Capítulos 1 e 2: Sumário Executivo



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Primeiro Relatório de Avaliação

Volume II – Impactos, Vulnerabilidades e Adaptação

Sumário Executivo

Coordenação: Eduardo Delgado Assad (Embrapa), Antônio Rocha Magalhães (CGEE)

Autores Principais: Eduardo Delgado Assad (Embrapa), Antônio Rocha Magalhães (CGEE), Regina Célia dos Santos Alvalá (INPE), Ana Maria Helminsk Ávila (UNICAMP), Francisco de Assis Souza Filho (UFC), Fabio Rubio Scarano (UFRJ), João Luis Nicolodi (FURG), Helenice Vital (UFRN), Antônio Henrique da Fontoura Klein (UFSC), Paulo Eurico Pires Ferreira Travassos (UFRPE), Fábio Hissa Vieira Hazin (UFRPE), Giampaolo Pellegrino (EMBRAPA), Maya Takagi (MDS), Joaquim Bento de Souza Ferreira Filho (USP), Andrea F. Young (UNICAMP), Heloisa Costa (UFMG), André Frossad Pereira de Lucena (UFRJ), Andréa Souza Santos (UFRJ), Paulo Hilário Nascimento Saldiva (USP), Roberto Luiz do Carmo (UNICAMP), Roberto Germano Costa (UFPB), Pedro Dantas Fernandes (UFCG), Eduardo Haddad (USP), Saulo Rodrigues Filho (CDS/UNB), Felipe Gustavo Pilau (UFSM), Josilene Ticianelli Vannuzini Ferrer (CETESB), Dirceu Silveira Reis Junior (UNB), Eduardo Sávio Passos Rodrigues Martins (FUNCEME).

Autores Colaboradores: Alfredo Ribeiro Neto (UFPE); Joaquim Gondim (ANA), Francisco Antonio Rodrigues Barbosa (UFMG), Ricardo Bomfim Machado (UnB), Carlos Augusto França Schettini (UFPE), Luciana Costa (Ecology Brasil Ltda), Gilberto Fonseca Barroso (UFES), Mario Luiz Gomes Soares (UERJ), Luiz Francisco Ditzel Faraco (ICMBio), Humberto Gomes Hazin (UFRPE), Carmem Priscila Bocchi (MDS), Arnaldo Carneiro Filho (SAE), Susian Christian Martins (FGV), Andrea Koga Vicente (CEPAGRI/UNICAMP), Paula Rodrigues Salgado (EMBRAPA), Iedo Bezerra (EMBRAPA), Alisson Flávio Barbieri (UFMG), Gustavo Inácio de Moraes (PUC/RS), Nilo de Oliveira Nascimento (UFMG), Enio Bueno Pereira (INPE), Agostinho Ogura (IPT), Osório Thomaz (IPT), Diana Scabelo da Costa Pereira da Silva Lemos (UFRJ), Micheline de Sousa Zanotti Stagliorio Coelho (USP), Samya de Lara Pinheiro (USP), Hélio dos Santos Silva (FURB), Alfredo Kingo Oyama Homma (EMBRAPA), Josilene Ticianelli Vannuzini Ferrer (CETESB), Edson Domingues (UFMG), Weslem Rodrigues Faria (USP), Aline Souza Magalhães (USP), Conceição de Maria Albuquerque Alves (UNB), Natacha Nogueira Britschka (SVMA), Diego Pereira Lindoso (UnB), Patrícia Mesquita (UnB).

Revisores: Alberto Waingort (INPE), Hilton Silveira Pinto (UNICAMP), Carlos Eduardo Morelli Tucci (UFRGS), Demetrios Christofidis (MIN), Rosa Maria Johnsson (UERJ), Braulio Ferreira de Souza Dias (MMA), Fábio Roland (UFJF), Simey Thury Vieira Fisch (UNITAU), Jarbas Bonetti Filho (UFSC), Paulo da Cunha Lana (UFPR), Silvio Jablonski (UERJ), Jorge Pablo Castello (FURG), Aryeverton Fortes de Oliveira (EMBRAPA), Jurandir Zullo Junior- (UNICAMP), Claudio Szlafstein (UFPA), Luiz Augusto Horta Nogueira (UNIFEI), Roberto Schaeffer (UFRJ), Ronaldo Balassiano (UFRJ), Ulisses Eugenio Cavalcanti Confalonieri (FIOCRUZ), Josilene Ticianelli Vannuzini Ferrer (CETESB), Norma Felicidade Lopes da Silva Valencio (UNICAMP), Alberício Pereira de Andrade (INSA), Jair do Amaral Filho (UFC), Carolina Dubeux (UFRJ), Paulo Henrique Caramori (IAPAR), Nathan dos Santos Debortoli (UNB).

Revisor Especialista: Maria Assunção Faus da Silva Dias (USP).

