religioso incentiva o indivíduo a procurar superar sua condição humana a fim
de se abrir a algo que o supera e, ao mesmo tempo, o engloba. Esse "algo"
pode ser imanente, ou seja, pode se manifestar concretamente, à vista de
todos; ou então transcendente, ou seja, pode ocorrer em um plano que não é o
concreto. Ao mesmo tempo, os seres humanos produzem ritos, crenças,
costumes, regras de conduta orientados pela religião - as chamadas produções
sociais da religião. É por meio delas que muitos indivíduos procuram a
harmonia de sua existência.
Ainda segundo Baechler, o fenômeno religioso implica a ação de atores
sociais, como os produtores, os gestores e os fiéis. Os responsáveis pela
produção do conjunto de crenças religiosas são personagens místicos, como
Jesus Cristo, Maomé, Buda, os primeiros antepassados, para citar exemplos
do cristianismo, do islamismo, do budismo e de muitas religiões indígenas. Já
os gestores (lideranças e dirigentes religiosos) organizam, por meio das
práticas religiosas, a difusão da fé entre aqueles que buscam contato com a
esfera divina. Os sociólogos Peter Berger (1929-) e Thomas Luckmann (1927-
2016) definem o processo de institucionalização social como a repetição de
uma ação definindo um padrão
205
LEGENDA: Representação do profeta Maomé, fundador do islamismo, em
ilustração turca do século XVI.
FONTE: Bildarchiv Steffens/The Bridgeman Art Library/Keystone Brasil
LEGENDA: Detalhe de Cristo na cruz (c. 1632), do pintor espanhol Diego
Velázquez.
FONTE: Museu do Prado, Madri, Espanha.
LEGENDA: Escultura representando o orixá Xangô, de Miguel Morais. Foto de
2013.
FONTE: Julian Kumar/Godong/Corbis/Latinstock
LEGENDA: Escultura paquistanesa representando Buda, do século IV.
FONTE: Museu de Lahore, Punjab, Índia//The Bridgeman Art Library/Kesytone
Brasil
de conduta social aceito e legitimado coletivamente por determinado grupo.
Nesse processo, os gestores lançam mão de práticas como crenças, gestos,
formação de comunidades e regras de conduta.
Uma crença pode se cristalizar em mitos, dogmas ou construções teológicas.
Frutos da imaginação e da criatividade humanas, os mitos estão presentes em
todas as culturas e representam simbolicamente fenômenos humanos ou da
natureza, como o mito da criação do mundo. Para muitos sociólogos e para a
antropologia funcionalista, os mitos são alegorias que não só explicam
problemas existenciais e sociais, mas também possuem uma função na
organização da vida da comunidade.
Em uma religião, as crenças que assumem o caráter de verdades doutrinárias
a serem aceitas sem discussão - por serem consideradas de origem divina -
constituem dogmas. Já as construções teológicas são regras, procedimentos e
interpretações elaboradas, no decorrer do tempo, por aqueles indivíduos
reconhecidos como intermediários entre a divindade e o mundo profano. As
bases de uma crença mobilizam as emoções e a sensibilidade dos fiéis,
traduzindo-se em práticas religiosas, tais como celebrações, danças, transes,
sacrifícios, ritos, orações, gestos sistematizados. As práticas religiosas,
geralmente, são dirigidas a uma comunidade congregada por cerimônias, que
marcam o tempo e o espaço com simbolismo próprio.
As religiões [...] propõem regras de vida sob a forma de obrigações e de
proibições. [...] Algumas são pontuais ou referem-se às consequências diretas
de uma determinada prescrição religiosa relativa a um determinado aspecto de
uma dada sociedade. Se, por exemplo, o judaísmo e o islã proíbem o consumo
de carne de porco, daí resulta que o porco está ausente das comunidades
judaicas e muçulmanas. A partir do momento que o vinho é indispensável à
celebração da missa, em virtude de um dogma central do cristianismo, a vinha
é cultivada nos países cristãos. [...] podemos demonstrar, com base em
documentos, que não há um único domínio da vida social que não tenha sido
afetado, mais ou menos decisivamente, pela religião.
BAECHLER, Jean. Religião. In: BOUDON, Raymond (Org.). Tratado de
Sociologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995. p. 465.
O fenômeno religioso tem, portanto, muitas facetas, e é heterogêneo por se
basear em diversas fontes e interesses relacionados à condição humana. As
diferentes interpretações sobre as religiões destacam sua função moral e de
consolidação de costumes e o caráter ideológico de suas ações, que procuram
justificar uma ordem social como se ela fosse natural.
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Mesmo para os ateístas, ou seja, aqueles que não acreditam na existência de
divindades, a religião é fonte de inspiração e de questionamentos. O filósofo
suíço Alain de Botton (1969-) afirma que:
[...] É possível não sentir atração pela doutrina da Santíssima Trindade cristã
[...] e, ainda assim, interessar-se pelas maneiras como as religiões fazem
sermões, promovem a moralidade, engendram um espírito de comunidade,
utilizam a arte e a arquitetura, inspiram viagens, exercitam as mentes e
estimulam a gratidão pela beleza da primavera. [...]
BOTTON, Alain de. Religião para ateus. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2012.
FONTE: Elaborado com base em: CALDINI, Vera; ÍSOLA, Leda. Atlas
geográfico Saraiva. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 180; LE ROBERT.
Atlas Géopolitique et Culturel. Paris: Le Robert, 2003. p. 80; DE AGOSTINI.
Atlante geografico metodico. Novara: De Agostini, 2011. p. E36. Créditos:
Banco de imagens/Arquivo da editora
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