o normando ameaçara possuir sexualmente.

A oportunidade de escapar surgiu antes do que imaginara. Naquele mesmo dia, escutou os rapazes do estábulo comen­tarem que Merrick saíra a cavalo pela manhã e que só retor­naria à noite. Sem dúvida, o troglodita fora supervisionar tudo o que pilhara de Kerwain, Alana concluiu, amarga.

Sua mente começou a trabalhar. Mal podia conter a eufo­ria. Pela primeira vez, sentiu a esperança renascer.

Logo depois do meio-dia, os criados fizeram uma pausa para almoçar. Alana, quando ninguém estava olhando, enro­lou um pão e uma grossa fatia de queijo em um pano limpo. Então, mesmo com as mãos trêmulas, pegou um pouco de cerveja. Ninguém disse nada quando ela saiu da cozinha.

De cabeça erguida, atravessou o pátio e marchou em dire­ção ao pasto que levava à aldeia, como se nada tivesse para esconder.

O céu estava coberto de nuvens e, de quando em quando, garoava. Mas, apesar do frio que sentia, continuou a andar. Não deixaria que um mero desconforto a desviasse de seu intento. E assim que chegou às portas de sua liberdade...

— Alto lá! — Um normando gordo bloqueou a passagem de Alana. — Sei quem você é — ele declarou. — Meu senhor, Merrick, não ordenou que eu a deixasse sair.

—- Ele tampouco lhe ordenou que não me deixasse sair — Alana o desafiou. Rezava para que estivesse certa. Como o normando nada dissesse, mostrou-lhe a matula que segu­rava. — A cozinheira pediu-me que eu levasse essa comida para ele na aldeia.

Pelo jeito, o soldado não estava disposto a acreditar nela. Vasculhou a matula com seus dedos sujos e ainda assim não se mostrou convencido.

— Meu senhor não me disse nada.

— Disso eu não sei. Só sei que ele ficará aborrecido, caso eu me atrase — Alana improvisou. — Aliás, ficará tão colé­rico que terei de lhe contar quem me impediu de realizar minha tarefa.

O homem empalideceu.

— Então vá — resmungou. — E volte logo.

Alana reprimiu um grito de alegria. Caminhou o mais rapidamente que pôde. Enquanto rumava à aldeia, olhava os arredores à procura de soldados normandos.

Passou pelos pastores no pasto, mas eles nem sequer a viram. Planejava passar na cabana de sua mãe para buscar suas ervas medicinais. Na pior das situações, poderia vendê-las. Mas antes de tudo precisava ver Aubrey.

Tão logo adentrou a aldeia, correu para a choupana do amigo.

Aubrey achava-se diante da lareira, aquecendo-se. Assim que a porta se abriu, ele a fitou, surpreso.

— Alana!


— Graças a Deus, você está bem! — Alana se ajoelhou aos pés dele. — Temos de ir embora, Aubrey. Precisamos fugir agora mesmo, antes que seja tarde.

— Fugir? Fugir para onde, criança?

— Não importa. Talvez para Londres. Não agüento mais ficar em Brynwald. Tenho de partir e você vem comigo.

— Alana. — Aubrey meneou a cabeça. — Passei a vida toda aqui. Faça o que precisa, mas não me leve consigo.

— Aubrey, por favor!

— Não, Alana. Não posso ir embora.

— Você não entende, Aubrey. Tenho de fugir. Preciso fugir dele.

— De Merrick da Normandia?

— Sim!

— Por quê? Ele a feriu de alguma maneira?



— Não da maneira que está imaginando. — Como Alana poderia explicar? Jamais confessaria a Aubrey o que Merrick pretendia com ela. — Mas ele ainda será a causa de minha morte! — exclamou, mortificada de vergonha.

— A morte virá me buscar muito antes disso, Alana. — Aubrey sorriu com carinho.

Ela sacudiu a cabeça.

— Se eu ficar, algo horrível vai acontecer. Sei disso.

— O que está dizendo, menina?

— Sonhei com ele, Aubrey. Sabe muito bem que nunca me deixo abater pelos meus sonhos. Mas dessa vez sonhei com morte, escuridão e sangue. E ele estava lá, Aubrey!

— Alana, em princípio, também me convenci de que Merrick da Normandia era um monstro sanguinário. Mas o senhor de Brynwald envia comida para mim todos os dias. Ontem mesmo ele me entregou o farnel pessoalmente. Quis saber se eu precisava de algo mais. E quando perguntei de você, disse que odeia tudo que é normando, especialmente ele. Mas garantiu-me que você estava bem.

Aubrey acariciou os cabelos cacheados de Alana.

— E vejo que é verdade, menina. Então, acalme-se. Seus temores são infundados. Eu sinto isso, Alana.

