Esses estranhos Homens deveriam ficar muito satisfeitos por serem julgados mais maldosos dó que realmente são



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“Kiamo Ko o chamou e ele não pôde resistir às suas atrações...”

“Ele disse que éramos isolados, e uma fortaleza”, disse Sarima, “e eu não podia discordar! E que diferença ia fazer para mim pegar outro livro? Nós simplesmente o trouxemos para cá, e o pusemos junto com o resto. Eu nem sei se falei a mais alguém sobre isso. Então, ele me abençoou e partiu. Ele se foi com um cajado de carvalho espinhento pela Trilha do Galho Preso.”

“Você pode realmente dizer que pensou que o homem que trouxe isto para cá era um feiticeiro?”, disse Elfinha. “E que este livro provém de... outro mundo? Você acredita mesmo em outros mundos?”

“Já acho um grande esforço acreditar neste em que vivo”, disse Sarima, “embora ele pareça estar aqui; então, por que deveria me fiar na minha dúvida sobre outros mundos? Você não acredita?”

“Bem que tentei, quando era criança”, disse Elfinha. “Fiz um esforço. O velho, estúpido, indistinto semblante do mundo da salvação ― o Outro Mundo ― eu não podia captá-lo, não conseguia focalizá-lo. Agora, penso apenas que são nossas próprias vidas que estão ocultas de nós. O mistério ― quem é aquela pessoa no espelho ― isso é chocante e insondável o bastante para mim.”

“Bem, ele era um feiticeiro, ou louco, fosse o que fosse, bem simpático.”

“Talvez fosse algum agente leal do Regente Ozma”, disse Elfinha. “Es­condendo aqui algum antigo tratado lurlinista. Antecipando um renascimen­to da monarquia, um golpe palaciano, preocupado com Ozma Tippetarius, que dizem ter sido seqüestrada e ter sucumbido a um feitiço do sono, ele teria vindo disfarçado para esconder seu documento num lugar bem distante, mas ainda recuperável...”

“Você está cheia de teorias de conspiração”, disse Sarima. “Notei isso com você. Este era um senhor idoso, muito idoso. E ele falava com um so­taque. Ele era certamente um mágico andarilho que vinha de outra parte. E ele não estava certo? A coisa tem ficado aqui, esquecida, por quanto tempo, afinal? Dez anos ou mais.”

“Posso pegar para olhar?”

“Eu não me importo. Ele nunca me disse para não lê-lo”, disse Sarima. “Naquele tempo eu talvez nem pudesse ler nada ― me esqueço. Mas olhe aquele belo anjo ali! Você fala seriamente quando diz que não acredita numa Outra Terra? Numa vida após a morte?”

“Bem o que precisamos.” Elphaba riu com desdém enquanto pegava o tomo. “Um Vale de Lágrimas pós-Vale de Lágrimas.”

6
Numa manhã, depois que Seis tinha tentado e desistido várias vezes de passar algumas lições para as crianças, Irji sugeriu um jogo de esconde­esconde entre paredes. Eles tiraram palhas e Nor perdeu, e aí ela escondeu seus olhos e contou. Quando ficou cansada de esperar, gritou: “Cem!”, e foi procurar.

Ela pegou Liir primeiro. Embora ele gostasse de desaparecer sozinho por longos intervalos, era ruim em se esconder quando isso era obrigatório. Assim, eles se juntaram para procurar os outros, e encontraram Irji no Solar de Sarima, agachado atrás dos folhos de veludo pendurados no poleiro de um grifo empalhado.

Mas Manek, o melhor na arte de se esconder, não pôde ser encontrado. Nem na cozinha, nem na sala de música, nem nas torres. Cheias de especu­lações, as crianças até ousaram descer ao bolorento porão.

“Há túneis daqui até o inferno”, disse Irji.

“Onde? Por quê?”, disse Nor, e Liir repetiu.

“São escondidos. Eu não sei onde. Mas todo mundo diz isso. Pergunte a Seis. Eu acho que é porque aqui já foi o quartel-general dos sistemas hi­dráulicos ― foi sim. O inferno queima tão ardido que eles precisam de água, e os demônios fizeram os túneis até aqui.”

Nor disse: “Olhe, Liir, aqui é o poço dos peixes”.

No centro de um aposento de abóbadas baixas, insalubre devido à umi­dade que gotejava em suas paredes de pedra, via-se um poço baixo com um tampo de madeira. Para ajudar, havia ali uma corrente e uma pedra para deslocar o tampo. Era brincadeira de criança destampar o poço.