Índice

Resumo das principais conclusões

4

Definições

5

Introdução e Fundamentos

6

Mudanças Climáticas na Esfera Nacional

7

Recursos Naturais e Manejos, Ecossistemas e seus Usos

8

Recursos Hídricos

8

Ecossistema de Água Doce e Terrestre

11

Sistemas Costeiros e Áreas Costeiras Baixas

12

Ecossistema Oceânico

14

Sistema Alimentar e Segurança

15

Aglomerados Humanos, Indústria e Infraestrutura

16

Áreas Rurais

16

Áreas Urbanas

18

Setor Energia

19

Setor Indústria

20

Setor Transporte

21

Saúde Humana, Bem-estar e Segurança

23

Saúde Humana

23

Segurança Humana

24

Subsistência e pobreza

26

Impactos Multisetoriais, Riscos, Vulnerabilidades e Oportunidades

30

Impactos, Vulnerabilidade e Adaptação na Esfera Regional

31

Região Norte

31

Região Nordeste

33

Região Sul

35

Região Centro-Oeste

35

Região Centro-Oeste

37



Resumo das principais conclusões

  • Os impactos da mudança do clima variam com a diversidade hidrológica do território brasileiro: as precipitações no Norte e Nordeste do Brasil não apresentam uma tendência de mudança definida, podendo ter reduções significativas ou aumento moderado, dependendo do modelo utilizado; os rios no leste da Amazônia e Nordeste do Brasil poderão ter redução da vazão de até 20%; a bacia do rio Tocantins pode ter redução da vazão da ordem de 30%; a bacia hidrográfica do Paraná-Prata deverá ter aumento da vazão (entre 10% e 40%) no cenário A1B até meados do século XXI segundo 12 modelos climáticos; os dados sobre o Rio Grande, afluente do rio Paraná, apresentam significativa discordância entre as alterações de vazões estimadas pelos diferentes modelos climáticos; a vazão pode aumentar 13% ou reduzir em até 28% em outro modelo, havendo grande incerteza.

  • A mudança climática deverá afetar as taxas de recarga de águas subterrâneas. Há necessidade de mais pesquisas neste tema.

  • Todos os biomas brasileiros apresentam vulnerabilidade às mudanças do clima, em maior ou menor intensidade. Para os ecossistemas costeiros e as áreas costeiras baixas no Brasil, há grande carência de informações relacionadas aos efeitos das mudanças climáticas, bem como à vulnerabilidade desses ecossistemas a tais alterações.

  • Nos ecossistemas oceânicos, as mudanças climáticas podem promover uma redistribuição em larga escala do potencial máximo da captura (PMC) de várias espécies, com um aumento de 30% a 70% em regiões de altas latitudes e quedas nos trópicos. As perdas e ganhos do PMC nas latitudes tropicais serão da ordem de 10%, mas podem atingir valores maiores ao largo da costa brasileira. A previsão é a de que o Brasil diminua em 6% seu PMC nos próximos 40 anos.

  • As mudanças climáticas terão efeito diferenciado em termos regionais na oferta de alimentos no País.

  • A partir de politicas públicas já em andamento, o setor agrícola apresenta opções para redução das emissões de Gases de Efeito Estufa e de adaptação das culturas ao aquecimento global.

  • Com o grande aumento na produção de alimentos no Brasil, a ameaça da segurança alimentar é mais dependente das condições de infraestrutura de armazenamento e transporte, onde são identificadas perdas continuadas todos os anos.

  • Mesmo com a identificação dos impactos negativos em áreas rurais, nenhum estudo parece indicar efeitos catastróficos ao nível agregado no país. Os efeitos mais sérios surgirão ao nível regional e estarão concentrados nas regiões mais pobres do Brasil.

  • De maneira geral, as cidades brasileiras não contemplaram a questão ambiental e as funções dos sistemas naturais. Sem sistemas eficientemente integrados de transporte público; abastecimento e proteção de recursos hídricos, produção e distribuição de energia, coleta e deposição de lixo; saneamento, redução da poluição e de gases de efeito estufa, parcelamento do solo, saúde e educação voltados para a questão climática e desastres associados, será muito difícil reverter este quadro e implantar medidas de adaptação. Os centros urbanos são uma das áreas mais vulneráveis do país.

  • O setor energético pode ser afetado de diversas formas pelas mudanças do clima, tanto no que diz respeito à base de recursos energéticos e aos processos de transformação, quanto aos aspectos de transporte e consumo de energia.

  • Estudos correlacionando estas duas áreas, desenvolvimento industrial e mudança climática, ainda são raros. Portanto, são necessários levantamentos sistemáticos e análises integradas a respeito do clima e das instalações industriais.

  • As mudanças climáticas poderão afetar os sistemas de transporte (ferroviário, aéreo, rodoviário, marítimo) em todos os países dificultando potencialmente a mobilidade urbana, com consequência para o crescimento da economia e qualidade de vida das populações. A fragilidade da infraestrutura brasileira neste tema potencializa os impactos.

  • Com relação ao tema saúde humana, bem estar e segurança, as comunidades mais pobres podem ser especialmente vulneráveis por se concentrarem em áreas de alto risco, por terem menor capacidade adaptativa e por serem mais dependentes de recursos locais sensíveis ao clima.

