7 Causa estranhamento o fato de os pintinhos dizerem “Pir” em lugar de “Piu”.
> Segundo a galinha, os pintinhos piam dessa forma (com um “r” em lugar do “u”) porque eles e a mãe são “galinhas caipiras”.
8 A resposta da galinha é uma representação de uma variedade social, como se pode notar pela estrutura “Nóis semo galinha caipira”, que apresenta diferenças morfossintáticas em relação ao que determina a norma de prestígio (“Nós somos galinhas caipiras”).
> O humor da tira é construído pela associação da galinha e dos pintinhos ao uso de uma variedade social pelo fato de eles serem “aves caipiras”. Como é evidente que essas aves não produziriam sons diferentes de galinhas e frangos criados em granjas, observa-se que o autor produz essa diferença para construir um efeito de humor. É importante destacar para os alunos que, nesse caso, com o objetivo de produzir o humor da tira, há uma representação estereotipada do que seria o “dialeto caipira”.
CAPÍTULO 13
Oralidade e escrita
A relação entre oralidade e escrita (p. 134)
1 A distância separa dois olhares, nunca dois corações. Perdoar é fácil, difícil é esquecer.
2 O autor do texto provavelmente não faz um uso frequente da escrita e desconhece vários aspectos básicos da ortografia da língua portuguesa.
> Chama a atenção, em primeiro lugar, a alternância entre letras maiúsculas e minúsculas no interior das palavras. Além disso, observa-se a ausência da acentuação gráfica (distancia/ distância, e/é, facio/fácil, dificio/difícil) e da pontuação. As sílabas de duas palavras (olhar es, esquec er) foram separadas de forma inadequada. Com relação à ortografia, várias palavras foram escritas de modo equivocado: “coracoes”, “perduar”, “facio”, “dificio”. Nota-se, ainda, que faltam espaços entre algumas palavras (“adistanciasepara”, “nuncadois”).
3 Uma hipótese possível para explicar o uso de u (em lugar de o) na palavra “perduar” é a influência do modo como essa vogal costuma ser pronunciada pela maioria dos falantes.
Atividades (p. 136)
1 O texto revela que o autor tem um certo grau de contato com as práticas de escrita, na medida em que, apesar de
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desconhecer alguns aspectos básicos da ortografia e das regras de acentuação gráfica da língua portuguesa, consegue selecionar as informações adequadas para compor o texto de uma placa e sabe organizá-las na forma em que costumam aparecer nesse gênero escrito.
2 Considerando os desvios apresentados na placa com relação ao que é recomendado pela gramática normativa no que diz respeito à ortografia, à colocação pronominal e à acentuação gráfica, podemos supor que o autor da placa deve ter frequentado poucos anos de escola.
a) Apesar dos problemas, nota-se um esforço de adequação às formas da escrita no texto. O uso da expressão “si vende”, apesar de ser iniciada com pronome e este estar grafada de forma diferente do que é recomendado pela gramática normativa, indica o conhecimento do uso pronominal do verbo nesse caso. Isso mostra alguma familiaridade com uma estrutura mais formal (voz passiva pronominal) e que costuma aparecer com mais frequência em textos escritos.
b) O autor da placa deve ter consciência da importância dada à escrita em nossa sociedade e da valorização atribuída ao emprego das normas urbanas de prestígio na escrita, ainda que ele possa não dominar essas normas.
3 Vende-se filé de siri.
4 Laerte, em sua tira, faz um jogo de palavras que tem como origem uma relação intertextual com o título da peça de Tennessee Williams (Um bonde chamado desejo), à qual se refere o texto 2, e com um trecho da citação da fala de Hamlet (“vã filosofia”), da peça homônima de William Shakespeare, transcrita no texto 3.
5 Laerte se apropria de duas referências literárias — o título da peça de Tennessee Williams (Um bonde chamado desejo) e uma célebre fala da personagem Hamlet (“Há mais coisas entre o céu e a terra [...] do que sonha a nossa vã filosofia”), da peça homônima de Shakespeare — para criar uma representação literal que parece nascer da referência, no primeiro caso, a um veículo de transporte coletivo: um bonde. O texto explora a semelhança sonora entre o adjetivo vã (vazia) e o substantivo van (veículo) para apresentar, lado a lado, “o bonde chamado Desejo” e a “van filosofia”. No contexto da tira, Laerte parece sugerir que o desejo não é mais um destino possível (já que o bonde não circula mais); a única opção de destino passa a ser a filosofia. O efeito de humor é criado por esse jogo intertextual de palavras e imagens.
