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CAPÍTULO 95
William Pickering estava seguindo de carro pela Leesburg Highway.

Sentia-se estranhamente solitário. Eram quase duas da manhã e a

estrada estava vazia. Há anos ele não dirigia tão tarde.

A voz de Marjorie Tench parecia um ruído agudo e desagradável se

repetindo em sua cabeça: Encontre-me no Memorial de Roosevelt.

Pickering lembrou-se de quando havia encontrado Marjorie pessoalmente pela última vez. A experiência nunca era muito agradável. Tinha sido há dois meses. Na Casa Branca. Tench estava sentada bem na sua frente, numa longa mesa. Também estavam presentes membros do Conselho de Segurança Nacional, do Estado-Maior, da CIA, o presidente Herney e o administrador da NASA.

- Prezados - disse o diretor da CIA, olhando diretamente para Marjorie. - Mais uma vez estou aqui, perante todos, pedindo que esta administração tome uma atitude quanto à contínua crise de segurança na NASA.

Aquela solicitação não era novidade para as pessoas reunidas naquela sala. Os problemas de segurança na agência espacial haviam se tornado uma questão permanente para a comunidade de inteligência.

Dois dias antes, mais de 300 fotos de alta resolução de um dos satélites de observação da Terra de propriedade da NASA tinham sido roubadas por hackers que invadiram um banco de dados da agência espacial. As fotos

revelavam a localização de uma base militar secreta que os americanos usavam para treinamento na África do Norte.

Colocadas à venda no mercado negro, foram compradas por agências de inteligência de países hostis do Oriente Médio.

- Apesar de suas boas intenções - prosseguiu o diretor da CIA, deixando transparecer uma certa contrariedade em sua voz -, a NASA continua sendo uma ameaça à segurança nacional. Colocando as coisas de forma simples, nossa agência espacial não está equipada adequadamente para proteger os dados e as tecnologias que desenvolve.

- Eu compreendo - respondeu o presidente - que aconteceram algumas imprudências. Vazamentos que nos afetaram negativamente. Isso me perturba bastante, é claro. - Fez um gesto para o outro lado da mesa, na direção da fisionomia austera do administrador da NASA, Lawrence Ekstrom. - Estamos mais uma vez buscando formas de melhorar a segurança da NASA.

- Com o devido respeito - disse o diretor da CIA -, sejam quais forem as mudanças de segurança que a NASA implementar, elas não serão eficazes enquanto as operações da agência espacial permanecerem fora do abrigo da comunidade de inteligência dos Estados Unidos.

Aquela declaração causou uma movimentação incômoda nos presentes.

Todos sabiam onde a discussão iria parar.

- Como sabemos - continuou, num tom mais duro -, todas as entidades participantes do governo norte-americano que lidam com informações sensíveis de inteligência seguem regras estritas de segurança: os militares, a CIA, a NSA, o NRO - todos precisam obedecer a leis rígidas no que diz respeito à segurança dos dados que recolhem e às tecnologias que desenvolvem. Então eu lhes pergunto mais uma vez: por que a NASA - a agência que atualmente produz a maioria das tecnologias de ponta aeroespaciais, de imagem, de vôo, de programação, reconhecimento e telecomunicações -, por que ela pode continuar/ora desta cobertura de proteção e segredo?

O presidente soltou um longo e impaciente suspiro. A proposta era

clara. Reestruturar a NASA de forma a torná-la parte da comunidade de inteligência militar dos EUA. Apesar de reestruturações similares já terem ocorrido com outras agências, Herney se recusava a sequer pensar em colocar a NASA sob as diretrizes do Pentágono, da CIA, do NRO ou de qualquer outra agência ligada ao setor militar. O Conselho de Segurança Nacional estava começando a se dividir nitidamente em relação à questão, sendo que muitos concordavam com a comunidade de inteligência.

Lawrence Ekstrom não gostava nem um pouco daquelas reuniões. Cravou um olhar duro no diretor da CIA e disse:

- Correndo o risco de repetir minhas próprias palavras, senhor, as tecnologias que a NASA desenvolve são para aplicações acadêmicas e não-militares. Se a sua comunidade de inteligência quer virar ao contrário um de nossos telescópios espaciais para observar a China, é problema seu.

