ColecçÃo dois mundos frederick forsyth o punho de deus cmpv tradução livros do brasil lisboa rua dos Caetanos



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O brigadeiro Hassan Rahmani sentava-se atrás da secretária do seu gabinete no edifício da Mukhabarat, em Mansour, e ponderava os eventos das últimas vinte e quatro horas quase com desespero. , ?...:?, ;, O facto de os principais centros militares e de produção de guerra estarem a ser destruídos sistematicamente por bombas e mísseis não o preocupava. Essas ocorrências, que ele previra com semanas de antecedência, limitavam-se a-tornar mais iminente a invasão americana e o derrube do homem de Tikrit. ...... Era algo que ele aguardava com ansiedade, embora naquele dia, 11 de Fevereiro, ignorasse que tal não aconteceria. Apesar de ser um homem excepcionalmente inteligente, não dispunha de uma bola de cristal para antever o futuro. O que o apoquentava naquela manhã era a sua própria sobrevivência, as probabilidades de sobreviver para assistir à queda de Saddam Hussein. O bombardeamento, na madrugada do dia anterior, da fábrica de engenharia nuclear de Al-Qubai, dissimulada tão astuciosamente que nunca ninguém admitira a sua descoberta; abalaria a elite no poder em Bagdade. Minutos depois da retirada dos dois bombardeiros britânicos, os artilheiros sobreviventes tinham estabelecido contacto com Bagdade para comunicar o ataque. Ao inteirar-se, o Dr. Jaafar Al-Jaafar metera-se no carro e visitara o local para tomar conhecimento da situação do pessoal. O académico estava fulo e, à tarde, queixara-se amargamente a Hussein Kamil, de quem dependia o programa nuclear do Ministério da Indústria e Industrialização Militar. Um programa que, da despesa total em armamento de cinquenta mil milhões de dólares numa década, apenas consumira oito milhões, para no momento do seu triunfo ser destruído! 365 Dar-se-ia o caso de o estado não poder garantir a protecção do seu pessoal? Assim perorava o diminuto cientista perante o genro de Saddam Hussein. O físico iraquiano pouco mais tinha que um metro e meio de altura, com constituição de mosquito, mas em termos de influência exercia um peso considerável, e constava que não ficara por aí nos seus protestos. O embaraçado Hussein Kamil comunicara a triste nova ao sogro, cuja cólera também atingira um grau elevado. Quando tal acontecia, toda Bagdade tremia pela sua vida. Os cientistas que trabalhavam no subsolo não só tinham sobrevivido ao bombardeamento como conseguido fugir, porque a fábrica continha um túnel estreito que se prolongava por cerca de um quilómetro debaixo do deserto e terminava numa galeria circular vertical, com pegas metálicas nas paredes. O pessoal saíra por essa via, mas seria impossível retirar a pesada maquinaria do mesmo modo. O elevador principal e monta-cargas constituía uma amálgama de ferros retorcidos, da superfície até uma profundidade de sete metros, cuja restauração representaria uma complexa obra de engenharia que se prolongaria por várias semanas-semanas essas que Hassan Rahmani suspeitava que o Iraque não possuía. Se as coisas ficassem por aí, ele ter-se-ia sentido simplesmente aliviado, pois mergulhara em profunda apreensão desde a conferência no palácio antes do início da guerra, em que Saddam revelara a existência do "seu" dispositivo. O que agora preocupava Rahmani era a fúria alucinada do chefe de estado-maior. O vice-presidente, Izzat Ibrahim, telefonara-lhe pouco antes do meio-dia da véspera, e o chefe da con-tra-espionagem nunca vira o seu confidente mais íntimo em semelhante condição. Explicara-lhe que o Rais estava fora de si de cólera, e quando isso acontecia costumava haver derramamento de sangue. Só essa consequência poderia serenar o homem de Tikrit. O vice-presidente deixara bem claro que se esperava que ele, Rahmani, obtivesse resultados, e depressa. Como, por exemplo, a descoberta da maneira como o inimigo se inteirara da localização do complexo de Al-Qubai. Rahmani contactara com amigos do exército, os quais haviam falado com os seus artilheiros, e as revelações eram categóricas num ponto. A incursão britânica envolvera dois aviões. Havia outros dois a uma altitude mais elevada, mas supunha-se que se tratava de "caças" para lhes proporcionar cobertura, e não tinham largado qualquer bomba. 