Tempos modernos tempos de sociologia helena bomeny



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Diversidade: na seção Conceitos sociológicos, página 368.
Identidade: na página 266.
Identificação: na página 266.
Tribos urbanas: na página 264.

Sessão de cinema



Multiplicadores

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Brasil, 2006, 20 min. Direção de Lula Carvalho e Renato Martins.

O grafite é originário de Nova York (EUA). As primeiras notícias trazidas pela imprensa foram negativas, carregadas de estereótipos, mas logo o gosto pelo spray se espalhou por todo o mundo, formando uma rede de jovens que transformam os muros das cidades em telas que transmitem as mensagens dos mais vulneráveis. Disponível em:
. Acesso em: abr. 2016.

A rede social

Estados Unidos, 2010, 121 min. Direção de David Fincher.



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Columbia Pictures

O filme mostra a participação de alguns estudantes da Universidade de Harvard na criação do site Facebook (2004), além de destacar a atuação de Mark Zuckerberg, estudante que desenvolveu o website.

A batalha do passinho

Brasil, 2012, 72 min. Direção de Emílio Domingos.



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Osmose Filmes

Documentário sobre o passinho, estilo de dança que virou febre no Rio de Janeiro. Mostra a vida dos dançarinos e a proporção que o fenômeno atingiu, expandindo-se para além dos bailes.

Metal – Uma jornada pelo mundo do heavy metal

Canadá, 2005, 98 min. Direção de Sam Dunn, Scot McFadyen e Jessica Wise.



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Seville Pictures/Banger Productions

O que é um metaleiro? Alguém que não segue modismos, frequenta shows de heavy metal e compra camisetas e discos de suas bandas preferidas, mesmo com a opção de obtê-los por meio da pirataria. Em torno desse estilo musical, há muitos mitos analisados no documentário – a qualidade da música e dos músicos, a religião, o sexo, a violência, as drogas, entre outros.
Página 274

Construindo seus conhecimentos



MONITORANDO A APRENDIZAGEM

1. O que significa dizer que as sociedades contemporâneas combinam aspectos arcaicos e modernos? Explique com suas próprias palavras.

2. Em nossa contemporaneidade, as identidades individuais e sociais se mostram menos rígidas, ou seja, hoje há mais abertura para as escolhas sobre os modos de ser, visões de mundo e mesmo para inventar tradições. Com isso, tem-se dado preferência à ideia de identificação. Explique como ocorre a identificação, apresentando exemplos concretos.

3. Que conceito é utilizado pela Sociologia para definir uma situação em que um indivíduo é identificado como pertencente a um grupo sem que tal identificação parta dele? Cite um exemplo.

4. Proponha uma explicação para a formação das tribos urbanas com base no conceito de diferenciação social, abordando a relação com outros grupos e sua conexão com as diferenças internas.

[ícone] ATIVIDADE INTERDISCIPLINAR

DE OLHO NO ENEM

1. (Enem 2004)

O movimento hip-hop é tão urbano quanto as grandes construções de concreto e as estações de metrô, e cada dia se torna mais presente nas grandes metrópoles mundiais. Nasceu na periferia dos bairros pobres de Nova York. É formado por três elementos: a música (o rap), as artes plásticas (o grafite) e a dança (o break). No hip-hop os jovens usam as expressões artísticas como uma forma de resistência política.

Enraizado nas camadas populares urbanas, o hip-hop afirmou-se no Brasil e no mundo com um discurso político a favor dos excluídos, sobretudo dos negros. Apesar de ser um movimento originário das periferias norte-americanas, não encontrou barreiras no Brasil, onde se instalou com certa naturalidade, o que, no entanto, não significa que o hip-hop brasileiro não tenha sofrido influências locais. O movimento no Brasil é híbrido: rap com um pouco de samba, break parecido com capoeira e grafite de cores muito vivas.

Adaptado de Ciência e Cultura, 2004.

