Silvia Maria de Araújo · Maria Aparecida Bridi · Benilde Lenzi Motim



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Podemos afirmar que a modernidade abriu espaço para que parte das sociedades abrigasse um número elevado de denominações religiosas simultaneamente.



A modernidade-mundo não se organiza segundo princípios religiosos (o que não significa que não existam países, por exemplo, no mundo árabe, onde o predomínio da religião, como "consciência coletiva", não tenha um peso capital). Apesar do florescimento de novas crenças religiosas, da intensificação de uma religiosidade individualizada, da vitalidade de religiões que pareciam extintas, uma constatação se impõe: o lugar que o universo religioso ocupava nas sociedades tradicionais foi definitivamente remodelado pela modernidade.

ORTIZ, Renato. Anotações sobre religião e globalização. Revista Brasileira de Ciências Sociais. São Paulo, v. 16. n. 47, out. 2001, p. 64.

A consciência coletiva, citada por Ortiz, refere-se a valores, sentimentos, crenças e tradições que são legitimados, repetidos e transmitidos ao longo das gerações. Segundo Durkheim, a consciência coletiva exerce coerção sobre as consciências individuais (muitas vezes de forma velada), reforçando hábitos, costumes e representações sociais. Para ele, a consciência coletiva é perceptível, sobretudo, nas sociedades tradicionais, nas quais indivíduos e grupos são muito semelhantes e o controle social de uns sobre outros é exercido mais diretamente. Nessas sociedades, a religião busca conformar as consciências individuais para preservar a ordem social, na visão de Durkheim.

A globalização recente, como todo grande processo sociocultural, gera desigualdades entre grupos e nações. Por um lado, não acontece com igual intensidade e do mesmo modo em todos os lugares; por outro lado, ela tende a homogeneizar alguns comportamentos sociais ao redor do globo. Nesse sentido, a religião desempenha um papel de resistência porque confere identidade ao ser humano, ao reunir as pessoas e fornecer um referencial comum aos grupos sociais. Uma prática religiosa, por exemplo, cria afinidade de pensamentos e permite compartilhar experiências entre os integrantes de um determinado grupo social.



As crenças religiosas, enquanto "consciências coletivas", aglutinam o que se encontrava antes disperso. [...] A memória é uma técnica coletiva de celebração das lembranças, aproxima o passado, soldando os indivíduos no seio de uma mesma comunidade. Ora, como tem sido apontado por inúmeros autores, a temática da identidade transforma-se radicalmente com o processo de globalização. Ela se torna crucial. A crise das identidades nacionais abre espaço para a explosão de identidades étnicas, particulares, e até mesmo de dimensões identitárias mundializadas, forjadas no seio de fluxos transnacionais de consumo.

ORTIZ, Renato. Anotações sobre religião e globalização. Revista Brasileira de Ciências Sociais. São Paulo, v. 16, n. 47, out. 2001, p. 65-66.

A difusão da religiosidade via meios de comunicação favoreceu a expansão das religiões e até a multiplicação de suas manifestações. Se antes a difusão era limitada pelo espaço físico, hoje a transmissão de ritos e celebrações pelos meios de comunicação rompe essas barreiras. As religiões puderam diversificar seus meios de divulgação com emissoras de rádio e televisão, internet, CDs, editoras de livros e revistas, vídeos, objetos religiosos e lembranças, serviços de terapia e aconselhamento, imóveis e estruturas de marketing. Segundo o sociólogo brasileiro Antônio Flávio Pierucci (1945-2012), esses meios se caracterizam como atividades econômicas desenvolvidas pelas organizações religiosas para atingir públicos específicos de adeptos/clientes.

Na era globalizada, os meios de comunicação não apenas permitem a articulação das ações dos grupos religiosos como também as potencializam.



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Entre os cientistas sociais contemporâneos, o sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002) propõe uma leitura do que chama sistemas simbólicos. Os sistemas simbólicos são instrumentos de conhecimento e de comunicação para a construção da realidade e propiciam aos indivíduos um sentido imediato do mundo social. Para Bourdieu, a religião, a arte, a ciência e os mitos são exemplos de sistemas simbólicos. Estudar esses sistemas é perceber como eles ajudam a construir o espaço social e quais são seus mecanismos de reprodução.

