criança não seja separada em espaços e tempos antagónicos, mas que se
estabeleça um contínuo enraizado em objectivos comuns.
O que é, então, pedido aos pais é que não se demitam das suas res
ponsabilidades educativas, atribuindo à escola a culpa pelo fracasso acadé
mico e/ou pessoal dos filhos. É ainda pedido que partilhe responsabilidades
na definição do percurso escolar dos filhos tais como opções de áreas cur
riculares, projectos individuais educativos e avaliação.
Ao longo deste capítulo traçámos algumas das linhas orientadoras que
poderão estar na base de uma optimização da relação escola/fam0ia. Não
restam dúvidas a qualquer profissional de educação ou a qualquer pai que
desta sinergia a criança sai a ganhar. No entanto, este < entre
pais e professores reveste se de pertinência especial para o aluno com difi
culdades de aprendizagem ou com necessidades educativas especiais. Nestes
casos, a não cooperação entre pais e professores significa quase sempre a
não rentabilização do potencial educativo da criança.
Um dos problemas com que os professores se debatem quando ensi
nam estas crianças é a difculdade que muitas vezes elas apresentam na
aplicação e transferência dos conhecimentos adquiridos. O conhecimento
e a aprovação por parte dos pais das tarefas escolares dos seus filhos per
mite Ihes complementarem em casa essas aprendizagens, facilitando Ihes
a sua generalização a situações do quotidiano. Não é só a nível das dificul
dades cognitivas que esta cooperação traz benefícios para a criança. O
conhecimento, por parte dos professores, das características emocionais
das crianças em casa (timidez, agressividade, insegurança. .), e vice versa,
permite uma melhor compreensão dos comportamentos, uma melhor
adequação das atitudes educativas e uma intervenção integrada em objec
tivos comuns.
ii
COCLSO
A opção pelo título APRENDER A ENSINAR, ENSINAR A APRENDER
assenta numa concepção do processo de ensino aprendizagem como o en
contro de dois c>: o aprnder do professor e o aprender do aluno.
Se num primeiro olhar estes percursos parecem qualitativamente dife
rentes e desligados um do outro, um olhar mais aprofundado faz nos ver/
/compreender que se trata de um processo dinâmico e recíproco, onde a
concretização de um tem em conta o de outro. O aprender a ser professor
mantém uma relação real e simbólica com a forma como este representa
o aluno enquanto agente de aprendizagem, assim como o aprender a ser
aluno interfere na relação que se estabelece com o professor enquanto
orientador de aprendizagens.
Ao conceptualizar a tarefa de ser professor como <
está inerente a convicção de que ensinar mais do que uma arte é uma
ciência, ou seja, é possível ensinar a ser professor. A vantagem desta pers
pectiva é introduzir o rigor do método científco na análise do acto peda
gógico e, ao mesmo tempo, reenviar para um referencial teórico, securiza
dor das intervenções educativas.
Não podemos deixar de salientar que é no momento em que se co
meça a fazer investigação acerca do processo de ensino aprendizagem que
a pessoa do professor como profissional passa a ter relevo e, simultanea
mente, se abandona a ideia de que para ser bom educador basta ter jeito
e gostar de crianças. Existe hoje um corpo de conhecimentos, uma lingua
gem que se reconhece como sendo matriz própria do professor e que
está a contribuir para a auto e heteroconstrução de uma identidade profis
sional. A existência deste enquadramento teórico cria a necessidade de
uma formação contínua, onde os professores são actores privilegiados na
construção do saber, ainda que este seja continuamente redimensionado
nas situações concretas de ensinar os alunos a aprender.
Sendo assim, aprender a ensinar tem sentido na medida em que se
reverte num ensinar a aprender melhor. O aprender do aluno não é um
acto individual e isolado, mas interactivo com os dispositivos instituídos no
ensino; o aprender tem que deixar de ser uma questão de sorte ou azar
para passar a ser considerado como previsível, controlado e estudado.
Ao escrever um livro sobre o aprender e o ensinar, há pelo menos
duas posições opostas que podem ser tomadas: uma, entender esta tarefa
como uma compilação de conhecimentos teóricos ou uma resenha de
pesquisas que valem por si próprias; outra, como uma compilação de
exemplos práticos e sugestões concretas para a prática lectiva, na medida
em que vê o processo de ensino aprendizagem como algo de empírico,
fruto das experiências e das características pessoais dos professores tais
como a intuição, dom,. . Pretendemos estabelecer uma relação dinâmica
entre estas duas posições, pois se ensinar contém em si algo de único, a
reinventar em cada situação educativa, também possui algo de geral, con
trolável, não se podendo por isso fazer tábua rasa das produções científicas.