  • As condições de saúde humana no Brasil poderão ser severamente afetadas em razão, sobretudo, do histórico de doenças de veiculação hídrica, das doenças transmitidas por vetores e das doenças respiratórias.




  • Em síntese, as mudanças climáticas globais teriam como consequência, reduções significativas das áreas de florestas e matas nos estabelecimentos agrícolas, aumento das áreas de pastagens, as regiões Centro-Oeste e Nordeste seriam as mais severamente atingidas, plantio de cana-de-açúcar pode ser favorecido, redução do crescimento econômico, setores e regiões não são impactados de forma homogênea, a agricultura e pecuária são os setores mais sensíveis a MCG, mas outros setores também seriam afetados negativamente, aumento das desigualdades regionais, aumento das forças de expulsão populacional das zonas rurais, pressão sobre demanda por serviços públicos em grandes aglomerações urbanas, aumento da pobreza.






Definições

Impactos potenciais: todos os impactos que ocorram, dado uma mudança projetada no clima, sem

considerar adaptação.



Impactos residuais: Os impactos de mudança de clima que ocorreriam após a adaptação.

Vulnerabilidade às mudanças climáticas: é o grau em que um sistema é suscetível e incapaz de lidar com os efeitos adversos da mudança do clima, inclusive variabilidade climática e os extremos. A vulnerabilidade é uma função do caráter, magnitude e taxa de mudança do clima e da variação que um sistema está exposto, sua sensibilidade e sua capacidade de adaptação.

Adaptação às mudanças climáticas: é o ajustamento nos sistemas naturais ou humanos em resposta a estímulos climáticos ou reais ou os seus efeitos, o que permite explorar oportunidades benéficas.

Capacidade adaptativa: A capacidade de um sistema (humano ou natural) de se ajustar às mudanças climáticas (incluindo variabilidade climática e intempéries violentas) de moderar danos potenciais, tirar partido das oportunidades, ou fazer face às consequências.

Resiliência: capacidade de um sistema de se recobrar ou se adaptar facilmente às mudanças.

Capacidade rápida de recuperação.



- Introdução

Os cenários de mudanças climáticas apontam para uma mudança de temperatura média acima de 2ºC que incluem grandes desequilíbrios em ecossistemas fundamentais para a sobrevivência da humanidade. À medida que o planeta aquece, os padrões pluviais mudam e eventos climáticos extremos como secas, inundações e incêndios florestais se tornam mais frequentes, com impactos importantes em meio tropical.

O aquecimento global é atribuído à emissão de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera como resultado das atividades humanas, tais como: exploração e produção de combustível (origem fóssil), desmatamento e mudanças no uso da terra, particularmente, dos países desenvolvidos.

A mudança climática é um dos desafios mais complexos deste século, nenhum país está imune, e nem seria capaz de enfrentar sozinho os desafios interconectados que compreendem decisões políticas e econômicas controversas, bem como, avanços tecnológicos com consequências globais de longo alcance.

As metas nacionais concentradas no controle do desmatamento podem oferecer ao país uma significativa vantagem comparativa, pois a redução do desmatamento é sem dúvida menos restritiva ao crescimento econômico que as restrições ao consumo de energia, inclusive no processo industrial.

No setor energético o Brasil poderá reduzir as emissões de GEE em até 35% (até 2030), com a maior parte das ações realizadas pelo setor industrial, se as seguintes medidas forem implementadas: (1) substituição do combustível fóssil utilizado pela indústria; (2) refino e transformação gas-to-liquid (GTL) para a produção de diesel com baixo teor de enxofre; (3) geração de energia eólica e fotovoltaica (solar), (4) cogeração baseada no bagaço da cana-de-açúcar; (4) maquinário de alta eficiência energética.

A recuperação de Florestas tem alto potencial de remoção de carbono, em média de cerca de 140 toneladas de CO2 ao ano. É possível reduzir a demanda de cerca de 138 milhões de hectares até 2030 em um “Cenário de Baixo Carbono” por meio das seguintes medidas de aumento de produtividade da pecuária: (1) promover a recuperação de áreas degradadas de pastagem; (2) estimular a adoção de sistemas produtivos que envolvam confinamento de gado para engorda; (3) encorajar a adoção de sistemas de lavoura-pecuária.

No meio urbano as emissões de GEE poderiam ser reduzidas por meio das seguintes opções de mitigação: (1) implementação de sistemas de transportes públicos integrados mais eficientes como a ampliação das linhas de metrô e trens urbanos em Regiões Metropolitanas; implantação de linhas de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) em grandes cidades; ou BRT (Bus Rapid Transit) em cidades médias e pequenas; além da implementação de medidas de gerenciamento de tráfego. A redução do número de veículos automotivos nas áreas urbanas é extremamente necessária.

