- O Silêncio............................................................20 - O assassino da Saudade....................................22
- Mãos....................................................................23 - Deus e a América................................................24
- Mãe......................................................................26 - Hóspedes.............................................................27 - Eu........................................................................29 - O prisioneiro........................................................30
- Assassino............................................................32 - O gosto................................................................33
- O necromante......................................................34 - Dúvidas do bem...................................................35
- Flores do mal.......................................................36 - A derrota da luz...................................................37
- Tricon...................................................................38 - A paixão de um vampiro......................................39
- A morte de um vampiro.......................................41 - Flagelo de Deus...................................................42
- A você.................................................................44 - Minha maior dor...................................................45
- Luta......................................................................46 - Soneto do canto..................................................47
- A mulher de vermelho..........................................52 - Acabou.................................................................53
- Prazer..................................................................54 - O Regente - À Política Brasileira ........................56
- A voz....................................................................57 - Sem censura........................................................58
- Conselho..............................................................59 - A-HA....................................................................60
- A vida...................................................................61 - Fim de espetáculo...............................................62
- Amiga morte........................................................63 - A Expressão........................................................65
- O Fim de uma Doutrina.......................................66 - Morte....................................................................67
- Liberdade.............................................................68 - Dor.......................................................................70
- Pai........................................................................72 - Meu demônio.......................................................73
- Incêndio na Califórnia..........................................76 - A despedida.........................................................77
Todas as frases murcham perante versos. Por que Poesia Condenada? Os versos de Carlos Conrado são luminosos e ondeantes como o seu próprio nome. Seus versos silenciam fixando olhos na América. Seus versos pranteiam a ausência da mãe, rasgam o peito estufado de saudades.
Caminham nas folhas os versos curtos e os versos longos de Conrado, ora anestesiados, ora tediosos, abrindo espaço em mundos voláteis, surrealistas.
A forma da poesia de Conrado é luva para o motivo e bocas tocando a borda de um cálice de cristal. É só beber o absinto - néctar dos sentidos em sua totalidade, e abrir as portas para a luz reveladora do que se espera ou não se espera ver.
Conrado alça vôos, muitos, sobre a dor, sobre o amor, sobre a liberdade, e se abraça com Deus e com a dama de negro que o espera.
O poeta se martiriza, se questiona, ensaia uma linguagem fática, quer saber o que o leitor pensa de seus escritos.
Só poetas entendem poetas. Só poetas andam juntos pelas mesmas rotas. Só poetas aplainam o terreno para a poesia, abrem janelas para a luz e portas para as musas. Está próximo o dia em que toda casa se iluminará.
Aracaju, no mês mais lindo (setembro) de 2006.
- Amigo, o que será de mim se eu for de encontro a minha razão? Com um estrondoso grito respondi:
A partir daquele momento ele se transformou...
Espero que gostem deste meu livro de estréia. Luz, paz e sucesso a todos!... Tenham uma leitura recheada de emoções sinceras.
Dedicatória
Aos meus familiares, À Arcádia Literária Estudantil, Associação Sergipana de Artistas Plásticos, Academia Sergipana de Letras, Casa do Poeta Brasileiro de Aracaju. À Ilma Fontes, Conceição Aguiar, João Santos, Lucas Livingstone, Tetê Nahas, Silvia Maria, Enne. À D.Aurinha, Rinalda Lima, Danielle Santos. A Thais de Siqueira, Ana Paula, Thiago Amorim, Andréa Borges, Francisco Diemerson, Tânia Meneses, Chico Só, Valter Santos, Rodrigo Reis.
Ao Sr. Marcelo Lasena pela amizade sincera.
À minha companheira Talita Emily.
Livro orgíaco e melancólico.
- Charles Baudelaire -
Anestesia
Faço do meu silêncio uma imagem,
Um retrato emoldurado pelas mãos da solidão...
Encharco de longos intervalos o meu coração, e
Faço pulsar o sangue de uma calada canção...
Sou como a fênix foragida das cinzas,
Sou também a angústia concebida pela vida...
Sou a maldição que atormenta Baudelaire,
Sou o marasmo, o tédio e a dor...
Sou filho do mundo que não me quer,
Sou uma forja de desejos assassinos...
Sou o ocultado pranto da melancolia,
Sou a tristeza de um sorriso,
Meu bem! Eu sou a tua anestesia.