De acordo com o texto, o hip-hop é uma manifestação artística tipicamente urbana, que tem como principais características

(A) a ênfase nas artes visuais e a defesa do caráter nacionalista.
(B) a alienação política e a preocupação com o conflito de gerações.
(C) a afirmação dos socialmente excluídos e a combinação de linguagens.
(D) a integração de diferentes classes sociais e a exaltação do progresso.
(E) a valorização da natureza e o compromisso com os ideais norte-americanos.

2. (Enem 2013)

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ENEM, 2013

Disponível em: http://tv-video-edc.blogspot.com. Acesso em: 30 maio 2010.
Página 275

A charge revela uma crítica aos meios de comunicação, em especial à internet, porque



(A) questiona a integração das pessoas nas redes virtuais de relacionamento.
(B) considera as relações sociais como menos importantes que as virtuais.
(C) enaltece a pretensão do homem de estar em todos os lugares ao mesmo tempo.
(D) descreve com precisão as sociedades humanas no mundo globalizado.
(E) concebe a rede de computadores como o espaço mais eficaz para a construção de relações sociais.

3. (Enem 2015)

Na sociedade contemporânea, onde as relações sociais tendem a reger-se por imagens midiáticas, a imagem de um indivíduo, principalmente na indústria do espetáculo, pode agregar valor econômico na medida de seu incremento técnico: amplitude do espelhamento e da atenção pública. Aparecer é então mais do que ser; o sujeito é famoso porque é falado. Nesse âmbito, a lógica circulatória do mercado, ao mesmo tempo que acena democraticamente para as massas com supostos “ganhos distributivos” (a informação ilimitada, a quebra das supostas hierarquias culturais), afeta a velha cultura na esfera pública. A participação nas redes sociais, a obsessão dos selfies, tanto falar e ser falado quanto ser visto são índices do desejo de “espelhamento”.

SODRÉ, M. Disponível em: http://alias.estadao.com.br. Acesso em: 9 fev. 2015 (adaptado).

A crítica contida no texto sobre a sociedade contemporânea enfatiza



(A) a prática identitária autorreferente.
(B) a dinâmica política democratizante.
(C) a produção instantânea de notícias.
(D) os processos difusores de informações.
(E) os mecanismos de convergência tecnológica.

ASSIMILANDO CONCEITOS

1. Analise a letra da canção e faça o que se pede.

NOSSA, QUE CABELO BONITO!

Nossa, que cabelo bonito!


Nossa, que cabelo bonito!
Nossa, que cabelo bonito!
Nossa, que cabelo bonito!

Quando eu acordo, me olho no espelho e digo:


Nossa, que cabelo bonito!
Eu fico me olhando, eu não acredito
Nossa, que cabelo bonito!

Eu acho que as meninas quando me veem dizem


Nossa, que cabelo bonito!
E até os meus amigos ficam incomodados
Nossa, que cabelo bonito!

Eu despenteio o meu cabelo


Eu passo tinta no meu cabelo
Eu me expresso com o meu cabelo
Defino quem eu sou com o meu cabelo
[...]
Todo dia eu me olho no espelho e digo
Nossa, que cabelo bonito!
É muito lindo, eu não acredito
Nossa, que cabelo bonito!

Todo mundo quando me vê diz


Nossa, que cabelo bonito!
Mas às vezes um ou outro acha esquisito
Nossa, que cabelo esquisito!
[...]

MOREIRA, Roger. Nossa, que cabelo bonito! Intérprete: Roger Moreira. In: ULTRAJE A RIGOR. Música esquisita a troco de nada. [S. l.: s. n.], 2009.


Página 276

1. De acordo com a canção, a aparência dos cabelos é uma forma de expressão da identidade de um indivíduo: “Eu digo quem eu sou com o meu cabelo”. Os estilos de cabelo podem expressar algo mais? Explique.

2. A canção aborda dois sentimentos que outras pessoas têm em relação aos cabelos do narrador. Quais são? O que isso tem a ver com padrões culturais?

3. A construção da identidade, seja ela individual, seja social, envolve o contato com o outro – ver-se diferente e ser percebido como diferente. De que modo esse processo pode ter desdobramentos indesejáveis?

