60 Obra: dicionário de sociologia autor: raymond boudon e outros



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Individualismo metodológico: O princípio do individualismo metodológico define um método importante das ciências sociais. Segundo este, princípio, explicar um fenómeno colectivo é sempre - pelo menos no ideal - analisar esse fenómeno como a resultante de um conjunto de acções, de crenças ou de atitudes individuais.

Segundo esta perspectiva, a explicação nas ciências sociais comporta, portanto, sempre uma dimensão psicológica. Assim, explicar-se-á, por exemplo, a baixa de uma taxa de natalidade ou de criminalidade mostrando como e porquê condições mutáveis levaram os actores sociais a comportar-se diferentemente dos seus predecessores. O individualismo metodológico é correntemente acompanhado de uma concepção "racional" da acção (sendo suposto que o actor social tem boas razões para comportar-se como o faz). A pertinência do individualismo metodológico foi por vezes contestada: pelos durkheimianos que herdaram de Augusto Comte a sua hostilidade à psicologia e por aqueles dentre os neomarxistas que tendem a representar o indivíduo como o simples joguete das "estruturas" sociais. O individualismo metodológico opõe-se ao holismo metodológico.

R. B.

- Birnbaum, Leca (1986).


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Influência: A influência pode ser entendida num sentido genérico ou num sentido restrito: na primeira acepção, relativamente usual, aplica-se a toda a forma de acção eficaz sobre outrem, seja qual for a sua modalidade; na segunda, mais elaborada, designa antes um modo de comunicação de que a persuasão constituiria a mola principal, senão única. Convém lembrar o papel de pioneiro desempenhado neste domínio por G. de Tarde, mesmo se este último utiliza um outro tipo de vocabulário. Por um lado, na sua teoria geral, Tarde (1890) refere-se sucessivamente à sugestão, ao hipnotismo, à magnetização para caracterizar o papel e a eficácia atribuídos à imitação: o tema da influência está aqui presente sob uma forma implícita. Por outro lado, em alguns dos seus ensaios, e nomeadamente no seu estudo da conversação, Tarde (1901) revela-se um observador atento de uma influência essencialmente persuasiva da qual as vicissitudes da opinião são muito largamente tributárias.Este interesse pela análise dos processos anuncia as pesquisas ulteriores de P. Lazarsfeld e dos seus colaboradores (1944, 1955). As investigações no terreno conduzidas por este último contribuíram, em primeiro lugar, para abalar o mito de uma propaganda omnipotente que agiria sobre indivíduos isolados na massa, fazendo ressaltar o papel decisivo do contexto social. A análise das campanhas eleitorais pôs em evidência, nomeadamente, a existência de guias de opinião que ao mesmo tempo transmitiriam e traduziriam para os membros dos seus grupos primários as mensagens dos meios modernos de informação colectiva. A atenção desta equipa de pesquisa cristalizou-se assim pouco a pouco nas relações de influência, de que foram estabelecidas algumas características principais: o influenciador não goza geralmente de um estatuto mais elevado mas pertence na maioria das vezes ao mesmo meio que o(s) influenciado(s); tira partido de um certo grau de competência num domínio bem determinado ao qual se limita normalmente a sua esfera de influência. Os estudos de laboratório contribuíram, igualmente, para uma percepção mais profunda dos processos de influência: para além das tarefas indispensáveis à limpeza do terreno, firmaram hipóteses fecundas e permitiram assim a S. Moscovici (1979) pôr em evidência o papel das minorias activas na génese das inovações. Este desenvolvimento das pesquisas empíricas não deixou de ter incidência na clarificação progressiva dos conceitos: hoje somos, de facto, menos tentados a considerar poder e influência como conceitos intercambiáveis, à maneira de R. Dahl (1961), cujos esforços para construir uma metodologia rigorosa de análise de decisões convém entretanto saudar; como o demonstrou T. Parsons (1967), a influência deve ser antes compreendida como uma capacidade de persuadir, fazendo apelo a razões positivas para conformar-se com as sugestões do influenciador.