“Lá embaixo”, disse Irji, “é onde pescamos os peixes que comemos. Nin­guém sabe se lá existe um lago inteiro ou se é um poço sem fundo, ou se por ele você pode ir diretamente pro inferno.” Ele moveu a vela acima, e apareceu um círculo de água negra fazendo um reflexo brilhante, em estilhaços e cír­culos de gelada luz branca.

“Seis diz que há uma carpa dourada aí”, disse Nor. “Ela a viu uma vez. É a coisa mais antiga que existe, ela pensou que fosse uma chaleira de metal flutuante que estivesse balançando na superfície, e então a carpa se virou e olhou para ela.”

“Talvez fosse uma chaleira de metal”, disse Liir.

“Chaleiras não têm olhos”, disse Nor.

“Seja como for, Manek aí não está”, disse Irji. “Está?” Ele chamou: “Alô, Manek”, e o eco rolou e se dissolveu na escuridão úmida.

“Talvez Manek tenha ido pro inferno por um desses túneis”, disse Liir.

Irji recolocou o tampo do poço do peixe. “Mas agora é com você, Nor, eu não vou olhar mais para baixo.”

Eles ficaram arrepiados, e correram de volta para cima. Quatro ralhou com eles por terem feito barulho demais.

Nor encontrou Manek por fim nas escadas do lado de fora da porta que dava para o quarto da Titia Hóspede. “Shh”, ele disse quando eles se aproxi­maram, e Nor deu uma batidinha nele para dizer: “Te pegamos”.

“Shh”, ele disse outra vez, com mais urgência. Eles se revezaram em turnos para olhar por uma rachadura na desgas­tada madeira da porta.

A Titia punha o dedo num livro, e murmurava coisas para si mesma, fazendo-as soar ora de um modo ora de outro. Na cômoda próxima a ela, Chistérico se acocorava num inquieto, mas obediente silêncio.

“O que está acontecendo?”, disse Nor.

“Ela está tentando lhe ensinar a falar”, disse Manek.

“Deixe-me olhar”, disse Liir.

“Diga espírito”, disse a Titia em uma voz gentil. “Diga espírito. Espírito. Espírito.”

Chistérico torceu sua boca para um lado, como se pensasse no que deveria fazer.

“Não há diferença”, disse a Titia para si mesma, ou talvez para Chis­térico. “Os elementos são os mesmos, os meandros são os mesmos; a pedra recorda; a água tem memória; o ar tem um passado pelo qual pode ser res­ponsabilizado; a chama renasce de si mesma como uma fênix. O que é um animal senão algo feito de pedra e água e fogo e éter! Lembre-se de como se fala, Chistérico. Você é animal, mas o Animal é seu primo, maldito. Diga espírito.”

Chistérico catou um piolho de seu peito e comeu-o.

“Espírito”, gritou a Titia, “há espírito, eu sei. Espírito!”

“Espito”, ou algo parecido, disse Chistérico.

Irji empurrou Manek para um lado e as crianças quase caíram no chão ao ver a Titia rindo e dançando e cantando. Ela agarrou Chistérico e o beijou, e disse: “Espírito, oh espírito, Chistérico! Há espírito! Diga espírito!”

“Espito, espito, espito”, disse Chistérico, sem se impressionar consigo mesmo. “Espita.”

Mas Matalegria despertou de uma soneca ao som da voz diferente.

“Espírito”, disse Titia.

“Espeto”, disse Chistérico pacientemente. “Espato. Espora. Esputo es­puto esputo. Espato, espeto, espito, espera, espada, espeta.”

“Espírito”, disse a Titia, “oh, meu Chistérico, nós ainda descobriremos um elo com o velho trabalho do Doutor Dillamond! Há um padrão comum a todos nós, pudéssemos nos aprofundar o bastante para vê-lo! Tudo não foi em vão! Espírito, meu amigo, espírito!”

“Esporte”, disse Chistérico.

As crianças não conseguiam parar de rir. Elas desceram as escadas rui­dosamente e foram parar no dormitório, e davam risadinhas abafadas debaixo dos cobertores.

Elas não mencionaram o que viram para Sarima ou para as irmãs. Fi­caram com medo que a Titia devido a isso interrompesse os ensinamentos, e todas queriam que Chistérico aprendesse a linguagem o suficiente para que pudesse brincar junto com elas.

