Silvia Maria de Araújo · Maria Aparecida Bridi · Benilde Lenzi Motim


Rolezinhos: marcas, consumo e segregação no Brasil



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Rolezinhos: marcas, consumo e segregação no Brasil

Existem   diversos   outros   exemplos   desse   tipo   de   fenômeno   que   ocorre   nas

periferias   dos   países   desenvolvidos   ou   em   desenvolvimento.   Ainda   que

manifestações   sejam   muito   diversas,   respondendo   a   contextos   plurais,   é

possível pensar para além da esfera local e nacional. Em comum, encontra-se

o   fato   de   que   grupos   das   camadas   menos   privilegiadas   se   apropriam   dos

símbolos de poder e riqueza do capitalismo global. Destaca-se igualmente uma

hegemonia   masculina   na   presença   nos   rituais   públicos.   E   as   marcas   são

símbolos   dessa   desigualdade.  [...]  Esse   fenômeno   estrutural   das   periferias


globais, nuançado por contextos locais e nacionais, provoca angústia das elites

e   desespero   do   setor   de  marketing  das   grandes   corporações,   que   hoje

precisam responder a um problema que eles mesmos criaram: a produção do

sonho e do amor às marcas. Como disse publicamente um CEO  [gestor de

uma marca famosa]: "encontramos o nosso inimigo, somos nós mesmos". Ou



como   anunciou   um   dos   maiores   produtores   de   pirataria,   então   preso   nos

Estados Unidos: "Vocês (as marcas) criaram um sonho, agora aguentem". Fica

evidente aqui o papel subversivo desses jovens ao desafiarem a racionalidade

do  marketing  e   atuarem   em   um   campo   não   previsto   pelos   gestores   das

grandes marcas. O marketing do amor, assim, revela algumas contradições da

modernidade: ele é dirigido às elites, mas acaba atingindo as populações mais

desprovidas de capitais, as quais, ao se apropriarem do símbolo dos outros,

reinventam a sua própria condição de pobreza, ressignificando a carência em

abundância.

PINHEIRO-MACHADO,   Rosana;   SALCO,   Lucia   Muri.   Rolezinhos:   marcas,

consumo   e   segregação   no   Brasil.  Revista   Estudos   Culturais,   n.   1,   2015.

Disponível   em:   www.each.usp.br/revistaec/?q=revista/1/rolezinhos-marcas-

consumo-e-segrega%C3%A7%C3%A3o-no-brasil. Acesso em: 20 dez. 2015.

LEGENDA: MC Gui durante uma apresentação em São Paulo (SP), em 2016.

Popular   entre   os   frequentadores   dos   rolezinhos,   o   funk   ostentação   ganhou

projeção   nacional   com   a   repercussão   do   conflito   entre   comerciantes   e   os

jovens consumidores.

FONTE: Darcio Nunciatelli/Brazil Photo Press/Folhapress

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