Notas
(1) [Assim se chamava no século XIX à «inteligência,> russa de
extracção não aristocrática. (N. T.)]
(2) [Termo com que se designa e se autodesignou a aristocracia
russa a partir da metade do século XVIII. (N. T.)]
(3) [Lenskü, personagem de Eugenio Onéguin de Puchkin.] (N. T.)
***
A ESTRUTURA DOS SIGNOS NO CINEMA
(1970)
V. V. IVANÓV
l. A compreensão teórica do primeiro plano como ex-
posição da parte em lugar do todo / - o primeiro plano
dos óculos que vem substituir o médico que os levava e
tinha na mão nos planos precedentes - concorda com a
descrição linguística da metonímia como uma mudança
de posição sintáctica que corresponde a uma deslocação
da ênfase sobre um dos elementos duma estrutura dada.
O sublinhar um pormenor sem nexo directo com o tema
une o cinema metonímico / desde Griffith / com a prosa,
onde não é raro, no nosso tempo, que certos autores falem
pela boca dos seus heróis do papel que desempenham para
eles os detalhes / H. Bõll, Meditações dum palhaço /, o
que aproxima a literatura contemporânea da poesia japo-
nesa clássica / Seymour, Une introduction, de Salinger /
que se invoca cada vez mais frequentemente como modelo
de observação dos objectos até para o cinema / A. Tar-
kóvski /.
O génio policial emprega especialmente esta união do
pormenor com a narração, o que se explica facilmente, visto
que, por meio da metonímia ou da simédoque, o desliza-
mento de significação se produz apenas dentro dos limi-
tes clum campo de objectos, ao contrário da metáfora que
reúne correntemente dois campos de acontecimentos e, a
seguir, leva para uma série paralela de objectos diferentes
dos primeiros. A possibilidade, para a máquina fotográfica
ou a objectiva duma câmara, de filmar os pormenores es-
senciais para descobrir um crime / e, portanto, de todo 0
t.ema / aproxima o emprego do pormenor no romance poli-
cial da imobilização duma parte da imagem no cinema ,/.
242 Ensaios de Semiótica Soviética
Blow up de Antonioni, cujo tema se constrói sobre a mútua
relação metonímica duma foto no seu conjunto com as
suas partes /. IvIo romance policial clássico, o acento meto-
nímico do objecto não se reduz a um pormenor soldado ao
tema, introduzem-se também pormenores exteriores como,
por exemplo, os utensílios de fumador do detective (o filme
de Houston O Falcão de Malta, tirado do romance homó-
nimo de D. Hammett...).
2. Incluída como substituição de signos de significa-
ção diferente, embora utilizados em contextos sintácticos
idênticos / Kurylowicz /, a metáfora corresponde melhor
à linguagem cinematográfica de montagem metafórica que
à linguagem poética ou, abstracção feita a paralelismos
arcaicos, estes contextos não nos são dados directamente,
mas há que extraí-los do texto final único em que se trans-
formam / um fenómeno análogo em tudo à dupla exposi-
ção nos filmes mudos e, posteriormente, a experiências do
cinema de vanguarda /. A ausência dum segundo contexto
engendra uma metáfora de tipo literário vista às vezes como
atípica no cinema / o baloiçar do berço em Intolerância /.
Em Chaplin, a conjunção duma multidão a passo de ginás-
tica e dum rebanho de animais toma-se como metafórica
em virtude da alternância destas imagens em contextos
idênticos. IvIos primeiros filmes deste cineasta, e em certos
actores cómicos como os irmãos Marx ou Laurel e Hardy,
há / como nos números de circo / assimilação metafórica
de objectos superficialmente próximos: o herói come os
atacadores dos sapatos como se se tratasse de spaghetti, re-
corta o seu chapéu e rega-o com molho como um assado,
sobe a bordo dum barco, passando, como se fosse uma
passadeira, sobre uma passageira que caiu ao chão. Em to-
dos estes casos, o segundo contexto (o do spaghetti, o as-
sado, a passadeira) remete para umas normas universais e
pode subentender-se. Mas se os dois contextos estão dado a
metáfora vai ser motivada por uma substituição de ob-
jectos.