As emissões de GEE anuais do setor de manejo de resíduos sólidos e efluentes líquidos podem ser reduzidas em até 80% em 2030 se as seguintes ações forem implantadas: (1) incentivos do mercado de carbono por meio do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) para estimular a participação em projetos destinados à eliminação dos gases de aterros sanitários; (2) desenvolvimento da capacidade municipal para planejamento de longo prazo e desenvolvimento de projetos relacionados; (3) aumento da conscientização e uso de estruturas mais eficientes; (4) regulamentações e procedimentos legais para melhoria de acesso a recursos financeiros; (5) criação de consórcios intermunicipais e regionais para o gerenciamento dos sistemas de tratamento de resíduos e efluentes (domésticos e industriais).

Normas, políticas, estruturas de governança e interesses comuns adquiridos devem orientar a transformação da legislação nacional. Para que haja sucesso, uma política de desenvolvimento deve considerar como fatores determinantes a matriz energética, as fontes de energia atuais e potenciais, agricultura, transferência de tecnologias, gestão de riscos, combate a inércia do comportamento de pessoas e organizações (mudanças na forma de atuar).



- Mudanças Climáticas na Esfera Nacional

A dinâmica climática deverá causar uma migração das culturas adaptadas ao clima tropical para as áreas mais ao sul do país ou para zonas de altitudes maiores, para compensar a diferença climática. Ao mesmo tempo, haverá uma diminuição nas áreas de cultivo de plantas de clima temperado do país. Um aumento próximo a 3°C causará uma possível expansão das culturas de café e da cana-de-açúcar para áreas de maiores latitudes. As regiões mais pobres serão as mais atingidas.

O Brasil é um país de dimensões continentais; portanto, apresenta grande diversidade climática e, consequentemente, distintos biomas, como a Amazônia, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica, Caatinga, Campos Sulinos e o bioma Costeiro com recifes de corais, dunas, manguezais, lagoas, estuários e pântanos. Os ecossistemas que fazem parte do bioma amazônico ocupam cerca de 4,2 milhões de km2, enquanto os do Cerrado abrangem em torno de 2 milhões de km2, os da Mata Atlântica estendem-se por 1,1 milhão de Km2 e os da Caatinga cobrem 844 mil Km2.

A extensa dimensão continental, heterogeneidade climática, tipos de solo e topografia variada imprimem ao país diferentes condições de desenvolvimento das culturas, e as consequências do aquecimento global serão inúmeras.

O Brasil já tem uma área desprovida de vegetação natural suficientemente grande para acomodar a expansão da produção agrícola, cujos maiores entraves para a produção de alimentos não se devem a restrições impostas pelo Código Florestal, mas à enorme desigualdade na distribuição de terras, à restrição de crédito agrícola ao agricultor que produz alimentos de consumo direto, à falta de assistência técnica para aumentar a produtividade, à falta de investimentos em infraestrutura para armazenamento e escoamento da produção agrícola, às restrições de financiamento e priorização do desenvolvimento e tecnologias que permitam um aumento expressivo na eficiência da produção pecuária no país.
- Recursos Naturais e Manejos, Ecossistemas e seus Usos

Recursos Hídricos

  • Os rios no leste da Amazônia e Nordeste do Brasil poderão ter redução da vazão de até 20%. A bacia do rio Tocantins apresenta redução da vazão da ordem de 30%.

  • A bacia hidrográfica do Paraná-Prata deverá ter aumento da vazão (entre 10% e 40%) no cenário A1B até meados do século XXI segundo 12 modelos climáticos.

  • O Rio Grande, afluente do rio Paraná, apresenta significativa discordância entre as alterações de vazões estimadas pelos diferentes modelos climáticos. A vazão pode aumentar 13% ou reduzir em até 28% em outro modelo. Havendo grande incerteza.

O Brasil possui uma grande disponibilidade hídrica distribuída de forma heterogênea no território. A vazão média anual dos rios em território brasileiro é de 179 mil m3/s, o que corresponde a aproximadamente 12% da disponibilidade hídrica superficial mundial.

A região hidrográfica Amazônica detém 73,6% dos recursos hídricos superficiais nacionais. A vazão média desta região é quase três vezes maior que a soma das vazões de todas as demais regiões hidrográficas brasileiras. A vazão específica indica a capacidade de geração de vazão de uma determinada bacia. No Brasil, a vazão específica varia de menos de 2 L/s.km² nas bacias da região semiárida até mais de 40 L/s.km2 no noroeste da região Amazônica.

O impacto da mudança do clima deve considerar a diversidade hidrológica do território brasileiro. Diversos estudos têm sido realizados para identificação de tendências em diferentes regiões e bacias hidrográficas brasileiras, considerando as variações naturais e os possíveis efeitos da mudança do clima. As tendências encontradas para as diversas regiões do Brasil são descritas a seguir.

Na Amazônia, não foram verificadas tendências significativas nas chuvas ou vazões, ainda que o desmatamento tenha aumentado gradativamente nos últimos vinte anos.

No Nordeste, os estudos não foram consensuais na identificação da ocorrência ou não de tendências no regime pluviométrico. A figura 1 exemplifica-se a distribuição da precipitação média no país entre 1961 a 2007.

As precipitações e as vazões fluviais na Amazônia e no Nordeste apresentam uma variabilidade nas escalas interanual e interdecadal mais importantes do que tendências de aumento ou redução, podendo estas estarem associadas a padrões de variação climática de grande escala.

