Por que uma idéia de dois mil e quinhentos anos atrás pareceria hoje mais relevante do que nunca? Como os ensinamentos do Buda podem nos ajudar a resolver muitos problemas do mundo



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I

Em algum ponto do caminho o budismo se transformou de movimento religioso para fenômeno cultural popular e acabou virando um tipo de panacéia universal. Como aqueles antigos vendedores superanimados de óleo de cobra, algumas pessoas procuravam o budismo para consertar qualquer problema que tivessem. E outras achavam que era o bilhete premiado. Está tendo dificuldade para encontrar o amor da sua vida? Leia Iftbe Buddha Dated: A Handbook for Finding Love on a Spiritual Path, escrito por Charlotte Kasl. Quer se tornar diretor-executivo de uma empresa? Assista ao seminário "Buda na Diretoria", oferecido por Lloyd Field, diretor-presidente de uma organização chamada Performance House. Quer ser um pai ou uma mãe melhor? Siga os conselhos de Buddha Mom, de Jacqueline Kramer.

E só escolher a sua obsessão budista. A cerimônia do chá, arqueiros zen, origami, ikebana, kung fu: tudo isso e muito mais talvez seja oferecido no centro comunitário do seu bairro. Deve haver também perto de você algum mestre de longa linhagem, de quem você poderá aproveitar os ensinamentos. Tudo que precisa fazer é Google a sua cidade para encontrar o que há de budismo.

Então por quê? Por que budismo, e por que agora? Quer chame de religião, ou filosofia, ou opção de "estilo de vida", por que o budismo está cada vez mais popular? Na grande tradição judaica com a qual fui criado, essas perguntas geram outras perguntas: Como foi que isso tudo começou? Quem era o homem responsável por este fenômeno? Quem era o Buda?


2 BEM-VINDO À NOVA ERA (AXIAL)

Buda foi o primeiro baby boomer do mundo?



Ao intuir que a experiência da dor era inseparável da consciência e da vontade, o Buda demonstrou uma profunda sabedoria psicológica. O hinduísmo considera o universo do homem uma ilusão; o Buda, prevendo algumas escolas de psicólogos modernos do Ocidente com cerca de 24 séculos de antecedência, achava que a alma era uma ilusão também.

- Arnold Toynbee

A sua tarefa é descobrir a sua tarefa e depois se entregar a ela de todo o coração.

- O Buda

Estou olhando para uma pilha com as melhores biografias do Buda quando subitamente percebo que essa expedição é impossível. As discrepâncias sobre muitos fatos da vida dele são a regra, não a exceção, inclusive até quando e onde ele nasceu. Não há relatos de muitos anos da sua vida. A prova mais antiga da sua existência, de seus discursos ou ensinamentos surgem quinhentos anos antes da vida dele. Não podemos mapear com precisão seu itinerário. Não temos idéia alguma de como era a personalidade dele. Aqui estão, mais ou menos, os fatos básicos.

Siddhartha Gautama, que mais tarde veio a ser conhecido como o Buda, nasceu por volta de 563 a.C. ao pé das montanhas

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do Himalaia, na aldeia de Lumbini no que hoje é o Nepal, próxima da fronteira com a índia. Filho do rei Suddhodana do poderoso clã Shakya, o príncipe nasceu em circunstâncias muito auspiciosas — a começar pelo sonho de sua mãe, a rainha Mahamaya, que ao engravidar sonhou com um grande elefante branco que enfiava seis presas no ventre dela pelo lado do corpo -, pois sábios previram que ele se tornaria um monarca muito poderoso ou um homem iluminado. (Siddhartha traduz isso como "aquele que realizou seus objetivos".) O rei Suddhodana esperava que fosse a primeira previsão e começou a criar o filho para aquele destino, cercando-o de todo o conforto humano que existia e também a tutela dos homens mais sábios da terra. Protegido da agitação da sociedade, ele passou as primeiras três décadas da sua vida sem que nada de mais acontecesse. Em algum momento ele se casou. Sua esposa, Yasodhara, era uma linda jovem de família nobre.

Nos séculos após a sua morte aos 80 anos de idade, à medida que sua reputação crescia, os fatos se misturaram aos mitos e nasceu também um Buda lendário. Este Buda saiu andando do ventre da mãe ao nascer, plenamente consciente, e apareceram flores de lótus sob os pés dele nos sete primeiros passos que deu. Ele tinha poderes sobre-humanos. Tinha poder mental para domesti-car animais selvagens apenas olhando para eles. Podia estar em dois lugares ao mesmo tempo. Há histórias que contam que ele viajava para lugares muito distantes em uma noite.

