A voz do passado



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Para um projeto pequeno, um ou dois fichários dentro dessa orientação pode ser tudo que é necessário. Uma anotação do local e data da gravação, no momento da entrevista, pode ser deixada como foi feita junto com a fita; e o tema geral é suficien-temente lembrado para se saber se vale a pena examinar. Porém, à medida que a coleção cresce e especialmente à medida que mais pessoas passam a colaborar para sua formação e utilização, é preciso que haja mais informações disponíveis de alguma forma sistemática.
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Em primeiro lugar, quer nas fichas originais, quer numa se-qüência paralela, será bom que se acrescente o nome do informante, quando e onde foi feita a gravação, e por quem. Também é conve-niente anotar toda variação importante no método ou qualidade da gravação. No caso, por exemplo, de unia coleção de fitas de rolo gravadas em geral a 3,75 p.p.s., o registro relativo a alguma gravação que contivesse algumas emendas deve assemelhar-se a algo como se vêna Figura 2.
Figura 2
Em segundo lugar, vale a pena extrair alguns dos detalhes básicos dos antecedentes do informante, essenciais para a avalia282

ção da entrevista, e que devem, pois, ser encontrados nela. Eles serão naturalmente variáveis, dependendo do centro de interesse do projeto. Assim, uma coleção política pode conter anotações específicas a respeito de eleições disputadas e de cargos ocupa-dos; e o Imperial War Museum relaciona detalhes tais como "pe-ríodo em que serviu", "arma em que serviu", "posto", 'medalhas e menções", que seriam inadequados em contexto diferente. Mas a maioria dos historiadores orais precisa pelo menos saber quando o informante nasceu, qual a ocupação de seus pais, onde moravam, se tinha ou não irmãos e irmãs, seu nível de instrução, carreira profissional, filiação religiosa e política, se for o caso, se era casado ou não, e, se era, quando casou, com quem e se tive-ram filhos. Tudo isso também pode ser convenientemente resu-mido numa ficha, como se vê na Figura 3.


Todas as informações podem ser condensadas e, algumas delas, codificadas, se o formulário sugerido parecer longo de-mais. No final de Speak for England, Melvyn Bragg acrescentou um índice muito útil, "As pessoas", que tinha a seguinte forma:
160 Joseph William Parkin Lightfoot n. Bolton Low Houses, 13 de de-zembro de 1908, irm. Dois irm Duas iug. Fletchcrtown 1938, Kirkland 1942, Wigton 1954 12e. Mineiro out.e. aposentado, antes mineiro 1922, trabalhador rural 1924, trabalhador em tubulações, jardineiro em tempo parcial déc. 1930, motorista Cumberland Motor Services 1942-68, loja própria déc. 1950, ed. Bolton Low Houscs até 14 rei. Metodista part. Trabalhista e.c. Casadof Dois
As abreviaturas explicam-se por si, exceto, talvez, lug. , que significa "lugares em que morou".
Uma terceira possibilidade é criar uma série de fichas de conteúdo. Para alguns projetos, organizados para seguir um es-quema definido de entrevista, isso pode ser supérfluo; todas as pistas necessárias se encontram nos antecedentes básicos do in-formante. Mas quanto maior e mais diversificada seja uma cole-ção, mais se torna necessário um catálogo de fichas de conteúdo. Um dos exemplos mais completamente desenvolvidos é o ofere-cido pelos Arquivos de Som da BBC. Essas fichas (exemplo re-283

data de nascimento .

local de nascimento ..

ocupação dopai

ocupação da mãe

irmãos


educação .

(datas)

política .

religião .

residência (datas)...

data de casamento..

ocupação do marido/esposa ................

filhos
produzido a seguir) fornecem um sumário particularmente com-pleto do conteúdo de cada item do arquivo, mas começam com um cabeçalho mais curto. Um índice de conteúdo, dependendo do tempo a ser gasto com ele, pode pretender ser resumido ou completo. Mas deve, pelo menos, indicar os principais locais, grupos sociais, ocupações ou ramos de atividade, ideologia polí-tica ou outras, assuntos pessoais ou familiares, e (com mais cla-reza do que nessas fichas) os períodos de tempo abrangidos.


