Por que uma idéia de dois mil e quinhentos anos atrás pareceria hoje mais relevante do que nunca? Como os ensinamentos do Buda podem nos ajudar a resolver muitos problemas do mundo



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é importante porque mostra o Buda se libertando do sistema de castas que prevalece naquela sociedade. "Não é pelo cabelo em trancas naturais dos homens santos, pela linhagem, não é pelo nascimento (casta) que alguém se torna um brâmane. Mas sim aquele em quem habita a verdade e a justiça, ele é puro; ele é um brâmane", ele diz em O Dhammapada, coleção de todos os seus discursos. O Buda passou a sexta semana meditando na parte sul do templo, perto do lago Muchhalinda; ali, durante forte tempestade, Muchhalinda, o rei cobra cobriu o corpo de Buda para protegê-lo da chuva. A sétima semana ele passou ao pé da árvore Rájáyatana, onde conheceu seus primeiros discípulos leigos, Tapussa e Bhallika, dois comerciantes numa viagem a trabalho.

Hoje cada um desses lugares está marcado na região do templo Mahabodhi. A origem do próprio templo é envolta em mistério. A primeira construção em homenagem ao lugar dizem que foi feita pelo rei indiano Ashoka (304-232 a.C), que foi um dos conquistadores mais cruéis e violentos, e que depois abdicou dessa agressividade quando descobriu o budismo por volta de 250 a.C. Como devoto, Ashoka espalhou stupas por toda a índia, contendo relíquias do Buda e até enviou algumas (junto com um broto da figueira religiosa original) para o Ceilão (hoje Sri Lanka) com seu filho Mahinda, no ano de 251 a.C. Os dois grandes peregrinos budistas chineses que viajaram para a índia para aprender em primeira mão essa nova religião da qual tinham ouvido falar, Fa-Hsien no início do século V e Huang Tsang no século VII, registraram terem visto o templo. A estrutura era bem menor e mais modesta - parecida com uma pirâmide primitiva bem alta — do que o monumento de pedra com mais de 52 metros de altura que vemos hoje, coberto de esculturas elaboradas. Muitos e muitos séculos depois dos mongóis terem varrido o budismo da índia, a árvore e o templo foram eliminados da consciência da maior parte do povo, apesar de os budistas mais engajados terem continuado a fazer a peregrinação ao local mais reverenciado. Foi só em meados do século XIX que o general Alexander Cunningham, a serviço da British Archeological Survey of índia, removeu a cobertura de mato e reconstruiu o que sobrara do que devia ser uma construção do século V.



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A figueira, a Árvore Bodhi, não é na verdade a árvore original também. De acordo com as crônicas ceilonesas, diz a lenda que a mulher de Ashoka mandou destruir a primeira, pois tinha ciúme da devoção quase obsessiva do marido por ela e temia que ele a deixasse, como Siddhartha tinha deixado a mulher dele. O dr. Huntington, no estado de Ohio, botânico amador, acredita que a árvore foi restaurada por Ashoka pessoalmente, enquanto os cei-loneses afirmam que cresceu a partir de uma semente enviada por eles, da árvore de lá, que era filha da original. A árvore indiana, dizem que foi destruída duas vezes depois disso, uma por saqueadores shivitas no século VII, e outra por um raio em 1876. A árvore atual deve ter 135 anos.

A primeira vez que ouvi falar de Bodh Gaya foi em 1975, de amigos em Cambridge, Massachusetts, que faziam parte da onda de peregrinos ocidentais do final da década de 1960, início dos anos 70, que redescobriram Bodh Gaya mais uma vez. John Bush, chamado de Krishna quando o conheci, estava entre eles. Ele e sua mulher na época, Mirabai, tinham uma pequena indústria de fundo de quintal de silk-screen que produzia imagens transparentes adesivas do Buda e de mandalas tibetanas. Chamavam-nas de Selos Dharma. Num certo momento criaram um Selo Dharma arco-íris e subitamente o pequeno negócio tornou-se um negócio muito grande. Aqueles arco-íris enfeitavam o vidro traseiro de quase todos os fuscas e kombis da época. John e Yoko puseram os Selos Dharma em todas as janelas do apartamento deles no edifício Dakota em Manhattan; lembro que apontava para eles quando estava com amigos na esquina da Central Park West com a rua 72 em 1976. Depois de vender a empresa e de se separar de Mirabai, John tornou-se diretor e produtor de cinema.

