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A industrialização e a integração nacional
A organização interna do Brasil passou por mudanças significativas no século XX, graças ao processo econômico e social ocorrido no país, principalmente após 1930, quando a indústria assumiu o papel de setor mais importante da economia brasileira. O Brasil deixou de ser um país essencialmente agrário para assumir características de uma economia urbano-industrial.
O modelo "arquipélago" vigente desde os tempos coloniais não funcionava mais nessa nova economia. Como o processo de industrialização brasileira foi baseado no mercado interno, era preciso uma maior integração entre as diversas regiões do país, para que produtos industrializados e pessoas em busca de emprego nas indústrias pudessem circular pelo território nacional.
Portanto, em virtude da industrialização, formou-se um novo modelo de organização espacial, em que o território foi cada vez mais integrado e aprofundou-se a interdependência entre as regiões do país, rompendo o isolamento dos mercados regionais e constituindo um mercado nacional.
Assim, a indústria foi a grande responsável pela integração da economia brasileira em torno de um único centro polarizador, no caso a região Sudeste. Nesse contexto foram construídas rodovias que ligavam as regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte ao Sul e ao Sudeste.
A maioria das rodovias construídas fez parte do Plano de Integração Nacional (PIN), criado em 1970 pelo governo militar, que se preocupava com os vazios demográficos existentes na Amazônia e no Centro-Oeste.
Nessa nova organização espacial em função da industrialização, nosso país pôde ser dividido em grandes complexos regionais.
Os complexos regionais brasileiros
Na nova organização espacial em função da industrialização, ficaram mais evidentes as desigualdades socioeconômicas entre as regiões. Com isso, surgiu outra proposta de divisão regional do Brasil, que considera os espaços segundo a organização da sua economia, seguindo o modelo centro-periferia, caracterizando, respectivamente, mais desenvolvido e menos desenvolvido.
Essa divisão foi elaborada em 1967 pelo geógrafo Pedro Pinchas Geiger, que dividiu o Brasil em três grandes complexos regionais - Amazônia, Nordeste e Centro-Sul -, segundo suas características geoeconômicas.
LEGENDA: A BR-116 é uma das rodovias mais extensas e movimentadas do Brasil. Ela atravessa o país de Fortaleza (CE) até Jaguarão (RS). No trecho que liga as duas maiores cidades do país, São Paulo e Rio de Janeiro, ela é chamada rodovia Presidente Dutra. Na foto, trecho da BR-116 no município de São José dos Campos (SP), em 2016.
FONTE: Lucas Lacaz Ruiz/Pulsar Imagens
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A divisão do território brasileiro em complexos regionais não se baseia nos limites dos estados, como as divisões do IBGE, que você estudou no Capítulo 3. Veja no mapa a seguir quais são suas principais características.
LEGENDA: Essa divisão considera três grandes complexos regionais: um centro (Centro-Sul) e duas periferias (Amazônia e Nordeste).
FONTE: Adaptado de: IBGE. Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro, 2012. p. 152. CRÉDITOS: Allmaps/Arquivo da editora
Como você pode perceber, nessa divisão regional, o norte de Minas Gerais passa a compor o complexo do Nordeste por ser uma área de clima semiárido, e a porção ocidental do Maranhão passa a integrar o complexo regional da Amazônia em razão de sua afinidade econômica extrativista.
Amazônia
Com uma área de 5 milhões de km2, a Amazônia compreende 58% do território brasileiro. Além da região Norte, estabelecida pelo IBGE, que tem aproximadamente 3,9 milhões de km2, abrange ainda grande parte dos estados de Mato Grosso e do Maranhão.
Principais características:
Quadro natural: clima equatorial, domínios das terras baixas amazônicas, floresta equatorial e bacia amazônica.
Quadro humano e econômico: pequena população absoluta, baixa densidade demográfica e economia baseada no extrativismo mineral e vegetal. Apresenta crescimento industrial na Zona Franca de Manaus. É o principal reduto de povos indígenas, de problemas de posse de terra e desmatamentos (queimadas). Atualmente, a Amazônia é fronteira de expansão agropecuária e de povoamento.
