Português: contexto, interlocução e sentido



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. Acesso em: 3 maio 2016.

Texto para análise (p. 106)

1 O fogo (ardor) e a água (pranto, contenção).

a) O fogo simboliza a paixão que toma o eu lírico, e a água, o pranto pelo sofrimento amoroso, mas também pode ser interpretada como a contenção dessa paixão (a neve, que se derrete diante do sentimento amoroso).

b) As imagens utilizadas para fazer referência ao fogo são: “ardor”, “incêndio”, “abrasas”, “chamas” (há também uma referência explícita ao “fogo”). Para a água, temos: “pranto”, “mares de água”, “rio de neve”, (o rio ou pranto que) “corres desatado”, “cristais”.

2 O interlocutor é o sentimento amoroso, a paixão.

a) A paixão é caracterizada a partir de duas diferentes manifestações: ela “queima” escondida no peito do eu lírico e corre em pranto pelo seu rosto. Além disso, é fogo e, quando assim se manifesta, está aprisionada em cristais, simbolizando a contenção ou a prudência com relação a esse sentimento; quando cristal, é derretido pelas chamas.

b) O eu lírico questiona a contradição na manifestação do sentimento amoroso: se ele é fogo, não deveria passar brandamente; se é neve, não poderia queimar tanto. Mais uma vez, temos as contradições da paixão, que confundem o eu lírico por sua manifestação conflituosa.

3 a) A figura que indica essa tensão é a antítese: o eu lírico opõe os termos “incêndio” a “mares de água”, e “fogo” a “rio de neve”.

b) Abrasas × corres desatado; fogo × cristais; cristal × chamas; fogo × neve.

c) A fusão ou aproximação dos opostos se dá pela transformação dos elementos que simbolizam os sentimentos descritos (a paixão e a contenção): o “incêndio” está disfarçado em “mares de água”; o “rio de neve” se converte em “fogo”. Assim, a paixão (incêndio/fogo) se funde com a manifestação de seu refreamento/sofrimento (mares de água/rio de neve).

4 a) Nos dois versos, há paradoxos que encaminham a fusão completa entre os opostos que se concretizará nos versos finais. Ao questionar a contradição extrema que há entre um “fogo que passa brandamente” e a “neve que queima”, o eu lírico aproxima os elementos que se fundirão em uma única expressão nos últimos versos (“neve ardente”/“chama fria”).

b) Não. Embora sejam construídas a partir da oposição dos mesmos elementos, temos uma inversão na posição de cada um deles: em “neve ardente”, o primeiro elemento refere-se ao frio e o segundo ao calor; em “chama fria”, temos primeiro a referência ao calor e depois ao frio. Por si só, essa inversão já altera o significado de cada expressão, mas, no contexto do poema, essa diferença é mais significativa.

c) O paradoxo “neve ardente” pode ser interpretado como a contenção que desaparece quando a paixão nasce; por oposição, “chama fria” pode significar a paixão “controlada”, que não representa ameaça ou descontrole (não queima).

5 O Amor, segundo o eu lírico, utilizou uma estratégia para “disfarçar” a sua tirania, fazendo com que parecesse menos ameaçadora: o que ele desejava era despertar um sentimento mais arrebatado (“como quis que aqui fosse a neve ardente”) que eliminasse qualquer defesa ou prudência contra a paixão. Para que isso de fato ocorresse, fez com que a paixão parecesse, primeiro, um sentimento contido (“Permitiu parecesse a chama fria”). Assim, garantiu que o eu lírico não se precavesse contra a paixão que ameaçava dominá-lo.