[ícone] ATIVIDADE INTERDISCIPLINAR

OLHARES SOBRE A SOCIEDADE

1. Leia a crônica de Luis Fernando Verissimo. Em seguida, responda às questões.

OS CERTINHOS E OS SERES DO ABISMO

Era assim no meu tempo de frequentador de aulas (“estudante” seria um exagero), mas não deve ter mudado muito. A não ser quando a professora ou o professor designasse o lugar de cada um segundo alguma ordem, como a alfabética – e nesse caso eu era condenado pelo sobrenome a sentar no fundo da sala, junto com os Us, os Zs e os outros Vs –, os alunos se distribuíam pelas carteiras de acordo com uma geografia social espontânea, nem sempre bem definida, mas reincidente.

Na frente sentava a Turma do Apagador, assim chamada porque era a eles que a professora recorria para ajudar a limpar o quadro-negro e os próprios apagadores. Nunca entendi bem por que se sujar com pó de giz era considerado um privilégio, mas a Turma do Apagador era uma elite, vista pelo resto da aula como favoritos do poder e invejada e destratada com a mesma intensidade. Quando passavam para os graus superiores, os apagadores podiam perder sua função e deixar de ser os queridinhos da tia, mas mantinham seus lugares e sua pose, esperando o dia da reabilitação, como todas as aristocracias tornadas irrelevantes.

Não se deve confundir a Turma do Apagador com os Certinhos e os Bundas de Aço. Os certinhos ocupavam as primeiras fileiras para não se misturarem com a Massa que sentava atrás, os bundas de aço para estarem mais perto do quadro-negro e não perderem nada. Todos os apagadores eram certinhos, mas nem todos os certinhos eram apagadores, e os bundas de aço não eram necessariamente certinhos. Muitos bundas de aço, por exemplo, eram excêntricos, introvertidos, ansiosos – enfim, esquisitos. Já os certinhos autênticos se definiam pelo que não eram. Não eram nem puxa-sacos como os apagadores, nem estranhos como os bundas de aço, nem medíocres como a Massa, nem bagunceiros como os Seres do Abismo, que sentavam no fundo, e sua principal característica eram os livros encapados com perfeição.

Atrás dos apagadores, dos certinhos e dos bundas de aço ficava a Massa, dividida em núcleos, como o Núcleo do Nem Aí, formado por três ou quatro meninas que ignoravam as aulas, davam mais atenção aos próprios cabelos e, já que tinham esse interesse em comum, sentavam juntas; o Clube de Debates, algumas celebridades (a garota mais bonita da aula, o cara que desenhava quadrinho de sacanagem) e seus respectivos círculos de admiradores, e nós do Centrão Desconsolado, que só tínhamos em comum a vontade de estar em outro lugar.

E no fundo sentavam os Seres do Abismo, cuja única comunicação com a frente da sala eram os ocasionais mísseis que disparavam lá de trás e incluíam desde o gordo que arrotava em vários tons até uma proto-dark, provavelmente a primeira da história, com tatuagem na coxa.

Revista VejaEspecial Jovens, julho de 2003. © by Luis Fernando Verissimo.

a) A visibilidade dos grupos de identificação da turma do autor da crônica surge de uma “geografia social espontânea”. Como é feita a rotulação dos grupos no texto?

b) De que maneira a rotulação de grupos na escola pode ser relacionada ao bullying?
Página 277

[ícone] ATIVIDADE INTERDISCIPLINAR

EXERCITANDO A IMAGINAÇÃO SOCIOLÓGICA
TEMA DE REDAÇÃO DO VESTIBULAR DA UERJ (2012)

Há uma diferença entre esses movimentos de jovens educados nos países do Ocidente, onde, em geral, toda a juventude é fenômeno de minoria, e movimentos similares de jovens em países islâmicos e em outros lugares, nos quais a maioria da população tem entre 25 e 30 anos. Nestes países, portanto, muito mais do que na Europa, os movimentos de jovens são politicamente muito mais massivos e podem ter maior impacto político. O impacto adicional na radicalização dos movimentos de juventude acontece porque os jovens hoje, em período de crise econômica, são desproporcionalmente afetados pelo desemprego e, portanto, estão desproporcionalmente insatisfeitos. Mas não se pode adivinhar que rumos tomarão esses movimentos. Mas eles só, eles pelos seus próprios meios, não são capazes de definir o formato da política nacional e todo o futuro. De qualquer modo, devo dizer que está a fazer-me perguntas enquanto historiador, mas sobre o futuro. Infelizmente, os historiadores sabem tanto sobre o futuro quanto qualquer outra pessoa. Por isso, as minhas previsões não são fundadas em nenhuma especial vocação que eu tenha para prever o futuro.