Nos primeiros anos do século XXI ele viajou por todo o sudeste da Ásia com uma videocâmera digital Sony com qualidade de câmera de televisão. O resultante Yatra Trilogy é uma série de documentários em filme que leva os espectadores a uma peregrinação budista pelo Laos, a Tailândia, Birmânia, Bali, Camboja, Java e Tibete {yatra é a palavra em sânscrito que quer dizer viagem sagrada). Junto com exibições em lugares como o Rubin Museum



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of Art em Nova York e festivais de cinema por todo o mundo, seu filme do Tibete, Vajra Sky, percorreu os Estados Unidos com Sua Santidade o 14° Dalai Lama em 2005. Quando vi os filmes fiquei deslumbrado com as tomadas longas, lentas e quase dolorosas, com a paciência das lentes da câmera dele. Diferente de todos os outros filmes que vi sobre esses lugares, davam a sensação de estar lá - parado no alto de uma colina, por exemplo, no templo Borobudur, o monumento mandala budista do século IX em Java, calor e odores pungentes quase palpáveis, os sons dos pássaros e das moscas nos ouvidos, a realização humana incompreensível e misteriosa. Quando pedi a John para invocar suas lembranças de Bodh Gaya de 1970, a recuperação vivida que ele fez nos enviou de volta para um tempo cheio de mito e magia. Ele rastreia o início da sua peregrinação para aquele tempo em Bodh Gaya.

- Mira e eu tínhamos saído de uma comuna na Colúmbia Britânica e viajamos por terra de Londres até a índia. Eu queria aprender a meditação budista. Em Nova Deli logo esbarramos em Sharon Salzberg, que eu já conhecia da Universidade Estadual de Nova York em Buffalo, onde Mira e eu tínhamos estudado.

(Sharon mais tarde foi ajudar a fundar o primeiro centro de retiro vipassana nos Estados Unidos, a Insight Meditation Society, em Barre, Massachusetts.)

- Ela mencionou um retiro de meditação em Bodh Gaya, conduzido para ocidentais por um mestre birmanês chamado Goenka. Parecia ser o que eu queria fazer. Chegamos a Bodh Gaya no dia de Natal em 1970. Naquela época era apenas uma parada poeirenta na estrada, no que parecia ser o fim do mundo. Búfalos e vacas nas ruas, um asilo do governo, mendigos, moscas, algumas lojas chai [casas de chá] com ocidentais nelas. Deixamos nossa bagagem no vihara birmanês onde ia acontecer o retiro e fomos andando até a cidade. Dei uma espiada numa loja chai e vi Richard Alpert, que tinha visto em Buffalo dando uma palestra no departamento de química.

Alpert e Tim Leary, ambos professores de psicologia em Harvard na década de 1960, tinham sido dispensados por ter submetido os alunos da faculdade de psicologia a experiências com



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LSD. Alpert mais tarde abraçou o hinduísmo e ficou conhecido como Ram Dass, autor de Esteja aqui agora e um dos meus mestres pessoais.

- Ele tinha se registrado para fazer o curso com Goenka também. Naquele momento eu soube que um novo capítulo da minha vida ia começar. Ficamos em Bodh Gaya uns dois meses e fizemos cerca de cinco cursos de dez dias com Goenka seguidos. No dia entre um curso e outro, nos reuníamos nas chai, depois íamos caminhar por onde Buda andou e ficávamos vagando pela área do templo Mahabodhi. Aquela se transformou na nossa topografia sagrada.

"O Buda era um imenso modelo de vida", disse ele, rindo da própria falta de ironia, "Bodh Gaya representou o princípio do meu yatra pessoal, minha viagem sagrada. Foi a minha primeira experiência profunda; alimentou a minha compreensão do sagrado. Mobilizou-me para uma forma mais clássica de compreender quem nós somos como pessoas, como quem está sempre buscando de forma arquetípica. Minha viagem espiritual partiu daquele lugar e daquele momento."

Essa descrição me fez entender o quanto Bodh Gaya havia mudado nos 35 anos entre o tempo em que ele esteve lá e o meu. Eu nem podia imaginar como seria desolado 2.500 anos atrás, como devia ser tranqüilo e quieto.

Hoje esse epicentro espiritual para budistas de toda parte é mais como um circo espiritual com três picadeiros, e é tudo menos quieto. Com muitas centenas de pessoas o nosso grupo do Caminho de Buda circulou pelo templo Mahabodhi três vezes, como é o costume em qualquer santuário budista (ou stupa). Depois sentamos e meditamos ao lado da árvore. Encostei as costas na base fria do templo e procurei simular o estado mental do Buda com a esperança de que um pouco da serenidade e da felicidade que ele encontrou passassem para mim.

Sem chance.

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Por cerca de 25 segundos tentei me concentrar na minha respiração, chegar àquele lugar onde não existe eu. Procurei imaginar a quietude que o Buda vivenciou naquele exato lugar, ouvindo apenas o sussurro do vento nas folhas, o cantar dos pássaros, seu coração bater.