O acto pedagógico foi sempre aqui entendido como uma síntese
destas duas posições o professor traz para a sala conhecimentos cientí
ficos prévios que são reactivados na reflexão sobre a prática, produzindo,
desse modo, novos conhecimentos
Enquanto autoras, entendemos que este livro valeu a pena se contribuir
para fundamentar reflexões, estimular mudanças, valorizar o professor
enquanto profissional e por último, se ajudar a escola a tornar realidade o
sucesso educativo de todos os alunos
BIBLIOGRAFIA
ADAMS, R. S., Location as a feature oinstructional interaction, Merrill
Palmer Quarterly, I 5, pp. 309 32 I , I 969.
ALLAL, L , CARDINET, )., e PERRENOUD, P., (eds), A avaliação formativa
num ensino diferenciado, Coimbra, Livraria Almedina.
ANDERSON, L. M., EVERTSON, C. M. & EMMER, <
room management derived from recent research>>, Journal of Curri
culum Studies, vol. I 2, pp 343 356, I 980.
ARIP, Association pour la Recherche et I'Intervention Psycho Sociologique,
Pedagogia e psicologia dos grupos, Lisboa, Livraria Horizonte, I975,
2a ed.
AUSUBEL, D. P., <>, Psycho
logy in the Schools, 6, pp. 232 244, I 969.
BAER, M. D., WOLF, M. M., RISLEY, R. T., <
applied behavior analysis>>, Journal of Applied Behavior Analysis, I ,
pp. 9 I 97, I 968.
BAIRRÃO, J., A persectiva ecológica em psicologia de educação. Comuni
cação apresentada na Primeira Conferência Internacional de Con
sulta Psicológica, Porto, I I a I 5 de )ulho, I 988.
BECKER, H. S., Outsiders: Studies in the Sociology of Deviance, Collier
Macmillan Nova lorque, I963.
BELLANO, Denis et DOLLE, )ean Marie, Ces enfants qui n'apprennent pas,
Paris, Centurion, I 989.
h P N E D D E H H
BENNETT, S N , <
Classroom Sttings>>, in E. Corte, H. Lodewijks, R. Parmentier &
P San (eds.), Learning and Instruction: Europeen Research in an Inter
national Context. Oxford, Pergamon Press, I 987.
BERBAUM, Développer la capacité d'apprendre, Paris, ESF, I 99 I .
BERGER, Guy, UNESCO, 0 educador e a abordagem sistémica, Lisboa,
Estampa, I 980.
BERNSTEIN, B., Langage et classes sociales, Paris, Minuit, I 975.
BRONFENBRENNER, Urie, La ecologia del desarrollo humano, Barcelona,
' Buenos Aires, Mexico, Paidos, I 987.
BROPHY, J E., <>, in D. C.
Smith (ed.) Essential Knowledge for Beginning Educators, Was
! hington, American Association of Colleges for Teacher Education,
I 983.
iBROPHY, J. E., <
influence of socio economic status and task structure on teaching
specifcity>>, Child Development, 4 I , pp. 74 94, I 970.
BROPHY, J. E. & GOOD, T L., <
ment>>, in M. Wittrock (ed.), Handbook ofReserch on Teaching,
New York, Macmillan, I 986.
CANGALLONI, J S., Classroom Management Strategies Gaining and Main
i taining Students Cooperation, New York, Lonman, I 988.
CARDINET, Jean, Évaluation scolaire et pratique, Paris, Editions Univer
sitaires, I 988.
COOMBS, P. H., The Word Educational Crisis, London, Oxford University
Press, I 968.
CORTESÃO, Irene et al., Educação para uma sexualidade humana, Porto,
Afrontamento, I 989.
CORTESÃO, Irene e MALAFAIA, Reinalda, Olhar e melhorar a escola
uma contribuição para o sucesso escolar, Porto, Asa, I 993
CORTESÃO, Luiza e TORRES, Maria Arminda, Avaliação pedagógica I
Insucesso escolar, Porto, Porto Editora, I 982, 2a ed.
CORTESÃO, Luiza e TORRES, Maria Arminda, Avaliação pedagógica II
Perspectiva de sucesso, Porto, Porto Editora, I 983.