No sul do Brasil e norte da Argentina foram observadas tendências para aumento das chuvas e vazões de rios desde meados do século XX. O Rio Prata-Paraná apresentou uma tendência de queda desde 1901 a 1970 e um aumento sistemático nas vazões desde o início dos anos 70 até o presente. A região do Pantanal também faz parte desta bacia, de modo que qualquer alteração na vazão dos rios mencionados tem implicações diretas na capacidade de armazenamento desse enorme reservatório natural.

Figura 1 – Precipitação média de 1961 a 2007. As regiões hidrográficas estão representadas de acordo com as seguintes siglas: A – Amazônica; B – Tocantins-Araguaia; C – Atlântico Nordeste Ocidental; D – Parnaíba; E – Atlântico Nordeste Oriental; F – São Francisco; G – Atlântico Leste; H – Atlântico Sudeste; I – Atlântico Sul; J – Uruguai; L – Paraná; M – Paraguai. (Adaptado de: Conjuntura dos recursos hídricos no Brasil 2009 / Agência Nacional de Águas. Brasília: ANA, 2009).

A Bacia do Rio Paraná possui sua série de vazões não-estacionária tendo como características: (1) as séries de vazões naturais dos rios Tietê, Paranapanema e Paraná (a jusante do rio Grande) não são estacionárias apresentando aumento de vazões médias após o ano de 1970; (2) a taxa de aumento das vazões médias cresce de montante para jusante; (3) os postos pluviométricos nas bacias dos rios Grande, Tietê e Paranapanema também apresentam não-estacionariedade; e (4) somente a bacia do rio Paranaíba manteve a estacionariedade de vazões para todo o período de análise.

As bacias da região Sul e Sudeste são de grande importância para a geração hidrelétrica, correspondendo a 80% da capacidade instalada brasileira. A não-estacionariedade das séries de vazões pode ter impacto significativo no cálculo da energia assegurada.

As precipitações no Norte e Nordeste do Brasil não apresentam uma tendência de mudança definida, podendo ter reduções significativas ou aumento moderado.

Na figura 2 é ilustrada a situação atual da distribuição das vazões específicas em todo o território nacional, que poderão ser alteradas conforme os cenários descritos acima.



Figura 2 – Distribuição espacial das vazões específicas no território brasileiro. (Fonte: Conjuntura dos recursos hídricos no Brasil 2009 / Agência Nacional de Águas. -- Brasília: ANA, 2009).

A mudança climática deverá afetar as taxas de recarga de águas subterrâneas, ou seja, o recurso águas subterrâneas renováveis e os níveis de águas subterrâneas. No entanto, o conhecimento de recarga corrente e níveis nos países desenvolvidos e em desenvolvimento ainda é incipiente. Tem havido pouca pesquisa sobre o impacto das mudanças climáticas em as águas subterrâneas, incluindo a questão de como as mudanças climáticas afetarão a relação entre as águas superficiais e aquíferos, que são hidraulicamente conectados.

Apesar de poucos estudos sobre qualidade da água e clima terem sido realizados, espera-se que haja forte impacto por alterações do clima. As mudanças climáticas devem ter impacto a oferta de água, assim como a demanda em seus diversos setores.

Neste contexto, a gestão adaptativa dos recursos hídricos torna-se ainda mais relevante. A adaptação às mudanças climática é imperativa. A gestão de risco em múltiplas escalas temporais se faz necessária como estratégia de adaptação. A resposta às mudanças climáticas envolve um processo iterativo de gestão de risco que inclui ações de mitigação e adaptação, tendo em conta os danos reais ocorridos devido à mudança e os evitados, co-benefícios, sustentabilidade, equidade e as atitudes ao risco.

Atualmente, não há opções de gestão que sejam especialmente apropriadas e mensuráveis para adaptação às alterações climáticas, diferentemente daquelas já empregadas para lidar com a variabilidade do clima. É importante saber se deve adotar uma estratégia mais convencional e incremental ou uma abordagem mais preventiva e de precaução.

Uma grande variedade de medidas específicas de gestão, estruturais e não estruturais utilizadas rotineiramente para acomodar a atual variabilidade, servirão para a adaptação com vistas à redução dos impactos da variabilidade climática e mudanças climáticas. Observa-se que não existe uma abordagem de adaptação única e universal.

O risco de desastres naturais, tanto as enchentes como as secas, deve ser analisado em conjunto com os conceitos de exposição e vulnerabilidade das populações, além da integração entre sistema de alerta precoce, coordenação de planos de ação local, e integração dos planos de contingência, que poderão evitar os fortes impactos com alto índice de óbitos provocados pelos eventos extremos, principalmente nas áreas urbanas.



Ecossistema de Água Doce e Terrestre

Todos os biomas brasileiros são vulneráveis as mudanças climáticas, seja pela forte alteração da cobertura vegetal, pequena cobertura com áreas protegidas, alto índice de desmatamento, mudança no regime de inundações, mudanças no uso da terra e forte pressão de plantas invasoras e expansão desordenada e pequena ou nenhuma infraestrutura e organização do território. Cada item identificado se aplica com maior ou menor intensidade em cada um dos 6 biomas brasileiros.