Finalmente, especialmente no caso de uma grande coleção

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CAMPBELL, Beatrice, Lady Glenaiy (Esposa do 2. Barão Glenavy) AA


LP28643 D. H. Lawrence e seu círculo: primeiro de dois programas em que ela recorda algumas impressões de sua amizade com Katherine Mansfield, John Middleton Murry,
19'12" D.H. Lawrence e Frieda Lawrence.

Produtor: Joseph Hone

Copyright: PF

Anot.: Nenhuma

Trans.: TP 30.3.64

Script


Obs: Essa fala foi gravada na Irlanda, e é tirada de sua autobiografia Today we will only gossip, editada por Cosntable, 9.4.64.

CTIR 38700A

29.1.64 /segue...

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CAMPBELL, Beatrice, Lady Glenairy (Esposa do 2~ Barão Glenavy) AA

LP28643 29.1.64

Recorda primeiro encontro com Katherine Mansfield e Middleton Murry, que eram grandes amigos de seu futuro marido, Gordon Campbell:

aparência e maneiras de Katherine; achou que Katherine a encarou como uma intrusa em seu círculo, e procurou chocá-la com uma conversa ousada; as primeiras lutas de Katherine como escritora; sofrimentos por causa de um casamento infeliz e de casos amorosos; a dedicação e os cuidados de sua amiga Ida Baker; como sua hostilidade contra Bealrice foi superada por inci-dente durante visita a Paris; os "dramas psicológicos" e discussões durante noites em cafés parisienses.

Gr. 90: Através deles encontrou Lawrence e sua esposa, e Koteliansky, co-nhecido como "Kot"; qualidades que fizeram dele amigo de Lawrence; pri-meiro encontro de Kot com Katherine surgido de uma briga entre Lawrence e Frieda, e sua subseqüente amizade; associação de Katherine com Muny.

/segue...

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pública, será necessário criar um sistema geral de indexação que conduza às demais séries de fichas. Agora que a maioria dos ar-quivos públicos convenientemente equipados estão informati-zando seus índices, será necessária uma assessoria técnica atuali-zada sobre a escolha do programa mais adequado. Ele deve ser fácil para o usuário e flexível: o pior erro possível é adotar um sistema especializado, feito sob medida, projetado individual285


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CAMPBELL, Beatrice, Lady Glenaiy (Esposa do 2. Barão Glenavy) AA

LP28643 29.1.64
Gr. 145: O caráter complexo e o humor inconstante de Katherine: duas oca-siões em que ela fez uma cena; um fun de semana que os Campbell passaram em visita à mansão dos Campbell na Irlanda; Murry triste por ir embora, mas Katherine alegre por voltar para Londres.
mente para a coleção, porque quando quem o projetou for em-bora, você se verá desamparado. O sistema de palavras-chave provavelmente também mais criará do que resolverá problemas, porque os conceitos que precisarão ser indexados podem ser ex-pressos por muitas palavras diferentes ou, na verdade, por alu-sões indiretas, ou até mesmo por abstenção e omissão. Como os computadores pensam com uma coerência rigidamente tacanha, as palavras-chave têm que ser editadas no texto para que possam ser localizadas. Isso significa que, com a maioria das coleções de história oral, usando ou não um computador, a indexação será um processo mais próximo do índice de nomes e assuntos de um livro comum. Assim, todos os lugares, pessoas e organizações que haja nas fichas podem ser incluídos. Eventos importantes também podem ser relacionados. E, com um pouco mais de difi-culdade, pode-se desenvolver uma série de títulos de assunto com remissão cruzada. Atualmente, não há nenhum modelo clara-mente estabelecido para se seguir, de modo que é importante usar um sistema que admita modificações à luz da experiência. E, acima de tudo, ele deve ser projetado para ajudar e não para subs-tituir a imaginação, a compreensão e a intuição humanas. Na prá-tica, isso significa que o melhor sistema de catalogação e indexa-ção será o que diz ao historiador que partes da coleção compensarão pesquisas ulteriores e quais não. Idealmente, deve ser possibili-tada a eliminação, o mais rápido possível, de todas as principais seções, ou tópicos específicos, que dizem respeito a urna época, lugar ou tema geral diversos dos do interesse do historiador. Assim, antes de dar precedência a um catálogo de conteúdo tão completo