Num dia sem vento, quando parecia que todos tinham de se evadir de Kiamo Ko ou morreriam de tédio, Sarima teve a idéia de que fossem esquiar num lago próximo. As irmãs concordaram, e desenterraram os enferrujados esquis que Fiyero lhes trouxera da Cidade Esmeralda. As irmãs cozinharam caramelos e prepararam cantis de chocolate, e até enfeitaram-se com fitas verdes e douradas, como se a ocasião fosse uma espécie de segundo Lurline­mas. Sarima se adornou com um roupão de veludo marrom guarnecido de bordas de pele, as crianças puseram calças e túnicas extras, e até Elphaba se juntou a todos, num manto espesso de brocados roxos e usando as pesadas botas de pele de bode dos arjikis, além de luvas, carregando a sua vassoura. Chistérico pegou carona num cesto de damascos secos. As irmãs, vestidas com os sisudos sobretudos dos homens da tribo, cintadas e abotoadas, for­mavam a retaguarda.

Os aldeões tinham tirado a neve do centro do lago. Era uma autêntica pista de salão de baile revestida de prata, ornamentada por mil arabescos, circundada por travesseiros e rolos para proporcionar um descanso seguro aos esquiadores que se esquecessem de como frear ou virar. A pleno sol, as montanhas pareciam se destacar como lâminas no fundo azul; grandes egretes e grifos de gelo se salientavam lá no alto. O rinque de patinação já estava barulhento devido aos gritos dos endiabrados e trôpegos adolescentes (aproveitando toda oportunidade para darem saltos acrobáticos e amontoa­rem-se uns sobre os outros confortavelmente em sugestivas posições). Seus pais se moviam mais lentamente, deslizando pelo gelo com mais cuidado. A multidão fez silêncio quando a proprietária de Kiamo Ko se aproximou, mas, como as crianças são crianças, o silêncio não durou muito.

Sarima se aventurou no gelo, suas irmãs formando um laço em torno dela com os braços dados. Volumosa como era, Sarima ficava nervosa temen­do cair, não se fiando em seus tornozelos, que não eram fortes. Mas dentro em pouco ela se lembrou como as coisas eram ― este pé, depois o outro, longas passadas langorosas ― e a desconfortável aproximação de classes sociais foi bem-sucedida. Elphaba se parecia com um de seus corvos: joelhos para a frente, cotovelos malhando, trapos se agitando, mãos enluvadas se juntando à procura de equilíbrio.

Depois que os adultos tiveram excitação em dose considerada suficiente (mas as crianças ainda estavam se aquecendo para a folia), Sarima e as irmãs e Elfinha desabaram dentro de peles de urso que a organização tinha provi­denciado para elas.

“No verão”, disse Sarima, “fazemos uma enorme fogueira e matamos al­guns porcos, antes que os homens desçam para as planícies, ou que os rapazes subam às montanhas para pastorear ovelhas e bodes. Todos vêm ao castelo para lambiscar o porco e tomar umas canecas de cerveja. E, claro, toda vez que aparece um leão da montanha ou algum urso particularmente perigoso, nós os usamos como guardas até que a besta seja morta ou desapareça.” Ela sorriu educadamente, de um modo discreto, a meia distância, embora os aldeões estivessem alheios ao pessoal do castelo no momento. “Titia querida, você está uma figura com esse roupão, e carregando essa vassoura.”

“Liir diz que é uma vassoura mágica”, disse Nor, que correra para jogar um punhado de flocos de neve granulada no rosto da mãe. Elphaba virou sua cabeça rapidamente e ergueu a sua gola para evitar o ricochete do espirro da neve. Nor sorriu com desfeita numa frase musical que evocava a de uma flauta de madeira, e fugiu em corrida desabalada.

“Então, conta pra nós como é que sua vassoura se tornou mágica”, disse Sarima.

“Eu nunca disse que ela é mágica. Eu a ganhei de uma monja idosa chamada Mãe Yackle. Ela me protegia, quando ainda estava lúcida, e dava-me ― bem, orientação, como eu suponho que vocês chamem a coisa.”

“Orientação”, disse Sarima.

“A velha monja disse que a vassoura seria o meu elo com meu destino”, disse Elfinha. “Entendi que ela queria dizer que meu destino era doméstico. Não mágico.”

“Entrar para a irmandade feminina”, Sarima bocejou.

“Eu nunca soube se Mãe Yackle era completamente louca ou era uma velha galinha sábia e profética”, disse Elfinha, mas as outras não estavam ouvindo, portanto, ela caiu em silêncio.

