Eriúgena, o rebelde
Herdeiro da rebeldia irlandesa, o misterioso João Escoto Eriúgena, nascido num ano ignorado e morto em outro ainda mais desconhecido, foi um dos filósofos mais originais da Idade Média. Conhecia grego à perfeição e traduziu Dionísio, o Aeropagita para Carlos II, o Calvo, entre os anos 860 e 862. Ao seu livro mais célebre, De divisione naturae, devemos a existência de Giordano Bruno e de Spinoza, o que não é pouco.
O papa Honório III, assustado, exortou a comunidade da Igreja a procurar o texto para queimá-lo. Borges comentou essa queima: "De divisione naturae, livro V, a controvertida obra que pregava, ardeu na fogueira pública. Medida acertada que despertou o fervor dos bibliófilos e permitiu que o livro de Eriúgena chegasse a nossas mãos [...].”
Eriúgena, ao combater a heresia do teólogo Gottschalk, que responsabilizou Deus por ter condenado quase todos os homens ao inferno, incorreu em outra negação ao dizer, em De praedestinatione, que ninguém está condenado ao inferno porque Deus é onipotente, e não existe um só ser distante dele.
Numa nota curiosa (e seguramente falsa), Guilherme de Malmesbury atribuiu a morte de Eriúgena às punhaladas das crianças da escola abacial onde ensinava, que estavam fartas, suspeita-se, dos maus-tratos do filósofo.
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