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quanto o dos Arquivos de Som da BBC, mais valeria desdobrar o índice geral desse catálogo, de modo que "Ocupações" - "minera-ção de estanho" fosse ainda mais subdividido para levar a "Com-wall"-"1900-14"; ou "Vestuário popular"-"cerimônias de colheita", para levar a "East Anglia"-'década de 1880".
Antes que uma gravação passe a fazer parte de um arquivo público, uma outra questão precisa ser esclarecida, como indicam certas anotações nas fichas dadas como exemplo: a do controle do direito de acesso e de uso. Esta, porém, não é uma questão simples, em parte porque a lei de direitos autorais é em si mesma fama, varia de um país para outro, e ainda não foi convenientemente testada em nenhum deles; mas também porque isso le-vanta problemas éticos mais amplos de responsabilidade para com os informantes. A posição legal é a de que existem dois direitos autorais numa gravação. O direito autoral da gravação como gravação é em geral propriedade do entrevistador, ou da instituição ou pessoa que encomendou a entrevista. O direito au-toral das informações contidas na gravação - as palavras tex-tuais do informante - é propriedade do entrevistado. Normal-mente, porém, um certo direito de utilização dessa informação está implícito no consentimento em ser entrevistado. Assim, pa-rece claro que uma pessoa que, sabedora de que 'um historiador está colhendo material para uma pesquisa, concordou em ser en-trevistada não teria muitos motivos justificados para se queixar quando descobrisse ter sido citada num trabalho impresso. E, na prática, seria muito pouco provável que procurasse impedir a pu-blicação, ou exigisse alguma compensação por ela, salvo se a considerasse substancialmente danosa. De fato, um acadêmico bona fide muito provavelmente não estaria cometendo uma calú-nia acionável, mas de todo modo seria tolice dar motivo a uma queixa pública. É sempre importante considerar cautelosamente se a publicação de confidências identificáveis não poderia oca-sionar mexerico ou escândalo local. Um informante poderia tam-bém queixar-se, com razão, caso a informação fosse utilizada num contexto significativamente diverso do que havia sido mdi-287

cado; e também, se ela mostrasse ter sido a causa de um best -sei-ler, poderia reclamar uma parcela dos lucros. Se a publicação éuma única história de vida, a autoria do livro e os nomes constan-tes da capa são assuntos que certamente devem ser decididos em conjunto. Há, em relação à maioria dos projetos, muito a ser dito quanto a esse equilíbrio de direitos, e a principal lição a ser aprendida é que, ao explicar a um entrevistado sobre o projeto, deve-se deixar bem claro, não só seu objetivo imediato, mas tam-bém o valor potencial de suas informações para a pesquisa histó-rica mais ampla. Se o primeiro contato for feito pessoalmente, e não por carta, isso pode pelo menos ser confirmado numa carta de agradecimento posterior. Uma compreensão informal dessa espécie tem demonstrado ser base satisfatória para a escrita de inúmeros estudos sociológicos, bem como para a maioria das pu-blicações de história oral sobre que falamos anteriormente. Do mesmo modo, o fato de que, teoricamente, algum direito autoral sempre deve existir na maioria do material manuscrito inédito raramente deu motivo a obstáculos graves ao livre acesso de es-tudiosos ao que está armazenado nas repartições de registro lo-cais e nacionais. Em geral, a melhor política talvez seja mesmo deixar essa questão sem resolver. A insistência numa transferên-cia formal de direitos legais mediante consentimento explícito por escrito pode não só preocupar o informante, como também irá, concretamente, diminuir a proteção mais adequada contra a exploração.