O Silêncio
O Silêncio me chama...
Com tua voz rouca clama,
Pede, implora pelas migalhas
Da minha desvairada atenção...
Atenção! Há tensão nos fios
Da minha fértil imaginação!
O Silêncio é só solidão,
É como um verme
Sobrevoando o nada,
É como a canção
De uma viola abandonada...
Sinto muita pena de ti,
Ó pobre intervalo do tempo.
Devo tirar-te do relento?
O teu monólogo...
Causa dor a minha chaga,
Não quero dirigir este espetáculo...
Quero que sejas
Da sombra arrancado,
Quero devolver-te a graça
E curar o meu pecado.
Dou-te meus olhos,
Para que com eles
Possa ver o teu passado...
Eu te salvo, ó Silêncio,
Deste laço condenado.
Vem comigo criança,
Eu sou o Destino!
Não fique triste, Silêncio,
A mãe Esperança acabou de chegar.
O Assassino da Saudade
Ah! Como te quero fora de mim
Saudade...
Tu és assassina de minhas vontades.
O teu véu despido é uma tortura,
O teu poder sedutor é implacável...
Vejo-te em borradas lembranças,
Hinos homenageiam a tua carne...
Ah, essa carne...
Por tanto degustá-la
Fiz-me um fraco.
Bendito seja aquele que é agraciado
Pela primeira taça de vinho...
Eu me embriaguei...
Embriaguei-me com a tua alma.
As horas estão cansadas,
As sombras desvairadas dançam
Com o cantar melódico dos grilos...
Estes pobres grilos,
São meus companheiros
Nesta noite estrelada...
Não há nada melhor
Do que andar por entre as sombras,
Estimadas máquinas
Fabricantes de sonhos...
Não me venhas ó Tormento,
Permita-me retalhar-te a carne
Ou afogá-la num mar
De esquecimentos.
Mãos
Estas mãos...
Choram em desequilíbrio,
Fazem do menino-moço
Mais um coração perdido...
Ó meu delírio,
Seque a taça desta vida sarcástica,
Beba o meu sangue como um nada,
Derrame a dor e acrescente a desgraça...
Escarre estas lembranças fatídicas, e
Jamais interfira em meu pranto,
Tanto me enoja a decência,
Tanto me atormenta o teu canto.
E se Deus não for apenas a causa de
Tudo! Mas o próprio resultado? Como
Ficaria toda a idéia de pecado?
- Carlos Ayres Britto
In Causa e Efeito -
Deus e a América
-
Olha para baixo, América,
Fixa teus olhos naquela cena...
O que vês?
- Vejo ossos andantes,
Seres desvairados!
- Esses ossos são retratos da fome,
Esses seres são teus filhos chateados...
Tua gula alimentou a minha ira,
Tu não és digna deste espaço.
- Não me culpes por um erro teu!
- Qual seria este erro
Inspiração de tuas ações?
- Destes a nós tamanha liberdade,
O poder de ter poderes.
- Um pai que ama não dá
Correntes de presente,
Não oferece símbolos da desgraça.
- Como podes falar em desgraça
Se todas tuas palavras são dissimuladas?
- Inadmissível aceitar que te criei,
Que blasfêmia desonrar o próprio pai!
- Às vezes, quando mais preciso de ti,
Tu viras a face e some nas sombras...
Se isso é amor, sou as rosas do campo
E a beleza de teus orvalhos.
Mãe
Tu que colhes os ermos deste cemitério,
Vem colher a víscera deste corpo,
Louco e desvairado, carne do fracasso...
Tu que amamentas um feto menino,
Derrama o teu leite num leito de flores,
Vem, entrega-te ao arroio...
Tu que andas nesta noite,
Vem visitar-me, estou a sete palmos,
Ó ser excomungado pela lua...
Tu que choras nesta tumba,
Deixa que o teu pranto invoque estes restos,
Esses pútridos esquecidos pela vida...
Tu que a saudade é quem guia,
Nunca me esqueça!
Busque-me algum dia...
Tu que os sonhos acompanham,
Nunca te esqueças,
Dos dias em que éramos um só...
Tu que levas esta carcaça depressiva,
Vem dar-me o último beijo,
O abraço do adeus...
