Sam bourne o código dos justos



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VINTE E OITO
SÁBADO, 21H50, MANHATTAN
Uma longa fileira de elevadores, talvez dez, e quase nenhuma alma para usá-los. Todos os grandes escritórios na certa eram assim nos fins de semana: continuavam funcionando, ainda com um guarda na mesa da recepção e luzes acesas no refeitório, mas apenas uma sombra do que eram nos dias de semana.

O saguão do prédio do New York Times parecia especialmente aban­donado. Na segunda-feira às 10 da manhã, esse espaço ficaria apinha­do, quando gerentes de circulação acotovelavam-se com desenhistas gráficos entupindo os elevadores, metade deles agarrados a xícaras de café compradas a preços exorbitantes. Agora o mesmo lugar achava-se vazio e silencioso, apenas com o som que anunciava que um elevador subira alguns andares e voltava mais uma vez para o térreo.

Will cumprimentou com um aceno de cabeça o guarda de plantão, que lhe lançou apenas um olhar de relance. Assistia a algum jogo num monitor de TV que, Will tinha certeza, devia estar sintonizado nas ima­gens do circuito fechado da saída de incêndio, da entrada dos fundos ou qualquer coisa assim. Usou seu cartão de acesso e dirigiu-se para a redação.

Ficou alegre de estar ali. Trabalhava para o Times havia pouco tempo, mas aquela redação já era bem familiar. E não podia enfrentar a volta para casa. Só a idéia de fechar a porta da frente e ouvir o silên­cio o fazia estremecer. Os quadros na parede; as roupas de Beth no ar­mário; seu cheiro no banheiro. Até imaginar a situação o assustava.

Além disso, não fora o que Yosef Yitzhok o mandara fazer em pes­soa, antes de começar a comunicar-se por enigmas enviados pelo celu­lar? Procure no seu trabalho. Agora, por meio dos Provérbios 10, havia sido mais específico.

Will apertou o passo quando entrou na redação, deliberadamente evitando contato visual com alguém que pudesse reconhecê-lo. Àque­la hora da noite, era, sobretudo, o pessoal da produção, não seus amigos, mas mesmo assim manteve a visão periférica desligada, concentrado apenas em chegar à sua mesa.

Ao se aproximar mais, vislumbrando algo sobre a fina parede divi­sória, seu coração disparou. Havia uma caixa sobre sua cadeira. Pode­ria ser disso que YY falara? Fora inteiramente literal? Vá para a redação, está tudo lá à sua espera. Uma caixa contendo todas as respostas?

Will sabia que era pura fantasia, mas não conseguiu evitar. Precipi­tou-se pelos últimos metros, pegou a caixa, sopesou-a e rasgou o papel, tudo ao mesmo tempo. Muito mais leve do que sugeria o tamanho e tam­bém difícil de abrir. Por fim, as duas abas de cima se abriram, e ele enfiou o braço dentro e apalpou uma coisa mole e carnuda, como uma fruta. Que diabo era aquilo? Enfiou mais a mão; parecia úmida. Enganchou os dedos por uma espécie de abertura e, usando-a como uma alça, ergueu o objeto.

Uma abóbora de Halloween. Will enfiara os dedos numa cavidade ocular.

Preso, vinha um cartão.



A Companhia Melhores Relações convida-o para uma noite especial... Alguma babaquice de um relações-públicas. Os convites para even­tos promocionais em Nova York estavam se tornado cada vez mais absurdos e excessivos: por exemplo, pacotes da FedEx chegavam, com uma chave de prata que acabava sendo o ingresso para o lançamento do novo celular da Ericsson. O puritanismo inglês de Will não conse­guia entender esse conspícuo desperdício. Ergueu a abóbora e atirou-a na direção de uma lata de lixo; ela caiu e abriu-se com a pancada perto da mesa de Schwarz. Ele dificilmente notará.