As convenções da escrita (p. 137)
1 Resposta pessoal. Provavelmente, os alunos dirão que as palavras são escritas de modo diferente (ou estranho). Em alguns casos, não há a segmentação esperada (verbos e pronomes são escritos juntos, como em “mostrarãlhes”). Observa-se ainda que não se usam maiúsculas após ponto-final e não são utilizados acentos para marcar a tonicidade das palavras.
2 O fato de a escrita das palavras variar sugere não haver, no momento em que a carta foi escrita, uma padronização ou uma normatização para a escrita do português.
3 O autor usa a letra y em diversas palavras: muy, papagayo, asy, aquy, hy. No português atual, o y seria substituído pelo i. Observa-se ainda o uso de algumas vogais dobradas, como: capitaam, huũa, pees, maão, meesmo.
Atividades (p. 141)
1 Não são empregados os acentos agudos prescritos pela convenção ortográfica em “horrivel” (horrível), “lirio” (lírio), “açucar” (açúcar), “politicos” (políticos). É criado um neologismo: o adjetivo “residivel”, também sem acento, como sinônimo de “habitável”. É possível identificar o emprego de ao no lugar de como (conjunção comparativa) em “a toalha era alva ao lirio”, e ainda o emprego de ao no lugar de pelo em “amisade ao povo”. Ocorre também a ausência de acento grave em “as [às] margens do Tietê”. A convenção ortográfica não é obedecida em “amisade” (amizade) e “paiz” (país).
2 A grafia de “amisade” pode ser explicada porque a letra s pode representar dois sons: [s] ou [z]. Nas palavras casa e prosa, por exemplo, a consoante s está entre duas vogais, representando o fonema sonoro /z/. Por desconhecer algumas regras ortográficas da língua (por vezes, o fonema /z/ deve ser representado pela letra z, mesmo que entre vogais), Carolina usa, por analogia, s no lugar de z ao escrever a palavra amizade.
3 Carolina de Jesus, embora tenha tido baixa escolaridade, revela ter um certo grau de contato com as práticas da escrita, provavelmente por meio da leitura de livros e de jornais. Apesar das várias inadequações ortográficas identificadas no texto, percebe-se um esforço de Carolina no sentido de adequar a forma ao contexto da escrita (em função, provavelmente, da imagem que fazia da escrita a partir dos textos que lia). Percebe-se também um investimento na sofisticação da linguagem, em vários momentos do texto, como: “comprar-lhe”, “que há muito”, “A toalha era alva ao lirio” (apesar da inadequação do emprego de ao no lugar de como, há, sem dúvida, nessa comparação, uma tentativa de sofisticação), “Se a maioria revoltar-se”, “politicos açambarcadores”.
4 A opinião de Carolina de Jesus a respeito dos assuntos enumerados é:
> A autora considera amarga sua realidade na favela. Não acha que o lugar em que mora seja adequado para viver.
> Segundo ela, o governo deveria ser formado por pessoas que tivessem capacidade, o que para ela significa ter dó do povo e amizade pela população. Em sua opinião, os governantes ignoram as necessidades dos pobres.
> A mobilização da sociedade civil é vista, por ela, como a solução dos problemas sociais (“Se a maioria revoltar-se, o que pode fazer a minoria?”).
5 A tira faz uso de três palavras homônimas: eras (referência a um período de tempo), era (1ª pessoa do singular do verbo ser no pretérito imperfeito do indicativo) e heras (tipo de trepadeira). Por meio de um uso expressivo da linguagem, explorando a semelhança sonora e a diferença de sentido entre as palavras homônimas utilizadas, a tira apresenta uma definição poética do processo de mudança vivido por um sujeito.
6 Alertar as pessoas, no Dia Mundial do Câncer, sobre a necessidade de fazer exames periódicos como forma de garantir maiores chances de cura da doença.
7 O acento circunflexo está sobre a letra C e não sobre a letra A, diferentemente do que é determinado pela regra de acentuação dessa palavra (câncer).
> A maneira como foi grafada a palavra câncer no anúncio chama a atenção imediata do leitor. No caso, “algo estranho” está relacionado ao uso da acentuação de maneira diversa da que determina a regra ortográfica. A intenção do autor do anúncio é levar o leitor a concluir que, com relação ao próprio corpo, mudanças inesperadas, por menores que sejam, precisam ser investigadas. Nesse sentido, o texto pretende reforçar a necessidade de realização de exames preventivos para detecção precoce do câncer. O que pode parecer uma pequena alteração tem o potencial de fazer uma grande diferença em termos do tratamento da doença. Essa ideia dialoga com a parte do texto do anúncio que afirma que o câncer apresenta maiores chances de cura quando seu início é identificado em exames periódicos.