Bourdieu faz uma sociologia relacional, ou seja, que se volta para as diferentes relações que os indivíduos estabelecem uns com os outros na sociedade. Desse modo, ele se concentra em compreender a dominação que as produções simbólicas exercem sobre os indivíduos, na medida em que elas unem (permitem a comunicação) e também legitimam distinções (reforçam diferenças). No campo religioso, essa dominação se impõe por meio de especialistas:

A história da transformação do mito em religião (ideologia) não se pode separar da história da constituição de um corpo de produtores especializados em discursos e de ritos religiosos, quer dizer, do progresso da divisão do trabalho religioso, que é, ele próprio, uma dimensão do progresso da divisão do trabalho social, portanto, da divisão em classes e que conduz, entre outras consequências, a que se desapossem os laicos dos instrumento de produção simbólica.

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989, p. 12-13.

A crença na legitimidade da palavra desses especialistas reforça o poder simbólico que eles detêm. O poder simbólico não está na palavra em si, mas na legitimidade que os indivíduos dão a quem as enuncia. Assim, para Bourdieu, esse poder é "quase mágico", ao permitir obter o equivalente daquilo que é obtido pela força física ou econômica, em geral de forma pouco evidente.

LEGENDA: Localizado em São Paulo (SP), o templo de Salomão é um espaço expressivo do crescimento da religião evangélica no Brasil. Foto de 2014.

FONTE: Juliana Knobel/Frame/Folhapress

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Fundamentalismo religioso

O fundamentalismo religioso foi reconhecido como fenômeno recentemente, quando o termo passou a ser mais utilizado pelos cientistas sociais. O sociólogo britânico Anthony Giddens (1938-) o descreve como um movimento de adesão incondicional a determinados valores e crenças, cujos adeptos têm um entendimento literal dos seus livros sagrados. Nos casos mais radicais, isso leva à adoção de meios violentos para a imposição dessa leitura ao restante da sociedade.

Na visão de Zygmunt Bauman, o radicalismo religioso resulta do desgaste dos elementos que mantêm unida uma congregação de fiéis, levando alguns grupos a desejarem eliminar aquilo que pareça indiferente ou discordante com relação aos princípios que professam. Valores como a fé, a confiança e a capacidade de autoafirmação são oferecidos aos fiéis por meio de regras simplificadas; ao mesmo tempo, os fundamentalistas geralmente rejeitam o diálogo com os que pensam de maneira diferente da sua.

Bauman identifica que na sociedade atual, marcada social e culturalmente pelo capitalismo pós-industrial, tudo se torna efêmero e fragmentado. Nela prevalecem a diversidade e a flexibilidade nos relacionamentos nas diversas instâncias sociais. Para explicar a instabilidade da sociedade contemporânea, Bauman utiliza a metáfora do estado de "liquidez" da matéria e denomina "realidade líquida" as mudanças repentinas e estímulos constantemente renovados na presente fase da história.

Assim, o fascínio exercido pelo fundamentalismo proviria de sua promessa de "libertar" o indivíduo da autossuficiência a que estava condenado, informando-o do que ele deve fazer e eximindo-o da responsabilidade sobre seus atos e ações. Assim, ele oferece uma "racionalidade alternativa" que se opõe às incertezas da vida e aos seus riscos.

O fundamentalismo pode vir associado a situações de desigualdade social por fornecer às populações pobres e injustiçadas um sentido já definido para a realidade vivida. Desse modo, ele teria maior apelo entre as amplas parcelas da população que se veem impossibilitadas de consumir tudo o que a sociedade oferece ostensivamente e vitimadas pelo desemprego e pela desassistência social.

LEGENDA: Manifestantes indonésios reivindicam, em Jacarta, capital do país, a expulsão da população Ahmadiyah, um grupo islâmico considerado herético pelos mais ortodoxos. A Indonésia é o país com a maior concentração de praticantes do islamismo. Foto de 2011.

FONTE: Ismoyo/Agência France-Presse



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Desfazendo mitos

O fato de alguns ataques de grupos terroristas serem feitos em nome de uma crença específica não significa que todos os adeptos daquela religião sejam terroristas em potencial. Apenas alguns grupos apresentam reações fundamentalistas diante de quem é alheio ou discordante com relação à sua crença religiosa.

Entre os estudos sobre o terrorismo, é preciso destacar aqueles que sinalizam para a situação de empobrecimento e marginalização de vastas populações em diversas partes do mundo, sobretudo após os anos 1990. Muitas associações religiosas assumiram obrigações e deveres até então exercidos pelo Estado, que reduziu seu papel no sistema de proteção social em tempos de neoliberalismo. Assim, outros fatores sociais e políticos também estão atrelados ao tema do terrorismo, mostrando que suas motivações se situam além das questões religiosas.