366 Depois, Rahmani falara para o departamento de Operações da Força Aérea. Segundo vários oficiais, possuidores de treino ocidental, nenhum alvo de importância militar significativa mereceria apenas uma acção de dois aparelhos. Nem pensar. Rahmani depreendia pois que, se os britânicos não acreditavam que se tratava na verdade de um cemitério de veículos, que pensariam que era? A resposta residiria porventura nos dois aviadores abatidos. Ele gostaria de se ocupar pessoalmente do interrogatório, convencido de que, com determinadas drogas alucinogénicas, os faria falar em poucas horas. O exército confirmaria que capturara o piloto e o navegador três horas após a incursão, no deserto, um dos quais coxeava, em virtude de ter fracturado um tornozelo. Infelizmente, um piquete da AMAM comparecera com notável prontidão e levara os aviadores. Ninguém se opunha nem comentava os actos da polícia secreta. Por conseguinte, encontravam-se agora nas mãos de Ornar Khatib, e que Alá se compadecesse das suas almas. Privado da oportunidade de brilhar, revelando a informação fornecida pelos aviadores, Rahmani reconhecia que teria de contribuir com alguma coisa. Faltava só descobrir com quê. Só mereceria a pena que o fizesse com aquilo que o Rais desejava. E que poderia ele desejar? Uma conspiração, sem dúvida. Nesse caso, tê-la-ia. A chave seria o transmissor. Pegou no telefone e ligou ao major Hohsen Zayeed, chefe da secção seguint da sua unidade, incumbida de interceptar transmissões da rádio. Era altura de voltarem a conversar. -Trinta quilómetros a oeste de Bagdade, situa-se a vila de Abu Ghraib, local assaz incaracterístico e, não obstante, um nome conhecido, ainda que raramente mencionado, em todo o Iraque. É que existe aí a grande prisão, limitada quase exclusivamente ao interrogatório e reclusão de detidos políticos. Nessa conformidade, não é dirigida pelo pessoal dos serviços prisionais, mas pela temível AMAM. Mais ou menos quando Hassan Rahmani telefonava ao seu perito da sigint, um longo Mercedes preto aproximava-se do portão da prisão. Dois guardas que reconheceram o ocupante apressaram-se a abri-lo. Se se atrasassem uma fracção de segundo, ele reagiria com brutalidade glacial. O veículo entrou e o portão foi fechado de novo. O ocupante não reconheceu os esforços dos guardas com a mínima reacção. Eram personagens irrelevantes. O Mercedes imobilizou-se junto dos degraus de acesso ao edifício principal e outro guarda acudiu a abrir a porta do lado do passageiro. 367

O brigadeiro Umar Khatib, de uniforme impecável, apeou-se e subiu os degraus apressadamente, enquanto um membro do pessoal lhe levava a pasta. Para alcançar o seu gabinete, utilizou o elevador até ao quinto e último piso, após o que pediu café turco e começou a consultar os documentos que trouxera, relatórios do dia que revelavam os progressos registados nas extracções da informação necessária aos presos encerrados nas celas da cave. Por detrás da sua fachada impenetrável, estava tão preocupado como o seu colega do outro lado de Bagdade, que odiava com o mesmo veneno com que o sentimento era retribuído. Ao contrário de Rahmâni, que, com a sua educação em parte inglesa, domínio de línguas e modos cosmopolitas, podia ser inerentemente suspeito, Khatib contava com a vantagem fundamental de ser de Tikrit. Desde que executasse a missão que o Rais lhe confiara, e de forma satisfatória, mantendo á torrente de confissões de traição em actividade para lhe tranquilizar a inesgotável paranóia, não corria qualquer perigo. Mas as últimas vinte e quatro horas tinham sido preocupantes. Também recebera um telefonema na véspera, mas do genro, Hussein Kamil. À semelhança de Ibrahim, este último informara-o da cólera cega do Rais por causa do bombardeamento de Àl-Qubai e exigia resultados. E, ao contrário de Rahmani, Khatib tinha os aviadores britânicos nas mãos, o que constituía uma vantagem, por um lado, e um inconveniente, por outro. O Rais desejaria saber, e depressa, como os prisioneiros haviam sido instruídos antes da missão. Como estavam os aliados ao corrente da existência de ANQubai e até que ponto? Era a ele, Khatib, que competia fornecer essa informação, e havia quinze horas que os seus homens "trabalhavam" com os aviadores, desde as sete da tarde anterior, quando tinham chegado a Abu Ghraib. Até agora, os