O paraíso é aqui



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O PARAÍSO É AQUI

Gabriel´s Mission
Margareth Way
(Série Anjos da Guarda, 04)



Encontrar o amor ás vezes requer uma “ajudinha” do alto...
Gabriel McGuire sabia que Clara Cavanagh não o achava nada simpático... principalmente porque era chefe dela! Gabriel admitia que de vez em quando podia até ser exigente demais com Clara, mas ela também não era nenhum anjo. A maneira como o confrontava no trabalho chegava a ser inusitada, e a freqüência com que se metia em encrencas era exasperante! Será que Clara não via que ele a repreendia pelo seu próprio bem? Não duvidava que ela tivesse uma verdadeira equipe de anjos da guarda tentando livrá-la dos perigos. Porém, nos últimos tempos Gabriel andava ouvindo uma voz misteriosa lhe dizer que Clara precisava de alguém para protegê-la, e que ele teria de ser esse protetor...

Copyright © 1998 by Margaret Way, Pty.

Originalmente publicado em 1998

pela Harlequin Mills & Boon Ltd., Londres, Inglaterra

Todos os direitos reservados, inclusive o direito de

reprodução total ou parcial, sob qualquer forma.

Esta edição é publicada através de contrato com a

Harlequin Mills & Boon Ltd.

Esta edição é publicada por acordo com a

Harlequin Mills & Boon Ltd.

Todos os personagens desta obra são fictícios.

Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas

terá sido mera coincidência.

Título original: Gabriel´s Mission

Tradução: Márcia do Carmo Felismino Fusaro

Editor: Janice Florido

Chefe de Arte: Ana Suely Dobón

Paginador: Nair Fernandes da Silva

EDITORA NOVA CULTURAL LTDA.

Rua Paes Leme, 524 - 10Q andar

CEP: 05424-010 - São Paulo - Brasil

Copyright para a língua portuguesa: 1999

EDITORA NOVA CULTURAL LTDA.

Fotocomposição: Editora Nova Cultural Ltda.

Impressão e acabamento: Gráfica Círculo
Digitalização e Revisão: Cris Paiva



PRÓLOGO

Paraíso

Titus e Thomas rolaram pela colina abaixo, rindo e se divertindo ao sentir a maciez da relva verdejante que ia dar na beira de um lago de águas cristalinas. Os dois gostavam de brincar daquela maneira de vez em quando. Rolar desde o alto da colina e ir parar à beira do lago era uma aventura e tanto!

Quando chegavam lá embaixo, voltavam as asas para trás e mergulhavam na água, para observar os peixes exó­ticos e as plantas subaquáticas do paraíso. Ali, os objetos pareciam reluzir feito ouro, só que iluminados por uma es­pécie de luz própria.

Após o estupendo mergulho, os dois emergiram com um belo impulso e voaram alto, abrindo as asas brancas e agitando-as com graça, para que secassem ao sol. Brincar assim era realmente maravilhoso!

Mais tarde, poderiam voar entre os colchões de nuvens que haviam começado a se formar desde o início da manhã. Com sorte, até mesmo os querubins se uniriam a eles, para dar vôos rasantes por entre as árvores da floresta, montados em seus pequenos dragões equipados com montarias brilhantes. Sempre que eles apareciam, o divertimento era garantido!

Porém, apesar de toda aquela prosperidade, às vezes Ti­tus desejava ter um trabalho para fazer. Seu peito andava tão cheio de amor e seu potencial miraculoso tão intenso que de vez em quando sua aura brilhava como um sol.

Ele e Thomas estavam quase alcançando a beira do lago quando ouviram uma voz retumbante ecoar pelo vale abaixo da colina.

— Titus, Thomas, onde estão vocês? Teremos uma reu­nião no prédio dos arquivos. Titus, Thomas...

Era o sr. Beatífico, reconheceu Titus, surpreso. Fazia al­gum tempo que nenhum arcanjo aparecia por ali para re­crutar anjos da guarda.