Tampouco se deve associar o terrorismo a religiões específicas. O historiador inglês Eric Hobsbawm (1917-2012) relacionou o aumento da violência no mundo atual com as guerras no final do século XX, quando os Estados nacionais perderam em parte o monopólio do poder e da violência, que fazia com que os cidadãos respeitassem a lei. Como exemplo disso o autor cita o caso do Sri Lanka: antes convivendo pacificamente, a maioria budista e a minoria hinduísta envolveramse recentemente em sérios conflitos.

Os ataques às Torres Gêmeas, em Nova York, e ao prédio do Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, em Washington, ocorridos em 11 de setembro de 2001, colocaram sob suspeita a religião islâmica e seus seguidores. Nesse contexto, o então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, fez uma convocação internacional para a luta contra o terrorismo, na forma de uma "cruzada" do Ocidente cristão contra os muçulmanos. Generalizou-se, desse modo, com auxílio da mídia de grande circulação a ideia equivocada de que o islamismo era sinônimo de terrorismo. Isso gerou um aumento da intolerância e da violência contra os praticantes dessa religião no mundo. A intervenção militar norte-americana no Iraque e no Afeganistão nos anos 2000 aprofundou conflitos entre grupos religiosos e as disputas locais e regionais. Desse contexto, formou-se um grupo extremista chamado Estado Islâmico (ou EI), cujas ações envolveram disputas territoriais em diversas regiões no Oriente Médio, assassinatos daqueles considerados inimigos e "infiéis" e atos terroristas, tal como ocorreu na França em novembro de 2015.

LEGENDA: Membros da comunidade islâmica em Roma, Itália, durante ato contra o terrorismo. Os cartazes dizem "não em meu nome" e "o terrorismo não tem religião". Foto de 2015.

FONTE: Giuseppe Ciccia/NurPhoto/AFP



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Afinal, como começa o terrorismo? Os grupos que recorrem a essa estratégia alegam reagir a um ataque anterior vindo da parte do Estado ou do sistema. Para os que praticam o terror, trata-se de um contra-ataque a quem os privou de outra forma de se fazer ouvir, como a negociação. Veiculador de reivindicações nem sempre precisas, o terrorismo é uma estratégia política que usa a violência, física ou psicológica, em ataques a governos, a grupos políticos ou mesmo à população, criando um pavor incontrolável, o terror, que se expande além do círculo de suas vítimas.



Pausa para refletir

O tema religião está fortemente relacionado às questões referentes aos direitos humanos. Atualmente espera-se dos Estados que sociedades garantam aos indivíduos e grupos sociais o direito à vida e à liberdade, o direito ao trabalho e à educação, mediante o poder político organizado. Muitas dessas garantias ao cidadão estão presentes na Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinada em 1948, um dos documentos básicos das Nações Unidas. Ela foi elaborada logo após a Segunda Guerra Mundial como uma tentativa de evitar que situações extremas se repetissem. A Declaração contém os direitos de todos os seres humanos, mencionando, entre outros assuntos, a questão da religião. Acompanhemos um trecho do texto original: artigos I, II e XVIII:



Declaração Universal dos Direitos Humanos

(Adotada e proclamada pela Resolução 217 A (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948)

Artigo I.

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.

Artigo II.

1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.

2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania.

Artigo XVIII.

Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência, religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular.

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Organização das Nações Unidas, 1948. Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001394/139423por.pdf Acesso em: 23 set. 2015.



1. O que afirma a Declaração Universal dos Direitos Humanos a respeito da religião?

2. Pelo que vemos diariamente nos noticiários e pelo que estudamos neste capítulo, sabemos que existem manifestações de intolerância religiosa em diversas partes do mundo. Na sua opinião, é possível conciliar liberdade religiosa, tolerância e direitos humanos? Qual seria o papel do Estado em relação a essa questão?

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Conflitos religiosos no mundo

Conflitos entre budistas e muçulmanos matam 20 em Mianmar

TERRA, 22 mar. 2015. Disponível em: http://noticias.terra.com.br/mundo/asia/confl itos-entre-budista-se-muculmanos-matam-20-em-mianmar,9f4552d82e19d310VgnVCM20000099cceb0aRCRD.html. Acesso em: 22 set. 2015.



Explosões atribuídas aos Boko Haram deixam mortos na Nigéria

G1, 21 set. 2015. Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/09/explosoes-atribuidas-aos-boko-haram-deixam-mortos-na-nigeria.html. Acesso em: 22 set. 2015.



Décimo monge tibetano ateia fogo ao corpo em protesto na China

ESTADAO.com.br, 26 out. 2011. Disponível em: www.estadao.com.br/noticias/internacional,decimo-monge-tibetano-ateia-fogo-ao-corpo-em-protesto-na-china,790716,0.htm. Acesso em: 09 jul. 2015.