8 A alteração presente na nova regra diz respeito à eliminação do acento agudo nos ditongos abertos ei e oi das palavras paroxítonas.
> Possibilidades: estreia, apoio (verbo), ideia, etc.
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9 O último quadrinho contradiz a afirmação de Grump de que a regra é muito simples porque, para poder fazer um uso adequado da regra apresentada na tira, ele — e todos os falantes de língua portuguesa — precisa(m) compreender o que significam os conceitos gramaticais referidos pela nova regra, ou seja, precisa(m) saber o que significam ditongos abertos e palavras paroxítonas.
CAPÍTULO 14
A dimensão discursiva da linguagem
Os elementos da comunicação (p. 144)
1 Pela fala das personagens, parece tratar-se de uma conversa entre um autor (Adão Iturrusgarai) e sua personagem (Aline).
2 Primeiro, no segundo quadrinho, ao afirmar que é “o cara que desenha” Aline. Geralmente, as personagens de ficção (dos contos, romances, novelas, quadrinhos, filmes) transitam no espaço e no tempo de suas histórias e não conversam com seus criadores. Depois, no terceiro quadrinho, ao comentar que não passa de uma personagem e que o verdadeiro Adão é aquele que também o está desenhando. Uma personagem que tenha consciência de ser personagem e que ainda mencione seu criador é bastante incomum.
3 Não, pois fora da ficção não é possível uma personagem ficcional dialogar com seu autor.
Atividades (p. 148)
1 O anúncio traz a cena de um pássaro, pousado em uma poltrona de um ônibus, observando a paisagem que passa diante da janela do veículo em movimento. É justamente o fato de um pássaro estar viajando em um ônibus que torna a cena inusitada.
a) O objetivo do anúncio é levar os leitores a escolherem os voos da companhia aérea anunciada em lugar de optarem por viajar de ônibus, por exemplo.
b) O anúncio relaciona a imagem do pássaro viajando de ônibus ao enunciado “Por que viajar de outro jeito se você pode voar?” para sugerir ao leitor que qualquer pessoa pode voar com a companhia aérea anunciada. A imagem procura mostrar exatamente isso: assim como não faz sentido o pássaro, que pode voar naturalmente, viajar de ônibus, por analogia, também não faria sentido o leitor, que poderia viajar pela companhia aérea responsável pelo anúncio, viajar de outra forma.
2 O texto é dirigido a pessoas que não costumam viajar de avião, provavelmente por motivo de ordem financeira: em geral, uma passagem aérea para um determinado destino custa mais caro que uma passagem de ônibus, por exemplo. Essa imagem de público-alvo pode ser confirmada pela afirmação, feita no texto do canto inferior esquerdo do anúncio, de que, na companhia aérea em questão, todos podem voar e pela referência ao fato de que muitos dos passageiros que já viajaram por essa companhia nunca tinham voado antes. A ressalva apresentada no final do texto — “Agora voar não é mais um privilégio de poucos” — reforça essa imagem de interlocutor como público-alvo do anúncio.
3 “Gol. Aqui todo mundo pode voar”; “Dos 30 milhões de passageiros que já viajaram pela Gol, muitos nunca tinham voado antes.”; “Agora voar não é mais um privilégio de poucos.”
4 A função apelativa.
a) A função apelativa é revelada pela tentativa de convencer pessoas que não costumam viajar de avião de que determinada companhia aérea pode tornar esse sonho possível. Isso fica evidente quando o leitor é interpelado por meio de enunciados como: “Por que viajar de outro jeito se você pode voar?”, ou são apresentadas informações como: “Aqui todo mundo pode voar” e “Agora voar não é mais um privilégio de poucos”.
b) A função apelativa é típica dos anúncios porque eles têm por finalidade persuadir, e, na teoria da comunicação, essa é uma característica associada a essa função.
5 Há duas funções: metalinguística e poética. A primeira é identificada pelo fato de se tratar de uma explicação para os vocábulos em questão (solidão e vontade); a segunda, pela forma como essas explicações são apresentadas, isto é, por meio de metáforas que procuram traduzir cada um dos sentimentos referidos.
6 A função da linguagem predominante é a metalinguística. O objetivo de um dicionário tradicional é falar sobre a própria linguagem, com ênfase no código linguístico.