Literatura e contexto histórico (p. 106)

> Espera-se que os alunos, ao refletirem sobre o julgamento de Galileu, percebam que a condenação do cientista ilustra o embate que caracteriza o conflito barroco. De um lado, está a razão (a aceitação e o desenvolvimento, por Galileu, da teoria de Copérnico, que comprovava que a Terra girava em torno do Sol); de outro, estão a fé e os dogmas da Igreja Católica (representados pelo Tribunal do Santo Ofício), que condena a teoria de Copérnico por contradizer a visão geocêntrica defendida por ela. A condenação de Galileu pela Inquisição mostra que, no Barroco, o conflito humano está na oposição entre uma visão marcada pela religiosidade e pelo poder da Igreja e a busca pela racionalidade. As novas descobertas e a reformulação de teorias a partir de uma perspectiva humanista, associada a uma forte pressão por parte das instituições religiosas, criam o contexto que gera o conflito no homem barroco. Caso deseje, explique aos alunos que esse mesmo conflito entre razão e fé (e a noção fortíssima de pecado) está presente também nos versos de Gregório de Matos, em que o eu lírico pede perdão pelo desrespeito aos mandamentos da Igreja.

Informação importante (p. 107)

O Sermão da Sexagésima A montagem argumentativa de um sermão

No Sermão da Sexagésima, o pregador jesuíta define os passos a serem seguidos na montagem argumentativa do sermão. Os procedimentos defendidos por ele correspondem à estrutura da argumentação em voga nos sermões do século XVIII.


Página 375

1. Definir a matéria.

2. Reparti-la.

3. Confirmá-la com a Escritura.

4. Confirmá-la com a razão.

5. Amplificá-la, dando exemplos e respondendo às objeções (argumentos contrários).

6. Tirar uma conclusão e persuadir, exortar.

Efeito da repetição das estruturas sintáticas

No trecho do Sermão da Sexagésima reproduzido no livro, Vieira recorre várias vezes ao paralelismo sintático. O trecho escolhido ilustra o efeito retórico-argumentativo causado por essa estratégia.

A estrutura sintática básica que se repete é constituída por uma oração subordinada adverbial condicional + oração principal + oração coordenada assindética. O efeito de sentido criado é o de “martelar”, nos ouvidos dos fiéis, um mesmo raciocínio: condição → negação → conclusão.

Se tudo são troncos → não é sermão → é madeira.

Se tudo são ramos → não é sermão → são maravalhas.

Se tudo são folhas → não é sermão → são vercas.

Se tudo são varas → não é sermão → é feixe.

Se tudo são flores → não é sermão → é ramalhete.

Como a intenção de Vieira é explicar por que o sermão pode ser comparado a uma árvore, ele decompõe os elementos constitutivos da árvore (raízes, tronco, ramos, folhas, varas, flores e frutos) e mostra, por meio de paralelismos, que a árvore só existe na presença de todos esses elementos. Mais adiante, ele expandirá o raciocínio para afirmar que os sermões não fazem fruto porque não contêm todos os elementos que deveriam conter.

Texto para análise (p. 111)

1 Os pregadores têm a função de impedir, com suas palavras, que a corrupção se dissemine entre os seus fiéis.

a) Vieira questiona seus ouvintes sobre as causas da corrupção que toma conta da terra, já que há tantos pregadores que deveriam impedi-la (“mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção?”).

b) O questionamento que faz aos seus ouvintes serve para enfatizar a afirmação que fará a seguir, apresentando o que ele considera as duas causas (“o sal que não salga” e “a terra que não se deixa salgar”) para a corrupção que vê na sociedade em que vive.

2 a) Vieira identifica os seguintes motivos para que os pregadores não cumpram sua função: não pregam a verdadeira doutrina; dizem uma coisa e fazem outra; pregam a si mesmos e não a Cristo em seus sermões.

b) Segundo o texto, “a terra não se deixa salgar” porque: os ouvintes não querem receber a verdadeira doutrina; querem imitar as atitudes incorretas dos pregadores e não seguir seus ensinamentos; servem aos seus próprios apetites em lugar de servir a Cristo.

c) Vieira constrói toda a sua argumentação a partir de paralelismos, por meio da repetição de estruturas sintáticas: a cada período, repete cada uma das partes da afirmação destacada no enunciado dessa questão (“ou é porque o sal não salga”,/ “ou porque a terra se não deixa salgar”) seguida da causa para a corrupção que identifica.

d) A retomada por meio das estruturas paralelísticas, além de enfatizar os argumentos de Vieira, conduz o raciocínio do ouvinte para que ele chegue à conclusão a que o padre deseja.