ERIC HOBSBAWN

Adaptado de http://historica.me



PROPOSTA DE REDAÇÃO

A fala do historiador Eric Hobsbawn também apresenta uma reflexão sobre o futuro e suas possibilidades, relacionando o tema à ação da juventude, tradicionalmente considerada o futuro próximo das sociedades. A partir da leitura dos textos e de suas elaborações pessoais sobre o tema, redija um texto argumentativo em prosa, com no mínimo 20 e no máximo 30 linhas, em que discuta a seguinte questão:



É possível, para a juventude de hoje, alterar o futuro?

Utilize o registro-padrão da língua e atribua um título ao seu texto.


Página 278

18 Desigualdades de várias ordens



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Sergio Pedreira/Pulsar Imagens

Vista aérea do bairro Engenho Velho da Federação com edifícios de luxo ao fundo. Salvador (BA), 2015.

Brasil, país das desigualdades?

O tema “desigualdade social” deu origem à Sociologia. Esta é sem dúvida uma afirmação forte. Será que é consistente? O pensador que ficou mais famoso por tratar da questão, e ao qual ela é sempre associada, é certamente Karl Marx (1818-1883). Seu empenho em entender as causas da desigualdade social o levou a propor um modelo de sociedade no qual a distância econômica entre as pessoas não existisse mais e as carências da maioria não fossem tão brutais.

O conceito de desigualdade sempre teve como par contrastante o de igualdade. Seria essa a solução para os problemas que a desigualdade social cria na vida das pessoas? Mas a esta altura você já aprendeu que as respostas da Sociologia para os problemas com os quais se defronta não são consensuais. Olhando para o mesmo fenômeno, os teóricos deram respostas e sugestões não só distintas como frequentemente controversas. Nossa aventura neste capítulo é observar algumas dessas sugestões e analisar o Brasil por meio delas.

Apesar da “persistente” pobreza brasileira, hoje não se ouve mais dizer, com a mesma frequência de antes, que o Brasil é um país pobre. O mais comum, o que mais aparece na imprensa, em textos de divulgação ou mesmo em textos acadêmicos, é que o Brasil está incluído entre as promessas de prosperidade do mundo ocidental.
Página 279

Infelizmente, porém, os indicadores sociais, cada vez mais precisos, mostram grande desigualdade no país, uma vez que os bens e a renda estão concentrados nas mãos de poucos.

Cada dimensão do mundo social em que a desigualdade está presente ajuda a fortalecer as desigualdades de outros campos. Por essa razão se diz que as desigualdades se reforçam e geram situações muito complexas. No mercado de trabalho brasileiro, as mulheres negras e com baixa escolaridade formam o grupo que recebe os menores salários. Juntas, as desigualdades de sexo, cor e instrução estão associadas à desigualdade de renda. É isso que torna esse grupo um dos mais suscetíveis à exclusão social no Brasil. E isso também mostra como é difícil quebrar o círculo vicioso das desigualdades.