Os principais impactos aos quais os sistemas naturais terrestres e aquáticos continentais brasileiros são sujeitos incluem: a) desmatamento, fragmentação e impacto sobre recursos naturais renováveis a partir de mudanças no uso da terra; e b) impacto sobre a qualidade de recursos hídricos e sobre o solo por poluição derivada de ação antrópica. Esses dois tipos de impacto, por sua vez, têm efeito direto sobre o clima. Impactos projetados até 2100, decorrentes de mudanças climáticas, incluem redução de chuvas e aumento de temperatura em boa parte do território brasileiro, implicando em extinção ou mudanças da distribuição geográfica de espécies.

Todos os biomas brasileiros apresentam pontos de vulnerabilidade: a) a Mata Atlântica, por sua pequena e fragmentada cobertura florestal remanescente; b) o Cerrado, por sua pequena cobertura de áreas protegidas frente à rápida expansão agrícola; c) a Caatinga, pela degradação ambiental acelerada que em alguns pontos já leva à desertificação; d) o Pantanal, vulnerável a mudanças no seu regime de inundações, principalmente diante dos cenários de seca projetados; e) os Pampas, pelas profundas mudanças de uso da terra combinadas com susceptibilidade à invasoras; e, finalmente, f) a Amazônia, pela demanda de expansão infraestrutural que não pode correr o risco de ser desordenada. Em todos esses biomas, as mudanças tornam também a sociedade vulnerável, em componentes como economia e saúde. Na tabela 1 é possível observar a extensão das unidades de conservação (UC) e terras indígenas (TI), por bioma Brasileiro.



Tabela1. Extensão das unidades de conservação (UC)* e terras indígenas (TI)** por bioma brasileiro. Fonte: adaptado de * Fonseca et al. (2010) e ** http://pib.socioambiental.org/pt/c/terras-indigenas/demarcacoes/localizacao-e-extensao-das-tis

Bioma

Área (km2)

UC total (km2)

até 2009

% total até 2009

TI (km2)

% total

Amazônia

4.196.943

1.152.900

27,5

1.087.200

25,9

Caatinga

844.453

86.091

10,0

18.058

0,4

Cerrado

2.036.448

185.737

9,1

Pantanal

150.355

7.531

5,0

Mata Atlântica

1.110.182

118.478

10,7

Pampas

176.496

5.932

3,4

Brasil

8.514.877

1.556.669

18,2

1.105.258

13,0

O país precisa avançar na construção e implementação de estratégias de adaptação às mudanças em curso. Já existem algumas iniciativas de sucesso de adaptação baseada em ecossistemas, que procuram conciliar conservação da natureza com desenvolvimento humano. Entretanto, tais iniciativas precisam ganhar escala. A base para isso é o avanço em uma prática científica interdisciplinar e com maior sucesso ao se comunicar com a tomada de decisão nos setores público, privado e com a sociedade em geral.

Sistema Costeiro e Áreas Costeiras Baixas

Existe grande carência de informações relacionadas aos efeitos das mudanças climáticas sobre os ecossistemas costeiros no Brasil, bem como da vulnerabilidade desses ecossistemas a tais alterações. As poucas informações disponíveis referem-se a alguns estudos locais e tratam basicamente dos efeitos de uma possível elevação do nível médio do mar sobre tais sistemas. Portanto ainda existe uma grande lacuna para efeito de planejamento e de definições de políticas públicas para essas áreas.

O litoral brasileiro, com 8.698 km de extensão e área aproximada de 514 mil km2, constitui-se em um perene desafio à gestão em face da diversidade de situações existentes neste território. São aproximadamente 300 municípios defrontantes com o mar, os quais têm, na faixa de praia, um espaço privilegiado para o desenvolvimento de atividades turísticas, lazer, pesca, entre outras. É nesse cenário dinâmico e de alta mobilidade, tanto física quanto socioeconômica, que residem aproximadamente 20% da população do país, sendo que 16 das 28 regiões metropolitanas encontram-se no litoral. Essas áreas de adensamento populacional convivem com amplas extensões de povoamento disperso e rarefeito. São os habitats das comunidades de pescadores artesanais, dos remanescentes de quilombos, de tribos indígenas e de outros agrupamentos imersos em gêneros de vida tradicionais. Nesta área além dos já conhecidos e discutidos problemas ambientais incidentes, desenha-se, atualmente, uma nova perspectiva frente às questões relativas às mudanças climáticas, principalmente no que tange às suas causas e efeitos, e as consequentes medidas de adaptação a novos cenários de aquecimento global, elevação do nível do mar, erosão costeira, entre outros.