3 Vieira conclui que o pregador que não cumpre sua função de forma adequada deve ser lançado fora “como um inútil, para que seja pisado de todos”, conforme disse Cristo. Segundo ele, ninguém é mais merecedor de desprezo que o pregador que “com a palavra, ou com a vida prega o contrário” daquilo que deve ensinar e fazer.

4 Resposta pessoal. Seria interessante que os alunos percebessem que o sermão de Vieira permanece bastante atual. É possível identificar, hoje, tanto os pregadores religiosos que não cumprem sua função (porque pregam uma coisa e fazem outra ou porque não são ouvidos pelos fiéis) quanto os fiéis que não seguem os ensinamentos da religião a que pertencem. Além disso, seria possível associar esses pregadores e fiéis a outras figuras da atualidade: por exemplo, políticos que fazem promessas antes das eleições e não as cumprem; cidadãos que seguem uma ética particular quando se trata de cumprir deveres ou que adotam uma postura indiferente porque não acreditam mais na política ou nas instituições públicas.

CAPÍTULO 11

Arcadismo

Leitura da imagem (p. 114)

1 As árvores e os arbustos aparecem de modo organizado, plantados lado a lado, de modo simétrico, dando ao observador a impressão de ordem e de equilíbrio.

2 O que se percebe é que tudo na construção do palácio e dos jardins parece calculado, medido, disposto geometricamente para produzir, no observador, a noção de simetria e de controle. O resultado final é a ideia de ordem devido ao equilíbrio entre as partes (se dividirmos a tela ao meio, veremos que os dois lados do palácio são equivalentes). A simetria é provocada pela duplicação dos elementos: há, na entrada, duas alamedas; os pavilhões se organizam dos dois lados do espelho d’água. A natureza, que poderia representar o toque “selvagem” e desordenado na imagem, também foi “domada” para representar os desenhos geométricos.

3 O que fica evidente no quadro de Pierre-Denis Martin é o total controle do ser humano sobre a natureza. Em primeiro lugar, pelo gigantismo da construção. É admirável que, no século XVII, tenha sido erguido um palácio como esse. Além disso, a organização das alamedas e dos jardins nos leva a concluir que todo o terreno em torno do palácio foi moldado pela mão humana, para que as árvores assumissem a disposição geométrica apresentada na tela.

> Porque demonstra que o rei, com seu poder, é capaz de domesticar até mesmo a natureza.

Da imagem para o texto (p. 115)

4 a) O eu lírico se dirige a uma mulher, chamada Marília.

b) Que observe, com ele, as perfeições da natureza.



5 A natureza é apresentada de modo positivo: o rio Tejo “sorri”, as borboletas coloridas brincam, enquanto o rouxinol e a abelhinha voam; o campo é “alegre” e a manhã é clara. Em resumo, o cenário apresentado pelo eu lírico é alegre e acolhedor.

> O eu lírico usa a natureza para mostrar como o seu estado de espírito depende da visão de Marília. Quando caracteriza a natureza de modo positivo, definindo um ambiente marcado pela alegria e pelo otimismo, está preparando a apresentação do argumento final: “Tudo o que vês, se eu não te vira, / Mais tristeza que a morte me causara”. A alegria e o bem-estar promovidos pelo lugar agradável em que se encontram perderiam o significado se ele não pudesse ver a sua amada Marília.

6 Os verbos associados aos elementos da natureza demonstram ações simples e inocentes: o rio sorri, o vento (Zéfiros) brinca, o rouxinol suspira, a abelhinha gira. O diminutivo abelhinha transmite uma certa infantilização e, portanto, marca inocência.
Página 376

> A combinação da descrição positiva, das ações associadas à natureza e do diminutivo provoca uma sensação de que há um clima de festa, de brincadeira que se desenrola naquele campo alegre diante do olhar de Marília.

7 A perfeição do cenário sugere tratar-se de uma natureza artificial. O modo infantilizado como os elementos da natureza são referidos no poema também reforça a ideia de uma natureza pouco natural.