F. C.

- Chazel (1964), Merton (1949), Montmollin (1977).


Infra-estrutura/superstrutura: Na terminologia marxista, a infra-estrutura de uma sociedade é constituída pelas relações de produção e pelo conjunto dos meios materiais e técnicos que elas põem em movimento. A superstrutura, noção complementar, designa o conjunto das instituições políticas, jurídicas

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e culturais que se elevam sobre essa infra-estrutura e a reflectem ideologicamente.

Este par de noções procura mostrar que há articulações entre os diferentes níveis da realidade social, mas não faz mais que assinalar o problema sem resolvê-lo. F. Engels, para o fim da sua vida, advertiu contra um determinismo económico demasiado afirmado, sublinhando os efeitos de retroacção da superstrutura sobre a infra-estrutura. Na sua opinião, a determinação económica só pode jogar, em última instância, através de múltiplas mediações. Mas esta correcção nem por isso fornece a chave para compreender a cadeia das mediações, ou seja, as articulações concretas das práticas umas sobre as outras. Muitos marxistas admitem agora que a infra-estrutura económica não determina propriamente os outros níveis da prática, mas fixa limites às suas variações e às suas condições de afirmação.

Admitem igualmente que, em certas conjunturas em que põem de novo em questão equilíbrios antigos, os abalos culturais ou ainda políticos podem ter um papel motor nas mudanças sociais.

J.-M. V.

- Giddens (1984).


Iniciação (rito de): Rito de passagem acompanhado de provas, destinado a introduzir certos candidatos num novo estatuto, por exemplo, o de uma classe etária na idade pubertária, de uma confraria para recrutamento selectivo ou de uma sociedade secreta.

Segundo A. van Gennep (1909), estes ritos comportam três etapas: 1. separação e ruptura com o mundo profano; 2. marginalização num lugar sagrado e formação para um novo modo de ser; 3. ressurreição simbólica e agregação na comunidade, com um estatuto superior. Após uma morte simbólica, os noviços, a cargo de instrutores, são submetidos a uma ascese, fazem a aprendizagem de ritos e recebem a revelação de um saber sobre a sociedade que os acolhe. A mudança de estatuto manifesta-se na altura de festas solenes por um novo nome, adereços, marcas corporais (por exemplo, circuncisão, sacrificação) e por vezes uma nova linguagem, próprios dos iniciados. A iniciação marca uma transformação memorável na vida do indivíduo e requer uma fidelidade às normas da comunidade em que os postulados são introduzidos.

C. R.

- Bettelheim (1971), Cazeneuve (1958), Eliade (1976).


Inovação: Este termo ganhou um sentido muito amplo na sociedade contemporânea. Com efeito, é habitualmente definido como uma transformação que resulta da iniciativa de um ou vários indivíduos e que afecta, conforme os casos, a economia, a política, a ciência ou ainda a cultura, etc.

Cinco conotações deste termo merecem ser assinaladas: 1. há uma desproporção entre a "causa" (por exemplo, a iniciativa de um "inovador") e o "efeito" (transformar o modo de vida de uma população eventualmente importante); 2. o impacte da inovação é considerado como globalmente benéfico, ou seja, considera-se que ela contribui para um progresso (económico, social); 3. tal impacte é encarado sob vários aspectos ao mesmo tempo: se se considera apenas o aspecto científico e técnico, utilizam-se de preferência as expressões "invenção" e "descoberta"; 4. esse impacte não é nem anódino (em cujo caso nos contentamos em falar de "melhoria") nem muito importante (fala-se


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então mais de "revolução" ou de "mutação"); 5. a inovação só pode dizer-se tal depois de ter começado a ser aceite, difundida; por outras palavras, depois de ter sido objecto de imitações.