insensatos haviam resistido. Do pátio por baixo da janela do gabinete brotou o som de um silvo, um baque e um gemido. Khatib enrugou a fronte, perplexo, mas fez-se-lhe imediatamente luz no espírito. No meio do pátio, um iraquiano achava-se suspenso pelos pulsos de uma viga, com as pontas dos pés a apenas dez centímetros do chão. A um lado, via-se um jarro cheio de água salgada, a princípio límpida, mas agora avermelhada. Todo o guarda e soldado que cruzasse o pátio tinha de se deter, pegar numa das varas de rotim mergulhadas no jarro e aplicar uma única vergastada nas costas do homem, entre a 368 nuca e a altura dos joelhos. Um cabo debaixo de um toldo nas proximidades velava pelo cumprimento da ordem. O prisioneiro era um vendedor do mercado que fora ouvido chamar filho de uma prostituta ao Presidente e aprendia, demasiado tarefe, que os cidadãos deviam um mínimo de respeito ao Rais. O facto intrigante residia na resistência que revelava, pois já suportara quinhentas vergastadas, recorde impressionante. Morreria antes da milésima, mas tratava-se de uma situação interessante. Outro pormenor não menos curioso era ter sido denunciado pelo seu próprio filho de dez anos. Ornar Khatib sorveu o café, desenroscou a tampa da caneta estilográfica e debruçou-se sobre os documentos. Meia hora mais tarde, soou uma pancada discreta na porta. - Entre -indicou, e ergueu os olhos, na expectativa. Precisava de ouvir boas notícias, e havia somente uma pessoa que podia bater à porta sem ser previamente anunciada pelo ordenança postado na antecâmara. O homem que entrou era corpulento e a própria mãe teria sérias dificuldades em o considerar bemparecido. O rosto apresentava-se implacavelmente marcado pela varíola e havia duas cicatrizes circulares onde lhe haviam extraído quistos. Fechou a porta atrás de si e aguardou que Khatib se lhe dirigisse. Embora fosse um simples sargento -o fato-macaco coberto de nódoas não revelava o posto-?, o brigadeiro dispensava-lhe uma simpatia especial pouco vulgar nele. Este último gesticulou na direcção de uma cadeira e ofereceu-lhe um cigarro. O sargento acendeu-o e expeliu o fumo com satisfação^ O seu trabalho era pesado e fatigante e a oportunidade de fumar sempre bem-vinda. O motivo pelo qual Khatib tolerava semelhantes liberdades a um homem de graduação tão baixa devia-se a experimentar uma sincera admiração por Ali. Com efeito, o sargento nunca o desapontara, com a sua infatigável e constante eficiência. Calmo, metódico e marido e pai irrepreensível, era um verdadeiro profissional. Então? O navegador está quase. Quanto ao piloto...-O interpelado encolheu os ombros. -Dou-lhe mais uma hora. Recordo-te que têm de falar ambos, sem ocultar nada. E as suas versões devem condizer. O Rais confia em nós. Talvez fosse conveniente ir até lá, senhor. Dentro de dez minutos saberá o que pretende. Primeiro o navegador e, quando se inteirar, o piloto segue-lhe o exemplo. Muito bem. Khatib levantou-se e Ali abriu-lhe a porta. Desceram, juntos

369 à cave no elevador. Aí, havia uma estreita passagem de acesso à escada da subcave. Ao longo desse corredor, viam-se portas de aço e, do outro lado destas, agachados entre os seus próprios excrementos, sete aviadores americanos, quatro ingleses, um italiano e um koweitiano. No nível seguinte, havia mais celas, duas das quais ocupadas, e Khatib espreitou pelo postigo da primeira. Iluminava-a uma única lâmpada suspensa do tecto. No centro, sentava-se numa cadeira de plástico um homem completamente nu, ao longo de cujo peito se viam fragmentos de vómito, sangue e saliva. Tinha os punhos algemados atrás dele e cobria-lhe o rosto uma máscara sem orifícios para os olhos. Dois homens dá AMAM, de fato-macaco igual ao do sargento Ali, postavam-se na sua frente e acariciavam tubos de plástico de um metro de comprimento cheios de betume, que aumentava o peso sem reduzir a flexibilidade. Era óbvio que faziam uma pequena pausa no espancamento. Khatib inclinou a cabeça num gesto de aprovação e passou a cela contígua. Pelo postigo, viu que o segundo prisioneiro não usava máscara. Um dos olhos estava completamente fechado e inchado. Quando abriu a boca, expôs os hiatos onde se tinham situado dois dentes. - Tyne... -balbuciou num murmúrio. -Nicholas Tyne. tenente da aviação. Cinco zero um zero nove seis oito. .