As desigualdades são conjuntos de processos e experiências sociais que favorecem alguns indivíduos ou grupos em detrimento de outros. Existem muitas situações que ajudam a compreender como alguns segmentos sociais são beneficiados no acesso aos direitos básicos e bens de civilização (educação, saúde, moradia, consumo, arte, esportes etc.) e nas competições do mercado. Famílias de maior renda podem colocar seus filhos em boas escolas privadas. No futuro, esses filhos, com escolaridade maior e de melhor qualidade, terão mais oportunidades de trabalho, possivelmente receberão salários melhores e ainda terão grandes chances de melhorar de vida. Já as famílias de baixa renda têm muito mais dificuldade de oferecer a seus filhos escolarização em escolas particulares de boa qualidade, e esse é só o começo das desvantagens que se sucederão. Com base nesse exemplo podemos perceber como, para alguns grupos, a mobilidade social é uma perspectiva plausível, enquanto para outros é quase um “milagre”. Como sanar, ainda que em parte, as desigualdades sociais como a do exemplo citado, entre os que podem e os que não podem pagar boas escolas para os filhos?

Oportunidades iguais, condições iguais?

Alguns Estados europeus, a América do Norte e também o Brasil, após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, adotaram um modelo político destinado a corrigir distorções na distribuição das oportunidades sociais que ficou conhecido como Estado de Bem-Estar Social . Os sistemas públicos de Educação e Saúde, a Previdência Social e as garantias trabalhistas tornaram-se a partir de então muito difundidos. Pretendia-se oferecer a todos os cidadãos aquilo a que até então apenas uma minoria da sociedade tinha acesso. Esse modelo político combinava proteção social com livre-iniciativa e propriedade privada. Imaginava-se que, oferecendo diversas oportunidades a todos, a experiência social seria de fato igualitária.

Entre todas as medidas adotadas pelo Estado de Bem-Estar Social, considerava-se que, para promover a igualdade de oportunidades, nada melhor do que a educação. O raciocínio era mais ou menos este: se todos tivessem acesso à educação pública gratuita, aqueles que apresentassem os melhores resultados no final do processo (mais anos de estudos, com os melhores desempenhos) ocupariam no futuro as melhores posições sociais. Imaginava-se que esse critério fosse justo, porque tanto o filho do operário quanto o filho do dono da fábrica teriam as mesmas chances na competição escolar. No futuro, com seu diploma, independentemente de sua origem social, ambos poderiam se colocar no mercado de trabalho e prosperar. Enfim, tornando o ponto de partida igual para todos, as diferentes posições sociais das pessoas seriam justas, porque seriam fruto do mérito de cada uma. O resultado seria desigual, mas decorrente de uma desigualdade bem-vista.

Essa maneira de enfrentar a questão da igualdade/desigualdade ficou conhecida como ideologia meritocrática. Desde a Revolução Francesa, no século XVIII, a meritocracia passou a funcionar como critério fundamental de combate à desigualdade e à discriminação social.

Meritocracia

A meritocracia pode ser interpretada [...] como um conjunto de valores que rejeita toda e qualquer forma de privilégio hereditário e corporativo e que valoriza e avalia as pessoas independentemente de suas trajetórias e biografias sociais. [...] a meritocracia não atribui importância a variáveis sociais como origem, posição social, econômica e poder político no momento em que estamos pleiteando ou competindo por uma posição ou direito.

BARBOSA, Lívia. Igualdade e meritocracia: a ética do desempenho nas sociedades modernas. Rio de Janeiro: FGV, 1999. p. 22.
Página 280

Contudo, foi o Estado de Bem-Estar Social que criou as condições materiais – por meio da expansão dos sistemas escolares – para que ela se tornasse um valor cultural das sociedades democráticas.

O Estado de Bem-Estar Social possibilitou, de fato, que um conjunto muito grande da população conquistasse direitos sociais. No entanto, ele não sanou as desigualdades sociais como se esperava. Oferecer oportunidades iguais a todos envolve investimentos sociais muito grandes, e isso nem sempre ocorreu, pois os compromissos dos governantes com as políticas de bem-estar social nem sempre foram os mesmos. Basta observar as desigualdades entre as próprias escolas da rede pública brasileira – umas são bem equipadas, têm professores que recebem salários melhores, e outras mal têm salas de aulas e professores. Apesar de todos os mecanismos criados, as desigualdades persistiram. Além disso, seria necessário considerar ou tros fatores, como as próprias contradições desse modelo político: Mesmo que se ofereçam oportunidades iguais, será que as condições de competir também são iguais? Com essa breve reflexão, queremos que você comece a compreender por que o Brasil, hoje, é considerado um dos países mais desiguais do planeta: apesar das intervenções políticas, as desigualdades sociais persistiram e se multiplicaram.