No mesmo instante, Titus agitou as asas e voltou a subir bem alto, para ter uma visão mais ampla do vale. Thomas o seguiu e ambos começaram a observar a região, à procura do sr. Beatífico.

Não foi difícil identificar aquela enorme aura branca se des­locando por entre as árvores eternamente frondosas do paraíso.

— Oh, aí estão vocês, meninos — disse ele, ao avistá-los. — Teremos uma manhã movimentada pela frente.

Permaneceu onde estava, mantendo as enormes asas re­colhidas, enquanto Titus e Thomas flutuavam no alto.

Os olhos incrivelmente azuis de Titus brilharam com um contentamento típico de sua tenra idade. Seu grande sonho era algum dia se tornar um anjo da guarda.

— Qual será o tema da reunião? — perguntou, com um ar esperançoso.

O sr. Beatífico levantou as mãos, que irradiavam uma luz muito alva.

— Não consegue adivinhar, Titus? Elegeremos mais um grupo de anjos da guarda. Precisamos fazer isso para ajudar nossos amigos lá na terra. Pobres almas... — Com um sorriso bondoso, acrescentou: — O que seria deles sem nossa ajuda?

De fato, o que seria de todos sem a ajuda dos anjos da guarda?

O salão principal do prédio dos arquivos era uma das grandes glórias do paraíso, com suas paredes de cristal es­culpido que brilhavam formando prismas, sob o efeito da luz divina.

Naquele momento, porém, as paredes translúcidas refletiam o brilho cálido de seres vestidos com mantos cor-de-rosa, azuis, amarelos, verde-esmeralda e lilases.

Por todos os lados, as cores preenchiam o ambiente, for­mando matizes tão maravilhosos que deixaram Titus encan­tado com toda aquela beleza. Quanto mais se ascendia às nove escalas angelicais, mais se tornava intenso o brilho das auras dos anjos. Como a do sr. Beatífico, um perfeito exemplo daquilo que os anjos desejavam vir a ser algum dia.

Ali, todos tinham asas. Desde os anjos iniciantes, com asas de camadas duplas e triplas, até as fantásticas asas dos querubins e dos serafins, os cargos mais altos da escala angelical que formava o reino divino.

Assim que chegaram, o sr. Beatífico não perdeu tempo em providenciar o andamento da reunião. Alguns anjos foram incentivados a falar sobre suas experiências com os seres ter­restres. Relataram métodos interessantes de como salvar uma alma e conduzi-la às belezas do paraíso, e também de como mandá-la de volta por um longo túnel de luz, quando era preciso que o ser terminasse alguma tarefa na terra.

O trabalho dos anjos da guarda era constantemente re­novado e, de vez em quando, um novo grupo se formava com a intenção de melhorar a conduta dos seres na terra. Alguns anjos confessaram estarem até um pouco cansados de tanto trabalho, mas diziam isso com sorrisos radiantes, pois sabiam que estavam trabalhando pela causa divina. E isso era mais importante do que qualquer coisa.

Um anjo em particular, Lucas, contou uma das histórias mais comoventes de todas. Durante vinte e quatro anos, estava servindo como anjo da guarda de uma bela jovem chamada Clara Cavanagh, que se mostrava enérgica demais em tudo, dando a ele um bocado de trabalho. Tanto que Lucas estava começando a sentir perda de energia em uma de suas asas.

— Não é que Clara não seja uma jovem de bom coração e com um considerável nível de espiritualidade. Porém, es­tou preocupado com os riscos aos quais ela anda se expondo ultimamente — disse Lucas, durante sua explanação. — Clara passou por situações trágicas na vida.

O anjo contou que ela perdera o irmão, Timothy, aos seis anos de idade. O bebê tinha um ano e meio e o fato deixou a família arrasada. Além disso, havia dois anos que uma nova tragédia ocorrera na vida dela. Os pais de Clara sofreram um acidente de carro que matara o pai e deixara a mãe em uma espécie de coma do qual ela nunca mais saíra.