3. O cinema metonímico, aspira, em última instância, a
explorar exaustivamente cada episódio num plano, quer
dizer, a utilizar o menos possível a montagem de troços
curtos de película: quando introduz metáforas, é motivan-
do-as obliquamente pelo tema. IvIo filme de Chabrol Les
Prática de Análise: Leituras Semióticas 243
Bonr~es Femmes, a metáfora que compara o herói com um
tigre é motivada por uma visita ao Zoo na qual a heroína e
as suas amigas olham para os animais, enquanto o herói as
segue. Num recente artigo teórico, / R. Durgnat /, lançou
a hipótese de que teria sido possível motivar a frase de
montagem dos «Deuses» em Outubro filmando-a num mu-
seu. Vê-se então claramente a diferença entre a acen-
tuação metafórica, onde o essencial é que cada fragmento
da montagem pertença a uma série precisa, e a acentuação
metonímica, que tende a unir as partes do episódio por
contiguidade / como por um movimento incessante da
câmara /. Na frase de montagem cinematográfica dos
«Deuses», os objectos que se mostram provêm na sua
maioria dum museu de etnografia, o que, longe de servir
de construção, está, pelo contrário, camuflado, ao invés
do que aparece num episódio análogo do Testamento do
Dr. Mabuse, de Lang, onde vemos uma montagem de ima-
gens que representam quadros pendurados nas paredes do
escritório do médico. A evolução do cinema apoia, em
matéria de poética histórica, a conclusão segundo a qual,
unida à ausência de metáforas, o predomínio das meto-
nímias caracterizaria os estilos que surgissem em período
de fecho / Eichenbaum /.
4. A introdução do som, que herdou em parte funções
de montagem / particularmente a de fragmentos curtos de
filme, que, às vezes, ia contra a fluidez da narração / acar-
retou a extensão da duração do plano e a substituição da
montagem por uma certa mobilidade da câmara. Em
O Grande Consolador, de L. Kuléchov, filme rodado nos
começos do nosso cinema sonoro, o realizador justapõe
e opõe dois estilos cinematográficos em princípio diferen-
tes: um - o das cenas de ficção - é praticamente mudo /
sem palavras, mas com a música que acompanhava os fil-
mes dos tempos do cinema mudo /, com títulos e um tipo
de montagem curto; outro - o das cenas da «vida real» -,
com diálogos falados e uma montagem de fragmentos
curtos reduzida ao mínimo. A diferença de exposição dos
diálogos é particularmente característica: com efeito, se,
no primeiro caso, se realiza por meio duma montagem de
imagens de cada um dos locutores, nas cenas da «vida
real» a câmara deslocar-se-á de um / O. Henr~~ / a outro /
o capitão /.
244 Ensaios de Semiótica Soviétìca
5. A composição dum plano depende do seu lugar no
esquema estrutural do filme. Por isso, nos filmes do
Oeste, a exposição é normalmente levada a cabo por meio
do enfrentamento entre o herói e os seus adversários /
mais numerosos / num bar. A composição dos planos deste
episódio é muito complexa / contrariamente à das sequên-
cias precedentes que se desenvolvem no fundo habitual da
paisagem do Far West ou num interior sem muita fanta-
sia /: o operador serve-se dum décor «de múltiplas cama-
das», duma enorme quantidade de objectos e pessoas, dum
balcão à maneira de fronteira, etc. I~Ios westerns coloridos
destes últimos anos, esses planos caracterizam-se igual-
mente por uma maior complexidade da cor / anterior-
mente esta correspondia à da luz natural /.
6. O facto de o sujeito poder encarnar-se não apenas
numa sucessão de planos ligados a uma frase de mon-
tagem mas na concepção dum plano-episódio mostra-se
com a máxima evidência na composição em profundidade,
que, em certos mestres como Wyler, serve para dar poli-
fonicamente vários temas num plano único. Ivio filme de
Alain Resnais. O Ano Passado em Marienbad, este recurso
plástico é utilizado para opor o herói ao fundo - os outros
clientes do hotel. A imagem sonora afasta-se da imagem
visual, de maneira que, às vezes, a voz dos personagens
vai-se afastando até quase desaparecer à medida que a
câmara se aproxima deles: a composição sonora do plano
pode ser inversa da sua composição visual. IvIo filme de
Resnais, a composição em profundidade - como processo
puramente cinematográfico de organização do espaço nos
planos rodados no interior do hotel - opõe-se à perspec-
tiva pictórica tradicional encarnada pelo quadro repetido
e intencionalmente estilizado do parque, ou no desenho em
perspectiva destacado do décor teatral da cena do espec-
táculo no começo do filme.