Tu que és musa de um desgraçado,
Feio, morto e sepultado,
Traz-me o teu colo, ó mãe querida.
Hóspedes
O ódio e o seu retrato
Estão hospedados em meu corpo,
Chamas de fúria crepitam
Sobre o meu espírito...
- Deixem que estes vermes
Tomem conta deste espaço,
Mostrem-lhes os caminhos do inferno...
Além das noites
Queremos possuir os dias,
Despertem filhos,
Atirem para os hipócritas
Os discos da desgraça...
Nossos olhos explodem de dor,
Fomos feridos, por que devemos sentir
Pena de quem nos atingiu?
Intitulem-nos demônios,
Ratos, vermes,
Nós não damos à mínima
Para esta porra...
Libertem a orgia,
Aprisionem o pudor...
Pudor... Este investe na putaria
E financia a droga que tu consomes...
Mas de quem estamos falando?
Somos apenas duas vozes sem temor,
Falamos o que der na telha...
Tragam-nos o cobertor
Queremos derramar este corpo
No leito das trevas.
Eu
Chamaram-me de filho da puta,
Logo eu respondi:
Sou filho de um ventre anônimo,
Sou isto daqui!
Condenaram meus atos,
Mencionaram a educação,
O que fiz?
Eu respondi:
Quanto à família não tive laços,
Minha escola foi a rua
Foi nela que eu aprendi,
A ver o sol quadrado,
A ver meu corpo desfigurado,
A ver minha alma se despir...
Envenenaram meu caule,
Entorpecentes me aprisionaram.
Fluidos deste cu podre
Carinhosamente chamado de sociedade,
Taxaram-me de despojo da humanidade...
Enfeitiçaram meus olhos,
Corromperam meus sonhos,
Destruído pouco a pouco...
Só a dor pude sentir.
O prisioneiro
- Neste crédulo pêndulo que me fita,
Dou aos ares meu último suspiro...
Olhe bem nos meus olhos...
Vês algum medo neles?
- Não!
- Então até onde estarás disposto a ir?
Como é tolo, humano maldito,
É possível matar quem já morreu?
- Não!
- Sinto em ti um dilema...
Abra tua mente pra mim
E desvendaremos todos
Os mistérios que torturam a tua alma.
- Jamais, isso nunca!!!
- Solte-me crápula nojento,
Por Satã eu peço,
Deixe-me neste Hades,
Tire estas correntes...
Sentirei prazer em beber teu sangue,
Assim como o meu...
Ele também é maligno.
- Não, não é! estás mentindo!
- Mesmo com meus braços dependurados,
Não irei ceder ao fracasso.
- Eu vou te queimar na fogueira, Diabo!
- Invoco-vos ó forças do fogo
Para que eu possa abrir
Os portões das trevas...
Envia-me demônios,
Envia-me dragões.
Despertem vampiros,
A batalha contra a luz
Começa agora.
Assassino
Saudação bela arvore,
A graça é minha,
Inunda teu espaço
Varre a minha alma e a tua.
Em outrora tu viste...
- O egocêntrico assassinato,
A ninfa morta, que horror,
Jaz o tempo dos caóticos.
- Que blasfêmia!
- Não transtorne ainda mais
Os círculos da coerência,
Tem luz meus espaços,
Tem espaço em tua alma
Para fitar tudo que for correto.
- Dialogaremos...
Jamais, não me repreendas,
Não me fixe aqui!
- Não sou eu quem te prendes,
Caro amigo...
Esta é a tua consciência.
O gosto
Disseram eles:
-Matem o sangue
Para beber o último líquido,
Inda que seja o vinho,
Fosse o ódio ou a dor...
Se amar é sinônimo de dor,
Não será ódio o padecer...
Se crescer é a morte lenta,
Lenitivamente se perde a consciência...
Se os olhos já não se vêem,
Lâminas já não brigam,
Bocas já não berram,
E Cristo já não grita.
O necromante
Um mistério,
Cemitério,
Uma tumba,
Uma alma impura...
Um louco,
Um rito,
Um corpo,
Um coração maldito...
Olhos póstumos que fito,
Revelam-me vidas,
O passado,
A passagem,
Um destino,
O inferno...
Sou mago das trevas,
Fascinado pela necromancia,
Onde passo...