O diretor da CIA estava prestes a explodir. Pickering sentiu a tensão no ar e resolveu intervir:

- Larry - dirigiu-se a Ekstrom, tomando cuidado para parecer impassível -, a cada ano a NASA se ajoelha perante o Congresso para pedir mais dinheiro. Vocês estão operando com pouco financiamento e acabam pagando um alto preço a cada missão que falha. Se pudermos incorporar a NASA à comunidade de inteligência, não será mais preciso pedir ajuda financeira ao Congresso. Vocês seriam financiados pelas verbas militares, num patamar significativamente maior. Não há perdas nessa escolha. A NASA teria o dinheiro necessário para gerenciar seus projetos da forma adequada e a comunidade de inteligência ficaria tranqüila, sabendo que as tecnologias da agência estariam protegidas.

Ekstrom balançou a cabeça.

- Por uma questão de princípios, não posso aprovar que a NASA receba patentes militares. Lidamos com a ciência do espaço. Questões de segurança nacional não nos dizem respeito.

O diretor da CIA se levantou, algo que o protocolo proíbe fazer quando o presidente está sentado. Ninguém o impediu. Ele olhou o administrador da NASA de cima a baixo.

- Você está dizendo que ciência não tem nada a ver com a segurança nacional? Larry, os dois são a mesma coisa! É a liderança científica e tecnológica deste país que nos mantém seguros e, querendo ou não, o papel da NASA tem sido cada vez maior no desenvolvimento dessas tecnologias. Infelizmente, sua agência deixa as coisas vazarem como se fosse uma peneira e tem nos mostrado, sucessivamente, que seus sistemas de segurança são um risco para a nação!

A sala ficou em silêncio.

Então foi a vez do administrador da NASA se levantar e encarar seu

adversário.

- E qual é a sua sugestão? Trancar 20 mil cientistas da NASA em laboratórios dentro de bases militares e colocá-los para trabalhar para vocês? Realmente acha que os novos telescópios espaciais da NASA teriam sido concebidos se não fosse pelo desejo pessoal de nossos cientistas de ver cada vez mais longe no espaço? A NASA obtém progressos impressionantes por uma única razão: nossa equipe deseja entender o cosmo mais a fundo. São sonhadores que cresceram olhando para um céu de estrelas e imaginando o que mais havia lá. Paixão e curiosidade são o que impulsiona as inovações da NASA, não a premissa de superioridade militar.

Pickering limpou a garganta e falou de forma suave, tentando acalmar os ânimos na mesa:

- Larry, tenho certeza de que a CIA não está querendo recrutar os cientistas da NASA para projetar satélites militares. A missão da NASA permaneceria a mesma. A agência continuaria funcionando como agora, mas vocês teriam mais dinheiro e segurança. - O diretor do NRO olhou para o presidente. - Segurança custa caro. Todos nesta sala sabem que as falhas da NASA são o resultado da insuficiência de fundos. Na situação atual, a agência precisa economizar, precisa cortar custos nas medidas de segurança e ainda criar projetos em conjunto com outros países para dividir as despesas. Estou propondo que a NASA permaneça essa entidade admirável, científica e não-militar que é, só que com mais verbas e mais discrição.

Diversos membros do Conselho de Segurança balançaram a cabeça, concordando silenciosamente.

O presidente Herney levantou-se devagar, olhando diretamente para

William Pickering, claramente irritado pela maneira como ele havia tomado as rédeas da discussão.

- Bill, quero lhe fazer uma pergunta. A NASA deseja chegar a Marte na próxima década. Como a comunidade de inteligência se sentiria em relação a gastar uma boa parcela dos fundos militares para financiar uma missão a Marte? Uma missão que não possui nenhum benefício imediato para a segurança nacional?

- A NASA poderia fazer aquilo que desejasse.

- Pura babaquice - respondeu Herney, sem se alterar.

Todos se voltaram para ele. O presidente Herney raramente dizia palavrões.

- Se há uma coisa que aprendi durante este mandato é que o controle das coisas está nas mãos de quem controla o dinheiro. Eu me recuso a colocar as verbas da NASA sob o domínio de pessoas que não compartilham os objetivos que são a base da fundação da agência. Posso imaginar muito bem quanta ciência pura restaria se os militares pudessem decidir quais missões da NASA são viáveis.

Os olhos de Herney percorreram a mesa. Lentamente, incisivamente, retornaram a William Pickering.