Imersa em um mundo próprio, sem se relacionar com o mundo externo, Delia Cavanagh era mantida em uma clínica de repouso. Clara tentava equilibrar a vida agitada que levava como jornalista de uma famosa rede de televisão com o carinho que ainda dedicava à mãe.

O sr. Beatífico ouviu o relato em silêncio, enquanto pen­sava no que faria quanto ao caso. Deveria aconselhar Lucas a continuar com Clara? Ou seria mais sensato dar ao anjo algum tempo de descanso? Havia muitos anjos competentes que poderiam substituí-lo e que não fraquejariam diante da primeira dificuldade.

Ao olhar em volta, com ar pensativo, um rosto entre todos lhe chamou a atenção: Titus. Em meio a todos aqueles seres angelicais, de súbito Titus lhe pareceu quase... humano. Os cabelos avermelhados e os expressivos olhos azuis irradia­vam um admirável amor divino por tudo e por todos.

Seria interessante pesquisar a vida dele. Teria vivido na terra alguma vez? Enquanto pensava em dar uma espiada nos arquivos divinos, ouviu Titus dizer:

Por favor, sr. Beatífico, não poderia me dar essa chan­ce? Seria muito "legal"!

"Legal"? O sr. Beatífico arqueou uma sobrancelha. Sem dúvida, Titus já vivera na terra. Unindo os longos dedos alvos, respondeu:

— Lamento, mas não será possível, Titus. Você ainda é jovem demais.

— Mas poderia ser uma boa solução — Lucas interveio. — Reconheço que Titus não tem experiência, mas ele vive! sempre tão cheio de energia que poderia dar conta de pro­teger Clara sem maiores problemas.

— Nunca enviei alguém tão jovem à terra, Lucas — sa­lientou o sr. Beatífico.

— Mas o senhor começou quando ainda era muito jovem — lembrou Titus.

O sr. Beatífico arqueou novamente as sobrancelhas. Como ele sabia daquele detalhe?

— É verdade — admitiu.

Os outros anjos olharam para Titus com sorrisos ternos.

— Seria maravilhoso ser um anjo da guarda! — excla­mou ele, fazendo os cabelos cacheados balançarem com sua empolgação.

O sr. Beatífico ponderou a questão. Titus era um jovem anjo muito prestativo, apesar de viver sempre brincando pelos cantos do paraíso. Talvez a experiência de proteger alguém da terra despertasse nele o senso de responsabili­dade e o fizesse ganhar uma nova camada nas asas. De fato, Titus não era muito diferente dele próprio quando tinha aquela tenra idade.

— Está bem, Titus — disse, por fim. Entre uma salva de palmas e de frufrus de asas, o sr. Beatífico completou: — O cargo de anjo da guarda da srta. Clara Cavanagh será seu de agora em diante.

Titus sorriu de puro contentamento, agradecendo com um aceno o incentivo de todos. Quando deu por si, já estava a caminho de seu destino, cercado pelos amorosos querubins que lhe serviram como anfitriões em meio aos primeiros ares terrestres.

Uma brisa agradável soprou suas asas, como que sau­dando sua chegada à terra. Titus nunca se sentira tão feliz em toda sua vida!

— Não se preocupe, Clara — disse, ainda enlevado pela luz do paraíso. — Agora sou seu anjo da guarda e farei o possível para protegê-la.

Manter Clara em segurança seria sua grande missão. De súbito, sentiu uma onda de amor infinito por sua protegida. Porém, a intensidade do sentimento por ela lhe pareceu novo e muito... humano.

Dê fato, a alma nunca esquece...

CAPÍTULO I

Já passava das nove e meia quando Clara fi­nalmente chegou aos estúdios jornalísticos da rede BTQ8. Imaginou se haveria muito trabalho à sua es­pera, mas o questionamento lhe pareceu tolo no mesmo instante. Claro que havia!

No último ano, desde que McGuire se tornara diretor geral do setor de jornalismo, a quantidade de trabalho havia aumentado ainda mais. "É preciso esforço mútuo para se obter melhores resultados", era o que ele costumava dizer ao ouvir alguma reclamação.

