Silvia Maria de Araújo · Maria Aparecida Bridi · Benilde Lenzi Motim


Alguns avanços científicos e tecnológicos (séculos XIX-XX)



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Alguns avanços científicos e tecnológicos (séculos XIX-XX)

FONTE: Album/Akg-images/Latinstock; The Bridgeman Art Library/Keystone Brasil; Reprodução/Arquivo da editora; The Bridgeman Art Library/Keystone Brasil; Culver Pictures/The Art Archive/AFP; Coleção Hulton-Deutsch/Corbis/Latinstock; Bettmann/Corbis/Latinstock; Sovfoto/UIG/Getty Images; Reprodução/National Inventors Hall of Fame, Ohio, EUA.



1803-1804 Locomotiva a vapor.

1879 Lâmpada elétrica com filamento de carbono, desenvolvida por Thomas Edison.

1886 Automóvel movido a gasolina desenvolvido e patenteado por Karl Benz.

1895 Cinematógrafo em madeira e metal, similar ao apresentado pelos irmãos Lumière na Primeira Mostra de Cinema, em Paris, França.

1903 A física franco-polonesa Marie Sklodowska Curie (1867-1934) descobriu a radioatividade e foi a primeira mulher a ganhar o Prêmio Nobel (de Física, em 1903, e de Química, em 1911).

1928 A pioneira na aviação dos Estados Unidos, Amelia Earhart (1897-1937), antes de realizar um voo transatlântico em um biplano.

1946 Técnicos estadunidenses trabalham no Eniac (Electronic Numerical Integrator And Computer), primeiro computador eletrônico digital do mundo.

1963 A cosmonauta russa Valentina Tereshkova foi a primeira mulher a ir ao espaço, em junho de 1963, na nave Vostok VI.

1984 Primeira impressora 3D, inventada por Chuck Hull.

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Desde seus primórdios, a humanidade cria e utiliza técnicas e desenvolve um "saber fazer" como forma de garantir a sobrevivência. Mas o que é tecnologia? Ciência e tecnologia são a mesma coisa? A tecnologia e a ciência não se confundem, mas se intercambiam: a tecnologia volta-se para a prática, mas depende do conhecimento produzido pela ciência. Por outro lado, a ciência utiliza os produtos da tecnologia para fazer avançar o saber e a ação do ser humano sobre si e o ambiente. A origem da palavra tecnologia vem da junção do termo técnica, do grego techné, que consiste em 'saber fazer', e de logia, do grego logus, 'campo de estudo'.

As tecnologias são formas de conhecimento que podem ser resultado de uma ciência, mas com ela não se confundem. A ciência busca a compreen são dos fenômenos a partir de problemas e indagações, de elaboração de hipótese, de experimentação e de pesquisa embasada em métodos de investigação. Já a tecnologia responde a uma necessidade formulada pelos indivíduos, que buscam os meios e os recursos para a sua realização. As sociólogas brasileiras Maíra Baumgarten (1954-) e Lorena Holzmann (1942-) definem

[...] tecnologia como uma atividade socialmente organizada, baseada em planos e de caráter essencialmente prático. Compreende, portanto, conjuntos de conhecimentos e informações utilizados na produção de bens e serviços, provenientes de fontes diversas, como descobertas científicas e invenções, obtida por meio de diversos métodos, a partir de objetivos definidos e com finalidades práticas.

BAUMGARTEN, Maíra; HOLZMANN, Lorena. Tecnologia. In: CATTANI, Antonio D.; HOLZMANN, Lorena. Dicionário de trabalho e tecnologia 2ª ed. Porto Alegre: Zouk, 2011. p. 391.

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Em síntese, a tecnologia é o conhecimento que faz aplicação prática da ciência. Embora a ciência já fizesse parte do cotidiano da humanidade, foi principalmente a partir do século XX que observamos o fenômeno da utilização da ciência de modo instrumental, conforme analisou o filósofo Jürgen Habermas (estudado em mais detalhes no Capítulo 12). Nos últimos dois séculos, o capitalismo utilizou a ciência para alavancar os diversos setores da economia. O fato de o poder estabelecido se valer do conhecimento científico para interferir na vida em sociedade é uma das explicações para o rápido avanço das tecnologias em todas as dimensões e campos.

O fato é que tanto a ciência quanto as tecnologias são resultados do trabalho humano e, ao mesmo tempo que transformam o mundo material, o cotidiano e as formas de trabalho, produzem diversos conflitos e contradições. São essas mudanças nas dimensões do trabalho, das inovações tecnológicas e do sistema de produção capitalista que estudaremos neste capítulo.

