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Diálogos
Atividade interdisciplinar: Geografia e História.
A descoberta da longitude
Numa época como a de hoje, em que é possível saber a localização exata de qualquer ponto do planeta simplesmente acionando o GPS, e viajar ao redor do mundo ficou muito mais acessível, é quase impossível imaginar que muitas das maiores descobertas realizadas pelos grandes navegadores ocorreram quase às escuras, ou seja, sem uma noção precisa da posição da embarcação rumo ao desconhecido.
Desde a Antiguidade, o ser humano tem se lançado ao mar, ao sabor dos ventos e das correntes marinhas. Durante os anos de apogeu das conquistas ibéricas, os navegadores dispunham somente da bússola e do astrolábio. Todas as descobertas marítimas realizadas por Portugal e Espanha nos séculos XV e XVI foram fruto de empreitadas que envolviam enormes riscos e uma dose incrível de ousadia, pois ainda não havia o pleno domínio de técnicas que permitissem definir o local exato em que se encontrava uma embarcação. Apesar dos relatos de diversas viagens bem-sucedidas, são inúmeras as histórias de naufrágios e incidentes trágicos provocados pela falta de orientação dos navegantes.
A falta de direção
Saber a latitude não era problema. Os círculos que "cortam" o planeta paralelamente à linha do equador, baseados na posição da Terra em relação ao Sol ou à Lua, já eram conhecidos desde a Antiguidade. Estabelecer a longitude sempre foi uma tarefa difícil; afinal, não havia um ponto fixo natural que pudesse servir de referência. Com o crescimento do comércio marítimo entre o Oriente e o Ocidente e a expansão do poder das nações mais adiantadas para além de suas fronteiras, surgiu a necessidade de conhecer rotas seguras. Era, portanto, vital conhecer um método para medir com precisão a longitude.
Guiar-se pelas estrelas era a prática mais utilizada, mas resultava ineficaz durante o dia ou em noites nubladas ou sob nevoeiro. Determinar a longitude passou a ser uma das mais graves questões científicas dos séculos XVII e XVIII, e grandes cientistas, como Galileu Galilei, Cassini e Isaac Newton, dedicaram tempo e talento para solucioná-la. Na época, com a invenção da luneta, havia um fascínio pela observação dos astros celestes, e muitos buscavam nas estrelas as respostas para problemas terrenos. O próprio Galileu deu um importante passo ao descobrir os satélites de Júpiter, cuja trajetória ajudaria a estabelecer um parâmetro para medir a longitude.
LEGENDA: Astrolábio do século IX.
FONTE: Bridgeman Art/Keystone/Biblioteca Nacional de Cartografia, Paris, França.
LEGENDA: Livros e instrumentos - entre eles, um relógio de pêndulo do século XVII - que pertenceram a Galileu Galilei.
FONTE: Erich Lessing/Album/Latinstock
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Devido ao incremento empreendido por países capitalistas como Inglaterra, França e Holanda ao tráfego marítimo, era mais do que urgente tornar a navegação uma atividade mais confiável e segura, sob o risco de se perder uma carga valiosa ou, pior ainda, de ceifar vidas humanas. Foi justamente uma tragédia que precipitou a busca por uma solução. Em 1707, quando a frota de cinco navios de guerra ingleses comandada pelo Almirante Clowdesley Shovell tentava retornar ao porto de Londres, após vencer um combate com tropas francesas, formou-se um denso nevoeiro que durou doze dias. O capitão consultou seus oficiais e, seguindo a intuição de todos, concluiu que apesar da intensa neblina os navios estavam em posição segura e podiam seguir rumo ao norte para atingir a Inglaterra. No entanto, eles estavam cerca de 32 quilômetros fora da rota pretendida. O engano foi fatal: três embarcações se chocaram contra os rochedos e o acidente provocou a morte de 2 mil homens.
O Decreto da Longitude
Depois desse grave acidente, empresários, capitães e marinheiros e a força militar naval da Inglaterra pressionaram o governo inglês para estabelecer métodos mais seguros de navegação. Para isso, fazia-se urgente descobrir como medir a longitude. Várias medidas foram adotadas, porém nenhuma de efeito prático, até que, em 1714, o Parlamento Inglês promulgou o Decreto da Longitude, uma lei que estabelecia um prêmio de 20 mil libras para quem descobrisse como medir a longitude. Foi criado um comitê especificamente voltado para avaliar as propostas, formado pelos mais renomados cientistas da época, entre os quais, o astrônomo Edmond Halley, diretor do Observatório de Greenwich.
Havia, na ocasião, duas vertentes para as quais as pesquisas se direcionaram. Uma delas, defendida pelos adeptos da Astronomia, acreditava que, assim como a latitude podia ser encontrada pela observação do céu, a longitude também dependia de referências estelares. Outra corrente achava que, para medir a longitude, era preciso construir um relógio preciso e resistente.
A longitude e as horas
A divisão da Terra em meridianos era um conceito conhecido havia muito tempo. Sabia-se que, para dar uma volta completa em torno do seu próprio eixo, o planeta levava 24 horas. Como a Terra pode ser representada por uma esfera que pode ser dividida em 360 graus, em sua rotação ela avança 15 graus a cada hora. Assim, bastava comparar o horário local com a hora do ponto de partida, naquele mesmo instante, para saber quantos graus se avançou. Uma vez definido um meridiano como marco zero, seria possível definir em que longitude a embarcação se encontrava. No entanto, para que se pudesse medir esse percurso com uma margem razoável de erro, era necessário um relógio muito preciso e que suportasse as condições adversas a bordo de um navio, como variações de temperatura, balanço provocado pelas tempestades, etc.
CHINEN, Nobu. Conhecimento prático - Geografia. São Paulo: Escala Educacional, 2009. n. 24, p. 34-39.
LEGENDA: Relógio H4, primeiro cronômetro marinho, criado em 1759 pelo inglês John Harrison.
FONTE: Oli Scarff/Getty Images
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