Mas foi impossível. O bombardeio sensorial não podia ser ignorado. As vozes graves de uma centena de monges tibetanos, seus cânticos hipnotizantes amplificados por minúsculos alto-falantes invadiam meus ouvidos. O cheiro pungente de incenso barato grudava nos pêlos das minhas narinas. A visão de monges de mantos amarelo-açafrão se jogando em esteiras diante deles em perpétua prostração. A verdadeira parada girando em torno do templo: neófitos norte-americanos de olhos arregalados, padres zen japoneses muito sérios com seus séquitos caminhando lepida-mente atrás, hinduístas indianos curiosos seguindo um guia turístico com um megafone, pessoas de Sri Lanka graciosamente enroladas em mantos brancos.

Meus pensamentos se voltaram para a minha obsessão atual; não há sempre uma obsessão para nos distrair da iluminação espiritual? Shantum tinha me dito que ele ficou animado ao ver que pássaros e esquilos tinham voltado para a Arvore Bodhi. Recentemente, explicou ele, a árvore foi vítima de um tipo de praga, que um agrônomo especulou que talvez tivesse proliferado devido aos óleos e dióxido de carbono que infectavam a casca na base do tronco, onde seguidores fervorosos punham incenso e velas. Shantum e eu ficamos à sombra da árvore venerada especulando se a infestação tinha sido resultado de espiritualidade exagerada, uma distorção irônica que o Buda talvez tivesse desprezado. Aquele era também um preço a pagar pelo Buda Boom? Ou teria acontecido de qualquer maneira, devido ao surgimento e desaparecimento de todas as coisas, hipótese que o Buda também poderia ter desprezado?

Concordamos que não importava: Bodh Gaya não era lugar para insignificâncias intelectuais. A única coisa que podemos fazer é nos render aos sentidos - e a sensação de paz que mesmo assim consegue transcender, até naquele caos.

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Enquanto isso eu desperdiçava meu momento de meditação embaixo do pedaço de madeira mais santificado do mundo decidindo procurar um entomólogo na Universidade de Patna para ter uma avaliação mais precisa. Merecedora do Pulitzer, pensei. Talvez aquela meditação não tivesse sido um desperdício, afinal.

O templo Mahabodhi é propriedade do governo do estado de Bihar. Segundo a Lei do Templo Bodh Gaya de 1949, o estado criou um Comitê de Administração do templo Bodh Gaya para administrar, proteger e monitorar o templo e a propriedade de cerca de seis hectares que o cerca. A diretoria consultiva consiste no governador de Bihar e vinte a 25 membros, a metade de outros países. Burma, China, Japão, Tailândia, Butão, Nepal, Vietnã e Tibete, todos esses países têm templos na cidade. O comitê de nove membros consiste em cinco budistas e quatro hindus para garantir que os budistas possam ter ascendência sobre os hindus em algum empate dos votos. Os indianos são um povo altamente politizado e isso não exclui a administração dos locais espirituais, especialmente quando estão prestes a se tornarem locais turísticos que geram renda também. A burocracia é outra coisa necessária devido à alta incidência de propinas e corrupção no país. Segundo um artigo do Hindustan Times, os registros policiais de 2001 citam Bijar como o segundo estado na estatística de crimes, perdendo apenas para o estado de Uttar Pradesh. Na região por onde o Buda vagou hoje em dia o cidadão comum deve se preocupar com assassinato, seqüestro, roubo e vandalismo. Não são feitos registros policiais de suborno e corrupção, mas a mentalidade que prevalece é que qualquer um e qualquer coisa pode ser comprado ou vendido - seja sob a mira de uma arma ou do martelo do juiz. O homem cuja função é ser o zelador da propriedade e ao mesmo tempo elo diplomático entre todas as diversas facções era um dos monges mais engraçados, irônicos e inteligentes que conheci nas minhas viagens, o monge principal do templo, Bhikkhu Bodhipala.

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- É difícil, sim, encontrar o equilíbrio - disse ele rindo. - É uma boa prática para mim.

Ele tentou convencer os tibetanos cantantes a abaixar o volume dos seus alto-falantes e os hindus que vendiam lembranças a abaixar o volume da música ensurdecedora, e teve pouco sucesso.

Um monge tibetano reverencia o templo Mahabodhi ao lado da Árvore Bodhi em Bodh Gaya, índia, o local mais sagrado da peregrinação budista.

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- Procuro manter um ar de santidade aqui - disse ele.



Ele gostaria que tivesse mais segurança, para proteger a árvore e o templo. E isso também não é fácil.

- Quando tranquei o portão da cerca da Árvore Bodhi, os devotos que queriam deixar doces e acender incenso e óleos protestaram - disse ele para mim. - Mas tenho de explicar para eles: Você precisa receber as suas bênçãos, ou precisa que a árvore esteja lá para poder sentar à sua sombra no futuro?