No Brasil, as desigualdades são muitas. Um número expressivo de cientistas sociais tem investido em pesquisas para apurar essas desigualdades nos diferentes grupos e na relação de um grupo com outro. Será que nos grupos e nas classes, distribuídos em seus lugares específicos na estrutura social, homens e mulheres têm acesso semelhante às oportunidades oferecidas? Há diferença entre homens e mulheres no mercado de trabalho, por exemplo? Ou, pensando nos grupos raciais, os diversos tipos brasileiros classificados por cor – brancos, negros e pardos – recebem tratamento semelhante ou se beneficiam das mesmas chances?



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Eduardo Knapp/Folhapress

Pacientes são atendidos em corredor, em hospital público em Vitória da Conquista (BA), 2015.

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Joel Silva/Folhapress

Enfermeiras com recém-nascidos em sala de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), em hospital público em Salvador (BA), 2015.
Página 281

Imagens da desigualdade

International Social Survey Programme (ISSP) é um programa de colaboração entre vários países que se encarrega de realizar surveys sobre temas importantes na área das Ciências Sociais a fim de comparar os dados dos países envolvidos. Em 2001, a pesquisa do ISSP teve como tema “Percepção de Desigualdade”, e foi desenvolvida nos seguintes países: Brasil, Chile, Portugal, Rússia, Hungria, Estados Unidos, Espanha e Suécia. Uma das perguntas feitas aos entrevistados de cada país era a seguinte: que desenho descreve melhor o tipo de sociedade em que você vive? Os entrevistados deviam escolher um entre cinco diagramas que lhes eram mostrados.

A Suécia é um país que, tal como o Brasil, adotou o modelo de Estado de Bem-Estar Social. Mas os desdobramentos do modelo na Suécia foram muito diferentes dos desdobramentos no Brasil. E isso se reflete na imagem que os suecos têm de sua sociedade. O desenho que prevaleceu na escolha dos entrevistados foi:



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Isso significa que os suecos entendem que no país deles grande parte das pessoas ocupa posições sociais muito semelhantes. Poucas pessoas são muito ricas e poucas muito pobres. Eles enxergam sua sociedade como uma sociedade de classes médias, de pessoas com estilo de vida e renda parecidos – uma sociedade de indivíduos iguais.

Já a imagem que os brasileiros escolheram para representar a estrutura social do Brasil foi a seguinte:

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A velha conhecida pirâmide! Ela traduz a impressão que os brasileiros têm das desigualdades sociais – uma pequena elite no topo, poucas pessoas no meio e a maioria da população na base. De onde vem a imagem da pirâmide social percebida pelos brasileiros? Provavelmente da vivência social e das informações que são divulgadas sobre a estratificação social brasileira.

Fonte: SCALON, Celi (Org.). Imagens da desigualdade. Belo Horizonte: UFMG, 2004.

Onde estão e como vão as mulheres no Brasil

Todas as pessoas que frequentarem uma boa escola, fizerem um bom curso, aperfeiçoarem-se em uma profissão, ao entrar no mercado de trabalho concorrerão em igualdade de condições. Verdade? Nem sempre. No caso das mulheres e dos negros, as pesquisas sociológicas indicam que não. Não bastam os esforços de qualificação nem mesmo a entrada no mercado de trabalho. Na hora de definir os salários, as diferenças podem chegar a 30% ou 40% contra as mulheres. Os negros, por vezes, nem sequer conseguem entrar na competição por um lugar no mercado.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em seu site, oferece dados muito interessantes sobre a posição das mulheres na sociedade brasileira. Por exemplo, as mulheres estão muito bem posicionadas no que se refere ao grau de instrução. Em todos os níveis de ensino elas são mais numerosas que os homens: cumprem os anos de escola, têm melhor desempenho e chegam ao Ensino Superior em maior número. Logo, teoricamente estão em vantagem para competir. Mas aí começa o problema: no trabalho e na política as mulheres são discriminadas. Diz o site do IBGE Teen: “As desigualdades de gênero são mais visíveis no mundo do trabalho, por exemplo, quando se compara o rendimento-hora de homens e mulheres com igual nível de escolaridade”.