Aflita, ela o encarou. Estaria a mente de Aubrey lhe pregando peças? Uma coisa estava muito clara, ele não escu­taria mais nada.

E não fugiria com ela.

Seu coração se apertou ao vê-lo levantar-se com dificul­dade.

— Preciso descansar — ele murmurou. — Volte quando eu não estiver tão fatigado.

Alana o ajudou a se deitar. Aubrey nunca lhe pareceu tão envelhecido! Tão frágil e debilitado.

Como poderia permanecer em Brynwald?, perguntou-se, apreensiva. Talvez Aubrey acreditasse que Merrick da Normandia não representava nenhuma ameaça, mas o bom homem não conhecia aquele demônio. Afinal, ela escuta­ra barbaridades da boca do normando. E ainda havia aquele sonho horripilante...

A dor que sentia era quase insuportável. Alana fitou a mão envelhecida de Aubrey. Com lágrimas nos olhos, beijou-a.

— Estará em minhas preces todos os dias — ela prometeu em um sussurro. — Que Deus o proteja, Aubrey.

Enquanto Alana rumava para o sul, em direção à aldeia, Merrick voltava a Brynwald pelo norte. Entregou o cavalo a Simon, irritado por não conseguir se concentrar nos deveres de senhor. Seus pensamentos se ocupavam apenas com a bela saxã. Talvez ela fosse mesmo obra de Satã, pois era uma ten­tação à qual nenhum homem podia resistir.

Os criados o olharam, assustados, quando ele entrou na cozinha. Não viu Alana e todos alegaram não saber onde ela estava. Somente Sybil teve a coragem de lhe oferecer mais informações.

— Não a vejo desde o almoço, senhor. — Ela sorriu. — Sem, dúvida, deve estar escondida e só irá aparecer quando alguém realizar as tarefas que lhe cabem. Algumas chibatadas talvez espantem sua preguiça.

Uma gargalhada sonora ecoou dos fundos da cozinha.

— É mesmo de Alana que está falando, senhora? Pois me parece que se refere a si mesma.

Sybil encarou o ofensor com ódio.

— Ninguém perguntou sua opinião.

No momento seguinte, Sybil voltou a fitar Merrick com um sorriso adorável. Ele observou o movimento sedutor dos quadris quando ela passou. Era tão atraente quanto a irmã, mas não lhe despertava nenhum paixão. Pena, ele pensou, pois desconfiava de que Sybil lhe daria menos trabalho que Alana.

Minutos depois, descobriu que ela não estava no hall ou em seu quarto. Aliás, não a encontrou em lugar nenhum.

Desconfiado, marchou até o pátio e ordenou que seu cava­lo fosse selado novamente. Em seguida, convocou alguns homens. Enquanto esperava, notou um de seus soldados se aproximando junto com Gerard, que fora escalado para vigiar a trilha sinuosa que levava à aldeia.

— Meu senhor. — Gerard parou diante dele com expres­são pálida. — Ouvi dizer que procura a saxã Alana.

— Sim — Merrick confirmou.

— Senhor, ela passou pela trilha não faz muito tempo. Disse que recebeu ordens para levar pão, queijo e cerveja ao senhor nas proximidades da aldeia.

Merrick emitiu um som de desagrado.

— Não tem bom-senso, homem? Se eu tivesse dado tal ordem, certamente faria com que você fosse avisado!

— Senhor — Gerard ficou ainda mais pálido —, imaginei que ela estivesse tramando algo, mas a mulher disse que iria me castigar, caso eu a atrasasse. E o jeito que ela me olhou... parecia o olhar do diabo, senhor. A gente sabe que ela é uma bruxa...

— Ela não é uma bruxa — Merrick afirmou. — Mas certamente é muito mais esperta que você. — Ele pegou a rédea do cavalo que Simon trazia. — Está dispensado. Não quero covardes em meu exército.

Merrick não duvidava de que Alana tentava fugir. Afinal, não era tola. Tinha certeza de que se esconderia na flores­ta, em vez de seguir o desfiladeiro que beirava o mar, onde podia ser vista facilmente. Contudo, resolveu verificar pri­meiro a aldeia. Ela não devia estar muito longe, pois se des­locava a pé.

Quando ele e seus homens se aproximaram da aldeia, avistou fazendeiros.

— Você — Merrick chamou. — Onde está a cabana da jovem Alana?

— No final do pasto, senhor — um fazendeiro respondeu. Determinado, Merrick enviou um dos homens.

— O resto vá à cabana do velho Aubrey e veja se ela lá está. Caso não esteja, vasculhem todas as casas da aldeia.

Segundos depois, ele apeou. Marchou até a choupana cujo telhado era de sapé e escancarou a porta sem disfarçar a impaciência.