A carreira deste termo apresenta-se indissociável da história das teorias do progresso e das crises sociais: Saint-Simon, por exemplo, utiliza-a num sentido que não está muito afastado daquele que prevalece actualmente. Mas é sobretudo G. de Tarde que lhe confere um estatuto privilegiado, pois que vai até ao ponto de explicar a evolução social pela combinação da invenção e da imitação (1890). J. Schumpeter elabora (1912) uma concepção análoga na sua análise do desenvolvimento económico. Este resultaria, quanto ao essencial, das novas combinações devidas aos empreendedores, isto é, da introdução de produtos novos, de novos métodos de produção, da conquista de novas fontes de matérias-primas, da abertura de novos mercados, etc. Estas combinações permitiam, na sua opinião, explicar ao mesmo tempo o progresso e as crises periódicas da economia.

Actualmente, a noção de inovação ocupa uma posição importante sobretudo na sociologia das organizações (March, Simon 1958) e na sociologia das ciências (Lécuyer 1978). Há muito interesse, nestas disciplinas, pelas condições favoráveis à génese e à origem das inovações. Ressalta desses trabalhos, e em particular dos que T. Kuhn (1962) consagrou às revoluções científicas, que os verdadeiros inovadores não são tanto os que respondem mais eficazmente às questões que toda a gente se põe, como os que sabem pôr questões novas.

A. B.
Inquérito: No sentido mais geral, toda a procura de informações para responder a um problema. Em sociologia, inquirir é interrogar um certo número de indivíduos em ordem a uma generalização.

O inquérito opõe-se aqui, portanto, à observação, que utiliza outras técnicas que não a interrogação, e à experimentação, em que o pesquisador cria e controla a situação que pretende estudar. Mas o inquérito sociológico opõe-se também ao inquérito administrativo ou judicial, pelo facto de ter por objectivo não um conhecimento pontual mas um conhecimento generalizável. O que interessa ao sociólogo não são os indivíduos no que eles tém de pessoal mas a possibilidade de tirar respostas individuais das conclusões gerais. Tecnicamente, trata-se primeiro de delimitar o domínio sobre o qual procuramos informações, quer estas tenham por fim tornar possível a descrição do domínio quer visem comprovar as ideias que se tem sobre esse domínio, a saber: hipóteses. Determina-se então, por um lado, a série de questões, factuais e/ou de opinião, que nos propomos submeter aos inquiridos e, por outro, a amostra à qual contamos dirigir-nos. Há técnicas muito precisas de escolha e aferição de amostras, cujo respeito é uma condição da generalização; mas não há método automático de elaboração do questionário, donde decorre que todo o inquérito é directamente tributário do instrumento empírico elaborado para a colecta da informação. A administração do questionário à amostra retida permite, em seguida, essa colecta: obtêm-se então os dados brutos, que é preciso depois verificar, analisar e interpretar. No caso mais corrente dos inquéritos quantitativos por sondagem, a verificação visa traduzir as respostas de cada inquirido em informações
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codificadas que permitem a elaboração de estatísticas de respostas. São estas que são analisadas (em particular com a ajuda de testes de significação) e interpretados. Falta apenas redigir o relatório de inquérito onde se procura responder às questões colocadas inicialmente.

Todo o inquérito, seja ele qualitativo ou quantitativo, põe, por um lado, o problema da agregação das respostas individuais e, por outro, o da sua generalização. A utilização correcta de técnicas precisas tende a trazer uma resposta a estes dois problemas. Mas as conclusões de um inquérito são sempre uma estimativa do objecto estudado. Mantém-se, no entanto, o facto de se tratar de um instrumento de recolha de informação insubstituível, que o sociólogo não poderá dispensar.

Y. C

- Ghiglone, Matalon (1978).


Instituição: No sentido geral, uma instituição é uma componente concreta de uma sociedade real em oposição com os elementos analíticos do sistema social concebido como instrumento de análise de toda a sociedade possível (Parsons 1951). Mais precisamente, uma instituição consiste num conjunto complexo de valores, de normas e de usos partilhados por um certo número de indivíduos.

Como pertence ao mesmo tempo ao vocabulário quotidiano (a instituição familiar), ao da acção política ("é preciso preservar as instituições") e finalmente ao da ciência política, o termo "instituição" conheceu uma fortuna ao mesmo tempo prolífica e caótica em sociologia. Desde cerca de 1960, o uso estabilizou-se mais ou menos à volta das concepções propostas pelo sociólogo americano T. Parsons (1951).