- Bill, seu descontentamento com a participação da NASA em projetos conjuntos com agências espaciais estrangeiras é uma visão muito limitada. Ao menos alguém aqui está trabalhando de forma construtiva com os chineses e os russos. A paz neste planeta não será construída por meio da força militar. Será forjada por aqueles que conseguirem se unir apesar das divergências de seus governos. Penso que as missões conjuntas da NASA vão mais longe no sentido de promover a segurança nacional do que qualquer satélite-espião de bilhões de dólares, e certamente elas trazem a esperança de um futuro muito melhor.

Pickering sentiu uma raiva enorme crescendo dentro de si. Como um político ousa falar comigo com esse desdém? O idealismo de Herney talvez soasse bem numa sala de conferências, mas, no mundo real, fazia com que pessoas morressem.

- Bill - interrompeu Marjorie, sentindo que Pickering estava prestes a explodir -, sabemos que você perdeu uma filha. Sabemos que essa é uma questão pessoal para você.

Pickering não ouviu nada além de condescendência na voz dela.

- Lembre-se, porém, que a Casa Branca está mantendo fechada a comporta para uma horda de investidores que desejam ver o espaço aberto ao setor privado. Na minha opinião, mesmo com todos os erros, a NASA tem sido uma grande aliada da comunidade de inteligência. Talvez vocês todos devam repensar o assunto.
Um sinalizador sonoro na estrada trouxe Pickering de volta ao presente. A via de acesso que teria que pegar estava se aproximando.

Pouco antes dela, passou por um cervo morto e sangrando ao lado da estrada. Sentiu uma hesitação estranha, mas continuou dirigindo.

Ele tinha um encontro marcado.

CAPÍTULO 96
O Memorial de Franklín Delano Roosevelt é um dos maiores dos Estados Unidos. Situado num parque com quedas-d'água, estátuas e um lago, o memorial se divide em quatro galerias externas, uma para cada período em que Roosevelt ocupou a presidência, cobrindo 12 anos da história do país.

A 1.500 metros do memorial, um Kiowa Warrior atravessava silenciosamente o ar, bem lá no alto, com as luzes de navegação reduzidas. Numa cidade como Washington, que tinha tantos VIPs e equipes de imprensa, helicópteros no céu eram tão comuns quanto pássaros. Delta-Um sabia que, enquanto ficasse bem longe do que era chamado de "domo" - uma bolha de espaço aéreo protegido em torno da Casa Branca -, não iria chamar muita atenção. Sua equipe não ficaria ali muito tempo.

O Kiowa estava a 500 metros de altitude quando reduziu sua velocidade para se aproximar do memorial, apagado àquela hora. Delta-Um sobrevoou vagarosamente o local, verificando sua posição. Olhou para Delta-Dois, à sua esquerda, que manejava o sistema telescópico de visão noturna. A câmera de vídeo mostrava uma imagem esverdeada da estrada que levava ao memorial. A área estava deserta.

Agora iriam esperar.

Aquele não seria um assassinato silencioso. Havia algumas pessoas que não se podia matar de maneira discreta. Independentemente do método, haveria repercussões, investigações, inquéritos. Nesses casos, a melhor dissimulação era fazer muito barulho. Explosões, fogo e fumaça davam a impressão de que alguém tinha a intenção de deixar um recado, e a primeira suspeita recairia sempre sobre terroristas estrangeiros.

Especialmente quando o alvo era um funcionário do alto escalão.

Delta-Um examinou a transmissão do visor noturno, que mostrava a área cheia de árvores abaixo deles. Tanto o estacionamento quanto a estrada estavam vazios. Em breve, pensou. Apesar do encontro ter sido marcado em uma área urbana, ficava num local convenientemente deserto àquela hora. Delta-Um desviou os olhos do monitor e concentrou-se nos controles de armas.

O sistema Hellfire fora a arma escolhida para aquela noite. O Hellfire é um míssil guiado a laser, capaz de perfurar blindagens e também de encontrar um alvo previamente indicado. O projétil pode perseguir alvos designados por um laser operado por um observador no solo, por outras aeronaves ou pela própria aeronave que efetuou o disparo.

Naquela noite, o míssil seria guiado de forma autônoma por meio de um indicador a laser num visor acoplado à parte superior do rotor do Kiowa. Depois que o alvo fosse "pintado" com um feixe de laser, o míssil Hellfire encontraria seu caminho por conta própria. Como o Hellfire podia ser disparado tanto do solo quanto do ar, seu emprego ali, naquela noite, não iria revelar que uma aeronave estivesse envolvida. Além disso, era uma munição bem difundida entre os vendedores de armas do mercado negro, o que reforçaria a hipótese de um ataque terrorista.