Por não ser uma grande fã de McGuire, Clara preferia ignorar o detalhe de que os lucros também haviam aumen­tado consideravelmente, desde a chegada dele. E isso se tornara mais evidente depois do fiasco que fora a adminis­tração do antigo diretor, Clive Conor.

Ela nunca enchia McGuire de elogios, mas o dono da empresa parecia adorá-lo. Principalmente depois de todo aquele lucro.

Gabriel McGuire era considerado a grande esperança da­quele nicho jornalístico, com um brilhante futuro pela frente. E era com esse verdadeiro "mito" que ela teria de lidar dentro de alguns minutos. Esperava que ele estivesse de bom humor, porque essa era a terceira vez que ela perdia a reunião mensal da equipe, nos últimos três meses. Sua moral não andava lá muito em alta...

Ajeitando os ombros do tailleur amarelo, atravessou a área do estacionamento equilibrando seu guarda-chuva em meio ao vento e à garoa intensa.

Assim que entrou no elegante edifício, conteve o fôlego ao avistar McGuire vindo em sua direção. Um metro e oitenta e dois de pura perfeição masculina. O rosto incrivelmente bo­nito e o porte elegante eram suas marcas registradas, capazes de fazer muitas mulheres suspirarem só de olhar para ele.

Clara também não era imune a toda aquela beleza máscula, mas preferia se manter a salvo conservando uma boa distância entre eles. Para alguém com ancestrais irlandeses, Gabriel tinha uma pele surpreendentemente bronzeada que o mantinha sem­pre com um ar saudável, capaz de causar inveja nos "oponentes" do mesmo sexo. Os cabelos negros eram usados em um corte elegante e os olhos, também negros, eram ressaltados por so­brancelhas espessas que o tornavam ainda mais charmoso.

— Srta. Cavanagh, está atrasada — avisou ele, sem con­seguir disfarçar o ar de admiração.

Como Clara conseguia continuar tão linda após haver acabado de sair de uma garoa intensa? O ar úmido acen­tuara o encaracolado dos longos cabelos avermelhados, deixando-a parecida com as fadas da floresta, descritas em contos infantis. As sobrancelhas bem delineadas acentua­vam a beleza dos olhos incrivelmente azuis, semelhantes a duas preciosas safiras.

Entretanto, ele não poderia fraquejar mesmo diante de toda aquela beleza. Três ausências em três reuniões que ocorriam apenas uma vez por mês já era demais! Se pelo menos ela não fosse tão perfeita... E aquelas pernas de bai­larina então? Elas o deixavam maluco!

Clara tossiu levemente, indicando que ele estava sendo indiscreto ao admirá-la tão abertamente.

— No meu escritório, dentro de dez minutos — disse ele.

— Está bem, chefe — respondeu Clara. — Sinto muito por não haver comparecido à reunião.

Gabriel teve de se conter para não tocar os cabelos dela. Sempre tivera vontade de saber se eles eram mesmo tão sedosos quanto pareciam.

— Qual é a desculpa desta vez? — perguntou, mantendo o tom firme.

— Tive de resolver alguns problemas ainda cedo. Clara preferiu não mencionar que tivera de fazer uma visita extra à mãe no início da manhã.

— Espero que não esteja perdendo a ambição, depois dos últimos acontecimentos, srta. Cavanagh — falou ele.

— Foi você quem quis esquentar o jogo, chefe — salientou Clara, com um ar inocente.

— Então também terei de persuadi-la a desistir de se arriscar tanto? Bem, livre-se desse guarda-chuva molhado, para que possamos conversar direito — disse Gabriel, antes de se encaminhar para a sala dele.

Conversar? Essa era boa! Havia muito tempo que os dois não conseguiam se entender direito e muito menos conver­sar. De fato, nem ela mesma sabia por que sentia tanta indignação com relação a Gabriel sendo que a maioria das mulheres da empresa fariam qualquer coisa para receber ao menos um bom-dia dele.