Mas os dois relatos concordam que aos 29 anos de idade, já pai e entediado com a opulência em que vivia, ele se aventurou para fora do palácio pela primeira vez e descobriu a velhice, a doença e a morte. Ficou tão emocionado com esse primeiro encontro com as realidades dolorosas da vida que deixou o conforto da sua casa e partiu buscando um fim para o sofrimento humano. Num período de seis anos suportou todas as provações dos indianos que procuravam a iluminação - jejuou, observou o silêncio, passou um tempo vivendo em uma caverna —, até que percebeu que não estava mais feliz do que antes. Devia haver outro caminho, ele pensou, um "caminho do meio" entre a indulgência e o ascetismo. Resolveu então sentar e meditar embaixo de



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uma das frondosas árvores da espécie que foi chamada de fícus religiosa, um tipo de figueira, o pipal, que enfeitavam o vale do rio Ganges até encontrar a resposta. Nos sete dias seguintes ele examinou sua forma de raciocinar para descobrir como e por que o homem muitas vezes criava o próprio sofrimento mental, de que maneira entrava em um estado de insatisfação constante que torturava seu ser e sabotava sua capacidade de ser feliz. De fato, ele operou a primeira sessão de psicanálise no mundo - consigo mesmo - alguns milhares de anos antes de Freud. E criou uma fórmula extraordinariamente simples. Não era baseada na fé, como nas outras religiões, mas em observação empírica, um sucinto silogismo - quatro pontos de raciocínio lógico - que ele chamou de Quatro Verdades Nobres:

1. Que existe sofrimento no mundo, mental ou físico.

2. Que há uma origem para esse sofrimento, que é uma ignorância fundamental da relação de causa e efeito de todos os atos, chamada carma.

3. Que eliminando a causa, se pode eliminar o sofrimento.

4. Que existe um método para eliminar essa causa, e esse método se chama de Caminho Óctuplo, uma bússola moral que leva a uma vida de sabedoria (visão correta, intenção correta), virtude (palavra correta, conduta correta, meio de vida correto) e disciplina mental (esforço correto, memória ou atenção correta, concentração correta).

Embaixo daquela árvore ele utilizou um método de investigação que exigia simplesmente prestar atenção à própria mente -mas uma atenção muito concentrada mesmo. Esse método, que é o centro da prática do Caminho Óctuplo do budismo, é a meditação. Apesar de a técnica variar em cada uma das muitas seitas do budismo - olhos fechados ou semicerrados, em silêncio ou entoando frases, sozinho ou em grupos, de frente para a parede ou para outras pessoas meditando -, quase todas começam com a atenção concentrada na sua respiração, a inspiração e a expiração. Não há nada de místico ou de outro mundo nisso, nenhuma

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levitação, nenhuma experiência extracorpórea. Cada vez que respiramos e soltamos o ar a nossa consciência se torna mais refinada, mais concentrada. Quando inspiramos... nos conscientizamos das sensações do nosso corpo e do órgão que mais nos distrai, o nosso cérebro. Quando soltamos o ar... sentimos uma liberação da tensão física e nos esforçamos para trazer nossa mente de volta para a nossa respiração. Inspirar... o ar faz coceira na ponta do nosso nariz. Expirar... a dor no joelho diminui, a mente ainda passeia. Inspirar... "Eu não devia estar fazendo algo mais útil com o meu tempo?" Expirar... "Quem era o 'eu' naquilo que pensei?" Com muita sutileza depois de um tempo passamos a compreender, às vezes com sofrimento, às vezes com alegria, aquilo que Siddhartha descobriu. "Nós somos o que pensamos", ele disse.

Ele saiu da sombra da árvore como o Buda, "o iluminado" ou "aquele que despertou". (A árvore hoje é conhecida como Arvore Bodhi e o nome que deram à espécie foi fícus religiosa.) Até sua morte, ele percorreu o corredor de centenas de quilômetros no que hoje estão os estados hindus de Bihar e Uttar Pradesh, espalhando suas descobertas a todos que estivessem dispostos a ouvir.

O Buda não pretendia que suas idéias se transformassem numa religião. Na verdade ele desencorajava seguir qualquer caminho ou os conselhos de qualquer pessoa, sem antes testar pessoalmente. Dizem que suas últimas palavras antes de morrer foram: "Encontre sua salvação individual; não dependa dos outros." Mesmo assim, alguns séculos depois da morte dele, o budismo já era uma religião e mais tarde uma das principais religiões da Ásia. Hoje, com 379 milhões de seguidores, é a quarta maior religião organizada do mundo. (O cristianismo tem 2,1 bilhões de seguidores, o islamismo 1,3 bilhão e o hinduísmo 870 milhões. A religião tradicional chinesa, que não é considerada organizada, tem aproximadamente 405 milhões de seguidores.) E tudo isso se originou de uma mente inquisitiva que simplesmente queria saber:

- Quem sou eu?

- Por que estou aqui?

- Como posso encontrar a felicidade?




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