Comumente, diante de desafios e problemas enfrentados pelos trabalhadores na atualidade (como o desemprego em indústrias que passaram por mecanização, automação e robotização do processo produtivo), as tecnologias são apontadas como uma das principais vilãs. Mas há outros elementos, talvez até mais importantes, nessa relação. É "como" uma determinada sociedade organiza a si mesma, a sua economia e as suas relações de trabalho que configura o seu desenvolvimento no conjunto do sistema capitalista. Esse "como" diz respeito ao campo da luta política, no qual muitas vezes se opõem trabalhadores e empresários na disputa pelas modalidades de realização do trabalho e da regulação dos sistemas de proteção.

A aceleração e a maior intensidade das mudanças passaram a ser as marcas das últimas décadas do século XX aos dias atuais.

Organização do trabalho no século XX

As crises econômicas, que de tempos em tempos atingem a sociedade capitalista em razão da insuficiência do sistema em dar respostas ao processo de acumulação, fazem com que empresários, gestores e administradores promovam alterações nas formas de produzir e de controlar o trabalho. Foi assim que, durante o século XX, predominou em nossa sociedade, ainda que não de modo uniforme, uma forma específica de produção com controle sobre o trabalho, denominada fordismo.

O fordismo se consolidou como um sistema de produção no contexto da crise de 1929 e da Grande Depressão dos anos 1930, quando o governo norte-americano passou a adotar práticas keynesianas, isto é, a intervir na economia e nas relações de trabalho como forma de saída da crise capitalista. Mas o fordismo não nasceu nessa crise. Então, em que consiste e quais são as suas origens?

O fordismo consiste em um sistema de produção em massa cuja palavra-chave é padronização (tanto das tarefas quanto do produto). Esse sistema, que articula inovações técnicas e organizacionais visando a otimização da produção e o consumo em massa, foi empregado pelo industrial Henry Ford (1863-1947) em sua fábrica de automóveis, sediada em Detroit (Estados Unidos), nas primeiras décadas do século XX. Por meio da criação de linhas de montagem, nas quais os operários ficavam parados enquanto as peças se movimentavam em esteiras rolantes, cada trabalhador executava apenas uma etapa do processo de trabalho.

Para aumentar a produtividade, o fordismo associou-se ao taylorismo, modo extremamente racional de uso do tempo e de movimentos do trabalhador no chão da fábrica. O taylorismo foi desenvolvido pelo engenheiro norte-americano Frederick Winslow Taylor (1865-1915), também com vistas a otimizar a produção.

Glossário:



práticas keynesianas: inspiradas nas ideias do economista inglês John Maynard Keynes (1883-1946), que defendia maior regulação do mercado pelo Estado a fim de garantir o pleno emprego para a população.

otimização: forma de obter melhores condições para algo. No contexto de produção, significa produzir mais em menos tempo ou com menos recursos.

Fim do glossário.



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Os trabalhadores são treinados para a alta produtividade mediante o uso eficiente do tempo, a divisão de atividades, a separação entre concepção e execução das tarefas e a economia de movimentos exercidos em cada função. Essa racionalização científica do tempo e dos movimentos leva à especialização e à intensificação do ritmo de trabalho, visando ao controle dele.

LEGENDA: Trabalhadores na linha de produção de automóveis em Detroit, Estados Unidos, 1911.

FONTE: Akg-Images/Latinstock

Associados, o fordismo e o taylorismo constituíram um eficiente sistema de produção que se espalhou também para outros setores econômicos, além

da indústria. O consagrado filme Tempos modernos, de Charles Chaplin, aborda de forma irônica o trabalho de tipo fordista-taylorista e suas consequências para os indivíduos.

Depois de duas grandes guerras e em meio à corrida desenvolvimentista entre as potências mundiais, nos anos 1960 e 1970, ocorreram importantes mudanças no âmbito do trabalho. Para adaptarem-se às oscilações do mercado, as empresas implantaram um conjunto de inovações tecnológicas (derivadas da informática e da robótica) e organizacionais, que alteraram a maneira de gerir o trabalho. Mais uma vez, soluções produtivas surgiram como resposta a uma crise capitalista, a chamada "crise do petróleo". Dessa vez, o modelo veio do Japão.

LEGENDA: A tirinha, de 1996, de autoria de Bob Thaves, satiriza a alienação a que o trabalhador está sujeito no modelo fordista.