Nordeste
Com 1,5 milhão de km2, a região geoeconômica do Nordeste ocupa 18% do território brasileiro, área quase equivalente ao Nordeste delimitado pelo IBGE. Compreende o norte de Minas Gerais, mas não inclui o oeste do Maranhão.
Esse complexo tem características bem diferentes dos demais, com paisagens naturais diversificadas. Nele, encontramos clima equatorial (Maranhão), tropical úmido (litoral oriental) e semiárido (Sertão). Nas áreas onde ocorre o clima semiárido, encontra-se um tipo de vegetação único e genuinamente brasileiro: a caatinga. Essas diferenças climáticas propiciaram uma desigual distribuição populacional, com uma concentração maior nas áreas mais úmidas próximas ao litoral.
LEGENDA: A seca ainda é um dos maiores problemas que afetam grande parte do Nordeste. Na imagem, moradia com cisterna para acumular água em Gameleiras (MG), semiárido mineiro. Foto de 2015.
FONTE: Andre Dib/Pulsar Imagens
Centro-Sul
Com cerca de 2 milhões de km2, o complexo regional do Centro-Sul abrange a maior parte de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro. Corresponde às terras das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste.
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É o complexo regional mais importante econômica e politicamente da nação, abrigando mais de 60% da população brasileira.
É uma área de economia diversificada, com altas taxas de industrialização e urbanização. Ao mesmo tempo, tem o maior índice de aproveitamento de terras para a agricultura e a pecuária. Nesse complexo regional estão localizadas jazidas de ferro e petróleo, além de extensas áreas de produtos agrícolas de exportação, como soja, cana-de-açúcar e laranja.
No Centro-Sul estão localizadas as duas maiores cidades do país, Rio de Janeiro e São Paulo, além do Distrito Federal, que abriga Brasília, a capital do país.
Os "quatro Brasis"
No século XXI, o desenvolvimento das telecomunicações (internet, telefones celulares, comunicação por satélite) aprofundou ainda mais as relações entre as várias regiões do país. Apesar disso, grande parte do nosso território, principalmente a região Norte, permanece à margem dessas mudanças. Em razão disso, o geógrafo Mílton Santos e a professora María Laura Silveira propuseram uma nova regionalização do Brasil, baseada em quatro regiões ou em "quatro Brasis".
O principal critério definidor dessa nova regionalização foi o do "meio técnico-científico-informacional", isto é, a "informação" e as "finanças" estão irradiadas de maneiras desiguais e distintas pelo território brasileiro, determinando "quatro Brasis".
Levando em consideração que essa regionalização considera a robotização industrial, a tecnologia aplicada ao setor agropecuário, a localização geográfica dos polos de decisões políticas e financeiras e o volume de instituições ligados à pesquisa aplicada aos setores produtivos, veja a seguir como é constituída cada região nesse novo modelo.
- Região Amazônica: inclui os estados do Amapá, Pará, Roraima, Amazonas, Acre e Rondônia. Apresenta baixa densidade técnica e demográfica.
- Região Nordeste: inclui os estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Foi a primeira região a ser povoada e, atualmente, apresenta uma agricultura pouco mecanizada.
- Região Centro-Oeste: inclui os estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins, além do Distrito Federal. De ocupação recente, apresenta uma "agricultura globalizada", isto é, moderna, mecanizada e produtiva.
- Região Concentrada: inclui os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul; ou seja, os estados das regiões Sudeste e Sul, da classificação oficial, do IBGE. É a região que concentra a maior população, as maiores indústrias, os principais portos, aeroportos, shopping centers, supermercados, as principais rodovias e infovias, as maiores cidades e universidades. Portanto, é a região que reúne a maior quantidade dos principais meios técnico-científicos e as finanças do país.
FONTE: Adaptado de: SANTOS, Milton; SILVEIRA, María Laura. O Brasil - território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2010. CRÉDITOS: Allmaps/Arquivo da editora
Como podemos perceber, as mudanças não param de acontecer na configuração interna do território brasileiro. Isso acontece porque a organização do nosso território é um processo contínuo, sempre sujeito a mudanças, conforme as ações da sociedade que o transformam em cada momento histórico.
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