Bodhipala era o equivalente budista de Salomão. Quando eu estava começando a conquistar sua confiança e chegando a questões mais delicadas sobre a reação dele aos planos do Ministério de Turismo indiano para Bodh Gaya, a nossa entrevista foi interrompida com a aparição de ninguém menos que o sr. Safaya da HUDCO. Ele tinha ido examinar em primeira mão como os viadutos das estradas que havia proposto estavam sendo implementados — "para ver a realidade em campo", como ele mesmo disse. Bodhipala sugeriu que eu fosse com ele. Pulei no banco da frente de um dos carros e fui junto com Safaya e um bando de autoridades municipais para fazer uma inspeção no lugar. Uns dois quilômetros fora da cidade paramos sob um arco de boas-vindas aos visitantes de Bodh Gaya. Dos carros desceram um punhado de homens, como palhaços de circo espremidos dentro de um Volkswagen. Contei três homens de terno e gravata, obviamente os manda-chuvas, outros seis que pareciam ser da cidade e seis homens de uniforme militar verde, carregando rifles. O sr. Safaya e os outros foram andando até um pequeno grupo de barracos à beira da estrada, uma pequena aldeia improvisada que parecia as Hoovervilles norte-americanas do tempo da Depressão, na década de 1930. Fui trotando atrás dele com meu gravador, e ele explicou que nos seus planos era necessário construir um estacionamento para ônibus de turismo ali.

- E o que vai acontecer com essa gente? - perguntei, apressando o passo para acompanhá-lo.

- Quem? - ele perguntou.

- Quem? - repeti indignado. Senti a indignação crescendo enquanto o verso da canção de Joni Mitchell ecoava na minha



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cabeça: "Eles asfaltaram o paraíso I e construíram um estacionamento... ooo, lá, lá, lá." — Todas essas pessoas que vivem aqui.

- Ah, esses - respondeu o sr. Safaya tranqüilamente. - Eles serão removidos para algum lugar.

Descobri que havia um indiano equivalente ao domínio eminente. (Mais tarde Bodhipala mitigou, um pouco, a minha preocupação, explicando que eles eram invasores e que de qualquer maneira não tinham o direito de morar ali. "Talvez o governo providencie habitação de baixo custo para eles", disse ele. Se pudessem pagar habitações de baixo custo não estariam vivendo naquela miséria, pensei.)

Fomos rápido para o outro extremo da cidade, um campo aberto onde disseram que o viaduto seria construído na estrada. O objetivo era evitar o congestionamento no centro da cidade, como ele havia explicado em Nova Deli, mas agora que eu via a realidade tinha sérias dúvidas. Muitos "comerciantes" locais -qualquer um que pusesse seu tapete no chão e se acocorasse na calçada vendendo suas quinquilharias, estátuas e cartazes na entrada do terreno do templo - não iam gostar de serem removidos daqueles pontos estratégicos de venda nos portões do templo. Quem sabe aqueles pontos-de-venda sagrados tivessem sido passados de pai para filho, de uma geração para outra? Agora, para facilitar o trânsito, seriam privados do seu sustento. Tenho certeza que eles não dão a mínima para a "infra-estrutura turística".

Eu já tinha visto aquele cabo-de-guerra do desenvolvimento turístico antes. Na Baja Califórnia, no Havaí, no vale Napa. E o clássico duplo vínculo do turismo: os empreiteiros prometem para os habitantes do lugar que toda aquela área vai valorizar enquanto dizimam o meio ambiente. Só que exatamente o que atrai turistas para o lugar acaba sendo diluído e esterilizado pela necessidade de limpar tudo para atrair turistas.

Tenho certeza que em dez ou vinte anos Bodh Gaya terá menos trânsito, menos barulho e menos poluição — e menos charme - do que quando John Bush esteve lá e também de quando eu estive lá. Será melhor? Só Buda sabe.

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Um dia antes de sair de Bodh Gaya, Shantum levou nosso grupo para as cavernas Mahakala, onde Siddhartha tinha meditado -semanas? meses? anos? - enquanto maltratava seu corpo antes de chegar à figueira religiosa. (Em sânscrito, Mahakala é uma divindade violenta que protege os praticantes em sua jornada para a iluminação, um demônio poderoso que conquistou até os maiores deuses através de um benefício especial do deus supremo Brahma. Ele foi subjugado pelos bodhisattvas Manjushri e Avalo-kiteshvara e passou a dedicar seus poderes a serviço do dharma.)

Andamos pelo leito quase todo seco do rio Neranjara num dia muito quente, depois em fila indiana pelas trilhas que separavam as plantações de arroz que se espalhavam ao longo do horizonte nevoento. Siddhartha teria caminhado por ali também, provavelmente ignorando a beleza rústica enquanto lutava contra a fome, a sede e qualquer prazer. Era difícil aceitar que aquele lugar continua o mesmo visual, cultural e economicamente há 2.500 anos. Tendo crescido no subúrbio de Nova Jersey no final da década de 1950 e início da de 1960, achava aquele conceito incrível. Estava acostumado com a paisagem de novos prédios e centros comerciais que se modificavam toda vez que passeava com a minha bicicleta Schwínn pelo bairro.