-É o navegador -sussurrou o sargento. Qual dos nossos homens fala inglês? -perguntou Khatib, no mesmo tom. ,? O da esquerda. . Vai chamá-lo. -. Ali entrou na cela e reapareceu com um dos interrogadores, ao qual Khatib se dirigiu em arábico. O homem assentiu com um movimento de cabeça, voltou a entrar na cela e colocou uma máscara no rosto do navegador. Só então o brigadeiro permitiu que a porta da cela fosse aberta. O homem que falava inglês debruçou-se sobre a cabeça de Nicky Tyne e disse, através da máscara: - Pronto, tenente. Para si, acabou-se. Não há mais torturas.-Fez uma pausa, enquanto o corpo do prisioneiro parecia descontrair-se. -Mas o seu amigo não terá tanta sorte. Aliás, já está moribundo. Podem, pois, levá-lo para o hospital, com lençóis lavados, médicos e tudo o que necessitar, ou acabar com ele já. Depende de você. Quando nos revelar o que pretendemos, removemo-lo daqui. Khatib indicou o corredor com um movimento de cabeça e o sargento Ali entrou por sua vez na outra cela, de onde bro- 370 taram os sons produzidos pelas varas de plástico em contacto com o peito do prisioneiro. De súbito, este começou a gritar. - Parem com isso, filhos da mãe!-exclamou Nicky Tyne. -Era um depósito de munições, para projécteis de gás venenoso. O espancamento interrompeu-se e Ali emergiu, ofegante, da cela .do piloto. - É um génio, saiydi brigadeiro. Khatib encolheu os ombros modestamente. ; - Nunca se deve subestimar o sentimentalismo dos ingleses e americanos-lembrou. -Vai buscar os tradutores para recolher todos os pormenores. Quando tiverem as transcrições, leva-as ao meu gabinete. De regresso às suas instalações, telefonou á Hussein Kamil. Uma hora mais tarde, este último tornava a contactar com ele. O sogro estava encantado com as notícias recebidas e convocaria uma reunião, talvez para essa noite. Ornar Khatib devia estar preparado para comparecer. Naquele serão, Karim abordara o tema das condições de trabalho de Edith. - Nunca te aborreces, no banco? -Não, porque é uma actividade interessante. Por que perguntas? Bem, não sei. Não compreendo como podes achar isso interessante. Para mim, seria a maior fonte de tédio do mundo. Pois para mim não. Que lhe encontras de interessante? Examinar os extractos de conta, anotar investimentos è coisas do género. É um trabalho importante, podes crer. Não concordo. Acho-o de uma monotonia atroz. Karim jazia de costas na cama dela, que se aproximou e deitou-se a seu lado, para lhe rodear os ombros com o braço. Às vezes, dizes cada tolice... Mas amo-te loucamente. O Winkler Bank é um estabelecimento comercial. Em que consiste a diferença dos outros? -Não temos clientes a entrar e sair constantemente com livros de cheques. -: Por conseguinte, não têm dinheiro sem clientes. É claro que temos, mas nas contas depositadas. Nunca tive disso. Apenas uma pequena conta corrente. De resto, prefiro o metal sonante. Não o podes manipular, quando se fala de milhões. Roubavam-to. Portanto, uma pessoa deposita-o no banco e investe-o. Estás-me a dizer que o velho Gemutlich manuseia milhões? Dinheiro dos outros? 371

Sim, milhões e milhões. Xelins ou dólares? Dólares, libras, aos milhões. Não era eu que lhe confiava o meu dinheiro. Edith endireitou-se, visivelmente chocada. -Herr Gemutlich é de uma honestidade a toda a prova. Nem lhe passaria pela cabeça fazer o que insinuas. - É possível, mas há quem não hesitasse. Agora me lembro de que conheço um homem que tem conta no Winkler. Chamasse Schmitt. Um dia, entro no gabinete do Gemutlich e digo: "Boa tarde, Herr Gemutlich. Chamo-me Schmitt e tenho conta neste banco." Ele consulta os livros e responde: "Tem, sim senhor." Então, anuncio: "Gostava de o levar todo." Mais tarde, quando aparece o verdadeiro Schmitt, a conta encontra-se esgotada. É por isso que prefiro o dinheiro corrente. Ela soltou uma gargalhada ante semelhante ingenuidade e mordeu-lhe levemente a orelha. --Não conseguirias nada. Herr Gemutlich decerto conheceria o teu Schmitt pessoalmente. De resto, terias de te identificar. Os passaportes podem falsificar-se. Os palestinianos fazem-no a torto e a direito. E assinar um documento. Ora, haveria no banco uma assinatura do verdadeiro titular da conta. Eu aprendia previamente a falsificá-la. Qualquer dia, enveredas pelo crime, Karim. Tens mesmo fundo de vigarista.