- Sedan - disse Delta-Dois.

Delta-Um olhou para a tela. Um sedan preto de luxo, sem marca aparente, estava se aproximando pela estrada exatamente na hora. Era um carro típico de uma agência governamental. Ao entrar no memorial, o farol foi apagado e o carro circulou algumas vezes antes de parar perto de algumas árvores. Delta-Um ficou observando a tela, enquanto seu parceiro focava o sistema telescópico de visão noturna na janela do veículo. Em pouco tempo tinham uma imagem clara do rosto da pessoa.

Delta-Um respirou fundo.

- Alvo confirmado - disse seu parceiro.

Delta-Um olhou para a tela novamente, com sua mortífera cruz indicadora do alvo, sentindo-se como um franco-atirador mirando em um membro da realeza.

Alvo confirmado.

Delta-Dois virou-se para o lado esquerdo do compartimento de eletrônica embarcada e ativou o feixe a laser. Quinhentos metros abaixo deles, um pequeno ponto de luz apareceu no teto do sedan, invisível para seu ocupante.

- Alvo marcado - disse.

Delta-Um disparou.

Ouviram um chiado agudo debaixo da fuselagem, seguido por um rastro de luz deixado pelo míssil partindo em direção ao solo.

Um segundo depois, o carro parado no estacionamento explodiu em chamas. Pedaços de metal se espalharam para todos os lados. Pneus pegando fogo rolaram pelo bosque.

- Alvo eliminado - disse Delta-Um, já acelerando o helicóptero para fora da área. - Chame o controlador.

A cerca de três quilômetros dali, o presidente Zach Herney estava se preparando para dormir. As janelas blindadas Lexan da "residência" tinham 2,5 centímetros de espessura. Herney nem chegou a ouvir a explosão.



CAPÍTULO 97
A estação aérea do Grupamento da Guarda Costeira de Atlantic City está situada em uma zona de segurança no Aeroporto Internacional de Atlantic City. A área de atuação do grupamento abrange a costa do Atlântico, de Asbury Park até o cabo May.

Rachel Sexton despertou com os solavancos do avião aterrissando na pista deserta entre dois enormes galpões de carga. Ficou surpresa ao descobrir que havia dormido. Olhou o relógio, sonolenta. 2h13 da manhã. Achou que tinha dormido vários dias.

Estava agradavelmente aquecida por um cobertor do avião que havia sido colocado com cuidado em volta dela. Ao seu lado, Michael Tolland também estava acordando. Ele lhe deu um sorriso cansado.

Corky vinha caminhando ao longo do corredor e fez uma cara engraçada ao ver os dois.

- Ah, droga, vocês ainda estão aqui? Acordei agora há pouco torcendo para que tivesse sido só um pesadelo.

Rachel sabia como ele se sentia. Vou ter que voltar ao mar.

O avião taxiou na pista até parar. Os três desceram em meio ao nada. A noite estava encoberta, mas o ar da costa era denso e quente. Em comparação com Ellesmere, Nova Jersey se parecia com os trópicos.

- Aqui! - ouviram alguém gritar.

Rachel e os outros se viraram. Um dos tradicionais helicópteros vermelhos HH-65 Dolphin da Guarda Costeira estava parado ali perto e um piloto uniformizado acenava para eles, enquadrado pela brilhante listra branca da cauda do helicóptero.

Tolland fez um gesto com a cabeça, olhando para Rachel:

- Seu chefe não brinca em serviço!

Você não tem idéia, ela pensou.

Corky ficou se lamentando.

- De saída, já? Não tem pausa para o jantar?

O piloto lhes deu as boas-vindas e ajudou-os a subir no helicóptero.

Sem perguntar quem eram, fez apenas algumas brincadeiras e falou sobre precauções de segurança. Pickering certamente deixou claro para a Guarda Costeira que a natureza daquele vôo não era de conhecimento público. Ainda assim, apesar da discrição do diretor do NRO, Rachel logo percebeu que suas identidades não permaneceriam secretas durante muito tempo: o piloto não conseguiu esconder sua surpresa ao ver uma celebridade da TV entrando na aeronave.