— Meus Deus, Clara. Como pode estar tão linda depois de haver acabado de tomar chuva? -— disse Mike, seu colega de trabalho mais querido, assim que se encontraram no corredor. — Há recados em sua mesa. Ah, e é melhor inventar uma ótima desculpa porque o chefe não ficou nem um pouco feliz quando notou sua ausência na reunião.

Clara sorriu para ele.

— Eu já sei. Encontrei o megalomaníaco no saguão do prédio. Tive de visitar minha mãe, e acabei ficando presa no trânsito. Tive um sonho muito estranho na noite passada. Minha mãe estava tentando me dizer que alguém havia chegado. Esquisito, não?

Mike balançou a cabeça, decidindo acompanhá-la até a sala dela. Ele e a esposa, Teri, gostavam muito de Clara. Sempre que podia, ela ia visitá-los, pois era madrinha de Samantha, a filha caçula do casal. A menina tinha apenas um ano de idade, mas já reconhecia e adorava a madrinha.

— Que tal um café? — sugeriu Mike.

— Oh, seria ótimo. Mas temos de tomá-lo rapidamente — avisou ela. — McGuire me deu um ultimato: "No meu escritório, dentro de dez minutos" — falou, imitando a voz grave do chefe. Olhando para o relógio, completou: — Oito minutos, para ser mais exata. Ele me olhou de um jeito tão estranho que cheguei a sentir medo.

— Para um chefe tão rígido, McGuire é até complacente demais com você. — Mike foi até a máquina de café e voltou com dois copinhos. — Como está sua mãe? — perguntou, entregando um a ela.

Ele e Teri a acompanhavam nas visitas de vez em quando. Eles eram os únicos que sabiam realmente qual era a si­tuação de Delia Cavanagh.

— Ela está muito serena, Mike — respondeu Clara, com um brilho de lágrimas nos olhos. — Mesmo depois de tudo que aconteceu a ela, não parece ter envelhecido nem um pouco. É como se minha mãe houvesse parado no tempo.

Mike meneou a cabeça, com um ar compreensivo.

— Sei que tem sido difícil para você, querida. Más é uma filha muito especial.

Clara visitava a mãe pelo menos duas vezes por semana, por mais que estivesse cansada com a correria do trabalho.

— Por que isso teve de acontecer, Mike? Não bastou ela perder o marido e o filho? Por mais que eu tente ter espe­rança, já nem sei se Deus existe mesmo.

— Bem, com certeza ninguém iria querer comprar esse mundo dele — brincou Mike. — Talvez nossa meta seja trabalhar para que o próximo seja melhor.

— Mas eu quero que esse mundo seja melhor — salientou Clara.

— Eu também. Por isso, procuro tratar as pessoas com respeito e carinho. Mas nem todos pensam assim...

Clara suspirou, tomando o último gole do café.

— Bem, agora terei de enfrentar o chefe — declarou, forçando um sorriso.

— Mantenha a diplomacia, querida. Pode não parecer, mas McGuire também anda preocupado com seus problemas.

— Por quê? Ele não sabe nada sobre a minha vida.

— Claro que sabe. Seu pai era um médico renomado e a notícia saiu em todos os jornais. McGuire tem acesso a tudo que quiser saber.

— Não quero a piedade dele.

— Calma, querida — aconselhou Mike, com um ar pa­ternal. — Sei que é difícil enxergar isso, mas McGuire é um grande sujeito.

— Que deixou nosso amigo, Clive, para trás e despediu Ralph e Lindsey — replicou ela.

— Clara, você tem de admitir que Clive perdeu as rédeas da empresa. Todos gostávamos muito dele, mas trabalho é trabalho. Se a situação continuasse como estava, acabaría­mos falindo. Clive não tinha o talento de McGuire.

— Tudo bem, tudo bem — Clara admitiu. — Ele é mesmo um dínamo, mas há algo que me amedronta nele. Não gosto de homens que me olham daquela maneira. Além disso, também detesto autoritarismo.