Segundo ele, podemos definir como instituição todas as actividades regidas por antecipações estáveis e recíprocas entre os actores que entram em interacção. Para tomar um exemplo elementar, o espectador que fez fila para o cinema (forma primitiva de instituição) ficaria evidentemente desconcertado se a empregada da bilheteira lhe desse a sua opinião pessoal sobre a qualidade do filme. Ambos sairiam do seu papel.

Para que estas actividades estáveis e recíprocas se desenvolvam, é indispensável que cada um dos actores em presença renuncie a tirar partido no curto prazo das vantagens que o seu papel momentâneo pode proporcionar-lhe e que conceda a prioridade a mais longo prazo às exigências da sua tarefa e ao ponto de vista dos seus parceiros. Cada um deve "por-se no lugar de outrem" (Boudon, Bourricaud 1982).

A aprendizagem deste comportamento institucional produz-se primeiro na família, evidentemente. Já para Montaigne, "a instituição dos filhos" designa a aprendizagem de valores e de práticas comuns, como a língua, as maneiras, a moralidade. Mas estas orientações absolutamente gerais não bastam para garantir por si sós nem a previsibilidade nem a regularidade do conjunto dos comportamentos da criança tornada adulto (Boudon, Bourricaud 1982). É. Durkheim (1895) sublinhou ao mesmo tempo a importância e os limites desta primeira socialização. As instituições são sistemas normativos, para os quais a primeira aprendizagem não pode iniciar em definitivo.

É preciso sublinhar, portanto, a importância das noções de socialização e de interiorização da regra. É por isso que é justo referir com R. Boudon e F. Bourricaud (1982)


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que "a teoria da instituição funciona em alternativa com a teoria da luta de classes". Não é antagónica com ela; simplesmente explica melhor certos fenómenos, particularmente processos sociais que assentam na confiança, e isso mesmo que o risco de exploração não esteja excluído.

B.-P. L.


- Ben David (1971), Bourricaud (1977), Eisenstadt (1968), Chazel (1974a), Gallino (1978), Gould, Kolb (1964).
Integração: O termo "integração" não tem sentido bem fixo e definido em sociologia. Como na linguagem corrente, pode designar um estado de forte interdependência ou coerência entre elementos ou então o processo que conduz a esse estado. Além disso, é aplicado quer a um sistema social quer à relação indivíduo-sistema social.

Este último uso parece demasiado laxista. Melhor seria reservar o uso da palavra "integração" a uma propriedade do sistema social. Era de facto o que fazia É. Durkheim em Le Suicide (1897) ao enunciar a lei segundo a qual "o suicídio varia na razão inversa do grau de integração dos grupos sociais de que o indivíduo faz parte". O afastamento do indivíduo da vida social, o excesso de individuação, por outras palavras, o egoísmo, não são mais do que uma consequência da falta de integração ou de coesão ou de consistência dos grupos sociais de pertença. Um grupo social, segundo Durkheim, está integrado na medida em que os seus membros: 1. possuem uma consciência comum, partilhando as mesmas crenças e práticas; 2. estão em interacção uns com os outros; 3. sentem-se votados a fins comuns. Estes três elementos são ilustrados sucessivamente de maneira privilegiados pelas três séries de dados em que se apoia Durkheim na sua análise do suicídio egoísta; a sociedade religiosa, a sociedade doméstica, a sociedade política.

PH. BD.

- Besnard (1987).


Intelectual: A palavra "intelectual" é recente: data do caso Dreyfus, mas não faz mais que denominar de outro modo uma categoria social que se designava no séc. XVI pela palavra "humanista" e no séc. XVIII pela palavra "filósofo". Neste sentido, os intelectuais são aqueles que, mobilizando o seu prestígio ou a sua autoridade de criadores, contribuem para exprimir e para popularizar novos valores (ou para defender os antigos). Erasmo, Voltaire, É. Zola são talvez as ilustrações mais célebres do intelectual neste sentido da palavra.