> Resposta pessoal. Espera-se que o aluno perceba que, no poema, a natureza é tão “construída” pelo olhar de Bocage quanto os jardins do palácio. Nos dois casos, o que é apresentado ao leitor/observador não é um cenário realmente natural, mas sim uma natureza criada pelo ser humano, para se acomodar a seus propósitos. É possível, porém, que alguns alunos discordem dessa leitura, contrapondo a elaboração dos jardins à aparente simplicidade do cenário do poema. Nos dois casos, entretanto, é essencial que a artificialidade seja constatada.

Texto para análise (p. 119)

1 O eu lírico faz um convite à sua amada para que desfrute, com ele, a beleza e a simplicidade da natureza.

2 O cenário apresentado é bucólico. O inverno se foi e a “fértil Primavera” enche o prado de flores, as aves voam e o vento nordeste torna o céu e o rio Tejo azuis.

> O tema árcade presente nessa descrição é o locus amoenus, isto é, a natureza é apresentada como um lugar tranquilo e agradável onde os amantes se encontram.

3 Há dois elementos que retomam a poesia clássica: na forma, o uso do soneto; no conteúdo, a referência a elementos da mitologia clássica (os Zéfiros e os Amores).

4 Os cenários que se opõem são a cidade (simbolizada pela corte) e a natureza. A corte é caracterizada pela sua grandeza falsa, oca (“vã”), e a natureza, pela perfeição.

> O tema desenvolvido é o fugere urbem. O eu lírico convida a sua amada a abandonar a grandeza vazia da cidade, da urbanização, e a desfrutar da perfeição que o cenário bucólico oferece aos amantes.

5 O cenário bucólico, com a descrição da natureza como um lugar agradável, é apresentado nas duas primeiras estrofes; o convite à amada, nos dois tercetos.

> A construção do cenário, além de desenvolver o tema do locus amoenus, serve de base para a apresentação do fugere urbem. A natureza, apresentada como modelo de perfeição, é o argumento para que a amada aceite o convite do eu lírico, abandonando a “falsa” grandeza da corte.

Literatura, filosofia e ciência (p. 119)

> Espera-se que os alunos, ao observarem as informações apresentadas no capítulo, percebam a importância das novas ideias surgidas na Europa que se opõem à força da religião na determinação dos comportamentos humanos. Na França, as ideias iluministas ganham destaque, com a divulgação dos pensamentos de grandes filósofos, como Descartes, Voltaire, Rousseau, Montesquieu e Diderot. Este último, junto com D’Alembert, coordenou a organização e a publicação da Enciclopédia, que, como se viu no capítulo, é a principal expressão do Iluminismo. No campo da ciência e da tecnologia, um acontecimento em especial demonstra a mudança de perspectiva que caracteriza esse período: Newton descobre e enuncia a lei da gravitação universal. A busca pela racionalidade passa a ser uma preocupação do ser humano, que deseja entender e explicar o mundo que o cerca a partir da razão, e não mais viver o conflito motivado pela fé, como acontecia no período que compreende o Barroco. O que ocorre, então, é a valorização e a retomada de um modelo que reflita uma visão de mundo guiada por essa nova maneira de enxergar a realidade: daí o retorno aos ideais clássicos que privilegiam exatamente essa visão de mundo. A natureza passa a ser a medida da perfeição, assim como o era para os antigos, e determina, por exemplo, a formação da Arcádia Clássica, que pregará o retorno à natureza como a melhor maneira de viver. O poema de Bocage, “Recreios campestres na companhia de Marília”, apresentado na abertura do capítulo, é um bom exemplo da perspectiva árcade.

Texto para análise (p. 123)

1 O eu lírico, deprimido com a sua prisão, diz à sua amada que encontra forças para resistir ao sofrimento no amor que nutre por ela e na ilusão de contemplar sua figura.

> O eu lírico encontra-se numa masmorra. O poeta, na vida real, foi preso logo após a Inconfidência Mineira, da qual foi um dos integrantes, e escreve parte das liras no cárcere. Por isso a relação entre a situação poética de Dirceu e os episódios vividos pelo poeta.