FONTE: Bob Thaves © 1996 Thaves/Dist. by Universal Uclick for UFS

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O Japão, que tinha sido arrasado na Segunda Guerra Mundial, estava experimentando uma nova forma de organização da produção, mais flexível, criada por Taiichi Ohno e introduzida na fábrica de veículos Toyota, na década de 1950, que se espalhou para outros países do mundo. Nesse modelo de produção, denominado toyotismo (ou modelo japonês), a produção é comandada pela demanda do mercado e não trabalha com grandes estoques de insumos e de mercadorias.

A introdução de mais máquinas, equipamentos, programas, processos e novas formas de administrar os empregados levou à diminuição geral dos custos, a um maior controle sobre os trabalhadores e à redução de mão de obra utilizada. A esse modo de produzir, altamente flexível e com economia de recursos, convencionou-se chamar produção enxuta. O processo de trabalho tornou-se mais flexível nas empresas que adotaram o toyotismo, no seguinte sentido: a mão de obra é multifuncional, ou seja, o trabalhador deve se adequar a diferentes funções; há controle visual da produção, com a supervisão de todas as etapas, buscando a qualidade do produto final; e a produção é estabelecida segundo a demanda e a necessidade de produtos personalizados.

LEGENDA: Linha de montagem de empresa automobilística chinesa instalada em Jacareí (SP). Foto de 2015.

FONTE: Nilton Cardin/Folhapress

Para muitos autores o modelo toyotista substituiu o fordismo. No entanto, diversas pesquisas realizadas pelos sociólogos do trabalho demonstraram que o fordismo não desapareceu. A racionalização da produção, com a adoção de alguns princípios característicos do toyotismo, em muitos casos configurou sistemas de produção híbridos, fordistas-toyotistas. O fato é que, com essas e outras mudanças no âmbito da política, inaugurou-se um tempo de grande flexibilidade não apenas na produção, mas também nas relações sociais e do trabalho, nas bases econômicas e geográficas, como atesta a dinâmica produtiva das empresas transnacionais.

A Terceira Revolução Industrial (ou Revolução Tecnológica), ocorrida a partir dos anos 1970, automatizou o trabalho, introduziu a informática e a robótica, desenvolvendo a capacidade de acumular, armazenar, processar e distribuir informações.

Glossário:



insumo: termo empregado na economia para se referir aos elementos necessários para produzir mercadorias ou serviços, tais como as matérias-primas, os equipamentos, o capital, etc.

Fim do glossário.



141

A maneira de produzir transitou da rigidez das formas de organização taylorista-fordistas, nas quais cada pessoa detinha um posto de trabalho e uma máquina, para a flexibilização na produção, no trabalho e nos mercados. Isso não significa que a produção fordista tenha desaparecido, mas que essas formas de produção podem até coexistir em uma mesma empresa, quando se combinam elementos do fordismo, do taylorismo e de sistemas flexíveis de produção.

Essa reorganização da produção, baseada na inovação de equipamentos, na flexibilidade de tempo e de mão de obra, na redução do custo e no controle da qualidade, é denominada reestruturação produtiva. Desenvolvida nos países capitalistas centrais nas décadas de 1970 e 1980, ela chegou ao Brasil com intensidade nos anos 1990, período marcado por ajustes nas relações trabalhistas. Nesse contexto, é importante conhecer as alterações que acontecem nas relações de trabalho, uma vez que essas se compõem de um conjunto de leis e normas sociais reguladoras da compra e venda da força de trabalho e também dos conflitos resultantes.

O geógrafo britânico David Harvey (1935-) alerta que, nas condições da produção capitalista, a socialização do trabalhador envolve o controle social amplo das suas capacidades físicas e mentais. O maior controle do trabalho contribui para a acumulação do capital, e ele acontece também fora do local de trabalho, estimulando a familiarização do trabalhador com os objetivos da empresa e convencendo-o a participar e a cooperar com o processo produtivo, estratégias típicas das novas formas de gestão do trabalho. Um exemplo desse envolvimento integral com o trabalho são aqueles trabalhadores que, por meio de celulares e computadores, permanecem à disposição da empresa além do horário previsto em contrato.

LEGENDA: A tirinha de Laerte, de 2012, ironiza a maneira como o ritmo intenso de trabalho inibe a capacidade do trabalhador de aproveitar seu tempo livre.