-Riram com entusiasmo por um momento. -Aliás, se fosses estrangeiro, terias provavelmente uma conta numerada. E essas são totalmente inexpugnáveis. Que é isso? -perguntou ele, enrugando a fronte. Uma conta numerada? Sim.-Depois de se inteirar como funcionavam, explodiu: -Mas isso é uma loucura! Qualquer pessoa pode alegar que lhe pertence. Se o Gemutlich não conhecer o titular pessoalmente... Há métodos de identificação, pateta. Códigos muito complexos, métodos de escrever cartas, determinadas maneiras de fazer a assinatura... Em suma, toda uma variedade de formalidades para verificar que a pessoa é realmente o titular da conta. A menos que sejam satisfeitas à risca, Herr Gemutlich não colabora. Por conseguinte, a personificação é impossível. Deve ter uma memória incrível. Estás a ser completamente obtuso. Encontra-se tudo escrito. Bem, levas-me a jantar ou não? Merece^lo? Sabes bem que sim. 372 - Bom. Mas quero hors-dceuvre. , Ela mostrou-se intrigada.

-Pois sim. Pede-o, quando chegarmos ao restaurante. - É a ti que me refiro.

Karim estendeu o braço, enfiou os dedos no elástico das cuecas dela e puxou-a para si. Em seguida, colocou-se-lhe em cima e começou a beijá-la. De repente, imobilizou-se, o que a alarmou. - Descobri como faria! Recorria a um arrombador, para abrir o cofre do velho Gemutlich e consultar os códigos. Então,podia levar a minha avante. Edith soltou uma risada de alívio ao ver que ele não mudara de ideias acerca de fazer amor. Não conseguirias nada... Huuum... Faz lá isso outra vez. Conseguia, sim. Não! Sim. Arrombam-se cofres todos os dias. Basta ler os jornais, para chegar a essa conclusão. Fez deslizar a mão ao longo do corpo dele e imobilizou-a na virilha. - Ena! Isso é tudo para mim? És forte, viril e estupendo, Karim. No entanto, o velho Gemutlich, como lhe chamas, é mais esperto do que tu. No momento imediato, deixava de se preocupar com o grau de esperteza do banqueiro. Enquanto o agente da Mossad fazia amor em Viena, Mike Martin montava o transmissor à medida que a meia-noite se aproximava e o 11 de Fevereiro cedia o lugar ao 12. O Iraque estava então apenas a oito dias da planeada invasão de 20 de Fevereiro. A sul da fronteira, a fatia do deserto pertencente à Arábia Saudita albergava a maior concentração de homens, armas, peças de artilharia e tanques num espaço tão reduzido desde a Segunda Guerra Mundial. A actividade aérea prosseguia sem interrupção, embora a maior parte dos alvos da lista originária do general Horner já tivesse sido visitada, por vezes em duas e mais ocasiões. Apesar da inserção de novos alvos resultante da breve barragem de mísseis Scud contra Israel, o plano inicial regressara à normalidade. Todas as fábricas conhecidas de produção de armas de destruição maciça haviam sido pulverizadas, no que se achavam incluídas mais doze graças à informação proveniente de Jericó. Como arma funcional, a força aérea iraquiana deixara de existir. Era muito raro os seus "caças" de intercepção que se opunham aos Eagle, Hornet, Tomcat, Falcon, Phanton e Jaguar 373



dos aliados regressarem às suas bases, e em meados de Fevereiro nem se davam ao trabalho de tentar. Parte da nata dessas forças seguira para o Irão, onde fora imediatamente imobilizada. Ao nível mais elevado, os comandantes dos Aliados não compreendiam a razão pela qual Saddam tinha decidido enviar os melhores aviões de combate para o território do seu velho inimigo. Na realidade, a partir de determinada data, esperava firmemente que todas as nações da região se vissem perante a inevitabilidade de se curvar aos seus desejos e nessa altura recuperaria a sua frota aérea. Entretanto, já não havia praticamente uma única ponte intacta em todo o país ou uma geradora eléctrica a funcionar. Em meados de Fevereiro, registou-se um acréscimo do esforço aéreo dos Aliados contra o exército iraquiano no sul do Koweit e na fronteira deste com o Iraque. Da fronteira este-oeste ao norte da Arábia Saudita até à estrada Bagdade-Basra, os Buff não paravam de bombardear a