Sentada ao lado de Tolland, Rachel já estava se sentindo tensa ao colocar o cinto de segurança. O motor da Aérospatiale soltou um gemido e as enormes hélices do Dolphin começaram a girar, logo se transformando num borrão prateado. O gemido inicial tornou-se um ronco e o helicóptero decolou na noite.

O piloto virou-se e perguntou:

- Fui informado que vocês me diriam o destino quando estivéssemos em vôo.

Tolland lhe deu as coordenadas de um local ao largo da costa, cerca de 50 quilômetros a sudoeste de onde estavam.

O navio dele está a 20 quilômetros do litoral!, pensou Rachel, sentindo um arrepio.

O piloto programou as coordenadas em seu sistema de navegação, ajeitou-se na cadeira e acelerou. O helicóptero inclinou-se

ligeiramente para a frente e partiu em direção ao navio.

Quando as dunas escurecidas da costa de Nova Jersey começaram a ficar para trás, Rachel desviou os olhos do oceano negro que se estendia abaixo deles. Apesar do medo, ela tentou reconfortar-se, sabendo que estava em companhia de um homem para quem o oceano era um amigo de toda a vida. Tolland estava apertado ao lado dela na fuselagem.estreita. Seus corpos estavam colados, mas nenhum dos dois parecia desconfortável com a situação.

- Sei que não deveria dizer isso - o piloto disparou, do nada, vibrando de felicidade -, mas você obviamente é Michael Tolland e, puxa, eu preciso lhe contar... Todos nós ficamos vendo televisão a noite inteira! O meteorito! É absolutamente fantástico! Você deve estar... não sei, em êxtase!

Tolland assentiu, pacientemente:

- Nem tenho palavras.

- Rapaz, o documentário foi fantástico! Sabe, a TV está reprisando constantemente. Nenhum dos pilotos que está de serviço hoje quis pegar este vôo porque todos queriam ficar lá, vendo TV. Eu perdi nos palitinhos. Você acredita nisso? Perdi nos palitinhos e aqui estou eu! Puxa, se os rapazes soubessem que iriam levar o verdadeiro...

- Nós lhe agradecemos pelo vôo - cortou Rachel -, mas precisamos que mantenha nossa presença aqui em sigilo. Ninguém deve saber que estamos aqui.

- Sim, naturalmente, senhora. As ordens foram claras. - O piloto hesitou um pouco, depois voltou a sorrir. - Ei, por acaso estamos indo para o Goya?

Michael concordou, relutante.

- Sim, estamos.

- Caramba! - exclamou o piloto. - Ah, perdão, mas é que eu vi o barco no seu programa tantas vezes... Ele tem casco duplo, não é? É bem estranho! Na verdade, eu nunca estive em um barco do tipo SWATH. E jamais pensei que o primeiro fosse ser justo o seu!

Rachel se desligou da conversa do piloto, sentindo-se cada vez mais nervosa por estar em meio ao oceano. Tolland virou-se para ela.

- Está tudo bem? Você poderia ter ficado em terra. Eu lhe disse que não havia problema.

Eu deveria ter ficado em terra, pensou Rachel, sabendo muito bem que seu orgulho jamais permitiria aquele tipo de comportamento.

- Não, obrigada. Estou bem.

Tolland sorriu.

- Fique tranqüila, vou ficar de olho em você.

- Obrigada - respondeu ela, surpresa ao perceber como o tom carinhoso da voz dele a acalmava.

- Você já viu o Goya na televisão, certo? Ela fez que sim.

- É um barco... ah... hum... Ele tem um visual interessante, não?

Ele riu.

- Tem sim. Era um protótipo extremamente radical quando foi construído, mas nunca "pegou" de fato.

- Não posso imaginar por quê - disse ela, irônica, lembrando-se do

design bizarro do navio.

- A NBC está querendo que eu o troque por um navio mais novo. Algo... não sei bem, mais impressionante, mais sexy. Acho que dentro de uma ou duas temporadas eles vão acabar me forçando a trocar de barco. - Tolland falou, meio tristonho.

- E você não gostaria de um navio novinho em folha?

- Não sei... O Goya me traz muitas lembranças.

Rachel sorriu carinhosamente.

- Minha mãe costumava dizer que, mais cedo ou mais tarde, todos temos que deixar nosso passado para trás.

Os olhos de Tolland se fixaram nos dela por alguns instantes.

- Sim, eu sei.