O estudo apresenta uma avaliação da atual situação da zona costeira brasileira, dando especial enfoque aos recursos naturais e manejados, ecossistemas e seus usos. Para tanto o conteúdo é abordado de maneira ecossistêmica, com análises específicas para ambientes de plataformas rasas e praias, manguezais e marismas, estuários e lagoas e lagunas costeiras. É abordado um estudo sobre vulnerabilidade da zona costeira que engloba aspectos não apenas de cunho ambiental, mas também social e tecnológico. Na figura 3 é ilustrado um exemplo do mapeamento da vulnerabilidade considerando os aspectos descritos acima. Toda a costa brasileira possui esse tipo de mapeamento, necessitando, entretanto de detalhar melhor.



Figura 3 - Região metropolitana de Salvador. Altos índices de vulnerabilidade associados a um cenário de alto risco tecnológico (Adaptado de: Nicolodi e Petermann, 2010).

A conclusão mais relevante da análise apresentada diz respeito à carência de informações relacionadas aos efeitos das mudanças climáticas sobre os ecossistemas costeiros no Brasil, bem como da vulnerabilidade desses ecossistemas a tais alterações. As poucas informações disponíveis referem-se a alguns estudos locais e tratam basicamente dos efeitos de uma possível elevação do nível médio do mar sobre tais sistemas. Análises sobre vulnerabilidade existem em escala nacional, ou em escala local, o que deixa uma lacuna em termos de planejamento.

Outro aspecto que deve ser amplamente debatido pela sociedade é o papel das instituições no processo. Nesse aspecto, é inegável que, em termos de gestão, o Ministério do Meio Ambiente deve ter prerrogativa de liderança, uma vez que a legislação o define como coordenador do processo de Gerenciamento Costeiro no Brasil.

Dentre as ações que devem compor o referido planejamento estratégico integrado destacam-se a efetivação de monitoramento ambiental sistemático e de longo prazo, o ordenamento territorial efetivo, principalmente em nível municipal, a efetivação das políticas estaduais de gerenciamento costeiro, o planejamento prévio e a priorização de estudos para as formas clássicas de respostas aos efeitos esperados de mudanças climáticas como recuo, acomodação e proteção. Além disso, torna-se fundamental a adoção de medidas que visem à adaptação dos ecossistemas às novas condições, o que só pode ser alcançado por meio da gestão do território costeiro de forma integrada e multisetorial.

Ecossistemas Oceânicos

As mudanças climáticas podem promover uma redistribuição em larga escala do potencial máximo de captura (PMC) de várias espécies de pescado, com um aumento nas regiões de altas latitudes e quedas nos trópicos. As perdas e ganhos do PMC nas latitudes tropicais serão da ordem de 10%, mas a previsão é a de que o Brasil diminua em 6% seu PMC nos próximos 40 anos.

Considerado atualmente como o maior desafio ecológico, social e econômico da humanidade, as mudanças climáticas, caracterizadas principalmente pelo aquecimento global observado nos últimos 50 anos, tem diretamente afetado os oceanos do planeta. Os principais efeitos observados decorrem do armazenamento de uma quantidade considerável de calor proveniente da atmosfera, promovendo um aumento considerável da temperatura da água das camadas superficiais, assim como um aumento do nível do mar em decorrência da expansão térmica da água. Consequência não menos grave é também a acidificação dos oceanos em razão da dissolução do dióxido de carbono na água. Evidentemente, todas estas alterações têm provocado efeitos diversos sobre a vida marinha nos oceanos. Isto decorre do fato de que os recursos vivos marinhos apresentam, de uma maneira geral, uma elevada sensibilidade às variações do ambiente onde vivem e, por esta razão, as mudanças das condições normais dos oceanos podem interferir em diversos processos biológicos, como reprodução, crescimento, distribuição e abundância, interações entre presas e predadores, entre outros. Embora o ecossistema pelágico oceânico, que sustenta importantes atividades econômicas de exploração direta, como a pesca, tenha atraído um interesse crescente da comunidade científica no sentido de melhor entender sua dinâmica ambiental, pouco ainda se sabe sobre os efeitos das mudanças climáticas sobre este ecossistema e os organismos marinhos que nele habitam, muitos dos quais são recursos de elevado valor comercial ou de grande relevância para a segurança alimentar de inúmeras comunidades pesqueiras em diversas partes do mundo.

Estudos recentes demonstraram que as mudanças climáticas podem promover uma redistribuição em larga escala do potencial máximo de captura (PMC) de várias espécies, com um aumento de 30% a 70% em regiões de altas latitudes e quedas nos trópicos. As perdas e ganhos do PMC nas latitudes tropicais serão da ordem de 10%, mas podem atingir valores entre 15% e 50% do lado oeste tropical do Oceano Atlântico, ao largo da costa brasileira. A previsão é a de que o Brasil diminua em 6% seu PMC nos próximos 40 anos. É importante salientar, entretanto, que embora, na maioria dos casos, os efeitos das mudanças climáticas apontem para um cenário negativo, há muitas incertezas sobre a questão que precisam ser melhor avaliadas. Aspectos positivos decorrentes de mudanças no ambiente poderão também ocorrer, existem estudos que apontam para um aumento da produção pesqueira em algumas regiões, em decorrência de alterações nos padrões de distribuição e abundância de algumas espécies, entre outros aspectos da sua biologia. Neste contexto, as respostas a essas questões certamente não poderão ser encontradas nem construídas sem a realização de pesquisas que permitam aprofundar os conhecimentos sobre as conexões entre a atmosfera e o oceano, principalmente no que se refere aos efeitos das mudanças climáticas sobre este ecossistema e seus habitantes.



