Português: contexto, interlocução e sentido



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. Acesso em: 29 jan. 2016.

5. Qual é a questão tematizada na charge?

> Quais elementos da charge reforçam a identificação dessa questão pelo leitor?

6. Para responder à pergunta feita pelo filho, o pai recorre a uma figura de linguagem.

a) Qual é o nome dessa figura de linguagem?

b) Explique como ela foi construída.

c) Como o uso dessa figura de linguagem contribui para a compreensão da crítica feita na charge? Justifique.

Figuras de sintaxe (ou de construção)

Observe as tiras a seguir e responda às questões de 1 a 3.



Frank & Ernest

Bob Thaves

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FRANK & ERNEST, BOB THAVES © 2007 THAVES/ DIST. BY UNIVERSAL UCLICK

THAVES, Bob. Frank & Ernest. O Estado de S. Paulo. São Paulo, 16 nov. 2007.
Página 182

Gente como a gente

Mark Cullum & John Marshall

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© 2016 KING FEATURES SYNDICATE/IPRESS

CULLUM, Mark; MARSHALL, John. Gente como a gente. O Globo. Rio de Janeiro, 3 jan. 1997.

1. As duas tiras começam de modo semelhante. Explique.

2. O que há de surpreendente no modo como as perguntas feitas são interpretadas?

3. Há, na segunda tira, uma fala que explicita a razão do mal-entendido. Qual é?

> Considerando essa fala, explique como foi criado o humor das tiras.

As duas tiras exploram uma situação muito comum: alguém sente um incômodo físico e procura um remédio que resolva o problema. O fato de o verbo curar não aparecer na fala das personagens que estão se sentindo mal exemplifica a possibilidade de omitirmos alguns termos, na língua, quando o contexto permite identificá-los sem problema. Em situações como essas, não se imagina que alguém deseje um enjoo ou uma dor de cabeça. Os autores das tiras exploram justamente a interpretação menos provável para provocar o efeito de humor.



Tome nota

Nem sempre os textos apresentam frases estruturadas do modo esperado. É frequente ocorrerem inversões, omissões e repetições que levam a uma maior expressividade. As alterações intencionais das estruturas sintáticas são chamadas de figuras de sintaxe.

Elipse

No caso das duas tiras analisadas, observamos que a omissão de um verbo (curar) criou a ambiguidade que desencadeou o efeito de humor. Sempre que o termo omitido puder ser identificado a partir do contexto criado pelo texto, tem-se uma figura de sintaxe denominada elipse.



Zeugma

Existe uma forma particular de elipse, denominada zeugma, que ocorre quando o termo omitido em um enunciado foi utilizado anteriormente. Observe.



Armandinho

Alexandre Beck

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© ALEXANDRE BECK

BECK, Alexandre. Armandinho Quatro. Florianópolis: A.C. Beck, 2015. p. 52.

No texto da tira, observamos a ocorrência de zeugmas: o verbo quero, explicitado na primeira oração (“Quero levar pouca coisa...”) fica pressuposto nas três orações seguintes (“... e [quero] viajar sem muita pressa! [Quero] seguir leve pela vida... e [quero] dar valor ao que interessa!).


Página 183

Anacoluto

Às vezes observamos uma inesperada mudança de rumo na construção sintática de um enunciado. Observe.

Fomos ver o rio. E pouco andamos, porque já estava entrando pelas estrebarias. O marizeiro que ficava embaixo, a correnteza corria por cima dele. Era um mar d’água roncando.

REGO, José Lins do. Menino de engenho. 22. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1976. p. 27. (Fragmento).

Marizeiro: regionalismo para designar uma árvore frondosa, nativa do Nordeste, de flores amarelas e frutos comestíveis quando cozidos. Também chamada de umari.

O narrador do livro Menino de engenho, nesse trecho, fala sobre a enchente do rio Paraíba. No início do terceiro período, depois de definir o tópico — o marizeiro — o texto muda de direção, criando a sensação de uma “frase quebrada”, de algo que ficou solto na estrutura. As estruturas sintáticas da oração se reorganizam em torno de um novo sujeito — a correnteza — e tudo o que é dito desse momento em diante (“corria por cima dele”) liga-se a esse sujeito, na mesma oração.

A interrupção ou quebra de uma oração que se havia iniciado por uma palavra ou locução, seguida de uma estrutura que não se integra à parte interrompida, é chamada de anacoluto. Os anacolutos chamam a atenção do leitor para aquilo que se deseja salientar (topicalizar) em um texto.

Anáfora

A repetição de palavras no início de versos ou, nos textos em prosa, no início de orações cria uma figura de sintaxe chamada de anáfora. Veja.

que tudo passe

passe a noite
passe a peste
passe o verão
passe o inverno
passe a guerra
e passe a paz

passe o que nasce
passe o que nem
passe o que faz
passe o que faz-se

que tudo passe


e passe muito bem

LEMINSKI, Paulo. Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 85.