CAPITULO 98
- Que droga! - disse o motorista de táxi, virando-se e olhando para Gabrielle. - Parece que houve um acidente lá na frente. Vai demorar um bocado para conseguirmos sair daqui.

Gabrielle olhou pela janela e viu as luzes de emergência de ambulâncias e carros de bombeiro cortando a noite. Diversos policiais estavam posicionados um pouco à frente, bloqueando o tráfego.

- Deve ter sido um grande acidente - disse o motorista, apontando para as chamas que subiam perto do Memorial de Roosevelt.

Gabrielle fez uma cara desanimada ao olhar para o local. Mas logo agora! Ela tinha que chegar até o senador Sexton para lhe contar as novidades sobre o PODS e o geólogo canadense. Ficou calculando se as mentiras inventadas pela NASA gerariam um escândalo grande o suficiente para dar novo fôlego à combalida campanha do senador.

Talvez não, se fosse outro político, pensou, mas aquele era Sedgewick Sexton, um homem que havia construído toda a sua campanha ampliando a dimensão dos erros dos outros.

Algumas vezes Gabrielle tinha um pouco de vergonha da habilidade do senador em explorar qualquer erro político de seus oponentes. Contudo, era sempre eficaz. Como tinha total domínio da arte de fazer insinuações maliciosas e sabia usar a indignação de maneira astuciosa,

Sexton poderia tornar a mentira interna da NASA numa enorme questão de caráter que contaminaria toda a agência espacial - e, por associação, o presidente.

Do lado de fora da janela, as chamas no Memorial de Roosevelt pareciam ter aumentado. Algumas árvores próximas tinham se incendiado e os bombeiros agora jogavam água sobre elas. O motorista ligou o rádio do táxi e começou a passar pelas estações, procurando notícias.

Com um suspiro, Gabrielle fechou os olhos, sentindo-se profundamente exausta. Quando chegara a Washington, seu sonho era fazer uma carreira no meio político e, quem sabe, um dia trabalhar na Casa Branca. No entanto, ela estava decepcionada com a política. Não estava disposta a ter aquele tipo de vida para sempre. Naquele dia, já tinha passado pelo duelo com Tench, visto as fotos perversas dela com o senador e, finalmente, ouvido as mentiras da NASA...

Um repórter no rádio falou algo a respeito de uma bomba num carro, uma ação possivelmente associada a terroristas.

Tenho que sair desta cidade, pensou Gabrielle pela primeira vez desde que havia chegado lá.

CAPÍTULO 99
Era raro o controlador se sentir cansado, mas aquele dia tinha sido

pesado. Nada havia saído de acordo com o planejado - a trágica

descoberta do poço de inserção sob o gelo, as dificuldades de manter essa informação em segredo e, agora, a crescente lista de vítimas.

Ninguém deveria ter sido morto... exceto o canadense.

Parecia irônico que a parte tecnicamente mais complexa do plano tivesse sido a menos problemática. A inserção, feita meses atrás, havia decorrido sem um único problema. Uma vez que a "anomalia" fora colocada no lugar, bastava esperar que o satélite PODS fosse lançado.

O PODS deveria varrer enormes seções do Círculo Ártico e, mais cedo ou mais tarde, seu software de detecção de anomalias encontraria o meteorito, presenteando a NASA com uma grande descoberta.

Tudo corria às mil maravilhas até que... o maldito software não funcionou.

Quando o controlador descobriu que o software falhara e que não teria a menor chance de ser consertado antes das eleições, todo o plano ficou ameaçado. Sem o PODS, o meteorito não seria detectado. O controlador teve que pensar em alguma forma de alertar alguém na NASA sobre o meteorito, de forma dissimulada. A solução acabou sendo forjar a transmissão de uma mensagem de emergência por rádio feita por um geólogo que estava relativamente perto do ponto de inserção. O geólogo, por motivos óbvios, tinha que ser eliminado logo depois, e sua morte precisava parecer acidental. Atirar um geólogo inocente do alto de um helicóptero havia sido apenas o início. Agora as coisas estavam se desencadeando rápido demais.

Wailee Ming. Norah Mangor. Ambos mortos.

Aquele assassinato ousado no Memorial de Roosevelt.

Em breve, Rachel Sexton, Michael Tolland e Corky Marlinson seriam acrescentados à lista.

Não há nenhuma outra forma, pensou o controlador. Há muitos interesses em jogo.



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