Sistema alimentar e segurança

As mudanças climáticas terão efeito diferenciado em termos regionais na oferta de alimentos no País. A partir de politicas públicas já em andamento, o setor apresenta opções para redução das emissões de Gases de Efeito Estufa e de adaptação das culturas. Com o grande aumento na produção de alimentos no Brasil, a ameaça da segurança alimentar é mais dependente das condições de infraestrutura de armazenamento e transporte, onde são identificadas perdas continuadas todos os anos.

O Brasil é hoje um dos países em que o número de pessoas em insegurança alimentar vem diminuindo progressivamente. No entanto, o Relatório do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA, 2010), destaca que persistem desafios históricos para a plena realização do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) no país, como a concentração de terra, as desigualdades (de renda, étnica, racial e de gênero), a insegurança alimentar e nutricional dos povos indígenas e comunidades tradicionais, entre outros. Também existem os riscos enfrentados pelo setor agropecuário devido às mudanças climáticas iminentes.

O desenvolvimento de novas tecnologias agrícolas, além de promover a redução na emissão dos GEE, deve promover o aumento da produtividade das culturas. A associação de transformações tecnológicas em sistemas de produção com ações de monitoramento e controle de externalidades, como o desmatamento e uso pouco eficiente das terras, representa uma possibilidade para mudar uma tendência global da atividade produtiva.

Numa conjuntura brasileira marcada pelo aumento da renda familiar, a tendência é de elevação da demanda por alimentos no país. Contudo, o ritmo de crescimento da produção agrícola, em grande medida destinada à exportação, é muito superior ao da produção de alimentos destinados ao consumo interno. A área plantada com grandes monoculturas avançou consideravelmente em relação à área ocupada pelos cultivos da agricultura familiar, mais diversificados e com produtos direcionados ao abastecimento interno. Os dados históricos da produção brasileira revelam uma elevada especialização e concentração da produção em poucos Estados, o que, somadas às dificuldades de infraestrutura e de logística, com grandes perdas no transporte e na pós colheita, eleva os gastos públicos com despesas de carregamento de grãos e transporte para os centros consumidores.

A segurança alimentar é analisada em duas vertentes: o sistema de produção de alimentos e os sistemas de armazenamento, distribuição e acesso aos alimentos. Ainda, sempre que possível, procura-se analisar os temas de forma integrada e suas correlações com outros setores como disponibilidade de terra e água, produção de bioenergia, infraestrutura de distribuição e armazenamento. Assim, são apresentados e discutidos trabalhos científicos e relatórios de governo nessas duas vertentes e na sua integração, além de se apresentar uma síntese das principais políticas públicas voltadas à segurança alimentar.

Diversas ações e políticas colaboram efetivamente para adaptação do sistema de segurança alimentar, em diversos níveis de atuação. Um direcionamento mais integrado de novas medidas adaptativas poderia promover avanços na incorporação de novos modelos e paradigmas de produção agropecuária. De um lado, poder-se-ia focar na descentralização da produção, na busca de soluções mais adaptadas às condições locais, na diversificação da oferta interna de alimentos e na qualidade nutricional, e de outro, na capacidade de lidar com instrumentos de gestão da produção e do armazenamento – principalmente diante de novas instabilidades trazidas pela mudança climática – e na adoção de medidas que permitam reestruturar os sistemas de produção agrícola. Essas medidas devem atender a múltiplos propósitos e, mesmo ao adaptar-se às mudanças climáticas, continuar produzindo alimentos de forma sustentável e contribuindo para a redução e sequestro de emissões de GEE e, simultaneamente, respeitar e trazer melhorias dos aspectos sociais, econômicos e ambientais, delas decorrentes.

O meio para se alcançar tais avanços deve incluir, em conjunto com programas de garantia e transferência de renda, de crédito e de pesquisas para adaptação, um esforço de inovação no campo, baseada na criação de um ambiente institucional adequado. Do ponto de vista do desenvolvimento sustentável, especial atenção deve ser dada a: rearticulação e capacitação continuada da rede de extensão rural, pública e privada; transferência de conhecimentos e tecnologias adaptadas às condições locais; promoção do desenvolvimento regional; ações de formação de capital humano para as cadeias produtivas ligadas à agricultura; e a organização de produtores e agrupamentos regionais de produção.

Objetivamente, mesmo diante dos novos desafios trazidos pelas mudanças climáticas, esse direcionamento deve levar à sustentabilidade, na sua concepção mais plural ou multisetorial, e a agricultura familiar parece dar alguns indícios de que há caminhos possíveis para atingi-la, desde que se esteja apto a adotar alterações significativas dos modelos e paradigmas atuais de produção, distribuição e acesso aos alimentos.


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