Página 282

O que aprendemos com essa afirmação? Primeiro, uma palavra nova neste livro, e também recente nos livros de Sociologia em geral. Os primeiros sociólogos não usavam o termo gênero para se referir ao masculino e ao feminino. Mas há uma boa razão para que a palavra tenha entrado nos estudos recentes e se tornado um conceito. Quando se fala do sexo de alguém, a referência é biológica. Mas a vida social não se restringe à biologia e aos traços físicos de cada pessoa. Masculino e feminino são mais que isso: são construções arbitrárias, variáveis segundo cada cultura e cada sociedade. O que é ser feminino e o que é ser masculino não vêm com a natureza. As culturas é que definem a maneira pela qual se transmitem valores femininos e masculinos, bem como o que se deve esperar em troca: que ocupações, gestos, atitudes e comportamentos as mulheres e os homens devem ter ou devem evitar. Isso varia de uma sociedade para outra e também dentro de uma mesma sociedade ao longo do tempo. Nossas avós provavelmente estavam impedidas de muitas coisas que hoje são esperadas das mulheres. E o que se espera de um homem para que ele seja aceito e valorizado também se ensina e se constrói socialmente.

“Isso é só para meninos” ou “isso é coisa de menina” são frases que certamente você já ouviu muitas vezes. Por isso os especialistas foram além da divisão sexual e incorporaram essas noções culturais arbitrárias, que são aprendidas coletivamente e classificam comportamentos.

Os estudiosos descobriram, por análises continuadas, que uma pessoa do sexo feminino pode ser socializada com valores, atributos, jeito de ser e pensar geralmente associados a outro sexo. Perceberam que uma pessoa pode ser do sexo masculino e do gênero feminino – ou seja, embora tenha a conformação biológica própria do sexo masculino, participa de um universo de valores femininos; cultiva, é vista e se vê com muitos traços atribuídos ao sexo feminino. Gênero, portanto, é atributo cultural, e não físico. Os dois podem coincidir, mas não necessariamente.

Quando o IBGE nos ensina que, em muitos aspectos, o gênero feminino perde na competição com o masculino, podemos imaginar que talvez isso ocorra pelo fato de a sociedade dividir as ocupações em “próprias para o sexo masculino” e “destinadas ao sexo feminino”. Mas em ambos os tipos de ocupação a desigualdade aparece. Como vimos no Capítulo 15, no mundo do trabalho, muitas vezes desempenhando a mesma função, as mulheres ganham bem menos que os homens. Mas também em casa, em situação semelhante de responsabilidade, cabem às mulheres muito mais obrigações que aos homens, o que faz com que sua jornada de trabalho seja maior que a deles. Um levantamento divulgado em 2016 pelo Pnad/IBGE mostrou que as mulheres trabalham cinco vezes a mais que os homens (somando a ocupação remunerada e o que é feito dentro de casa). O estudo tem ainda outro dado interessante: o casamento acentua essa diferença. Ao se casar, a jornada doméstica da mulher aumenta, enquanto a do homem diminui. É comum escutar que “os bons maridos e filhos ajudam em casa” – a expressão é significativa, porque indica que cabe aos homens da casa “apenas ajudar” na execução de uma tarefa que, na sua completude, é responsabilidade da mulher. Essa configuração vem sendo chamada de “tripla jornada feminina”, em referência ao tempo diário gasto pelas mulheres com sua atividade profissional, com os afazeres domésticos e os cuidados com crianças e/ou idosos (que, assim como as tarefas do lar, seguem sendo majoritariamente assumidos por elas). Veja no gráfico abaixo a evolução da média semanal de horas dedicadas aos afazeres domésticos por sexo e condição de ocupação no período entre 2002 e 2015:

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Paula Radi

Fonte: IBGE. Séries estatísticas. Disponível em:


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