Os processos de delimitação do espaço tais como a
secção horizontal do enquadramento na composição em
profundidade de Orson Welles / desde os seus primeiros
filmes até outros mais recentes como Falstaf f / são em si
mesmos duma importância enorme no plano semântico
É de grande interesse ressaltar a analogia entre a categoria
espaço em Kafka - que descreve um após outro os pré
dios urbanos fechados / particularmente os corredores do
Prática de Análise: Leituras Semióticas 245
andares superiores / que servem de fundo aos seus rela-
tos - e esta mesma categoria em Welles, que não sem
razão levou ao écrarc um romance de Kafka.
7. O exemplo da estrutura do filme e da composição
do plano faz ressaltar de maneíra partícularmente nítida
o significado da opção sobre o ponto de vista e da passa-
gem dum a outro para a composição. Se é verdade, como
nos faz observar o padre P. Florenski / B. A. Uspenskij,
A Poética da Composìção, Moscovo, 1970, p. 8 / que a
transmissão duma cena pelos olhos dum único persona-
gem pôe, no teatro, problemas insuperáveis, isso é, pelo
contrário, completamente realizável no cinema. E isto ba-
seía-se especialmente na possibilidade «do écrarc dentro
' do écran» / a citação de A Paixão de Joana d'Arc vista
numa sala de cinema através dos olhos da heroína do
filme de Godard /, por forma a estabelecer um «laço in-
verso» com o espectador / a sala e as suas reacções em
; O Homem da Câmara de Dziga Vertov / e de mostrar certos
fragmentos dum filme em vias de realização / 8 1 /2 de
Fellini, Tudo à Venda, de Vaida /. A comütação sucessiva
s
de pontos de vista foi princípio de construção obrigatório
nos filmes de Hollywood do período clássico, onde a óptica
, dum dos personagens - com o qual o espectador deveria
' identificar-se - era eleita como padrão. A união sintagmá-
tica de vários pontos de vista complementares ou mutua-
mente exclusivos - tratados cada um num único episó-
dio - é a base do «efeito Kurosawa,> conseguido em Ra-
' shonZon.
A moda largamente espalhada do monólogo interior
na poesia cinematográfica desta última década conduz à
possibilidade da restauração do ponto de vista subjectivo
dum dos personagens / da sua percepção das cores, como
em O Deserto Vermelho, de Antonioni /.
8. No monólogo interior cinematográfico, assiste-se a
uma transformação dos aspectos característicos da cate-
goria do tempo, quer dizer que se encontram reunidos
planos que não remetem apenas para o passado e para o
presente, mas também para o futuro / A Guerra Acabou
de Alain Resnais, onde a montagem curta é aplicada com
essa finalidade /.
Quanto à inserção de épocas diferentes no entrelaçado
de períodos vários já vista em Intolerância / sobretudo na
246 Ensaios de Semiótica Soviética
cena final onde o realizador utilizou com esse propósito
uma montagem de fragmentos extremamente curtos em
ritmo sustenido / vê-se desenvolvida em certas obras de
Eisenstein, tais como Que Viva México!, M. M. M. / que,
neste aspecto e nalguns outros, se aproximam do romance
de Bulgakov Margarida e o Mestre /. A condensação do
tempo é uma constrição para qualquer filme, dadas as
restrições de duração a que tem de se submeter. Os casos
em que o tempo da representação concorda com o real
do acontecimento / o minuto de silêncio na Bolsa em
O Eclipse / são considerados como excepcionais. A utiliza-
ção do tempo cinematográfico nalguns dos melhores fil-
mes consagrados às artes plásticas, como Guernica, de Alain
Resnais, pode ser considerada como uma restauração, sob
forma nitidamente cinematográfica, da montagem / «verti-
cal» com emprego de sons que, em Guernica, reproduzem
a atmosfera da guerra/, do ritmo de percepção do quadro
que contém no seu esquema. Mas, diferentemente do que
se passa na pintura, as «costuras» / segundo a palavra do
padre P. Florenski, que sublinhou o papel dos esquemas
temporais nas artes plásticas / que desempenham o papel
de elementos de demarcação formais, tornam-se, no caso
de Resnais, objectos exteriores ao quadro algumas obras-
antigas de Picasso sobre o tema de Espanha, jornais, do-
cumentos da guerra civil espanhola, todos os signos graças
aos quais o filme se parece com uma collage na linha das
obras cubistas de Picasso. Com este exemplo vê-se que, in-
troduzindo-se na linguagem do cinema, os signos vindos
de outras artes são transpostos de maneira que fica real-
çada a estrutura do seu âmbito no tempo - aspecto cen-
tral do cinema.