O papel do intelectual à Zola põe um problema sociológico. Porque é que um criador que adquiriu os seus títulos de nobreza no domínio da arte, da literatura ou da ciência pode ocasionalmente tirar partido deles para propor o que é correcto em matéria de valores? Na realidade, a influência do intelectual é muitas vezes apenas aparente: a sua mensagem só é eficaz na medida em que está conforme com as crenças do seu auditório; ele é acolhido com reconhecimento sobretudo porque dá uma voz e uma expressão a essas convicções.

Mas a palavra "intelectual" emprega-se também num sentido mais amplo, para designar todos os que contribuem para a produção, confirmação ou difusão de valores, de "visões do mundo" ou de conhecimentos, nomeadamente quando esses conhecimentos comportam consequências axiológicas ou mais geralmente filosóficas. As relações complexas que os intelectuais mantêm
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com os seus públicos ou, como poderá ainda dizer-se, os seus mercados dependem do domínio em que desenvolvem a sua actividade. Assim, o matemático dirige-se normalmente a um público restrito, o romancista a um público alargado. O caso do filósofo ou do historiador sugere que o intelectual pode por vezes "escolher" dirigir-se ao mercado restrito dos seus pares ou a um público mais alargado. Esta liberdade faz com que, segundo as épocas, as conjunturas intelectuais, o estado das instituições universitárias e múltiplos outros factores, a produção intelectual tenha tendência a dirigir-se de preferência a um tipo de público ou a um outro.

Assim, a nossa época caracteriza-se por um incontestável ascendente dos media. Isso tem como consequência fazer do "vedetariado" uma dimensão importante do nosso sistema de estratificação social. Por isso vemos muitos sábios, historiadores, filósofos escolherem assuntos e modos de expressão susceptíveis de atrair a atenção do público alargado a que os media se dirigem. Quando o mercado dos media é dominante, a função cognitiva dam produção intelectual tende a passar para segundo plano.

R. B.

- Aron (1955), Cochin (1921), Tocqueville (1856).


Interaccionismo simbólico: O interaccionismo simbólico não é uma escola de pensamento bem delimitada. A expressão data de 1937 (Blumer 1969), mas as origens conceptuais são muito mais antigas. Os pragmatistas anglo-saxões (C. S. Peirce, W. James, J. Dewey) introduziram algumas ideias essenciais como as de comunidade de interpretação dos signos, de construção do "self" (ou eu individual) pelo juízo dos outros, de instrumentalidade do pensamento e finalmente de primado da acção no conhecimento. Mas foram autores como G. Simmel (1917) e G. H. Mead (1934) que serviram de referência principal à eclosão da corrente.

A originalidade do interaccionismo simbólico é o facto de considerar a acção recíproca dos seres humanos e os sinais que a tornam visível como o fenómeno social mais importante. Nesta óptica, entidades como a sociedade, as instituições, as classes sociais ou a consciência colectiva não têm realidade independente das interacções sociais. Para Mead, por exemplo, uma instituição é a resposta comum trazida, sob formas variadas, pelos membros de uma comunidade a uma situação particular. Longe de serem determinadas por estruturas ou sistemas, as condutas sociais encontram o seu princípio no seu próprio desenrolar temporal. Para o interaccionismo simbólico, o comportamento humano não é uma simples reacção ao meio ambiente mas um processo interactivo de construção desse meio. É o que está expresso pela fórmula de W. I. Thomas: "Se os homens definem sìtuações como reais, elas são reais nas suas consequências." Este processo é interactivo, porque a actividade individual só é possível pela pertença a uma comunidade de significação. Pelo facto de podermos dar a mesma significação aos mesmos signos, podemos compreender a actividade de outrem, isto é, captar o ponto de vista do outro sobre o que se está a passar, fazer previsões sobre as suas actividades futuras e modificar o nosso próprio comportamento em função do de outrem. A consciência de si próprio e do mundo social está assim estreitamente dependente da participação em actividades comuns e sinais visíveis sob os quais


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essas actividades se tornam mutuamente compreensíveis.