artilharia, tanques, baterias de mísseis e posições de infantaria. Todavia, os generais aliados em Riade ignoravam que quarenta importantes centros dedicados à produção de armas de destruição maciça ainda existiam ocultos sob o deserto e montanhas ou que as bases de Sixco permaneciam intactas. Desde a destruição da fábrica de Al-Qubai, imperava maior satisfação entre os quatro generais que estavam ao corrente do que realmente contivera, assim como entre os homens da CIA e do SIS postados em Riade. E esse estado de espírito achava-se espelhado na breve mensagem que Mike Martin recebeu naquela noite. Os seus controladores em Riade começavam por informá-lo do êxito da missão dos Tornado, apesar da perda de um dos aparelhos. A transmissão prosseguia para o felicitar por continuar em Bagdade depois de ter sido autorizado a partir e pelos excelentes resultados da sua acção. Finalmente, comunicavam-lhe que pouco mais havia para fazer. Devia enviar uma mensagem final a Jericó, para exprimir a gratidão dos Aliados e explicar que o contacto seria retomado após a guerra. Depois, Martin teria mesmo de regressar à Arábia Saudita, antes que lhe fosse impossível. Este último desmontou o transmissor, guardou-o no esconderijo habitual e deitou-se, para se entregar a cogitações antes de adormecer. Afigurava-se-lhe curioso o facto de as forças aliadas não tencionarem entrar em Bagdade. Não era porventura Saddam Hussein o alvo principal de tudo? Algo se alterara no panorama inicial. 374 Se se inteirasse da reunião que se desenrolava no quartel--general da Mukhabarat naquele momento, a menos de um quilómetro do local em que se encontrava, o sono de Mike Martin não seria tão calmo. Em questões de perícia técnica, há quatro níveis: competente, muito bom, brilhante e "natural". Esta última categoria vai muito além da mera perícia, para entrar numa área em que todo o conhecimento técnico é reforçado por um "tacto", um instinto visceral, um sexto sentido, uma empatia com o sujeito e maquinaria que não figuram nos manuais. Em assuntos relacionados com a rádio, o major Mohsen Zayeed era um natural. Jovem, de óculos de lentes grossas que lhe conferiam o aspecto de um intelectual, vivia, comia e respirava a tecnologia da rádio. Pouco depois da meia-noite, ele e Rahmani encontravam-se reunidos no gabinete deste último. Algum progresso? -inquiriu o brigadeiro. Creio que sim. Não existe a menor dúvida da sua existência. O pior é que recorre a transmissões de erupção quase impossíveis de localizar, devido à sua rapidez. Quase, mas não totalmente. Com habilidade e paciência, pode acabar-se por detectar uma, ainda que só dure escassos segundos. Espera consegui-lo em breve? Bem, reduzi a gama das frequências de transmissão a uma faixa muito estreita na banda da ultra^alta frequência, o que facilita as coisas. Há dias, a sorte bateu-me à porta. Concentrávamo-nos numa faixa estreita, por mero descargo de consciência, quando ele surgiu no ar. Escute. Zayeed ligou o pequeno gravador de que se fizera acompanhar e brotou uma mescla de sons incompreensíveis do minúsculo altifalante. -É só isto? -perguntou Rahmani, perplexo. : -Em código, claro. ; -Claro. Pode decifrá-lo? - Duvido muito. A codificação foi efectuada num único chip de silicone, num microcircuito complexo. -Então, não se pode mesmo descodificar? O brigadeiro sentia a perplexidade aumentar. Zayeed vivia num mundo muito seu e exprimia-se numa linguagem ao alcance de pouca gente. Na realidade, de momento desenvolvia um esforço notável para tentar empregar uma terminologia acessível ao interlocutor. - Não se trata bem de um código. Para converter esta algaravia na versão de origem, haveria necessidade de empregar um chip de silicone idêntico. As permutações possíveis rondam as centenas de milhões. , ,. . .-, 375 Então, qual é a utilidade da descoberta? Obtive um ponto de referência. Um ponto de referência?