Daí a pouco Nor veio se arremessar ao colo da mãe novamente. “Conte-­me uma história, Mamãe”, ela disse. “Aqueles meninos são nojentos.”

“Meninos são criaturas vergonhosas”, concordou a sua mãe. “De vez em quando. Posso contar a história de quando você nasceu?”

“Não, essa não”, disse Nor, bocejando. “Uma história real. Conte-me aquela da Bruxa e dos bebês-raposa outra vez.”

Sarima recusou, sabendo muito bem que as crianças consideravam a Titia Hóspede uma bruxa. Mas Nor era, teimosa e Sarima cedeu, e narrou o conto. Elphaba ouviu. Seu pai lhe transmitira preceitos morais, pregando sermões sobre responsabilidade; a Babá lhe deitara muita falação; Nessaro­se gemera as suas prédicas. Mas ninguém lhe contara histórias quando era pequena. Ela se adiantou um pouco mais para ouvir o conto acima do ruído da multidão.

Sarima recitou o conto com escasso envolvimento dramático, mas, ainda assim, Elphaba sentiu uma ferroada ao ouvir o desfecho. “E lá a maléfica velha Bruxa ficou, por muito, muito tempo.”

“Ela conseguiu sair?”, recitou Nor, os olhos brilhando com o encanto do ritual.

“Ainda não”, respondeu Sarima, e avançou, fingindo que ia morder o pescoço de Nor. Nor guinchou e, com um bamboleio, se afastou, indo juntar­-se aos meninos.

“Acho uma coisa vergonhosa, mesmo que seja só uma fábula, propor uma vida eterna para o mal”, disse Elphaba. “Qualquer espécie de vida eterna é uma manipulação e uma chantagem. É vergonhoso o modo como os unio­nistas e os pagãos continuam falando do inferno para intimidar e do etéreo Outro Mundo para recompensar.”

“Não fale nada”, disse Sarima. “Porque, entre outras coisas, é lá que Fiyero estará esperando por mim. E você sabe disso.”

O queixo de Elphaba caiu. Quando ela menos esperava, Sarima sempre estava disposta a lhe surgir com um ataque-surpresa. “Na outra vida?”, disse Elfinha.

“Oh, que é que você tem contra isso?”, disse Sarima. “Tenho pena das almas do Outro Mundo quando forem chamadas para dar boas-vindas a você. Que maçã azeda você é, o tempo todo!”

7
“Ela é louca”, disse Manek, com um ar de saber do que estava falando. “Todo mundo sabe que não se pode ensinar um animal a falar.”

Eles estavam no estábulo de verão abandonado, pulando de um palhei­ro, erguendo lufadas de feno e ondas de neve na luz peculiar.

“Bem, o que ela está fazendo com o Chistérico, então?”, perguntou Irji. “Já que você está tão certo do que fala?”

“Ela está ensinando o macaco a imitar, feito um papagaio”, disse Manek.

“Eu acho que ela é mágica”, disse Nor.

“Você, você pensa que tudo é mágico”, Manek disse, “garotinha estúpida.”

“Bem, tudo é”, disse Nor, afastando-se dos meninos como que num comentário adicional a seu ceticismo.

“Você pensa realmente que ela é mágica?”, disse Manek a Liir. “Você a conhece melhor que qualquer um de nós. Ela é a sua mãe.”

“Ela é a minha Titia, não é?”, Liir disse.

“Ela é nossa Titia, ela é sua mãe.”

“Eu sei”, disse Irji, fingindo mergulhar no assunto para evitar outro pulo. “Liir é irmão de Chistérico. Liir é o que Chistérico era antes de ela lhe ensinar a falar. Você é um macaco, Liir.”

“Eu não sou um macaco”, disse Liir, “e eu não fui enfeitiçado.”

“Bem, vamos perguntar isso ao Chistérico”, disse Manek, “Não é hoje o dia em que a Titia tem café marcado com a Mamãe? Vamos conferir se o Chistérico aprendeu palavras o bastante para responder a algumas perguntas.”

Eles dispararam pela escada de pedra em espiral acima, rumo ao apar­tamento da Titia Bruxa.

De fato, ela saíra, e lá estava Chistérico mordiscando algumas nozes, e Matalegria cochilando junto ao fogo, rosnando em seu sono, e as abelhas zumbindo em seu coro incessante. As crianças não gostavam muito de abe­lhas, nem davam bola para Matalegria. Mesmo Liir havia perdido o seu in­teresse pelo cachorro, ao dispor de crianças para brincar. Mas Chistérico era um favorito. “Coisinha doce, oh, o bebezinho”, ela dizia. “Aqui, animalzinho, venha com a Titia Nor.” O macaco olhava com desconfiança, mas, então, com as articulações das mãos e os pés ágeis, ele disparava pelo chão e saltava para os braços da menina. Ele examinava seus ouvidos com prazer, e, de cima de seus ombros, lançava olhares perscrutadores sobre os meninos.