Não obstante, em determinados contextos tem sido prática padrão um acordo formal. Assim se dá no caso da transmissão radiofônica, onde a observação do direito autoral tem que ser es-pecialmente cuidadosa devido ao envolvimento freqüente de fi-guras públicas e, também, devido à influência das complexidades financeiras do direito autoral musical. Isso é também aconse-lhadb pela Oral History Association dos Estados Unidos, onde originalmente se fixaram os padrões para a gravação de figuras públicas eminentes, caso em que era então necessário um acordo preciso, não só em relação a direitos autorais, mas também a se

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determinadas páginas da transcrição deviam permanecer fecha-das até uma certa data, ou serem acessíveis apenas mediante per-missão específica. Na Grã-Bretanha, o Imperial War Museum obtém um acordo escrito preciso de seus informantes, que, fre-qüentemente, são não só figuras públicas eminentes, mas particu-larmente dotados de uma mentalidade de segurança. A fórmula defendida no folheto de Willa Baum para os historiadores locais norte-americanos é relativamente simples:
Eu, abaixo assinado, dou e concedo à Sociedade Histórica Central da Cidade, como doação, para os objetivos acadêmicos e educacionais que a Sociedade determinar, as gravações em fita e respectivos conteú-dos abaixo relacionados:

(assinado) (informante).


A isso, pode-se acrescentar uma cláusula adicional fazendo restrições a parte do material:
As partes contratantes concordam em que as páginas 14-16 do manuscrito e as partes da fita gravada de que essas páginas foram trans-critas não serão publicadas ou de qualquer outro modo postas à disposi-ção de qualquer outra pessoa, que não as partes contratantes, até 1995.
Contudo, "exceto naqueles poucos casos em que se trata real-mente de material delicado, isso seria desaconselhado".2
O Imperial War Museum, que verificou que "freqüentemente é mais difícil conseguir cessão de direitos e fixar outras condi-ções de guarda e de acesso com testamenteiros ou herdeiros do que com os próprios informantes", tenta conseguir uma rápida troca de cartas "para amarrar todas as pontas legais" dentro das seguintes linhas gerais:
Venho, pela presente, formalizar as condições mediante as quais o Museu mantém a posse de suas gravações. As perguntas que já lhe fiz oralmente estio abaixo relacionadas. Ficaria agradecido se, no devido tempo, me enviasse suas respostas por escrito.
1. Pode permitir-se aos usuários do Museu o acesso às gravações e às transcrições datilografadas feitas a partir delas?

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2.As gravações e suas transcrições datilografadas podem ser utili-zadas nos programas educacionais internos e externos do Museu?

3. O Museu pode fornecer cópias das gravações e das transcrições a seus usuários?

4. Você estaria disposto a ceder seu direito autoral das informações contidas nas gravações aos curadores do Imperial War Museum? Isto nos permitiria, quando fosse o caso, tratar de assuntos tais como publicação e transmissão radiofônica, sem ter que consultá-lo previamente. Se concordar em fazer essa ocssão de direitos, isto naturalmente não impedirá que faça pessoalmente qualquer utilização das informações contidas nas gravações.
Quer se chegue ou não a um acordo formal desse tipo, con-tinua a existir uma responsabilidade ética para com o informante que, provavelmente, é mais importante. Antes de mais nada, se a gravação foi feita com um pressuposto implícito de confidencia-lidade, isto deve ser respeitado. Qualquer citação a partir dela que possa causar transtornos ao informante deve ou ser feita ano-nimamente, ou com permissão subseqüente. Do mesmo modo, ésempre necessário que se peça permissão para utilização do ma-terial de uma maneira diferente da que foi inicialmente combi-nada: em vez de para um livro de história, para uma coletânea de biografias, ou para uma transmissão radiofônica. Além disso, quando os informantes têm direito a uma taxa de direitos, como no caso de uma transmissão radiofônica, ou uma coletânea de biografias, isso lhes deve ser assegurado. Eles devem ser avisa-dos com bastante antecedência da ocasião da transmissão, para que possam contar a seus amigos. E se forem citados textualmente num livro, devem receber um exemplar grátis dele. Na medida do possível - e reconhecidamente há algumas formas legítimas de publicação acadêmica para a qual isso pode ser con-traproducente - deve-se chamar a atenção do informante para a utilização feita de seu material. Na verdade, um historiador oral que não deseje partilhar com os informantes o prazer e o orgulho da publicação de uma obra deve refletir muito seriamente sobre por que isso acontece assim, e se se justifica socialmente. Pode ser o caso, talvez, de publicar o material coletado de forma mais popular, como um folheto local, bem como de alguma forma aca-290