As manchetes acima, publicadas em diversas mídias no Brasil, destacam conflitos em que diferenças religiosas são apresentadas como causa. Esses conflitos, entretanto, não são os únicos. Podemos citar também, por exemplo, as ações desencadeadas pelo Exército Republicano Irlandês, o IRA, inseridas em uma disputa na Irlanda do Norte entre protestantes que desejam continuar integrados ao Reino Unido e católicos que querem a união com a República da Irlanda. A guerra entre palestinos e israelenses, desde a criação do Estado de Is rael, em 1948, também está relacionada (embora não se limite) à questão religiosa. O aspecto religioso também é invocado na disputa entre Índia e Paquistão pela posse da região da Caxemira, de maioria muçulmana, configurada como uma batalha entre hindus e muçulmanos. Em países africanos - especialmente República Democrática do Congo, Ruanda e Burundi -, nos anos 1990, violentos embates foram apresentados como de caráter étnico-religioso.

Será que é possível generalizar a denominação de tais conflitos como "guerras religiosas"? Até que ponto a religião é realmente um fator determinante nesses episódios? Será que, por trás da justificativa da religião, não existem outras razões? Essas são questões que as Ciências Sociais e a História buscam responder.

No conflito pela região da Caxemira (norte da Índia e do Paquistão) são comuns as referências a diferenças religiosas. A historiografia, porém, aponta também outros fatores motivadores para os conflitos, como as consequências da colonização inglesa da região nos séculos anteriores e as divisões incentivadas pela Inglaterra no período em que os indianos lutavam por sua independência.

LEGENDA: Míssil exibido durante um desfile de comemoração do Dia da República em Nova Délhi, Índia, 2015. A exposição de aparatos militares ao público é uma maneira de intimidar oponentes políticos.

FONTE: B. Mathur/Reuters/Latinstock

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No caso do conflito entre árabes e judeus na Palestina, vale assinalar que, apesar das guerras, da violência e sobretudo do ódio que o caracterizam nos dias de hoje, povos de fé islâmica e judaica mantiveram relações harmoniosas durante um longo período da história. Isso ocorreu na época em que os árabes ocuparam a península Ibérica (711-1492), quando os judeus que lá viviam desfrutaram de liberdade religiosa e cultural. Outro exemplo são as pequenas colônias judaicas remanescentes no Oriente Médio que viviam em paz com a maioria muçulmana há menos de um século.

A alegação de intolerância religiosa ou étnica, portanto, não parece suficiente para explicar o conflito entre esses povos. Isso nos leva a considerar as disputas políticas e os fatores sociais e econômicos em jogo.

Conflitos religiosos no mundo contemporâneo

Nigéria

FONTE: charnsitr/ Shutterstock

FONTE: Afolabi Sotunde/Reuters/Latinstock

Mães das estudantes sequestradas em Chibok choram em encontro com o presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, em Abuja. Foto de 2016.

No norte do país, o Boko Haram busca impor a Charia - legislação islâmica baseada nos preceitos religiosos. O grupo promoveu diversos ataques terroristas na região, como o sequestro de 257 estudantes na cidade de Chibok, em 2014.

Sudão do Sul

FONTE: TungCheung/Shutterstock



Sudão

FONTE: Julinzy/Shutterstock

FONTE: Julio Brathwaite/UNMISS/ONU

Campo de refugiados sul-sudaneses em Juba, no Sudão do Sul. Foto de 2013.

Fatores étnicos, políticos e econômicos contribuem para o conflito entre o norte, de maioria muçulmana, e o sul do país, de maioria cristã e recentemente proclamado independente como Sudão do Sul.

Síria

FONTE: Piotr Przyluski/Shutterstock



Iraque

FONTE: Globe Turner/Shutterstock

FONTE: Joseph Eid/Agência France-Presse

Cemitério cristão na cidade de Aleppo, na Síria, após ataque a bomba do Estado Islâmico. Foto de 2015.

Na região que compreende Síria e Iraque diversos conflitos têm ocorrido entre grupos de diferentes etnias e religiões. Um dos principais acontecimentos recentes foi o fortalecimento do Estado Islâmico, um grupo muçulmano sunita fundamentalista que persegue os muçulmanos xiitas. Além da perseguição a xiitas e cristãos (a quem os membros do EI impõem a conversão ao islamismo), outras minorias, como os yazidis e os curdos, são alvo de ataques.