“Diz pra gente, Chistérico, a Titia Bruxa é mesmo mágica?”, disse Nor. “Conta pra gente quem ela é.”

“Olha a Bruxa”, dizia Chistérico, brincando com os dedos. “Que desgra­ça que.” Eles podiam jurar terem ouvido uma pergunta, pelo jeito como sua testa se enrugava feito sobrancelhas.

“Você está enfeitiçado?”, disse Manek.

“Feitiço ruim. Estraga feitiço”, respondeu Chistérico. “Joga fora.”

“Como é que podemos estragar o feitiço? Como faremos você voltar a ser um menino?”, perguntou Irji, o mais velho, mas tão fascinado quanto os outros. “Existe algum jeito especial?”

“Que jeito?”, disse Chistérico. “Pediu, danou. Por quê?”

“Diga-nos o que fazer”, disse Nor, fazendo-lhe um afago.

“Fazer, morrer”, disse Chistérico.

“Grande”, disse Irji. “Então, não podemos quebrar o feitiço que foi feito em você?”

“Oh, ele está só balbuciando”, Elphaba disse, que estava à porta. “Olhem só, estou com visitas que não convidei.”

“Oh, alô, Titia”, eles disseram. Sabiam que não deviam estar lá. “Ele está falando, ou coisa parecida. Ele está enfeitiçado.”

“No mais das vezes, está é repetindo o que vocês dizem”, disse Elphaba, aproximando-se. “Portanto, deixem-no em paz. Vocês não estão autorizados a entrar aqui.”

Eles disseram “desculpe”, e saíram. De volta ao quarto dos meninos, caíram no colchão e riram até chorar, e não conseguiam explicar o que era tão engraçado. Talvez fosse o alívio de terem escapados ilesos dos aposentos da Bruxa, embora não tivessem nada a fazer lá. As crianças chegaram à conclusão que não precisavam mais temer a Titia Bruxa.

8
Eles estavam cansados de ficar confinados em casa, mas, por fim, começara a chover em vez de só nevar lá fora. Brincavam bastante de esconde-es­conde, esperando a chuva parar para que pudessem sair.

Numa manhã, Nor foi a escolhida. Ela continuou a achar Manek facil­mente, porque Liir sempre se escondia perto dele e o delatava. Manek perdeu a paciência. “Eu sempre sou pego, porque você é tão desajeitado. Por que você não se esconde bem?”

“Não posso me esconder no poço*”, Liir disse, não entendendo.

“Oh, você pode sim”, disse Manek, deliciado.

O segundo round começou, e Manek levou Liir para baixo, descendo as escadas do porão. Este estava mais úmido que de costume, com a água do subsolo escorrendo pelas pedras da fundação. Quando tiraram o tampo do poço, notaram que o nível da água havia subido. Mas ainda estava a uns bons doze ou quatorze pés de profundidade.

“Isso vai servir direitinho”, Manek disse, “olhe, se passarmos a corda por este gancho, o balde vai ficar firme o bastante para você subir nele. Então, quando eu girar a manivela, o balde vai lentamente descer pela parede do poço. Eu vou pará-lo antes de ele chegar à água, não se preocupe. Então, porei o tampo sobre o poço e Nor vai procurar e procurar! Ela nunca será capaz de achar você.”

Liir então inspecionou o poço desagradavelmente pegajoso. “E se hou­ver aranhas lá embaixo?”

“Aranhas odeiam água”, disse Manek categoricamente. “Não se preocupe com elas.”

“Por que você mesmo não faz isso?”, disse Liir.

“Você não é forte o bastante para me baixar, este é o motivo”, disse Manek com paciência.

“Não se esconde muito longe”, disse Liir. “Não me desce fundo demais. Não fecha o tampo todinho, eu não gosto do escuro.”

“Você está sempre se queixando”, Manek disse, oferecendo-lhe uma mão. “É por isso que a gente não gosta de você, como sabe.”

“Bem, todo mundo é malvado comigo”, Liir disse.

“Desce de uma vez agora. Segura na corda com as duas mãos. Se o balde esbarrar na parede um pouco, você se afasta. Vou descer você devagarinho.”