> No texto de Adriana Falcão, há o predomínio da função poética. Pode-se observar o trabalho cuidadoso da autora em relação à linguagem, com o objetivo de elaborar uma outra definição para as palavras escolhidas, a partir, principalmente, de uma observação sensível do cotidiano (marcada pela experiência do próprio sujeito, isto é, a definição é subjetiva), e na constituição de um texto que busca provocar efeitos de sentido em seu leitor. No texto do dicionário, há uma definição mais genérica e objetiva.
O trabalho dos interlocutores com a linguagem (p. 149)
1 O aluno deve reconhecer, ao fundo, marcos arquitetônicos de Brasília (à esquerda, o Congresso Nacional; ao centro, a catedral e a fachada de alguns ministérios; à direita, o Palácio do Planalto). Em primeiro plano, vemos uma árvore cujo tronco é formado por uma série de homens, vestindo ternos pretos; alguns fumam charutos, outros carregam pastas de executivos. A copa da árvore parece ser formada por cédulas de dinheiro.
2 O gênero discursivo é o verbete (de dicionário ou enciclopédia).
> É provável que os alunos identifiquem apenas algumas das características apontadas a seguir: o texto apresenta, ao lado do nome pelo qual a árvore é popularmente conhecida (fraudulência), seu equivalente em latim (o que sugere o rigor científico próprio desse gênero). Depois, é feita a descrição das características da árvore (nomeação da família a que pertence, como ocorreria com uma espécie vegetal real). Por fim, o texto informa sobre a “história” da introdução dessa “espécie” no Brasil e onde está localizada.
3 Fraudulência significa fraude. Como essa árvore é uma representante da flora brasiliense, o nome escolhido para identificá-la é a primeira pista fornecida ao leitor sobre a função crítica do texto.
4 Além de reconhecer a arquitetura de Brasília, com destaque para o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional, o leitor vê que essa árvore é constituída por homens de terno e tem uma copa formada por folhas de “dinheiro”. Relacionando as imagens ao nome da árvore, provavelmente concluirá que se trata de uma crítica às fraudes cometidas
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por alguns políticos ligados aos poderes executivo e legislativo, a julgar pelos edifícios representados na imagem. O sentido mais geral sugerido é que esse comportamento esteja associado ao Governo Federal, já que a árvore está “fincada no Planalto Central, bem no coração do Brasil”.
5 Nos dois casos, o cartunista pretende enfatizar a origem da fraudulência: a corrupção (Vegetale corruptus) e a maracutaia (termo coloquial para indicar a realização de um negócio ilícito, ou seja, uma fraude). Com esses nomes, parece sugerir que a vocação desse vegetal é a corrupção.
Atividades (p. 151)
1 As passagens são as seguintes: “O banho nosso de cada dia nos ensinou hoje / Que não podemos usar a água à vontade” e “E não nos deixeis cair em desperdício”. As duas passagens fazem referência a atitudes que contribuem para o agravamento da crise hídrica atual: banhos demorados e outras formas de desperdício de água (lavar calçadas, deixar a torneira aberta durante a lavagem de louças ou a escovação dos dentes, etc.). As expressões “não podemos usar a água à vontade” e “cair em desperdício” revelam o objetivo do anúncio de levar a sociedade em geral a refletir sobre como o consumo consciente desse bem (finito) é fundamental para que ele não se esgote. Isso é reforçado pelo enunciado “Santa nuvem está no céu / Mas não faz milagre”, que sugere que a “santa” a quem é dirigido o apelo feito no texto do anúncio não é capaz de reverter a situação de escassez de água. Portanto, a mudança de comportamento da população no que diz respeito ao uso desse recurso é essencial.
2 O gênero discursivo é a prece (ou oração).
> As seguintes características de uma prece podem ser identificadas no texto do anúncio: um apelo é dirigido a um ser “divino” — a “Santa Nuvem” —; a interlocução é marcada pelo uso de vocativo (“Santa Nuvem que estais no céu”), de pronomes na 1ª e na 2ª pessoas do plural (“... vossa chuva...”, “... vosso manancial...”, “o banho nosso de cada dia nos ensinou...”, etc.) e de verbos no Imperativo (“... não nos deixeis...”, “enchei nossos...”, etc.); o texto termina com uma interjeição (usual em preces ou orações) para expressar o desejo de que o apelo feito seja atendido (Amém).
3 A imagem de uma figura feminina que representa, no anúncio, a “Santa Nuvem” a quem o apelo feito na prece se dirige. Essa figura feminina foi retratada de forma a evidenciar sua semelhança com representações (em quadros ou em esculturas de cenas sagradas) das santas do catolicismo: ela usa um véu, uma auréola circunda sua cabeça e suas mãos estão postas em sinal de prece.