Passou os olhos no resto da correspondência: circulares e comuni­cados à imprensa. Alguns pareciam recentes — um convite para uma festa no Consulado Britânico em Nova York; um panfleto para uma convenção feita por alguma organização evangélica, a Igreja do Cristo Renascido; uma notícia sobre o plano de saúde do Times — fora isso, a pilha de papel achava-se exatamente como a deixara na segunda-feira, o último dia em que tinha ido à redação.

Já fazia quase uma semana; parecia um século. Parecia uma antiga era de ouro — anterior ao seqüestro. Como fora sortudo, partindo de Nova York e depois explorando as estradas secundárias de Montana sem nada mais grave na cabeça que as preferências volúveis da editoria "Nacional". Claro que não apreciara isso: tinha sido até idiota o bas­tante para sentir-se mal sobre a matéria precipitada da enchente. Como se tivesse realmente alguma importância. Uma das músicas preferidas de Beth veio à sua mente, ou melhor, apenas uma frase dela. You don't know what you've got till it's gone. Você só sabe o que tinha depois de perder... Após um ou dois segundos, já não ouvia a voz de Joni Mitchell, mas a de Beth. Ela adorava cantar, e ele adorava ouvi-la. Acumulando poeira no canto da sala, havia um velho violão, uma recordação dos dias de estudante, quando ela dedilhava velhas melodias de amor e perda.

Ultimamente, raras vezes ela cantava; Will tinha de suborná-la para isso. Mas quando o fazia, o coração dele parecia alçar vôo.

Ele sentia os olhos ardendo. Queria desesperadamente chorar, en­tregar-se à lembrança que o pegara desprevenido. Queria desabar numa cadeira, fazer dos braços um travesseiro e prolongar a lembrança, agar­rar-se a ela como uma criança tenta agarrar uma bolha de sabão, não deixando desfazer-se.

Em vez disso, começou a procurar o livrinho de anotações que ti­nha deixado ali cinco dias atrás, o que preenchera em Brownsville, es­crevendo nos dois lados das folhas.

Não estava embaixo da pilha de comunicados à imprensa, nem das revistas e jornais que já começara a acumular, à espera de serem recor­tados. (Uma tarefa que gostava em teoria, mas que jamais realizava.) Verificou nas gavetas, que havia enchido no primeiro dia com Post-its, um punhado de cartões de visita, pilhas e um velho gravador cassete portátil para o caso de o minidisc pifar. Não encontrou nada ali. Procu­rou na cadeira, no chão e depois revistou todos os jornais de novo.

Olhou em volta das mesas, parando o olhar na foto do filho de Amy Woodstein que começava a andar, e que no retrato aparentemente lu­tava com a mãe, puxando-a para o lado. Os dois sorriam. Amy exibia uma expressão de alegria que nem ela nem mais ninguém jamais exibi­ra naquela redação.

De repente, ouviu a voz dela na mente. Mas meu conselho é que tran­que seus livrinhos de anotações quando Terry estiver por perto. E fale baixo ao telefone.

Will deu meia-volta devagar. Arrumada como sempre, a mesa de Walton parecia não ter nenhum excesso de papel. Apenas um bloco de papel ofício amarelo.

Will avançou bem devagar, olhando instintivamente à direita e à esquerda para ver se havia alguém por perto. Correu as mãos pela mesa, como para confirmar pelo toque se estava tão vazia e limpa como pa­recia. Nada. Verificou embaixo do bloco amarelo, para ver se havia outro escondido. Nada.

Agora levava a mão à gaveta da mesa. Ainda vigiando a sala, co­meçou a puxá-la. Trancada.

Sentou-se na cadeira de Terry Walton, pronto para começar a bus­ca pela chave. Tinha certeza de que devia estar em algum lugar: nin­guém guardava a chave de uma gaveta de escrivaninha num chaveiro, ou guardava? Correu a mão por baixo da mesa, esperando encontrá-la presa com fita adesiva. Nada.