Nos versos do poema, as anáforas (passe/passe o que) possibilitam ao eu lírico construir uma enumeração que permite a expressão final de um desejo positivo: independentemente do que aconteça na vida das pessoas (“noite”, “peste”, “verão”, inverno”, etc.), que tudo acabe bem (“passe muito bem”).

Hipérbato

Na língua portuguesa, a ordem típica das orações é SujeitoVerboComplemento(s)Adjunto(s) adverbial(is):

Paulo (s) comprou (v) um DVD (c) ontem (a).

Quando produzimos inversões nessa ordem (por exemplo: Um DVD, Paulo comprou ontem.), criamos figuras de sintaxe denominadas, genericamente, hipérbatos.



Alguns gramáticos, como Celso Cunha, identificam um tipo particular de hipérbato – a anástrofe –, constituído pela inversão entre um termo da oração e seu adjunto. Um exemplo clássico são os dois primeiros versos do Hino Nacional: “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas / De um povo heroico o brado retumbante”. Se julgar interessante, explicar essa forma particular de inversão aos alunos.

Sínquise

Algumas inversões são tão radicais que chegam a provocar ambiguidade ou a dificultar a compreensão do que está sendo dito. Nesse caso, a figura de sintaxe recebe o nome de sínquise. O escritor Raymond Queneau, em um de seus exercícios de estilo, escreve um texto inteiramente constituído por sínquises.



Sínquises

Ridículo raparigo, que eu me vendo lotado um dia em ônibus da linha S, por tração talvez o esticado pescoço, no chapéu cordão eu um percebi. Arrogante e em lacrimejante tom, que contra o senhor ele ao seu lado protesta, encontra-se. Encontrões lhe pois daria este, vez gente cada que desce. Vago senta sobre e se se um lugar dito precipita, isto. Paço no de Roma, dou mais com ele ouvindo tarde, duas horas que no seu sobretudo outro botar, aconselha-o um amigo botão.



Queneau, Raymond. Exercícios de estilo. Tradução de Luiz Rezende. Rio de Janeiro: Imago, 1995. p. 27.

......................................................................

Polissíndeto

A coordenação de vários termos da oração por meio de conjunções, especialmente as aditivas (e, nem), dá origem à figura de sintaxe chamada de polissíndeto. Um exemplo de polissíndeto ocorre em um belo conto de Clarice Lispector em que pessoas comuns repartem os alimentos de uma ceia.



A repartição dos pães

[...] Em nome de nada era hora de comer. Em nome de ninguém, era bom. Sem nenhum sonho. E nós pouco a pouco a par do dia, pouco a pouco anonimizados, crescendo, maiores, à altura da vida possível. Então, como fidalgos camponeses, aceitamos a mesa.

[...] Comíamos. Como uma horda de seres vivos, cobríamos gradualmente a terra. Ocupados como quem lavra a existência, e planta, e colhe, e mata, e vive, e morre, e come. Comi com a honestidade de quem não engana o que come: comi aquela comida e não o seu nome.

Lispector, Clarice. Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 90. (Fragmento).
Página 184

A repetição da conjunção e chama a atenção do leitor para o trabalho da criação literária, porque enfatiza os verbos utilizados para identificar as ações básicas relacionadas à alimentação (plantar, colher, matar, viver, morrer, comer).

Pleonasmo

Em alguns casos, o desejo de enfatizar uma ideia leva à utilização de palavras ou expressões que, à primeira vista, pareceriam desnecessárias. Observe os versos de Camões.



Vi, claramente visto, o lume vivo
Que a marítima gente tem por Santo,
Em tempo de tormenta e vento esquivo,
De tempestade escura e triste pranto.

CamõES, Luís Vaz de. Obras completas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998. p. 118. (Fragmento).

Nessa passagem, Vasco da Gama relata, ao rei de Melinde, a visão de um fenômeno natural produzido pela eletricidade da atmosfera: uma pequena chama aparece na extremidade dos mastros dos navios ou nos filamentos dos cabos. Esse fenômeno é conhecido como fogo de santelmo ou lume vivo. O espanto do Gama diante da visão de um fenômeno raro é traduzido, nos versos, pela utilização pleonástica do particípio do verbo ver (visto).



Tome nota

Alguns pleonasmos são considerados vícios de linguagem e devem ser evitados. Eles ocorrem sempre que a ideia repetida informa uma obviedade e não desempenha qualquer função expressiva no enunciado. Exemplos comuns de pleonasmos viciosos são as expressões subir para cima, descer para baixo, entrar para dentro, sair para fora, ser o principal protagonista, etc.



Se julgar necessário, explicar aos alunos que o substantivo protagonista refere-se necessariamente à personagem principal. Falar em principal protagonista, portanto, é cometer um pleonasmo vicioso.