Caminhando por aquela região agrícola extremamente pobre com aquele grupo — as mulheres protegiam a pele clara com chapéus de abas largas de Neiman Marcus, os homens empunhavam suas câmeras Nikon -, eu podia jurar que haveria uma placa de néon pendendo sobre as nossas cabeças piscando "Americanos ricos aqui!". Para mim parecíamos tão conspícuos quanto uma fila de Rockettes dançando pelos campos de arroz. Fiquei mais para trás do grupo, como se isso pudesse ocultar a minha filiação com eles, mas não adiantou. Os indianos corriam para nós como moscas em bosta de búfalos. "Baksheesh, sahib!", gemiam, esticando as mãos agressivamente, com as palmas viradas para cima, na nossa cara, aquela mudra — gestos simbólicos associados aos budas — conhecida universalmente como o sinal de pedintes de rua.



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Esses norte-americanos nunca haviam visto nada parecido e ficaram profundamente afetados. Seus corações caridosos sangraram. Eles se sentiram culpados daquela disparidade entre o quanto eles tinham e quão pouco tinham aquelas pessoas. Eu tinha viajado pelos países do Terceiro Mundo - especialmente a índia, onde a insistência e a persistência dos mendigos não tinha igual -, por isso sabia como criar um muro de indiferença aparente, quase hostilidade, sem deixar que aquilo me afetasse muito, apesar de a pontada de culpa atingir até mesmo os mais duros corações de pedra. Quando chegamos à colina que levava às cavernas, algumas mulheres já tinham estabelecido relações quase familiares com crianças que nunca esmoreciam em seus apelos por dinheiro, prendedores de cabelo, balas, lenços, qualquer coisa.

Chegamos então às duas pequenas cavernas. Sentamos formando um semicírculo do lado de fora de uma, e Shantum contou histórias sobre o que tinha acontecido ali. Sentei ao lado dele, com meu gravador apoiado no braço, a melhor maneira de captar sua voz em meio ao barulho dos cânticos dos peregrinos à nossa volta. Procurei ficar sentado ali da forma mais discreta possível, sem chamar atenção e sem distrair os outros da experiência espiritual pela qual tinham pago regiamente. Já tinham me dito que eles debateram a minha participação na excursão. Se poderiam se sentir inibidos de falar livremente, sabendo que poderiam ser citados na revista? Se eu dominaria a situação com minhas perguntas constantes? Por experiência própria sei que as pessoas têm problemas com a abordagem da mídia e costumam evitar isso. Querem a publicidade; não querem a publicidade. Querem a notoriedade, mas não querem ser retratadas de outra forma qualquer, senão sob uma luz elogiosa. E há também o fato de que se alguém vai ser citado, que sejam elas. Tudo se resume ao... surpresa, surpresa... ego. Apenas uma pessoa se aproximou de mim e disse que em nenhuma circunstância queria ser entrevistada ou citada.

Depois, em pequenos grupos, sentamos dentro da caverna. Lá fora há lembranças da modernidade, alguma infra-estrutura de cimento, os degraus para as cavernas, o templo dos tibetanos, lojas de chá e de lembranças por perto. Mas lá dentro... bem, uma coisa

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é andar por onde Buda andou, sentar embaixo de uma árvore ou à beira de um rio, ou cruzar um campo onde ele já esdvera. Mas uma caverna é um espaço confinado com pouca (leia-se nenhuma) ventilação. É quase como se estivéssemos respirando o mesmo ar que ele respirou. O interior está praticamente intocado desde o tempo que ele esteve lá. Não é difícil imaginá-lo sentado bem ao seu lado... agora! Meus olhos levaram alguns minutos para se adaptarem à escuridão, as minhas narinas para ignorar o cheiro de mofo, para esquecer a presença de meus colegas de passeio. Então, em vez de paz, senti ansiedade. Fiquei lá sentado, claustrofóbico, louco para sair dali... para sair da minha própria pele. Por quê? Não sei ao certo. Estava tudo muito próximo... literalmente. Não me senti à vontade. Andar sobre as pegadas dele, tudo bem. Mas passar pelo que ele passou para se tornar o Buda? Muito obrigado, mas não quero não. E pensar que ele fez isso horas, dias, semanas, meses a fio. Hoje o teríamos internado num hospício. O cara devia ser bom mesmo. Retirar-se da sociedade por um tempo é uma coisa. Mas por vontade própria submeter-se àquele tipo de privação e isolamento fazia com que eu chegasse a pensar se ele sofria de algum tipo de patologia. Só de sentar ali já senti o que diagnosticaria como "insanidade situacional", um estado que não é encontrado no Manual de diagnóstico e estatística dos distúrbios mentais da Associação Psiquiátrica americana nem em qualquer dos sutras do Buda.

Suspeito que aquela intensidade de emoção foi compartilhada pelos outros que sentaram comigo naquela caverna, e quero acreditar que foi isso que precipitou a interação que ocorreu depois. Ao sair da caverna, voltando pelo mesmo caminho, colina abaixo, um dos homens virou para mim e disse:

- Sabe de uma coisa? Você não precisa gravar essas conversas. Pode obter a mesma informação de um dos livros de Thich Nhat Hahn.