CRESAS, L'handicap socio culturel en question, Paris, ESF, I 978.
CRESAS, L'échec scolaire n'est pas une fatalíté, Paris, ESF, I 98 I
CRESAS, On apprend pas tout seul, Paris, ESF, I 987.
CRESAS, Naissance d'une pédagogie interactive, Paris, ESF, I 99 I
CROOKS, T. J , <>,
Review of Educational Research, 4, pp. 438 48 I , I 988.
DELAMONT, S., Interacção na sala de aula, Lisbóa, Livros Horizonte, I 987.
DELEFES, P. & )ACKSON, B , <
location in the classroom>>, Psycology in the schools, 9, pp. I I 9 I 23,
I 972.
DOLTO, Françoise, A dificuldade de viver, Lisboa, Dom Quixote, I 989
DOTTRENS, Robert, L'enseignement individualisé, Paris, Neuchâtel,
Delachaux et Niestlé, I 963.
DOYLE, W., <>, in M. Wittrock
(ed.), Hanbook ofResearch on Teaching, New York, Macmillan,
I 986.
DUCKWORTH, Eleanor, Ideias maravilhas em educação e outros ensaios
em ensino e aprendizagem, Lisboa, Instituto Piaget, I 99 I .
DUMONT, Virginie, Les difjicultés scolaires, França, Hachette, I 99 I
DYKMAN, B. M & REIS, H.T., <
position>>,ournal of Educational Psychology, 7 I , pp 346 354, I 979.
EMMER, E. T , <>, in T.
Husé & T. N. Postlethwaite (eds.), The Intemational Encyclopedia of
Education, Research and Studies, Oxford, Pergamon Press, I 985.
ESTRELA, Albano, Teoria e prática de observação de classe, Lisboa, INIC,
I 984.
ÉVEQUOZ, Grégoire, Le contexte Scolaire et ses otages vers une appro
che systémique des dicultés scolaires, Paris, ESF, I 984, 2a ed
FONTANA, David, Personalidade e educação, Lisboa, Livros Horizonte, I 974.
FURTH, Hansg e WACHS, H., Piaget na prática escolar, S Paulo, Ibrasa,
I979
GARCIA, Gabriel de Serranos, BRAVO, Angel Olivas, Accion tuturial en
grupo, Madrid, Editorial Escuela Espanola S. A., I 989.
GIBELLO, Bernard, A Criança com distúrbios de inteligêncía, Porto Alegre,
Artes Médicas, I 987.
GILLY, M., Bom aluno, mau aluno, Lisboa, Moraes, I 98 I
GIORDAN, André, Une pédagogie pour les sciences expérimentales, Paris,
Centurion, I 978
GIORGI, Piero Di, A Criança e as suas instituições a familia, a escola,
Lisboa, Livros Horizonte, I 968
GOOD, T L., BROPHY, ). E., Loolung in Classroom, New York, Harper & Row,
I 978, 2a ed.
GOOD, Thomas L., BROPHY, J. E , Lookink in classroom, New York, Hager
stown, San Francisco, London Harper and Row, Publishers, I978,
2a ed.
GUMP, P. V., <>, in D. Stokols & I Alt
man (eds.), Handbook of Envirommental Psychology, vol. I , New
York, Wiley, I 987.
HANNON, Hubert, Os conflitos da educação, Lisboa, Socicultur, s/d.
HARGREAVES, D. H., <>, in M. Hammersley & P.
Woods (eds.), The Process ofSchooling, Routledge & Kegan Paul/
/Open University Press
HERSH, R et al , EI crecimiento moral de Piaget a Kohlberg, Madrid,
Narcea, I 988.
)ONES, F., <>, National Elementary
Principal, 58, pp 26 32, I 979.
KOUNIN, J. S., Discipline and Group Management in the Classroom, New
York, Holt, Rinehart & Winston, I 970.
KOUNIN, J S., L' imaginaire dans la relation pédagogique, Paris, PUF, I 989.
LEITE, E., MALPIQUE, M., SANTOS, M. R., Trabalho de Projecto I
Aprender por projectos centrados em problemas, Porto, Afron
tamento, I 989.
LINDSAY, G. A., <>, Journal of Association of
Educational Psychology, I 98 I
LENTIN, Laurence, A criança e a linguagem oral, Lisboa, Livros Horizonte,
I 990, 2a ed.