dêmica. Admite-se que apenas o historiador oral excepcional pode atingir a amplitude de leitores obtida por um Studs Terkel com um único livro. Porém, o historiador que utiliza evidência oral continua a ter uma responsabilidade ética, que está acima de tudo, de garantir que a história será devolvida às pessoas cujas palavras ajudaram a construí-la.


Deve-se acrescentar que o armazenamento e a conservação de fitas precisam ser vistos do mesmo ângulo. Elas podem ser de interesse e de uso de muito mais pessoas do que do historiador que fez as gravações. Um número enorme de fitas de história oral ficam com a secretária de uma sociedade local, ou num gabinete acadêmico particular, de fato inacessível a um público mais amplo. Isso pode ser compreensível enquanto ela esteja sendo utilizada intensamente para pesquisa pessoal, mas em geral essa situação persiste depois disso, em parte porque as repartições de registro nacionais ou locais apenas muito lentamente se têm or-ganizado para o armazenamento de fitas e para sua audição. Mas a oferta das fitas originais, ou de cópias delas, a uma repartição de registros local, ou a uma biblioteca pública ou de uma univer-sidade, além de ser por si só desejável, pode estimular o atendi-mento daquelas necessidades, e mostrar ser a semente de uma coleção significativa - um ativo que encontrará muitos usos diversos na comunidade.
Pela mesma razão, qualquer que seja o uso imediato que se preveja para elas, há um forte argumento em favor da transcrição integral das fitas como primeira etapa da escrita e apresentação da história. A transcrição é, sem dúvida alguma, tarefa que con-some muito tempo e que exige alta qualificação. Para cada hora de fita gravada, a transcrição leva pelo menos seis horas e, no caso de gravações com uma fala muito difícil ou com dialeto, mais do dobro. Contudo, a menos que a fita seja integralmente transcrita, qualquer um, a não ser quem fez a gravação - e, por-tanto, tem uma idéia bastante clara do que ela contém -, terá grande dificuldade em utilizá-la. Uma ficha de conteúdo no má-ximo constituirá um guia aproximado para o pesquisador visi-291

tante: ouvir mais do que umas poucas fitas leva várias horas, en-quanto passar os olhos pelas transcrições pode levar apenas al-guns minutos. Mas a pessoa que faz a fita também é a mais capaz de garantir a precisão da transcrição. Pelo fato de essa tarefa ser tão demorada e, sem considerar outras premências de tempo, a gravação sempre parecer mais urgente, quase sempre a transcri-ção vai ficando para trás. Num projeto de pesquisa que tenha apoio financeiro externo, isto só pode ser evitado se se fizer, de início, uma estimativa completa do tempo de transcrição e do equipamento necessário para isso. Deve-se prever a necessidade de fones de ouvido, de modo que o transcritor não se distraia com o ruído ambiente e de um gravador com pedal para retorno da fita: ambas essas coisas são fundamentais para fazer-se a transcri-ção a uma velocidade razoável. O tempo também será reduzido de cerca de 25%, se a transcrição for datilografada em máquina elétrica com memória, num microcomputador, ou num processa-dor de textos, que atualmente custam a mesma coisa. Com um microcomputador, também se poderá manter as transcrições em disquete, de modo que possam ser editadas posteriormente: mas preveja também o custo dos disquetes.