FONTE: Laerte/Acervo do artista



Presente na indústria e nos serviços, a produção flexível acontece por encomenda, utiliza técnicas que produzem mais em menos tempo e com menor número de trabalhadores. Ela se diferencia tipicamente da produção fordista, que é baseada na produção em massa, com altos níveis de estoque e rígido controle sobre o trabalhador. O uso de máquinas complexas na agricultura, por exemplo, permitiu o cultivo de extensas áreas rurais, que favoreceu a competição na venda mundial de grãos, mas reduziu drasticamente o emprego de trabalhadores. Algumas dessas mudanças podem ser vistas no quadro da próxima página, no qual são comparadas as principais características dos dois sistemas de produção em países de capitalismo avançado, levando em conta o mercado, a produção, a organização do trabalho, as inovações técnicas e organizacionais e a estruturação das fábricas.

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O sistema de produção taylorista-fordista e o sistema de produção flexível

Aspectos considerados

Sistema de produção taylorista-fordista (predominante no período de 1930 a 1970)

Sistema de produção flexível (em expansão desde a década de 1970)

Mercado

Objetiva o consumo de massa.

Objetiva atingir nichos específicos de mercado.

Produção

· Produção em massa.
· Rigidez e controle das etapas.
· Integração vertical, ou seja, todas as partes do produto são fabricadas na mesma empresa.
· Utilização de mão de obra intensiva.

· Produção especializada.
· Produção flexível em relação à organização e ao trabalho.
· Terceirização: transferência de parte da produção para outras empresas, constituindo redes integradas de empresas.
· Redução dos postos de trabalho.

Organização do trabalho

· Tarefas mecânicas, fixas e bem definidas.
· Hierarquização de cargos e salários.
· Fixação do trabalhador no posto de trabalho, exercendo uma única função.
· Disciplinarização e controle do trabalhador.
· Contrato de trabalho formal por tempo indeterminado.

· Flexibilidade e multifuncionalidade.
· Redução das hierarquias internas.
· Trabalho em equipe, rodízio de tarefas, funções genéricas.
· Intensificação do controle sobre o trabalhador por meio de equipamentos e autocontrole.
· Diversificação das formas de contrato de trabalho (autônomo, por produção, por tempo determinado, etc.).

Inovações técnicas e organizacionais

· Administração científica e centralizada da produção.
· Linhas de montagem e esteiras rolantes no processo produtivo.
· Produção em série.
· Separação entre a concepção e a execução do trabalho.

· Administração científica.
· Organização da produção com tecnologia de base microeletrônica e células de produção associadas à linha de montagem.
· Produção por demanda.
· Automação e robotização; integração entre empresas.
· Relativa integração entre concepção e execução do trabalho; responsabiliza o trabalhador pelo manuseio dos equipamentos e pela qualidade do produto; programas de participação do trabalhador (círculos de qualidade, sugestões, etc.).

Fábricas

· Grandes estruturas de produção que exigem investimentos elevados.
· Concentração da produção em um único espaço.
· Concentração das decisões.

· Fábricas espalhadas pelos mercados mundiais.
· Reorganização do espaço físico das empresas.
· Descentralização da produção, apenas com decisões centralizadas na matriz.

Perspectiva do trabalhador

· Emprego estável, protegido por contrato por tempo indeterminado.
· Distribuição dos ganhos de produtividade por meio dos salários.
· Grandes contingentes de trabalhadores.
· Rígido controle de tarefas.
· Remuneração salarial regular.

· Crescimento da subcontratação e da consultoria.
· Redução do número de trabalhadores protegidos.
· Novas formas de organização industrial, com jornadas flexíveis, por exemplo, e o retorno de formas antigas, como o trabalho em domicílio, por tempo parcial, entre outras.
· Intensificação do ritmo de trabalho.
· Novas ferramentas de controle do trabalho.
· Introdução de formas de remuneração variáveis, como prêmios por produtividade e participação nos resultados.

FONTE: Elaborado com base em: HARVEY, David. Condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1993; CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

Pausa para refletir

O que distingue as diferentes épocas econômicas não é o que se faz, mas como, com que meios de trabalho se faz. Os meios de trabalho servem para medir o desenvolvimento da força humana de trabalho e, além disso, indicam as condições sociais em que se realiza o trabalho. Os meios mecânicos, que, em seu conjunto, podem ser chamados de sistema ósseo e muscular da produção, ilustram muito mais as características marcantes de uma época social de produção que os meios que apenas servem de recipientes da matéria objeto de trabalho, e que, em seu conjunto, podem ser denominados sistemas vascular da produção, como, por exemplo, tubos, barris, cestos, cântaros etc.