O interaccionismo simbólico esteve vigoroso sobretudo nos Estados Unidos da América nomeadamente com os estudos urbanos - interaccionistas antes do termo - da escola de Chicago* (E. C. Hughes, R. E. Park), as teorias do labeling ("etiquetagem": H. S. Becker 1963), as pesquisas de E. Goffman sobre as "instituições totais" (1961) ou os ritos de interacção (1967) e a etnometodologia (Garfinkel 1967). Viu-se aumentar nestes últimos anos o número das pesquisas sociológicas francesas inspirando-se numa ou noutra das versões do interaccionismo simbólico.

P. P.

- Herpin (1973).


Interesse - vd. Utilitarismo
Investigação-acção: Postura das ciências sociais que associa a análise à transformação da realidade estudada. O conceito (action-research) vem da psicologia social americana (Lewin 1948).

A epistemologia clássica da sociologia adverte contra os efeitos de interacção que surgem entre o analista e o meio analisado: a posição dos promotores da investigação-acção consiste, pelo contrário, em colocar os efeitos de interacção no centro dos dispositivos de pesquisa. Uma primeira acepção próxima do método experimental faz da intervenção do pesquisador uma simples modalidade de investigação destinada a compreender os processos de transformação. No limite oposto, a acção é de facto a finalidade última, e a análise não é mais que o desvio obrigatório da gestão de uma mudança. Em França, a investigação-acção desenvolveu-se em campos como a sociologia do sistema educativo ou a das instituições. A. Touraine (1978) aplicou "a intervenção sociológica" ao estudo dos movimentos sociais. Entretanto, numa altura em que as ciências exactas debatem os seus próprios processos de validação, a investigação-acção e a reflexão epistemológica que a acompanha mantêm-se relativamente esquecidas, ou consideradas pouco operatórias.

D. SN.
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J
Judiciárias (sociologia das instituições): Nas suas análises do processo de racionalização própria das sociedades ocidentais, M. Weber atribui já uma importância particular ao papel das instituições judiciais e ao das profissões envolvidas (Weber 1922a). Confrontadas com as aspirações sociais, com as evoluções económicas, políticas ou éticas, as instituições judiciais e os seus agentes têm de facto de tentar constantemente o compromisso, a adequação entre a tomada em consideração destes movimentos de sociedade e o respeito da racionalidade jurídica, a preservação de uma legalidade. É este trabalho que convém a uma sociologia das instituições judiciais empreender, evidenciando os factores em jogo. Deve admitir-se que esses factores não são unicamente os avançados no discurso jurídico (por exemplo, a tarefa de ajustamento entre o direito e os "costumes" confiada à jurisprudência), mas encontram-se sobretudo nas próprias características sociais das instituições.

Os problemas crescentes de regulação a que estão expostas as sociedades modernas (Crozier 1980) manifestam-se ao nível dessas instâncias particulares. É por isso que a sociologia das organizações e a das profissões foram primeiramente solicitadas para contribuir para a modernização considerada necessária face ao aumento do contencioso, ao "atravancamento dos aparelhos do Estado" (Belley 1986) e às transformações das esperanças de justiça. Mas o que é considerado como o pôr em causa da divisão e da hierarquização do trabalho jurídico, como a importância crescente das regulações de tipo administrativo em relação às regulações de tipo judiciário, como o desenvolvimento substitutivo ou complementar de modos informais de sistema de mediação na solução dos conflitos, é muitas vezes associado, por exemplo, àquilo que seria o deslocamento de um poder "jurídico-discursivo" para um poder de "normalização" (Foucauld 1976), de um modelo de justiça "legalista-liberal" para um modelo de justiça "normativa-tecnocrática" (Ost 1983). Uma tal associação tenderia a provar que uma sociologia das instituições judiciais e dos seus agentes não poderá excluir a questão no fundamento da sua especificidade: a das transformações do estatuto e da função social do direito no seio da sociedade global.

J. CE.


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