AS INVESTIGAÇÕES SOVIÉTICAS
NO CAMPO DA SEMIÓTICA NOS ÚLTIMOS ANOS
(1973)
D. M. SEGAL
Por um lado, a história das investigações semióticas na
Rússia conta, pelo menos, cem anos (se se consideram os
seus começos nos trabalhos do grande filósofo russo A. A.
Potebnai ~'~); por outro lado, os trabalhos em que se afir-
maram conscientemente ou princípios semióticos e dos
quais se pode afirmar que constituem uma orientação se-
miótica particular (e como tais se reconhecem) começaram
a aparecer quando muito há dez anos. Nos cem anos trans-
corridos desde o momento em que apareceram os primei-
ros trabalhos que tratam do aspecto sígnico da linguagem,
as ideias semióticas na Rússia manifestaram-se fundamen-
talmente no campo das ciências filosóficas: linguística, fol-
clore, crítica literária. E até quando estas ideias surgiam
noutras ciências (o exemplo mais evidente é o das concep-
ções de L. S. Vygotskü em psicologia) orientavam-se inva-
riavelmente para a actividade linguística e para a litera-
tura ~2~. Portanto, na história da ciência russa, a linguística
é o difusor das ideias semióticas nos outros sectores das
ciências humanísticas. A linguística russa (J. A. Baudoin
de Courtenay, N. S. Trubetzkoi, E. D. Polivanov, R. O. Já-
kobson) exerceu sempre influência sobre as ciências hu-
manísticas; é precisamente por isso que, desde que se ini-
ciou a constituição da semiótica como orientação em si,
há dez anos, as suas ideias, formuladas com base na lin-
guïstica, passaram também rapidamente para outros sec-
tores das investigações humanísticas. O traço específico
de tais investigações na Rússia é que, enquanto no Ocidente
os diversos sectores das ciências asociais» se encontram
isolados uns dos outros, esses mesmos sectores na Rússia
248 Ensaios de Semiótica Soviética
á
estão unidos pela influência linguística comum, na medida
em que esses sectores se reconhecem como semióticos.
Portanto, na nossa prática científica, a denominação «se- j
miótica» refere-se apenas à ciência abstracta sobre as pro-
priedades universais dos sistemas sígnicos, mas, principal-
mente, a uma determinada orientação científica, apenas
em formação, que abrange aquilo que noutros países é es-
tudado por ciências como a antropologia cultural (social,
estrutural), a psicologia social, a etnografia histórica, o es-
tudo do conteúdo, a poética, a crítica de arte, etc.
Semelhante situação tem tanto vantagens como in-
convenientes óbvios. Por um lado, elabora-se um novo e
em vários aspectos original modo de conceber todas estas
disciplinas tão diferentes, o que permite descobrir aspectos
que foram esquecidos pelas disciplinas tradicionais por
causa de certa inércia, de certo isolacionismo, etc.: a am-
plitude da concepção pode deste modo compensar as ine-
vitáveis generalizações e simplificações. Por outro lado, é
evidente que muitos aspectos da denominada «semiótica»,
e concretamente tudo o que se refere ao ciclo psicológico
das ciências, exige uma didáctica, uma instrumentação, uma
experimentação especiais e não pode ser examinado de ma-
neira satisfatória exclusivamente do ponto de vista dos
fenómenos linguísticos. Portanto, as investigações de se-
miótica psicológica não são efectuadas pelos estudiosos de
que se fala neste artigo; em geral, estas investigações en-
contram-se ainda em estado embrionário. Também a socio-
logia está separada da semiótica e ainda não logrou, por
outro lado, ser parte dela, na medida em que se ocupa do
aspecto pragmático do processo sígnico e é evidente que
tais tendências ver-se-ão reforçadas no futuro. De qualquer
maneira, na actualidade a semiótica subsiste não só como
orientação científica em si, que estuda toda uma série de
objectos que entram no campo de diversas ciências huma-
nísticas e naturais, mas também continua a ampliar o âm-
bito das suas aplicações: estão sempre a ser descobertos as-
pectos semióticos em novos sectores.