— Ei, pessoal, querem biscoitos? — ofereceu alguém, aproximando-se pelo corredor. — Estão fresquinhos.

Clara e Mike olharam na mesma direção. Era Rosie, uma jovem assistente de produção.

— Oh, obrigada, Rosie — agradeceu Clara, aceitando um biscoito. — Pelo menos meu estômago não fará nenhum barulho embaraçoso enquanto eu estiver falando com o che­fe. Por falar nisso, acho melhor ir andando.

— Boa sorte, Clara — desejou Mike. — Você vai precisar.

Quando Clara entrou no escritório, encontrou Gabriel ao telefone. Sem parar de falar, ele fez um sinal para que ela se sentasse. Mantendo o aparelho entre o ombro e o ouvido, ele estava observando alguns papéis sobre a mesa.

Clara sentou-se diante dele, cruzando as pernas com cui­dado. Aquele tailleur amarelo era um de seus preferidos porque destacava a cor de seus cabelos, mas ela já não sabia se fora uma boa escolha para o dia. A saia era um pouco curta para alguém que estava tentando evitar inves­tidas masculinas. Para seu maior constrangimento, Gabriel olhou primeiro para suas pernas, antes de lhe fitar o rosto.

Droga, por que ele estava fazendo aquilo? Por que não se concentrava na conversa séria com a pessoa do outro lado da linha? Enquanto falava, Gabriel não deixou de ob­servá-la, como se a estivesse despindo com os olhos.

Clara não soube se agüentaria ficar ali por muito tempo. Apesar de estar com vinte e quatro anos, ainda era virgem e acreditava que só deveria haver sexo onde existisse amor. Nunca aceitara direito aquele "jogo de camas" que algumas pessoas gostavam de manter.

Uma das coisas que a incomodava em Gabriel era a certeza de que ele deveria ser um amante maravilhoso, mas também muito exigente. Sentira isso desde a primeira vez em que o vira e armara sua autodefesa mais do que depressa.

Gabriel finalmente desligou o telefone. Então inclinou-se para a frente, apoiando-se sobre a mesa.

— Por que não veio à reunião? — Foi direto ao assunto. Clara chegou a pensar em contar sobre sua mãe. Devia mesmo estar ficando maluca.

— Fiquei presa no trânsito, chefe. Interditaram a Lang Street, e o lugar está um verdadeiro horror.

— A reunião começou às oito e meia. Que eu saiba, o trânsito só fica mais intenso a partir das nove horas da manhã.

O pior era que ele estava certo.

Sinto muito, mas foi isso o que me atrasou — insistiu Clara, mantendo um tom firme.

— Por que não consegue conversar direito comigo, Clara? — indagou ele, fitando-a nos olhos.

Ela não soube ao certo como reagir tanto diante da pergunta quanto do fato de ele tê-la chamado pelo primeiro nome.

— Eu... não estou entendendo, chefe.

— Tem muito potencial, srta. Cavanagh — continuou ele, trazendo novamente o ar de alívio ao rosto de Clara, ao cha­má-la pelo sobrenome. — Há quanto tempo está na BTQ8?

— Quatro anos, como você bem sabe — respondeu Clara.

— Vim direto da universidade para começar a carreira como repórter de rua. Clive me ensinou tudo que sei.

— Sei que ele a protegeu sob as asas, só isso — "E por que não?", pensou Gabriel. Ele próprio faria o mesmo se pudesse. — De qualquer maneira, seu talento parece falar mais alto. As pessoas da empresa estão comentando seu trabalho a respeito da tragédia em Fairfield. Recebi um telefonema do sr. Llew. Ele me disse que gostou muito da maneira como você conduziu a matéria.

— Obrigada pelo elogio, mas, para ser sincera, detesto cobrir tragédias — confessou Clara.

— Todos detestamos, mas esse é o nosso trabalho. O público tem um apetite voraz por notícias. A característica que a diferencia dos outros repórteres é sua compaixão.