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. 28ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011. Livro 1, v. I, p. 214. (Texto publicado originalmente em 1867.)



1. O que caracteriza as diferentes épocas econômicas, segundo a visão de Marx?

2. Pesquise e apresente algumas das tecnologias que mudaram a maneira de produzir e trabalhar em nosso tempo. Como essas tecnologias têm marcado a nossa época?

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A flexibilização e a sociedade

Embora a forma como a produção é organizada não dependa do Estado, este exerce um papel crucial no desenvolvimento da economia. Assim, no sistema taylorista-fordista de produção há maior intervenção do Estado na economia: ele regulamenta as negociações entre o capital e o trabalho, oferece formação técnica ao trabalhador e regula as atividades capitalistas e de interesse nacional. Quando a produção se tornou mais flexível, o Estado tendeu a reformular seu papel, buscando atrair investimentos externos e legislar pela desregulamentação e/ou flexibilização das relações de trabalho.

Os sistemas flexíveis reduzem os estoques ao aprimorarem a logística interna e externa das empresas, por meio da organização de transportes e de abastecimento. Com essa reestruturação da produção, o capital se prepara para enfrentar crises, concorrência, oscilações econômicas e impasses técnicos, além de poder regular o uso da força de trabalho diante de tantas mudanças. Essa flexibilização pode ser compreendida como:

[...] a possibilidade de alteração da norma como forma de ajustar as condições contratuais, por exemplo, a uma nova realidade, a partir da introdução de inovações tecnológicas ou de processos, que podem ser negociados legitimamente entre os atores sociais ou impostos pelo poder discricionário da empresa, ou ainda através da atuação do Estado. Assim, em princípio, a flexibilidade pode significar a depressão dos direitos com a finalidade de redução dos custos. Por outro lado, ela pode ser uma forma de adaptar as equipes e os processos produtivos às inovações tecnológicas ou à mudança de estratégia da empresa, investindo e capacitando os recursos humanos ou até melhorando as condições de trabalho.

KREIN, José Dari. O aprofundamento da flexibilização das relações de trabalho no Brasil nos anos 90. Campinas: Ed. da Unicamp, 2001, mimeo. (Dissertação de Mestrado). p. 28.

Ser flexível significa realizar diferentes tarefas e fabricar diversas mercadorias na mesma linha de produção - por exemplo, quando variados modelos de carros são produzidos simultaneamente. A indústria automobilística e o setor bancário são exemplos de ramos em que foram implantados sistemas flexíveis de produção. Na indústria de veículos, a adoção de equipamentos de microeletrônica e robótica trouxe para os trabalhadores maior responsabilização pelo processo de trabalho e pelos resultados da produção.

Glossário:

logística: área que se ocupa do planejamento, do abastecimento e da organização dos materiais e produtos de uma empresa.

discricionário: isento de restrições, sem regras.

Fim do glossário.

LEGENDA: Otimizar o tempo para despachar os produtos é uma das preocupações do sistema flexível de produção. Fábrica de autopeças em Contagem (MG), 2007.

FONTE: Bruno Magalhães/Nitro Imagens/Latinstock



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No caso do sistema financeiro, o trabalhador bancário acaba assumindo múltiplas tarefas: opera o caixa, vende produtos como seguros, entre outros. Além disso, os bancos transferiram ao cliente uma série de tarefas (trabalhos) que antes eram realizados pelo bancário: emissão de cheques, pagamentos de contas, depósitos, entre outros.

Ser flexível significa vínculos de trabalho mais frouxos e formas variadas de contratação, menos protegidas pela legislação do trabalho, com jornadas de trabalho cada vez menos definidas.

Qual é o papel das tecnologias nesse processo de flexibilizar as relações trabalhistas e os modos de produção? Evidentemente elas têm um papel importante, visto que tendem a economizar mão de obra, substituem a força muscular, realizam milhares de tarefas que antes eram efetuadas por trabalhadores. Ou seja, as tecnologias potencializam as transformações, por serem elas os meios, as ferramentas, os equipamentos que permitiram e permitem a organização de novos formatos de empresas, de formas de trabalhar e de relações sociais. Veja, na notícia a seguir, uma das expressões do trabalho flexível, no Reino Unido contemporâneo. Sem contrato de trabalho fixo, o trabalhador deve estar à disposição da empresa 24 horas, sem a certeza de que será chamado para trabalhar.



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