- Acho que a National Geographic não me mandou para cá para eu copiar algumas páginas de um livro - respondi, talvez com irritação demais e agressividade exagerada na voz.

Quem era aquele cara para vir me dizer como fazer o meu trabalho? Será que era a minha insegurança dizendo que eu não sabia fazer o meu trabalho?

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- Bem, mil desculpas — ele recuou e se afastou. — Desculpe por tentar ajudar.

- Está desculpado.

Eu não ia deixar que ele ficasse com a última palavra.

E era isso aí, um confronto típico de macho com macho levado pelo nível de testosterona. Dois homens que pensavam que sabiam mais do que o outro e que não hesitavam nem um segundo em afirmar isso. Aquilo era feio, e mais ainda porque tínhamos acabado de sair de uma caverna onde o futuro Buda se esforçara ao máximo para livrar-se desse tipo de comportamento humano equivocado. No mesmo instante me senti péssimo e indignado com aquela interação. Aquele era exatamente o tipo de motivo pelo qual eu odiava juntar-me a esses grupos. Como já disse, tenho problema com relacionamentos. E por me conhecer (ou fingir que conheço), eu tinha certeza que ia evitar aquele cara como a praga pelo resto daquela viagem, e que ao mesmo tempo ia ficar obcecado com ele, por algum tempo. E isso me fez lembrar de uma antiga história budista. O Buda e um monge se aproximaram de um rio e viram uma mulher lavando roupa na margem. Quando chegaram perto dela, ela perguntou se podiam ajudá-la a atravessar o rio.

- Ah, sentimos muito, bondosa senhora - disse o monge. - A senhora sabe que um monge não pode tocar em uma mulher.

Mas o Buda, sentindo compaixão por ela, ofereceu-se para carregá-la nas costas, fez isso e começou a atravessar o rio. Ele a pôs no chão no outro lado. Ela agradeceu muito, e os dois homens seguiram seu caminho. Andando em silêncio, o Buda percebeu que o monge estava aborrecido.

- O que houve, irmão? - ele perguntou.

- O meu senhor sabe que fizemos o juramento de não tocar nas mulheres - disse o monge. - Como pôde fazer aquilo?

- Meu amigo - respondeu o Buda -, é verdade, eu a levantei e carreguei até a outra margem do rio. Mas deixei-a lá. Você, no entanto, continua carregando aquela mulher.

Por quanto tempo eu ia carregar aquela conversa desagradável nos meus ombros?

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Voltei e acabei caminhando ao lado da adorável mas ingênua mulher que parecia não estar entendendo nada, no sentido cultural. Mas mesmo assim ela possuía uma elegância e pureza que me atraíam. Dava para ver que vinha de uma família rica, e eu teria achado sua inocência charmosa se não fosse tão triste saber que alguém ainda conseguia viver uma vida de claustro nos Estados Unidos (quem estava sendo ingênuo agora?). Passamos por uma aldeia que podia ter sido a verdadeira Uruvela do tempo de Buda. Se não era, com certeza era exatamente a que Siddhartha teria atravessado quando saiu das cavernas para ir até o rio. Telhados de palha, búfalos, mulheres batendo o trigo a mão, pilhas de estéreo para ser usado para aquecer e nas construções, crianças correndo com o nariz escorrendo, o mesmo cenário, as mesmas figuras, o mesmo elenco desde quinhentos anos antes do nascimento de Jesus, com os roteiros de suas vidas inalterados e imutáveis há milênios e dali a milênios também.



- Isso não é pitoresco? - disse minha companheira de caminhada. - Olha só como são primitivos!

Para ela era como se estivesse visitando aqueles museus de história viva dos Estados Unidos: a plantação Plimoth do século XVII em Massachusetts, ou a aldeia do século XVIII recuperada de Williamsburg, na Virgínia.

Metade de mim queria sacudi-la para que saísse do seu confortável coma norte-americano. A outra metade queria ser ela, ser assim completamente alienado das duras realidades do Terceiro Mundo. Ali parados na periferia da aldeia, nos demos conta de que tínhamos perdido os outros de vista. Estávamos muito à frente ou tínhamos ficado para trás do resto do grupo. A distância, avistei o meu antagonista se aproximando, provavelmente também perdido. Mas nem esperei para descobrir. Fui andando e passei por ele, com toda a indiferença que minha linguagem corporal era capaz de transmitir.