Alana ficou paralisada. Sentiu um arrepio percorrer-lhe o corpo. Sabia, sem olhar para trás, quem lá estava.

O corpo másculo ocupava a entrada da choupana de tal forma que pouca passagem restava para o sol entrar. A expressão severa transmitia o desagrado que o normando obviamente sentia. O silêncio se tornou opressor.

Merrick entrou na cabana e fechou a porta devagar.

— Eu avisei, saxã, que não toleraria mais nenhuma tenta­tiva de fuga. — A voz soou mortalmente controlada.

— Mas eu não... — ela negou.

Não minta para mim!

Alana recuou, como se tivesse sido agredida. A bolsa de couro na qual guardava os potes medicinais de sua mãe caiu no chão. Ocorreu-lhe então que Merrick não precisava de armas. Com o som da voz ou o olhar, era capaz de esfolar um homem vivo.

— Eu ordenei que não fugisse de mim outra vez, saxã. Eu lhe disse que se arrependeria. — Ele deu um passo à frente. — E agora vai sofrer as conseqüências.

As pernas de Alana bambearam. Porém, tal fraqueza não a impediu de pegar uma faca que jazia sobre a mesa. Embora fosse rápida, Merrick possuía a agilidade de um guerreiro. Arrancou-lhe a lâmina e jogou o aparato longe:

— Esse truque não funcionou antes, saxã. Por que achou que agora seria diferente?

Colérico, Merrick a tomou nos braços com uma força brutal.

— Solte-me! — ela gritou.

No mesmo instante, ele a jogou na cama de palha e se dei­tou sobre ela.

— Não! — Um medo desconhecido se apossou de Alana. — Por que está fazendo isso?

Dos olhos azuis saiam faíscas de ódio.

— Você violou minha ordem.

— Por isso, vai me violar? Não permitirei! Não!

— Estou apenas tomando o que me pertence. — Merrick forçou um beijo, o qual ela negou. — Já está na hora de con­sumarmos o inevitável.

Alana tentou em vão empurrá-lo. Ele a segurou pelos pul­sos. Com a outra mão, agarrou-lhe a nuca.

O beijo foi voraz. Merrick parecia tomado pelo fervor da paixão reprimida. Os lábios de Alana se entreabriram antes que a fome exigente do normando o fizesse. Ele aprofun­dou o beijo, revelando o prelúdio de uma invasão muito mais profunda.

O medo e a falta de ar a deixaram zonza, quando ele enfim ergueu a cabeça. Merrick então tirou a túnica. Alana fitou o peito moreno, atônita com tamanha masculinidade.

Mais uma vez, ele avançou. Chocada, Alana sentiu a bar­ra do vestido subir até a cintura.

— Não — ela conseguiu pronunciar. — Não!

— Sim — ele disse, cerrando os dentes.

Humilhada, ela fechou os olhos. Podia sentir o membro ereto pressionando a maciez de sua feminilidade. Tentou fechar as pernas, mas infelizmente Merrick estava entre elas. Com apenas os joelhos, conseguiu obrigá-la a escanca­rá-las.

Nua a completamente vulnerável, ela soltou um soluço.

Mas a invasão violenta que esperava não aconteceu.

No instante de possuí-la, Merrick pressentiu um movi­mento atrás de si, tal qual uma flecha sendo lançada do teto. Alana abriu os olhos quando ele se levantou, furioso.

Confusa, notou o sangue escorrer do ombro de Merrick, que parecia tê-la esquecido. Ele olhava para cima, onde um corpo de pelos amarelados caminhava pelas vigas do telha­do. Era Cedric, Alana se deu conta. O gato havia cravado as unhas afiadas no ombro de Merrick.

Sério, ele recolheu a túnica e a vestiu. Alana permane­ceu onde estava, apavorada demais para se mexer. Segundos depois, conseguiu se sentar e cobrir a nudez com o vestido.

Mas não ficou esquecida por muito tempo. Merrick a obri­gou a se levantar. No rosto sombrio havia uma máscara fria de determinação.

— Estava disposto a lhe dar tempo para me aceitar. Mas agora basta. Terminaremos o que aqui começamos, saxã. Prometo. Ou melhor, juro.

O tom de voz não revelava tolerância. Oh, fora uma idiota ao pensar que poderia fugir dele! Merrick não permitiria que saísse ilesa. E, dessa vez, não haveria misericórdia.

Agarrando-a pelo pulso, ele a puxou até a porta. Por um milagre, Alana conseguiu pegar a bolsa dentro da qual guar­dara as ervas de sua mãe.

Do lado de fora, vários soldados aguardavam em suas montarias. Merrick segurou a rédea de seu garanhão e apon­tou a cabana.

— Queimem — ordenou com uma calma glacial. — Queimem até sobrarem apenas cinzas.




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