O primeiro simpósio sobre semiótica celebrou-se em
Moscovo em finais de 1962; apesar disso, já cinco anos
antes se tinham começado a manifestar as tendências fun-
damentais que levaram à formação da semiótica como ,
orientação em si. Em 1957, o Instituto de Linguística or- ;
ganizou um debate sobre a relação entre análise sincrónica
Prática de Análise: Leituras Semióticas 249
e estudo histórico das línguas ~3>, no qual se examinou o
problema do signo e do significado (particularmente na
comunicação de A. A. Reformatskü «Principy sinkhronogo
opisanija iazyka» [Princípios de descrição sincrónica da
linguagem]). A discussão (assim como o exame dos pro-
blemas do método estrutural, que apareceu mais ou menos
no mesmo período, na revista Voprosy iazykoznaüa) teve
uma grande importância na introdução das ideias e noções
fundamentais da semiótica saussuriana no uso científico,
mas apoiando V. N. Toporov poder-se-ia dizer com toda a
razão: «O tema deste debate é sumamente actual, apesar de
não se poder qualificar de oportuna esta reunião, já que
poderia perfeitamente ter sido realizada há trinta anos.» ~°~
E, efectivamente, a teorização abstracta, característica de
semelhantes discussões naquela época, já não podia satis-
fazer ninguém: eram necessárias efectivas investigações
práticas. Não se pode deixar de sublinhar a influência que
tiveram na formação da semiótica duas disciplinas científi-
cas absolutamente distintas; dum lado, a tradução mecâ-
nica e a elaboração automática da informação e, de outro,
a mitologia (e a linguística) histórico-comparada. Em 1955-
-1956, iniciou a sua actividade em Moscovo a Associação
para a Tradução Mecânica, em cujos trabalhos tomavam
parte V. V. Ivanóv, I. I. Revzin, O. S. Kuznekov, B. A. Us-
penskü e outros linguistas que tinham abordado os proble-
mas da linguística em relação com a tradução mecânica.
Desde o princípio que se sentiu a necessidade de formular
uma teoria linguística que satisfizesse não apenas as exi-
gências práticas da tradução mecânica, mas que abarcasse
também qualquer tipo de actividade linguística. A Asso-
ciação para a Tradução Mecânica publicou uns boletins em
stencil que constituem agora uma raridade bibliográfica.
Nesses boletins foram publicados os artigos de V. V.
Ivanóv Preobrazovanie soobscenü i preobrazovarcie kodov
[A transformação das mensagens e a transformação dos
códigos], Teorema Gedelja i lingvisticeskie paradosky [O
teorema de Gõdel e os paradoxos linguísticos] e outros,
sucessivamente apresentados como comunicações na I Con-
ferência Pansoviética sobre Tradução Mecânica, celebrada
em Moscovo em 1958. Esses trabalhos formulavam as teses
mais gerais sobre o processo linguístico como comunicação
e sobre a linguagem como sistema sígnico, introduziam
os conceitos de situação, de mensagem (texto), código, cor-
1
250 Ensaios de Semiótica Soviética
relação dos signos (e em particular, a sua equivalência),
em relação com o problema geral da traduzibilidade ~5~.
Estabeleceu-se a unidade de princípio da ciência linguís-
tica: aA linguística é uma ciência única porque todos os
seus sectores se ocupam de operações do mesmo tipo, vi-
radas para o estabelecimento das relações entre os siste-
mas linguísticos.» ~6~
A conferência sobre tradução mecânica celebrada em
1958 ~'~ foi o primeiro encontro importante que reuniu to-
dos aqueles que se ocupavam não apenas dos problemas
concretos da tradução mecânica, mas também da linguís-
tica estrutural em geral. Nesta conferência, as questões pu-
ramente semióticas foram, duma maneira ou de outra, o
tema das comunicações de V. V. Ivanóv, de V. N. Toporov,
de I. A. Sokolianskü (cujos excelentes trabalhos sobre a
instrução dos cegos e curdos-mudos foram singularmente
importantes para o estudo dos problemas do signo, do
significado, do referente, etc.), A. R. Luria, A. A. Zinoveev,
V. K. Finn e D. G. Lachuti. No seu conjunto, contudo, a
conferência orientou-se para tarefas práticas; portanto, os
aspectos semióticos não foram tratados em si mesmos,
mas na sua aplicação na tradução mecânica. A única ex-
cepção foi, talvez, a comunicação de V. N. Toporov O ne-
kotrych analogijach k problemam in metodam sovre-
mennogo teoreticheskogo jazykozmaüa v trudach drevnein-
düskich grammatikov [Sobre algumas analogias com os
problemas e métodos da linguística teórica contemporânea
nos trabalhos dos antigos gramáticos indianos], sobre a
qual falaremos um pouco mais adiante. V. V. Ivanóv, além
das comunicações que acabamos de citar, leu o relatório
Lingvisticheskie voprosy stichotvornogo paredova [Ques-
tões linguísticas da tradução poética], que mais tarde foi
reeditado de maneira ampliada e reelaborada numa com-
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