Aquela noite, depois do jantar no templo onde nos hospedamos, Shantum convocou o que ele chamou de "choques", nos quais os participantes contavam uma experiência que tiveram durante o dia que tenha sido marcante de alguma forma. Naquela

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noite a maior parte das pessoas falou sobre a reação delas aos pedintes - a sensação de culpa, o patos, o blablablá. Francamente, fiquei entediado com a preocupação delas, e ainda mais convencido de que estava com o grupo errado. Por que não falavam sobre o budismo, sobre o Buda, o templo Mahabodhi, a iluminação} Por que estavam se deixando distrair por uma situação que não podiam modificar, que não mudava desde a época de Buda e que não mudaria até a vinda do próximo Buda? Enquanto os outros falavam, eu olhava de soslaio para o meu nêmesis para ver se ele estava olhando de lado para mim. Ele devia ser calmo demais, ou então todo aquele nosso diálogo devia ter escorregado das costas dele sem que ele tivesse notado. Se a segunda opção fosse a verdadeira, era motivo para mais irritação da minha parte.

Quando chegou a vez da minha experiência marcante, senti minha pulsação acelerada e o sangue subindo para o meu rosto.

-Tenho uma coisa que quero contar... — comecei a dizer, com cuidado de não olhar no olho do cavalheiro — da qual não me orgulho.

Parei para organizar meus pensamentos e para dar um ímpeto dramático à minha revelação.

Para meu próprio espanto, contei tudo, o incidente nocivo daquele dia, e confessei que aquilo tinha me deixado num estado de conflito pessoal o resto do tempo. Agora olhando direto para ele, assumi a responsabilidade pelo que tinha acontecido e pedi perdão para ele na frente de todos. Senti imediatamente que tinham tirado um peso enorme dos meus ombros e uma nuvem de cima da minha cabeça. Eu tinha me libertado da prisão que impusera a mim mesmo com o simples ato de revelar a minha preocupação medíocre.

Dali para frente o grupo me aceitou. Eu tinha conquistado a confiança deles admitindo meu erro, minha humanidade. Apesar de não ter necessariamente aproximado aquele homem de mim (essa não era a minha intenção), aquilo me aproximou de mim mesmo. E aliviou a minha culpa de ter sido tão rude.

Outra coisa aconteceu aquele dia que me fez bem, tanto profissionalmente como pessoalmente. Já quase no fim da noite,

Shantum verificou as mensagens no seu telefone celular e disse bem alto, para todos ouvirem, que eu tinha um recado da minha agente literária de San Francisco. Imagino que tivesse dado a ela alguma informação de contato caso houvesse alguma notícia sobre a minha proposta que circulava entre os editores de um livro baseado na minha missão para a National Geograpbic. Parecia muito imponente: "Perry, sua agente ligou e quer que você ligue para ela". Além de ter uma agente, ela ainda me ras-treou até o meio da índia. Fui a um posto telefônico internacional nas ruas escuras de Bodh Gaya e telefonei para ela. Ela disse que tinha uma boa oferta, suficientemente boa para me alçar ao paraíso. Só mais tarde caiu a ficha de que aquela reviravolta imensa na minha vida aconteceu quando eu estava na cidade da iluminação do Buda. Não poderia escolher lugar mais auspicioso para receber a notícia da minha redenção do abismo literário.

Depois que Buda atingiu a iluminação ele encarou um dilema que poucos de nós terão de enfrentar na vida. Ele podia gozar de sua unicidade, saborear a bem-aventurança do desapego, sem nenhuma preocupação no mundo... no mais verdadeiro sentido. Ou então podia sair e ensinar para os outros como chegar lá também. Na sua vida a comparação seria que uma vez conquistado um objetivo - uma promoção, a aliança de casamento, a casa no campo, a aposentadoria - você teria "chegado lá". Não haveria mais lugar para ir, não poderia ser mais nada. Então por que fazer mais alguma coisa? Era só aproveitar sua conquista e o seu gim-tônica.

De fato, o Buda pensou em "se aposentar". Ele poderia ter correspondido a um dos seus nomes, Tathagata, que quer dizer "ido". Além disso, ele lamentava que suas Verdades eram complicadas demais para ensinar e difíceis demais para seguir. Mas em seu primeiro ato de altruísmo - e aquele que as pessoas do movimento do budismo engajado apontam como o primeiro exemplo e modelo que seguem - ele resolveu aceitar o desafio e a responsabilidade de passar adiante a sua descoberta. E escolheu retribuir à sociedade.

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Buda decidiu que os primeiros cinco alunos seriam os renun-ciantes que o tinham abandonado nas cavernas Mahakala. Encontrou-os em Sarnath, onde muitos que buscavam a iluminação se reuniam perto de Benares (hoje Varanasi), a cidade sagrada hindu à beira do Ganges. A primeira reação deles foi contestá-lo, mas depois de ouvir o que o Buda falava souberam imediatamente que ele havia atingido o objetivo que todos procuravam. E lá, num parque onde os cervos pastavam livres num campo verde, ele deu seu primeiro sermão, elaborando sobre as Quatro Verdades Nobres, o Caminho Octuplo e o Caminho do Meio. Seu discurso inicial, no parque dos Cervos, é chamado de "Pôr em movimento a roda do dharma", ou Dharmacakrapravartana Sutra. Os monges, mais tarde chamados de "Os Cinco Afortunados", ouviram atentamente a explicação dele e dizem que obtiveram iluminação instantânea, tão poderosa e penetrante que foi a mensagem do Buda. Foram seus primeiros discípulos. Ouvimos histórias dos meses seguintes de encontros semelhantes e realizações semelhantes dos que escutaram os sermões de Buda. E logo ele tinha milhares de seguidores. Foi assim que começou sua carreira de educador e que continuou até o momento da sua morte.