“Onde é que você vai se esconder?”, Liir disse. “Não tem mais nenhum lugar neste porão.”

“Me esconderei debaixo das escadas. Ela nunca vai me achar nas som­bras, ela odeia aranhas.”

“Pensei que você tivesse dito que não havia aranhas!”

“Ela acha que há”, Manek disse. “Um, dois, três. Esta é mesmo uma grande idéia, Liir. Você é tão corajoso.” Ele grunhiu com o esforço. Dentro do balde, Liir era mais pesado do que ele imaginara, e a corda enrolava rapi­damente demais. Ela emperrava na junção entre o sarilho e os suportes, e o balde parava e se chocava contra a parede com um baque que fazia eco.

“Isso foi rápido demais”, vinha a voz de Liir, fantasmagórica no escuro.

“Oh, não seja um maricás”, Manek disse. “Agora shhh, eu vou girar o tam­po até no meio, assim ela não vai adivinhar nada. Não faça barulho nenhum.”

“Eu acho que tem peixe aqui embaixo.”

“Claro que tem, é um poço de peixe.”

“Bem, eu estou muito perto da água. Eles pulam?”

“Sim, eles pulam, e têm dentes afiados, seu bestinha, e eles gostam de molequinhos gordos”, disse Manek. “É claro que eles não pulam. Se eles pu­lassem, você acha que eu ia te expor a um perigo desses? Fala a verdade, você não confia totalmente em mim, não é mesmo?” Ele suspirou, como se estivesse desapontado de um modo além das palavras, e quando o tampo girou não em parte, mas por completo, cobrindo o poço, ele notou sem surpresa que Liir estava magoado demais para se queixar.

Manek se escondeu debaixo das escadas por alguns momentos. Quan­do Nor não desceu, decidiu que atrás das margens do altar da velha capela mofada haveria um lugar ainda melhor. “Volto logo, Liir”, ele sibilou, mas, como Liir não respondeu, supôs que o menino estivesse ainda lamuriando lá embaixo.

Sarima estava fazendo um raro turno na cozinha, preparando um en­sopado de legumes frescos com ingredientes da despensa. As irmãs estavam num recital de dança promovido lá entre elas no quarto de música do andar de cima. “Soa como uma manada de elefantes”, Sarima disse, quando a Titia Hóspede apareceu, procurando alguma coisa para beliscar.

“Eu não esperava encontrar você aqui”, disse Elphaba. “Você sabe, eu tenho uma queixa a fazer contra seus filhos.”

“Os doces pequenos vândalos, o que será que aprontaram agora?”, Sari­ma disse, nervosa. “Eles puseram aranhas em seus lençóis outra vez?”

“Eu não me importaria, caso fossem aranhas. No mínimo, os corvos as comeriam. Não, Sarima, as crianças xeretaram nos meus pertences, provoca­ram Chistérico sem misericórdia, e não me ouviram quando falei com elas. Não pode fazer nada a respeito?”

“Que é que posso fazer?”, disse Sarima. “Aqui, prove esta rutabaga, é boa pra dar aos cachorros!”

“Nem Matalegria tocaria num negócio desses”, concluiu Elphaba. “É melhor você usar cenouras. Eu acho que essas crianças são ingovernáveis, Sarima. Elas não deveriam estar na escola?”

“Oh, sim, numa vida melhor, elas estariam, mas, que jeito?”, disse a mãe placidamente. “Eu já lhe disse que são alvos perfeitos para os homens da tribo Arjiki. Já é muito ruim até deixá-los correr pelos penhascos perto de Kiamo Ko no verão, eu nunca sei quando serão descobertos, aprisionados, e sangrados como porcos, e trazidos para casa apenas para o enterro. É o preço da viuvez, Titia; a gente deve fazer o melhor que puder.”

“Eu fui uma boa filha”, Elfinha disse, resolutamente. “Eu tomei conta de minha irmãzinha, que nasceu horrivelmente desfigurada. Obedeci a meu pai, e a minha mãe, até que ela morreu. Vaguei e labutei como criança missionária e dei testemunhos do Deus Inominável, muito embora fosse uma descrente, em essência. Eu acreditava na obediência, e não acho que isso me feriu.”

“Então, o que foi que a feriu?”, perguntou Sarima, espirituosamente.

“Você não entenderá”, disse Elfinha, “por isso não vou nem dizer. Mas, sejam quais forem os motivos, suas crianças são ingovernáveis. Eu desaprovo seus métodos frouxos.”


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