— Não me senti nem um pouco compassiva quando estava diante da casa de Fairfield, esperando uma chance para entrar. Eu me senti mais como uma vampira.

— Isso é compreensível. Um político proeminente prestes a sofrer uma investigação é certamente algo bombástico. Mas um suicídio é muito pior. Fiquei surpreso pela esposa dele haver conseguido dar a entrevista.

— Ela disse que só falaria comigo — salientou Clara, balançando a cabeça com tristeza. — Somente com Clara Cavanagh. Não sei por quê.

— Eu sei. Você tem uma maneira especial de se comu­nicar com as pessoas que estão com problemas.

Talvez, pensou Clara. Afinal, ela própria não passava de uma problemática.

— O único problema é que está se expondo demais — continuou Gabriel.

— Esse ramo é muito difícil, chefe. Bem, mas deve saber disso mais do que eu. Estou apenas atrás do melhor furo de reportagem para o canal.

Gabriel respirou fundo.

— Tudo bem. Mas não está tomando cuidado, e sabe muito bem disso. Bob está preocupado.

— Ele falou com você?

— Sim, como a maioria de seus amigos, aqui na empresa. Sei que Bob é seu cameraman há muito tempo, e ele anda tão preocupado quanto seu amigo, Mike. A câmara que quebraram quando Bob estava com você era um bocado cara. Além disso, não é tarefa sua realizar matérias envolvendo prisioneiros de guerra. Deixe isso para nossos investigado­res, está bem? Da próxima vez, mandaremos Thompson. Pelo menos ele é faixa preta em caratê.

— Está sugerindo que eu aprenda caratê? — indagou Clara, fingindo inocência.

— Estou sugerindo que tenha mais cuidado para não ficar se envolvendo em situações onde até os anjos teriam receio de entrar. — Estreitando o olhar, ele perguntou: — O que acha de ficar como âncora do jornal das sete, no fim de semana?

Gabriel acabara de ter a idéia e a considerara mais do que brilhante. Clara ficou surpresa. Não queria tomar o lugar de ninguém, mas a sugestão lhe pareceu desafiadora.

— Não sei se estou pronta para algo assim — respondeu, evasiva.

Os finais de semana lhe davam um tempo extra para ficar com a mãe, e ela não queria abrir mão disso.

— Essa resposta não pareceu vir de você, srta. Cavanagh.

— É que prefiro elaborar matérias, buscar as bases das no­tícias, coisas desse tipo. Não sou muito de falar e de me exibir.

— Terá de aceitar a tarefa, se eu decidir que vale a pena tentar.

Clara endireitou as costas.

— Sim, você é o chefe.

— E isso continua a incomodá-la.

— Nem um pouco — ela mentiu.

— Então por que me olha como se eu fosse uma ameaça à espécie feminina?

"Porque você é exatamente isso!", pensou Clara.

— Mandou Marlene Attwell embora — disse a ele.

— Você a admirava?

— Não muito. Ela era invejosa demais para despertar amizade em alguém, mas também era muito profissional. Ficava muito bem na frente das câmaras e despertava cre­dibilidade nas pessoas.

— Marlene insultou muitas pessoas influentes — salientou Gabriel. — Apenas para criar um estilo e se destacar, e não pela notícia em si. Estou à procura de um rosto novo para o jornal. Portanto, pode se preparar.

Clara assentiu.

— Eu sabia que não iria sair de seu escritório com um sorriso — protestou.

— Por que tanta certeza? — Gabriel arqueou as sobran­celhas, com ar de riso. — Mel Gibson estará na cidade no início do próximo mês, fazendo uma rápida viagem à terra natal para promover seu novo filme. Já tive a confirmação de que ele está disposto a ceder uma entrevista para nós.

Clara arregalou os olhos.

— Essa entrevista tem de ser minha!

— Acha que pode dar conta?

Gabriel arqueou uma sobrancelha questionadora. Estaria ele pensando em dar a entrevista a Jennifer?, pensou Clara.