Recostou-se na cadeira. Onde poderia estar? A mesa tinha apenas o bloco e dois lembretes dos dias de glória de Walton como correspon­dente estrangeiro: um busto de Lênin e, mais bizarro, um globo de neve em que a cena de inverno não era de crianças deslizando em trenós nem renas, mas de Saddam Hussein com aparência paternal, os braços es­tendidos para um menino e uma menina que corriam em sua direção. Um objeto kitsch do partido Baath, adquirido quando ele cobrira a pri­meira Guerra do Golfo. Sem pensar, Will pegou-o para sacudi-lo, ver a tempestade de neve cair no poderoso tirano iraquiano. Quando come­çaram a cair os primeiros flocos, viu a chave. Presa na base da bugi­ganga de plástico — uma chavezinha prateada.

— Boa noite, William.

Ele sentiu os músculos se retesarem. Fora flagrado. Girou a cadeira.

Mal enxergava o homem, parado à meia-luz. Apesar disso, ele reco­nheceu o perfil antes de distinguir as feições. Era Townsend McDougal, o editor executivo do New York Times.

— Oh, olá. Boa noite.

Ouviu o nervosismo, a exaustão e o pânico na própria voz.


  • Já ouvi falar de entusiasmo e dedicação, William, mas isto sem dúvida está além do chamado do dever: passar a noite de sábado labu­tando não apenas à própria mesa, mas à de um colega. Muitíssimo la­borioso.

  • Ah, sim. Perdão, eu estava... eu estava procurando uma coisa. Acho que talvez tenha deixado meu livrinho de anotações aqui. Na mesa de Terry, quero dizer.

McDougal fez uma encenação de esticar o pescoço e examinar a mesa, como se a procura fosse uma tarefa difícil, quando de fato a mesa se achava desobstruída e visivelmente vazia.

  • Não parece estar aí, não é, William?

  • Não, senhor. Não está.

Sentiu-se sem graça por aquele "senhor". Também teve consciên­cia de que ali sentado na beirada da cadeira — na de Walton — corria o risco de cair no chão. Era como se estivesse sendo mantido sob a mira de uma arma.

— Não vimos você na redação ontem, William. Harden se pergun­tou se você tinha sido seqüestrado.

Sentiu um calafrio no pescoço, como se lutasse com uma grave gri­pe. E um enorme cansaço.

— Não, eu estava... estive trabalhando num negócio. Numa matéria.

— Que tipo de matéria, Will? Tem outro herói improvável para nós? Outro "diamante no submundo" como seu santificado traficante de drogas? Outro louco doador de órgão?

Will teve uma idéia assustadora. O editor zombava dele ou, muito pior, expressava ceticismo. O jornal havia se queimado antes por jo­vens tão apressados em deixar sua marca que tinham redigido mais ma­térias de ficção que de jornalismo, as quais o New York Times engolira e publicara na primeira página. Pessoas ainda falavam do escândalo de Jayson Blair, que derrubara um dos antecessores de Townsend.

Percebeu a impressão que devia estar causando. A barba por fazer, nervoso — e, inexplicavelmente na redação numa noite de sábado, à mesa de um colega.

— Não é o que está pensando, senhor. — Ouvia sua própria voz triturada pela fadiga, tinha a boca seca. — Eu queria apenas conferir uma informação sobre a matéria de Brownsville. Procurava meu livri­nho de anotações e achei que talvez Walton...

— Por que Walton iria querer seu livrinho de anotações, William? Cuidado para não acreditar em tudo o que ouve na redação. Lembre-se de que os jornalistas nem sempre falam a verdade.

Ali estava mais uma vez, outra alfinetada nele e em suas matérias. Estaria acusando-o de falsificar os relatos de Macrae e Baxter, embora na linguagem refinada de um aristocrata da Nova Inglaterra? Talvez tivesse o sotaque e a postura empertigada da elite de Massachusetts, mas a expressão inabalável de McDougal era o rosto provocador de um político experiente.

— Não, não acredito em nada. Só quero rever minhas anotações.

— Tem alguma coisa na matéria da qual não tem certeza, William?




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