4 A intenção dos criadores do anúncio foi a de levar os leitores a perceberem a gravidade da crise hídrica e a concluírem que orações ou preces não serão uma solução para o problema: somente a ação consciente da sociedade no que se refere ao consumo pode evitar o esgotamento da água. O uso da estrutura de uma prece dirigida à “Santa Nuvem”, associada ao enunciado “Santa Nuvem está no céu / Mas não faz milagre”, sugere que não adianta rezar para que a crise hídrica seja resolvida ou tenha seus efeitos diminuídos, pois um milagre não vai acontecer.
5 No primeiro quadrinho, a mulher estabelece dois papéis a serem desempenhados no diálogo: o homem deve fazer perguntas; ela se encarregará das respostas. No segundo quadrinho, o balão de diálogo sobre a cabeça do homem apresenta uma sequência de pontos, como se ele não soubesse o que perguntar, nesse contexto. A reação da mulher, no terceiro quadrinho, é ainda mais surpreendente, porque sua “fala” equivale a uma sequência de teclas de computador que têm a função de desligar a máquina. Seu interlocutor estranha essa “fala” e comenta: “Eu não perguntei nada”. No último quadrinho, mais uma vez a mulher diz algo que parece totalmente inesperado no contexto de uma conversa: “Preste atenção na resposta e esqueça a pergunta”. Como a reação do homem deixa claro que ele continua sem entender o que está se passando, ela conclui: “Vou ter problemas com você”.
6 Em uma situação de interlocução, espera-se, por exemplo, que um dos participantes do diálogo faça uma pergunta ou comente algo e outro dê uma resposta ou faça uma observação coerente em relação ao que foi dito. Na tira, o estranhamento é provocado pelo fato de as duas personagens não se comportarem da forma esperada: suas falas não constituem um diálogo. O homem claramente não compreende o que sua interlocutora espera que ele faça; ela, por sua vez, também não permite ser compreendida, comprometendo, assim, a interlocução.
7 Em qualquer situação de diálogo, espera-se que os interlocutores tenham uma atitude colaborativa ao desempenharem seus papéis. Assim, em lugar de imaginar, como faz a mulher, que a função de alguém é sempre perguntar e a de seu interlocutor sempre responder, as falas dos interlocutores, em um diálogo, acontecem uma em função da outra: alguém introduz um tópico e a outra pessoa diz algo que leva em conta o que foi dito, acrescentando informações, expressando opiniões, manifestando dúvidas, etc. Nesse sentido, o comportamento de cada interlocutor se define em função da relação estabelecida entre os lugares discursivos que, alternadamente, ocupam no diálogo, ora como falantes, ora como ouvintes. Na tira, o comportamento da personagem feminina viola essa condição necessária para o funcionamento de um diálogo.
Enem e vestibulares (p. 152)
1 Alternativa C.
2 a) O texto apresenta marcas de natureza lexical, como galera, vovozada, quebrar, trampado, além de marcas como pra e tá, que são variantes de pronúncia.
b) Expressões como galera e grana são utilizadas por grupos específicos, enquanto tá e botar são de uso mais geral, indicando uma marca de informalidade usada pela maioria dos falantes.
UNIDADE 5 Linguagem e sentido
CAPÍTULO 15
A construção do sentido
Sentido e contexto (p. 154)
1 A charge apresenta um homem sentado em uma cadeira segurando uma espingarda e vestido com roupas antiquadas. A espingarda que ele segura também não parece ser uma arma moderna. Na parede, como troféus de caça, aparecem as cabeças de uma tartaruga, um macaco, uma arara, um peixe e uma onça.
2 Espera-se que os alunos respondam negativamente. Além dos elementos verbais e não verbais, é necessário reconhecer as referências gráficas para estabelecer a relação que está na base da construção do efeito de humor da charge de Dalcio.
3 a) Espera-se que o aluno diga que toma contato com as imagens quando utiliza as notas de real. Ou seja, a todo instante que precisa comprar ou pagar algo. A nota de um dólar também é bastante conhecida. Talvez o aluno já tenha feito alguma viagem ao exterior e utilizado dólares, ou tenha visto a imagem dessa nota em reportagens sobre o valor do real brasileiro frente à moeda norte-americana.
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b) Provavelmente a resposta dos alunos será negativa. Espera-se que eles reconheçam que a mudança drástica de contexto dos animais que ilustram as notas de real e da imagem de George Washington na nota de um dólar seja a causa para eles não os reconhecerem na charge de Dalcio, apesar de terem contato diário com essas imagens quando fazem uso de seu dinheiro no país, ou do dólar quando viajam para o exterior.
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