— Já viajei algumas poltronas atrás de Mel Gibson, em um avião — afirmou.

— É mesmo? Então não vai querer perder essa chance. Ele é uma pessoa muito fácil para se conversar. Seja direta e precisa nas perguntas.

— Pode deixar. Jennifer não ficará aborrecida?

— Não há nenhuma regra na empresa que a obrigue a en­trevistar artistas. Mesmo sendo ela pontual, nunca faltando às reuniões mensais, nem se envolvendo em entrevistas perigosas.

— Com certeza ouvirei reclamações por parte dela.

— Esse é um problema com o qual você terá de lidar, srta. Cavanagh. — Depois de observá-la por um instante, Gabriel falou: — Estava pensando em despedi-la, mas acho que me rendi ao seu charme. Pode ir agora, estou muito ocupado. A propósito, o sr. Llew oferecerá uma pequena festa, o que sig­nifica mais ou menos cem pessoas presentes, no sábado à noite. Acho melhor você comprar um vestido novo.

Qualquer outra pessoa ganharia um beijo por haver dado á ela aquela notícia, menos Gabriel McGuire.

— Fui mesmo convidada?

Um brilho de divertimento surgiu nos olhos dele.

— Está galgando a escada da fama, minha cara. O sr. Llew confia no nosso trabalho e quer conhecê-la pessoalmente.

Clara conteve a vontade de gritar de alegria. Ver seu tra­balho sendo reconhecido era bom demais para ser verdade! Gabriel riu.

— Suas expressões são tão denunciadoras que seria mais seguro você usar uma máscara — disse a ela. — A festa será em homenagem a Christopher Freeman.

Clara conteve o fôlego. Freeman era um grande empre­sário, dono de uma fortuna incalculável. Ele era australiano, mas morava nos Estados Unidos.

— Christopher Freeman tem fama de ser mulherengo — falou ela, como que pensando em voz alta.

— Não se preocupe. Estarei lá para protegê-la.

— Oh, isso me alivia muito — ironizou Clara. — Com você por perto, tipos como Freeman não terão chance de se aproximar de mim.

"Virgem profissional com cubos de gelo correndo nas veias", pensou ela, contendo o riso.

— Gostei de ouvir isso, srta. Cavanagh. A propósito, acho bom avisá-la de que a atual âncora do jornal das sete está pensando em se aposentar.

Clara, que já ia à porta, virou-se com ar de surpresa.

— Nunca a ouvi dizer isso.

— Não a tem visto com freqüência ultimamente — salientou Gabriel. — Para alguém que não é muito de falar e que não gosta de se exibir, até que se mantém um bocado ocupada.

— Tenho um lindo jardim para preencher minhas horas vagas.

Gabriel franziu o cenho, parecendo não entender o que ela quisera dizer com aquilo.

— Você é mesmo uma caixinha de surpresas — disse ape­nas. — Mande Farrell vir até aqui, por favor. As vezes, eu gostaria que ele tivesse o seu dinamismo. — Olhou-a com ar casual ao perguntar: — Aceita uma carona no sábado à noite? Será difícil encontrar vagas em torno da casa do sr. Llew.

A pergunta parecia muito simples, contudo, para Clara, soou como uma armadilha.

— Obrigada pela oferta, chefe, mas conheço bem o lugar e não terei problemas para encontrar uma vaga por perto.

— Bem, a oferta estará de pé, se mudar de idéia. Clara estava prestes a sair, mas se virou no último instante.

— Pensando bem... É tolice irmos em dois carros e ocupar uma vaga que poderia servir para outra pessoa.

Não! Não acreditava que dissera aquilo! O que estava acontecendo com ela afinal? Aquele era Gabriel McGuire, não estava lembrada? Terror da espécie feminina, megalomaníaco e... terrivelmente irresistível!

— Foi o que pensei — anuiu ele, parecendo não ligar muito por ela haver mudado de idéia. — Passarei para apa­nhá-la às oito horas.

Estava decidido, pensou Clara. Não havia mais como vol­tar atrás.


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