-Rahmani inclinou-se para a frente, subitamente excitado. Exacto. E quer saber uma coisa? A mensagem foi enviada a meio da noite, trinta horas antes do bombardeamento de Al- -Qubai. Quase juraria que os pormenores da fábrica nuclear figuravam nela. Mas há mais. Continue. Situa-se aqui. Em Bagdade? O major Zayeed sorriu e abanou a cabeça. Reservara o melhor para o fim. Queria que o seu esforço fosse devidamente apreciado. - Não, senhor. Aqui, na área de Mansour. Julgo que se encontra dentro de um quarteirão de dois quilómetros por dois. Rahmani reflectiu quase freneticamente. A coisa estava a concentrar-se num círculo reduzido -muitíssimo reduzido, mesmo. O telefone tocou e ele atendeu e escutou em silêncio por uns segundos. Por fim, pousou o auscultador e levantou-se. Tenho de sair. Só mais um pormenor. Quantas intercepções precisa de efectuar para localizar o transmissor? Com a aproximação de um quarteirão ou, preferivelmente, de uma casa? Se a sorte não nos voltar as costas, uma. Talvez não o apanhe à primeira tentativa, mas creio que acabarei por consegui-lo. Oxalá envie uma mensagem longa. Nessa eventualidade, poderei fornecer-lhe um quadrado de cem metros de lado. O brigadeiro respirava pesadamente, enquanto se dirigia para o carro. Eles acudiram à reunião com o Rais em dois autocarros de janelas obscurecidas. Os sete ministros deslocavam-se num e os seis generais e três chefes dos serviços secretos no outro. Nenhum via para onde ia e, do outro lado da divisória, o motorista limitava-se a seguir a motocicleta. Só quando o veículo se imobilizou num pátio murado os nove homens que viajavam no segundo foram autorizados a apear-se, após um percurso indirecto de quarenta minutos. Rahmani calculou que se encontravam no campo, a uns cinquenta quilómetros da capital. Não havia sons de tráfego e o clarão das estrelas revelava os vagos contornos de uma espaçosa vivenda, com janelas de estores pretos. Os sete ministros já se encontravam à espera na sala de estar principal. Os generais ocuparam os lugares que lhes eram destinados e aguardaram em silêncio. Os guardas condu- 376 zíram o Dr. Ubaidi, dos serviços secretos no estrangeiro, Rahmani da contra-espionagem e Ornar Khatib, da polícia secreta, a três cadeiras defronte da poltrona reservada ao Rais. Este último entrou poucos minutos depois. Todos se levantaram e ele fez-lhes sinal para que se sentassem. No caso de alguns, havia mais de três semanas que não viam o presidente e achavam-no tenso, com olheiras e bochechas mais pronunciadas. Sem qualquer preâmbulo, Saddam Hussein abordou o motivo da reunião. Houvera um bombardeamento, como de resto todos sabiam, mesmo aqueles que desconheciam a existência da fábrica de Al-Qubai antes do ataque. O focal era tão secreto que somente uma dúzia de homens no fraque sabia exactamente onde se situava. Não obstante, fora bombardeado. Apenas as figuras mais importantes e alguns dos técnicos mais dedicados do país o tinham visitado, e sempre de olhos vendados e num veículo hermético. Apesar de todas as precauções, registara-se o bombardeamento. Seguiu-se um profundo silêncio -o silêncio do medo. Os generais -Radi, da Infantaria, Kadiri, dos Blindados, Ridha, da Artilharia, e Musuli, da Engenharia-e os outros dois-da Guarda Republicana e do Estado-Maior-olhavam fixamente a carpeta na sua frente. - O nosso camarada Ornar Khatib interrogou os dois aviadores ingleses capturados -acrescentou o Rais, numa inflexão ominosa. -Ele vai explicar o que aconteceu. Todos os olhares se concentraram no quase esquelético visado, o qual começou a falar, sem desviar os olhos de um ponto indeterminado do corpo do Chefe do Estado, diante dele. Anunciou que os prisioneiros tinham dado com a língua nos dentes, sem omitir coisa alguma. O comandante de esquadrilha revelara-lhes que a aviação Aliada vira camiões militares entrar e sair de determinado cemitério de veículos. Com base nessa informação, os Filhos de Cães haviam suspeitado da existência camuflada de um depósito de munições, em particular de projécteis de gás venenoso. Não o consideraram de alta prioridade, nem possuidor de defesas antiaéreas sofisticadas, pelo que foram mobilizados unicamente dois aviões para a missão, com dois outros aparelhos a voar a uma altitude mais elevada para "marcar" o local. O piloto e o seu navegador nada sabiam além disto. O Rais inclinou a cabeça para o general Farouk Ridha. Verdadeiro ou falso, Raffek? É normal, sayidi Rais -declarou o homem que comandava a artilharia e os locais de mísseis SAM. -Eles enviam primeiro os neutralizadores de mísseis para destruir as defesas 377 e depois os bombardeiros para atingir os alvos. No caso de um alvo de alta prioridade, somente dois aviões sem apoio nunca aconteceu. Saddam ponderou a resposta, com os olhos negros a não denunciar um único fragmento das suas cogitações. Semelhante atitude fazia parte do poder que exercia sobre aqueles homens e impossibilitava-os de prever como deviam reagir. Não subsiste qualquer possibilidade de os prisioneiros terem ocultado alguma coisa e saberem mais do que confessaram? De modo algum -replicou o interpelado, com firmeza. - Foram... persuadidos a colaborar inteiramente. - Então, fica o assunto encerrado? -volveu Saddam, em tom quase sibilino. -O bombardeamento não passou de uma deplorável casualidade? Várias cabeças se inclinaram em torno da sala. O grito - mais propriamente um uivo -que soou em seguida, quase os paralisou. - ERRADOS! Estão todos errados! No instante imediato, a voz readquiriu a inflexão sibilina, mas o medo não se dissipou. Todos sabiam que a suavidade do tom podia preceder a mais terrível das revelações, o mais selvagem dos castigos. - Não tem havido movimento de camiões militares na área. Foram um mero pretexto fornecido aos pilotos para a eventualidade de serem aprisionados. Existe algo mais na forja, hem? A maioria dos presentes transpirava, apesar do ar. condicionado. Tinha sido sempre assim, desde a alvorada da História, quando o tirano da tribo chamava o feiticeiro e os súbditos aguardavam, trémulos, com receio de que a vara mágica apontasse para um deles. : - Há uma conspiração -sussurrou o Rais.-Um traidor. Alguém conspira contra mim.-Conservou-se silencioso por uns minutos, enquanto os outros se esforçavam por dominar a apreensão crescente. Quando tornou a falar, dirigiu-se aos três homens na sua frente.-. Descubram-no. Descubram-no e tragam-no à minha presença. Quero que se inteire por meu intermédio do tipo de castigo existente para estes casos. Ele e a família. E abandonou a sala, seguido de perto pelos guarda-costas. Os dezasseis homens que permaneceram sentados não ousavam sequer entreolhar-se. Haveria um sacrifício, mas ninguém sabia de quem. Quinze deles mantinham uma distância prudente do décimo 378 sexto, a quem chamavam Al Muazib, o Atormentador, que proporcionaria o sacrifício. Hassan Rahmani também guardava silêncio. O momento não era oportuno para abordar intercepções da rádio. As suas operações eram delicadas, subtis, baseadas na detecção e inteligência. A última coisa de que precisava eram as botas pesadas da AMAM a destruírem-lhe as investigações. Imersos em terror, os ministros e generais retiraram-se finalmente através da noite, com destino ao cumprimento das suas obrigações. - Ele não os guarda no cofre -informou Avi Herzog, aliás Karim, que tomava o pequeno-almoço com o seu controlador, Gidi Barzilai, na manhã seguinte. O local do encontro era seguro: o apartamento deste último. Herzog só efectuara o telefonema, de uma cabina, depois de Edith Hardenberg ter ido para o banco. Pouco depois, chegara a equipa yarid, que metera o colega numa caixa" e o escoltara ao local de reunião, para haver a certeza de que ninguém o seguiria. Gidi Barzilai inclinou-se para a frente, os olhos dominados por um clarão de aprovação. Bom trabalho, rapaz. Fico a saber onde ele não guarda os códigos. Só falta averiguar onde os guarda realmente. Na secretária. Na secretária? Enlouqueceu, de certeza. Qualquer pessoa pode forçar uma gaveta. : , . Já a viu? ,.:.-. A secretária de Gemutlich? Não. . . Aparentemente, é muito grande, ornamentada e velha. Uma verdadeira antiguidade. E tem um compartimento especial, criado pelo fabricante. Tão secreto e difícil de encontrar, que Gemutlich o considera mais seguro que qualquer cofre. Julga que um ladrão procuraria o cofre e nunca se lembraria da secretária. E, mesmo que a revistasse, não descobriria o compartimento. E ela não sabe onde está? Não. Nunca assistiu à sua abertura. Quando tem de o utilizar, ele fecha-se sempre à chave.

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