McDONALD, F J., <
ment>>, in D. C. Smith (ed ) Essential Knowledge for Beginning
Educators, Washington, American Association of Colleges for
Teacher Education, I 983
MINICCUCI, Agostinho, Dinâmica de Grupo na Escola, São Paulo, Edições
Melhoramentos, I 970.
MONTADON, C , PERRENOUD, Ph., Entre parents et enseignants: un dia
logue impossible?, Bema, Peter Lang, I 987.
MONTEIRO, Manuela, QUEIROZ, Irene, årea Escola, Porto, Porto Editora,
I 993.
MUNARI, Bruno, Das coisas nascem coisas, Lisboa, Edições 70, I 983.
PAIN, Sara, A Função da ignordncia: estruturas inconscientes do pensamento,
vol. I , Porto Alegre, Artes Médicas, I 988.
POSTIC, Marcel, A relação pedagógica, Coimbra, Coimbra Editora Lda ,
I 990, 2a ed.
POURTOIS Jean Pierre, Comment les mères enseignent à leur enfant (5 6
ans), Paris, PUF, I979
ROSENTHAL, R., LAWSON, R., <
experimenter bias on the operant learning of laboratory rats>>,
Joumal of Psychiatric Research, I 964, 2 (2), pp. 6 I 72
ROSENTHAL, R., )ACOBSON, L., Pygmalion in the classroom: teacher ex
pectation and pupils intellectual development, Nova lorque, Holt
Rinehart & Wiston, I 968.
ROSENTHAL, R., )ACOBSON, L., <
taged>>, Scientifc American, 2 I 8, 4, pp. I 9 23
ROSNAY, )oel de, Macroscópio para uma visão global, Lisboa, Arcádia,
I 977.
SALGADO, Anastásia EmOia, 0 Trabalho de rupo e a adaptação da escola
ao aluno, Edição da autora, s/d.
SANCHES FERREIRA, Maria Manuela, 0 tempo na tarefa e o processo de
ensino aprendizagem estudo observacíonal de alguns comporta
mentos do professor e dos alunos, Universidade do Porto, I 99 I (poli
copiado)
SANTOS, Maria Emília Brederote, Os Aprendizes de Pigmalião, Lisboa,
Instituto de Estudos para o Desenvolvimento, Rolim, I 985.
SANTOS, Milice Ribeiro dos, <
comunicação no grupo turma: contributos da abordagem sistémica
e do Trabalho de Projecto>>, in Formação Pessoal e Social, Porto
S.P C.E., pp I I 7 I 2 I , I 992
SANTOS, Milice Ribeiro dos, 0 Trabalho de Projecto e a formação, Lisboa,
I.E.F.P., (no prelo).
SILVA, Adelina Lopes, <
ções, investigações e implicações>>, Revista Portuguesa de Psicologia,
no 2 I , I 987/88, pp. 75 I 30.
STIRES, L., <
environment or self selection?>>, Environment and Behaviour, I 2,
pp. 24 I 254, I 980.
VANOYE, Francis, Trabalhar em Grupo, Coimbra, Livraria Almedina, I 979
VYGOTSKY, A formação social da mente, Brasil, Martins Fontes, I 99 I , 4a ed
WHELDALL, K., MERRETT, F., <
management>>, in FONTANA, D , (ed.), <ning theory in education>>, British Journal ofEducational Psychology,
Edinburgh, I 984
WHELDALL, K. & GLYNN, T., Efevtive Classroom Learning: A Behavioural
Interactionist Approach to Teaching, Oxford, Basil Blackwell, I 989.
WOODS, Peter, La escuela por dentro la etnografia en la investigacion
educativa, Barcelona, Buenos Aires, Mexico, Paidós, I 989.
_
!
:I
IIlDICE
Introdução 5
Capítulo I 9 A criança em desenvolvimento
Capítulo 2 I 7 Aprender e as suas dificuldades
Capítulo 3 29Interacção na sala de aula
3 I 3. I . Relação professor aluno
Capítulo 4 35O processo de ensino aprendizagem
364. I . A organização da sala de aula
484.2. Métodos de ensino
Capítulo 5 59Avaliação e intervenção
6 I 5 I A avaliação como processo que inicia,
acompanha e encerra o acto de aprendizagem
7 I 5.2. Intervenção
Capítulo 6 17Alguns jogos e estratégias psico pedagógicas
Capítulo 7 9IO binómio fami1ia escola
947 I . Estratégias de cooperação pais escolas
ConclusãoI 0 I
Bibliografia I 03
Dostları ilə paylaş: |