Alguns rastros,
Agonia,
Sofrimento,
Dor,
Mas uma vida perdida,
Mais uma alma corrompida...
Sou eu,
O artista proibido,
Assassino do equilíbrio,
Um desafio, alguns riscos...
“Quero ser Deus!”
Dúvidas do Bem
Nesta fronde assustadora,
Um ser draconiano impera...
Pergunto a ti, ó oráculo,
Qual o motivo da cizânia?
Sonho com a harmonia,
O bem e o mal,
Ambos em sintonia...
Pergunto a ti, oráculo,
É possível mudar um ser
Austero?
Os dragões estão urgindo,
Volta e meia estamos indo,
Rumo a um imenso
Abismo...
Quero enaltecer o senhor,
É meu companheiro e amigo,
Nesta luta contra o mal
Alguns demônios já vencidos...
Ó poderoso oráculo,
Dai-me as respostas que preciso.
Flores do mal
(Ao poeta Baudelaire)
Flores do mal
Sou eu quem rega
A vossa água envenenada,
Sou eu quem mata
As vossas faces belas,
Sou o terror vosso companheiro,
Sou o Diabo que por vós vela...
Sou a praga desgraçada,
Venham matar-me com vossas pétalas.
A derrota da luz
Numa noite de plenilúnio,
A luz emboscou as trevas,
Demônios... correrias,
Seres surpreendidos...
Aquilo que era negrume,
Foi ferido com fortes raios...
Nós, vítimas e sentenciados,
Fomos marcados violentamente
Com o brasão dos condenados...
Nasci luz, cresci em trevas,
Aqui neste mundo de ceias,
Sou lorde, sou titulado...
Parece simples o fuso horário,
Acredite, a luz causou um desequilíbrio!
Transformou as noites em dias,
Tentamos consertá-los,
Transformamos os dias em noites...
Este fato que ficou marcado,
São rastros dum fracasso...
Quisera ela dominar-nos, mas...
Pela própria rede foi capturada.
Tricon
Invoco-te, ó recém - alma do inferno,
Peço-te, ó senhor da impiedade,
Que deixes o Tricon voltar à carne,
Sei o preço que me vale,
Mesmo assim eu quero...
Desperte Tricon,
Volte ao mundo dos condenados...
Pelo mal eu te invoco,
Por Deus eu te invoco.
Dos bodes bebo o sangue,
Quero um cálice de crânio,
Estou pronto para receber-te,
Alma maligna...
Venha,
Fuja das trevas
Guerreiro do fogo,
O teu lar...
É esta poesia.
Obsessão de Sangue
No inferno da visão alucinada,
Viu montanhas de sangue enchendo
A estrada, viu vísceras vermelhas pelo chão...
- Augusto dos Anjos -
A paixão de um vampiro
Meu anjo negro,
Nós somos a morte,
Nunca beba sangue dos mortos...
Tua companhia são teus gritos,
Teus sonhos são horrores,
Nada menos que horrores...
Este duro e cruel fado teu
Em tudo me comove,
Tu és uma alma enegrecida,
Tu és a vida de minha morte...
Quero teus olhos escuros,
Negros de ódio,
Tu és tudo o que eu desejo,
Ó meu anjo infernal...
Sou um espírito imutável e vazio
Sei disso,
Sou tudo que há de mais terrível...
Tu és um presente das trevas,
E não da luz, eu te dei um
Vasto mundo obscuro...
Teus sentimentos humanos
São umas desgraças, não seja bondosa,
Penso que estamos unidos no ódio,
Estávamos unidos!
Busquei a ti nestas insanas palavras,
Quis invocar-te para mim,
Não mais te quero!
Que as asas do demônio
O levem para teu descanso final...
Tu foste uma rebelde,
Serás condenada a uma amarga vida,
Verás o raiar do astro sangrador,
A luz será tua pena...
Nas torturas de minhas noites,
Inevitavelmente,
Vejo-te neste coração brutal,
Inaceitável, mas...
Pela primeira vez
Serei piedoso,
Farei teu mundo aqui na terra,
Com dragões e demônios...
Se tu queres um mundo de sombras,
Prometa-me uma coisa...
Não comentarás sobre os anjos do céu,
Nunca, jamais soprarás o nome de Deus...
Se desviares mais uma vez...
Espere a morte desta morte,
Espere o grande sorriso sarcástico.