Igualmente importante é reconhecer que a transcrição só podei ser executada por alguém com determinadas qualificações, traba-lhando em caráter permanente. Transcrições feitas como ativi-dade em tempo parcial resultarão incompreensíveis ou proibiti-vas. Um transcritor precisa estar interessado nas fitas, ser inteligente para dar sentido a elas, especialmente capaz na arte essencial de transformar as pausas orais em pontuação escrita, e um bom co-nhecedor de ortografia com ouvido incomumente rápido. Esse é, também, um trabalho solitário. As qualidades que exige não são, necessariamente, as qualidades que fazem uma secretária bem-sucedida. O único modo de saber se alguém é capaz de transcre-ver bem é dar-lhe uma fita e deixar que experimente.
A maior parte dos projetos de história oral não terão recur-sos para pagar um transcritor e precisarão desincumbir-se eles mesmos dessa tarefa. No caso de um grupo muito pequeno, ou

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das gravações do próprio pesquisador, o processo pode, porém, ser consideravelmente abreviado, ainda que à custa de uma satis-fação a longo prazo. A melhor "transcrição resumida" fica entre a ficha de conteúdo completa e a transcrição integral. Na maior parte, o conteúdo é resumido em detalhe, mas verdadeiras cita-ções só são feitas quando as palavras estão ditas com tal precisão ou com tal vivacidade que vale a pena considerá-las para fins de citação na apresentação final. Pode-se acrescentar, à margem, um recurso para facilitar a localização na fita do que é transcrito, quer usando o conta-giros do gravador (muito embora, infeliz-mente, os conta-giros variem até mesmo entre aparelhos da mesma marca), ou ouvindo toda a fita, após a transcrição e ano-tando os intervalos de tempo a cada cinco ou dez segundos (mais preciso, mas de utilização menos rápida).
No final das contas, porém, não existe nada que substitua uma transcrição completa. Até mesmo a melhor versão resumida mais parece as anotações de um historiador inteligente extraídas de um arquivo do que os documentos originais. E, ainda mais, o historiador não pode saber hoje que perguntas serão feitas pelos historiadores futuros, de modo que qualquer seleção que faça re-sultará na perda de detalhes que posteriormente podem se mos-trar significativos. A transcrição integral deve, pois, incluir tudo o que está gravado, com a possível exceção de digressões para ve-rificar se o gravador está funcionando, para tomar uma xícara de chá, ou para bater papo sobre como está o tempo, sobre doenças, e coisas assim. Todas as perguntas devem constar dela. O gague-jar em procura de urna palavra pode ser eliminado, mas outro tipo de hesitações e de "muletas", como "você sabe" ou "veja bem" devem ser incluídos. A gramática e a ordem das palavras devem ser deixadas como foram faladas. Se não se conseguir compreender urna palavra ou uma frase, deve deixar-se um es-paço na transcrição para indicar isso. Todas essas são orienta-ções bastante fáceis de compreender. Mas a verdadeira arte do transcritor está no uso da pontuação e numa ou noutra grafia fonética que transmita a natureza da fala.

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Nesse sentido, a transcrição é uma forma literária e os pro-blemas por ela propostos são inseparáveis dos da citação subse-qüente. A palavra falada pode facilmente ser deformada ao ser passada para o papel e, depois, para uma página impressa. Existe desde logo uma perda inevitável do gesto, ou expressão facial, do tom e do ritmo; e são necessárias, no interesse da legibilidade, algumas alterações deliberadas para eliminar pausas e hesitações perturba doras ou falsos começos. Muito mais grave é a distorção que ocorre quando a palavra falada é enquadrada na disciplina da prosa escrita, mediante a imposição de formas gramaticais padro-nizadas e uma seqüência lógica de pontuação. O ritmo e o tom da fala são completamente diferentes dos da prosa. Importante tam-bém é que a fala viva irá rodeando, se aprofundará em coisas irrelevantes, e voltará ao tema depois de frases inacabadas. A prosa eficiente, ao contrário, é sistemática, relevante e seca. Por isso, o escritor, ao querer acentuar bem alguma coisa, se vê muito ten-tado a deformar uma citação falada, a reordená-la e, a seguir, para fazê-la mais fluente, introduzir alguns conectivos que jamais estiveram no original. Pode-se chegar ao ponto de a natureza da fala original se tomar irreconhecível. Essa é uma situação ex-trema, mas todo escritor, a menos que esteja sempre alerta contra esse perigo, pode por vezes chegar a esse nível de deterioração da transcrição.


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