Quando relatam a sua vida ocorre uma coisa curiosa que confunde os biógrafos do Buda. "Embora os últimos 45 anos da sua vida tivessem se passado à vista do público, os textos tratam bem superficialmente dessa longa e importante fase, e deixam pouca coisa para o escritor trabalhar", escreveu Karen Armstrong em Buddha. "As escrituras budistas registram os sermões do Buda e descrevem os primeiros cinco anos de sua carreira de mestre com certo detalhe, mas depois disso o Buda escapa da vista e os últimos vinte anos de sua vida praticamente não têm registro." Mesmo nos primeiros anos de ensinamentos, ela continua, "os textos não dizem nada sobre os pensamentos e sentimentos do Buda, mas usam suas atividades para mostrar como os primeiros budistas se relacionavam com o mundo urbano, comercial, político e religioso do norte da índia".

Isso tem sentido. O Buda tinha se transformado em um arquétipo, uma tabula rasa sobre a qual as gerações futuras

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podiam pintar o retrato da perfeição de acordo com suas necessidades. Ele mesmo nunca foi o objeto, e sim seus ensinamentos. E o resultado foi que restou para nós muito pouco da personalidade dele. Ele não tinha um "ego", de qualquer modo.

Shantum nos levou para Sarnath, onde conhecemos um museu local. Fomos para o parque. Até vimos uns cervos. Rodeamos a gigantesca stupa onde dizem que ele fez seu primeiro sermão dharma. Dali, nos dias seguintes, também viajamos para o lugar onde ele morreu, em Kushinagar, e onde nasceu, em Lumbini, depois da fronteira com o Nepal. Mas, como ocorreu com a vida de Buda depois da iluminação e nos primeiros anos de ensinamentos, também devo admitir que minhas lembranças daqueles dias de viagem com o grupo da excursão foram esquecidas. Mesmo ouvindo mais tarde as fitas gravadas naquele período, tive dificuldade para me inserir naquela experiência. E isso foi bastante estranho para mim, porque sou como um camelo que nesses anos todos como jornalista dominou a arte de armazenar



A estátua do Buda Reclinado em Kushinagar, na índia, onde Buda morreu, atingindo o principal nirvana, Mahaparinibbana.

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impressões e o sentido de "estar presente" mais tarde para invocar quando necessário - isto é, quando precisava escrever a matéria. Era como se a iluminação dele e a roda girando fossem o clímax. O resto era interessante, mas menos atraente para mim. Eu já tinha a minha "história" — algumas boas citações, anedotas e encontros - e como um jornalista típico, com a capacidade de concentração de uma mosca tsé-tsé, estava pronto para seguir em frente para a nova experiência.

Eu podia não ser um homem mudado, no entanto tinha mudado de opinião sobre um assunto. Tinha relutado em juntar-me ao grupo de Shantum, conforme já disse, pensando que eu poderia ou deveria ter feito a excursão sozinho. Um grupo de excursão não tinha nada a ver com o budismo engajado, segundo a minha definição. Mas descobri que mesmo naquele estágio inicial das minhas viagens a minha definição teria de ser um pouco mais fluida do que eu havia planejado. Reconheci que aqueles norte-americanos estavam engajados num processo educativo budista que ia modificá-los. Eu já podia vê-los mudando diante dos meus olhos. Eles iam voltar para casa, conversar com os amigos e a família sobre suas experiências, e essas pessoas estariam engajadas, e também mudariam, mesmo que só sutilmente. Seria uma reação em cadeia de mudança que ia, ou poderia, se alastrar pelas pequenas sociedades que eles habitavam. E assim iria se reproduzindo. Quando voltei para os Estados Unidos muitos meses depois, mantive contato com a mulher que considerei ingênua demais para o meu gosto. E afinal ela se revelou muito mais substancial do que eu poderia acreditar no início. Pude perceber que ela lutava para ajustar sua vida confortável, para acertar as pontas com a separação que existia entre o que ela possuía e o que os outros não tinham. Ela procurava se agarrar à prática da meditação e aos ensinamentos do Buda numa cultura que proporcionava pouco estímulo para isso. Eu imaginava qual seria o resultado disso para ela agora que estava engajada. O que eu sabia mesmo era que a vida que ela conhecia antes jamais seria a mesma outra vez.



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