Tibete

FONTE: Ismoyo/Agência France-Presse

FONTE: Yves Herman/Reuters/Latinstock

Ativistas tibetanos pró-independência em frente à sede da União Europeia, em Bruxelas, Bélgica. Foto de 2015.

A tentativa chinesa, em 1949, de implantar no Tibete os princípios ideológicos comunistas deu início ao conflito. Os líderes da teocracia tibetana, representados pelo Dalai Lama, lutam contra a China e sua ocupação do território tibetano, e pela manutenção das liberdades religiosas e culturais do povo do Tibete.

Israel

FONTE: Globe Turner/Shutterstock



Palestina

FONTE: Reprodução/Arquivo da editora

FONTE: Ammar Awad/Reuters/Latinstock

Policiais israelenses detêm manifestante palestino durante confrontos em Jerusalém, Israel. Foto de 2015.

Os conflitos religiosos entre judeus e muçulmanos em Israel têm origem no retorno em massa dos judeus à chamada "terra prometida", promovido pelo sionismo. O apoio dos países ocidentais, especialmente dos Estados Unidos, à criação do Estado de Israel sobre território palestino gerou revolta na população muçulmana habitante da região, que há décadas luta pela criação de um Estado próprio.

Mianmar

FONTE: Julinzy/Shutterstock

FONTE: Ministério da Informação, Mianmar/Anadolu/AFP

Imigrantes rohingya em barco próximo à costa sul de Mianmar. Foto de 2015.

Em Mianmar, o conflito entre membros das etnias rohingya (muçulmanos) e rakhine (budistas) tem deixado inúmeros mortos e feridos. O Estado de Mianmar não reconhece os imigrantes rohingya, vindos de Bangladesh, minoria considerada pela ONU como uma das mais perseguidas do mundo.

FONTE: Adaptado de: IBGE. Atlas geográfico escolar. 6ª ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 32. Créditos: Banco de imagens/Arquivo da editora



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O conflito tomou proporções maiores sobretudo a partir da criação do Estado de Israel (1948), do qual os árabes palestinos foram expulsos após a Primeira Guerra Árabe-Israelense (1948-1949).

Assim como acontece com outros temas que vimos até aqui, os conflitos sociais só podem ser compreendidos quando se considera a realidade social em suas múltiplas dimensões - política, econômica, cultural, histórica. Um dos desafios do conhecimento científico consiste em montar os muitos quebra-cabeças de que ele é composto. É necessário sempre ir além das aparências dos fatos e das interpretações prontas e observar o princípio do teórico militar prussiano Carl Clausewitz (1780-1831) de que toda guerra se subordina aos interesses políticos.

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Boxe complementar:



Conflitos sociais

Para compreendermos melhor os contextos de confrontos inspirados por motivos religiosos, é interessante nos determos sobre o conceito sociológico de conflito social. Não é simples defini-lo, pois o risco de confrontação entre adversários, indivíduos e/ou grupos remete à natureza do próprio sistema social. Vejamos, então, algumas das diferentes concepções sociológicas de ontem e de hoje.

Os teóricos do darwinismo social, como o filósofo inglês Herbert Spencer (1820-1903), consideravam o conflito um ponto central para a compreensão da presença do ser humano na face da Terra, na medida em que acreditavam na "evolução" da sociedade como decorrente da "sobrevivência do mais forte". Já a vertente funcionalista, inaugurada por Durkheim, contrapõe consenso e conflito. Os funcionalistas reconhecem uma "dimensão conflitual" na sociedade, ou seja, uma tensão permanentemente moderada pela solidariedade social. Porém, consideram as situações conflituosas (conflitos étnico-raciais, guerras, revoluções, etc.) disfuncionais, estados patológicos da sociedade que põem em risco a integração social.

Com Weber, o conflito social passa a ser visto como uma ação cotidiana, resultado de uma relação de concorrência entre indivíduos. Na teoria weberiana, como cada um tem a intenção de fazer triunfar sua própria vontade, o conflito perde o seu caráter "patológico" e aplica-se a todo sistema social.

Para algumas teorias, os conflitos sociais são responsáveis pelas mudanças históricas centrais, como a interpretação dialética de Marx da luta de classes. O norte-americano Lewis Coser (1913-2003) faz uma abordagem funcionalista da teoria do conflito, considerando-o a mola para a renovação e a mudança da sociedade, por gerar novas normas e novas instituições. Outro sociólogo contemporâneo, o alemão Ralf Dahrendorf (1929-2009), observa que a sociedade contemporânea vai institucionalizando o conflito, ou seja, origina instituições de regulação dos conflitos, em que os parceiros se acertam e recorrem a mediações e formas de conciliação próprias do mundo industrial.

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