ATIVIDADES

Leia atentamente o texto abaixo para responder às questões de 1 a 4.



Sermão da planície (para não ser escutado)

Bem-aventurados os que não entendem nem aspiram a entender de futebol, pois deles é o reino da tranquilidade.

Bem-aventurados os que, por entenderem de futebol, não se expõem ao risco de assistir às partidas, pois não voltam com decepção ou enfarte.

Bem-aventurados os que não têm paixão clubista, pois não sofrem de janeiro a janeiro, com apenas umas colherinhas de alegria a título de bálsamo, ou nem isto.

Bem-aventurados os que não escalam, pois não terão suas mães agravadas, seu sexo contestado e sua integridade física ameaçada, ao saírem do estádio.

Bem-aventurados os que não são escalados, pois escapam das vaias, projéteis, contusões, fraturas, e mesmo da glória precária de um dia.

Bem-aventurados os que não são cronistas esportivos, pois não carecem de explicar o inexplicável e racionalizar a loucura. [...]

Bem-aventurados os que nasceram, viveram e se foram antes de 1863, quando se codificaram as leis do futebol, pois escaparam dos tormentos da torcida, inclusive dos ataques cardíacos infligidos tanto pela derrota como pela vitória do time bem-amado. [...]

Bem-aventurados os que, depois de escutar este sermão, aplicarem todo o ardor infantil no peito maduro para desejar a vitória do selecionado brasileiro nesta e em todas as futuras Copas do Mundo, como faz o velho sermoneiro desencantado, mas torcedor assim mesmo, pois para o diabo vá a razão quando o futebol invade o coração.

ANDRADE, Carlos Drummond de. As palavras que ninguém diz. Seleção de Luzia de Maria. Rio de Janeiro: Record, 2004. p. 87-90. (Fragmento).



1. A crônica transcrita faz alusão ao Sermão da montanha, em que Cristo fala aos seus discípulos sobre as bem-aventuranças. Leia um trecho deste sermão.

Sermão da montanha: bem-aventuranças

[...] Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus.

Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra.

Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. [...]

MATEUS. Bíblia sagrada: novo testamento. 15. ed. São Paulo: Paulinas, 1962. cap. 5, vers. 1-11, p. 1181. (Fragmento).

> Que elementos do sermão bíblico são recuperados pela crônica? Justifique sua resposta, mostrando as semelhanças e diferenças entre os elementos identificados nos dois textos.
Página 185

2. O Sermão da planície trata das “bem-aventuranças” relacionadas ao futebol. Explique brevemente quem seriam os “bem-aventurados” segundo o texto.

a) O último parágrafo do texto contradiz todas as afirmações anteriores do “sermoneiro desencantado”. Por quê?

b) O que, no texto, explica a expressão entre parênteses apresentada no título?

3. Todos os parágrafos do texto são iniciados por uma mesma expressão. Transcreva-a no caderno.

a) Qual é a figura de linguagem que se caracteriza pelo uso desse recurso?

b) De que maneira o uso dessa figura de linguagem contribui para a estrutura do texto?

4. No título de seu “sermão”, Drummond cria, em diferentes momentos, uma relação de oposição com o texto no qual se inspirou. Explique por quê.

Se julgar necessário, retomar com os alunos o estudo da ironia, apresentado no Capítulo 16.

Figuras de pensamento

Além do trabalho com a linguagem nos níveis sonoro, lexical e sintático, também temos a possibilidade de provocar alterações no plano do significado (semântico). Quando manipulamos o sentido das palavras e expressões, criamos figuras de pensamento. Uma das mais conhecidas figuras de pensamento é a ironia, que já estudamos no Capítulo 16. Veremos, agora, algumas outras.

Hipérbole

O humor do cartum abaixo é produzido pelo exagero na resposta de Julio.



Julio e Gina

Caco Galhardo

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CACO GALHARDO/FOLHAPRESS

GALHARDO, Caco. Julio & Gina. Folha de S.Paulo. São Paulo, 15 out. 2007.

Quando ele afirma estar casado há cinco mil anos, sugere que seu casamento é tão ruim que parece durar uma eternidade. Todas as vezes que nos referimos a algo de modo exagerado, criamos uma hipérbole.

Eufemismo

Quando desejamos evitar o uso de palavras ou expressões desagradáveis ou excessivamente fortes, podemos substituí-las por termos que atenuam a ideia original. Sempre que fazemos isso, criamos um eufemismo. Observe a placa no cartum abaixo.



Non Sequitur

Wiley Miller

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NON SEQUITUR, WILEY MILLER © 2004 WILEY MILLER/DIST. BY UNIVERSAL UCLICK

MILLER, Wiley. Non Sequitur Panel, 21 fev. 2004. Disponível em:


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