2 O primeiro interlocutor definido é a amada do poeta, Marília. O segundo é o Amor, que aparece personificado.

a) A Marília, o eu lírico relata o sofrimento pela distância que se impôs entre eles em razão da prisão e como a imagem da amada, ainda que ilusória, o reconforta. Ao Amor, o eu lírico faz um apelo: que ele vá até sua amada e veja se ela está triste, pois, se isso acontecer, será um consolo para ele.

b) Quando o eu lírico se dirige à sua amada para tratar do sofrimento amoroso em razão do distanciamento entre eles, recupera um dos grandes temas clássicos desenvolvidos na poesia camoniana. A personificação do Amor, figura mitológica a quem o eu lírico faz seu apelo, é outro elemento que marca a retomada dos antigos poetas clássicos nos quais Camões se inspirava.

3 a) Esses versos mostram o eu lírico angustiado, triste, deprimido em razão do sofrimento que vive por estar preso e distante de sua amada.

b) Não. A referência “à dor imensa” e “à violência da mágoa” (que o eu lírico não suporta) indica um “exagero” na apresentação dos sentimentos que é pouco comum entre os árcades.

c) Além da manifestação “mais real” dos sentimentos do eu lírico, o que se evidencia como rompimento com características do Arcadismo é o cenário: Dirceu não se encontra em uma paisagem tipicamente árcade, caracterizada como um lugar agradável (o locus amoenus), mas em uma masmorra lúgubre, muito diferente da natureza perfeita típica do Arcadismo.

4 É possível identificar a busca pela simplicidade formal pelo uso de uma linguagem mais clara, com um vocabulário mais simples e sem rebuscamento. Não há, no poema, metáforas complexas que dificultem a compreensão do que é dito, pois uma das características da poesia árcade é a expressão das ideias de forma clara. Seria interessante, nesse momento, comparar a estrutura utilizada na lira de Gonzaga aos poemas barrocos que os alunos estudaram no capítulo anterior. Isso permitiria a percepção de uma “simplificação” da linguagem que garante a maior facilidade na compreensão dos poemas árcades.

5 O Amor é apresentado como um guerreiro forte, que vence os tigres e que toma como objetivo render o eu lírico, declarando-lhe guerra ao coração.

> O eu lírico se refere ao sentimento amoroso como um “cego engano”, do qual ele não conseguiu fugir. Ao utilizar essa imagem, o eu lírico associa o Amor a algo que lhe causa sofrimento, mas que, mesmo assim, acaba por vencê-lo.

6 O eu lírico dirige-se às pedras. Ele diz para temerem a ferocidade do Amor (caracterizado como “tirano”), que mais se empenha onde há mais resistência.

7 O elemento da paisagem local (Minas Gerais) incorporado é o cenário rochoso (penhascos e penhas).

> O eu lírico marca a oposição entre o cenário e sua alma: seria de esperar que, entre as rochas que caracterizam o cenário, se encontrasse um “peito forte”, mas entre as “penhas” se criou uma “alma terna” e um “peito sem dureza”, que não consegue resistir à guerra que o Amor declara contra ele.

8 O eu lírico opõe a dureza do cenário à força do Amor. Nem mesmo um cenário como esse garantiu sua proteção contra o sentimento que o tomou, conforme se observa na segunda estrofe do soneto. Mais do que isso, na estrofe final, o eu lírico alerta as “penhas” sobre a tirania do amor que será mais forte quanto mais resistência houver. Poderíamos dizer que, nessa estrofe, o eu lírico sugere que cenário “duro” é o que determina a força maior que o Amor empregará para vencer seu adversário.
Página 377

9 Espera-se que os alunos percebam, na comparação entre os dois textos, que a visão do Amor desenvolvida por Cláudio Manuel da Costa é muito semelhante àquela apresentada por Camões. Para orientar melhor a leitura analítica, sugerimos que cada um dos pontos seja proposto para discussão entre os alunos. Embora as respostas possam variar, em linhas gerais, a leitura dos dois textos deverá levá-los a concluir que:

a) No soneto de Camões, o eu lírico é derrotado pelo Amor. Sua derrota deve-se ao fato de que, uma vez tocado pelo sentimento amoroso, ele recupera a esperança, justamente o sentimento que ele não tem, fazendo com que se sinta seguro e protegido dos efeitos do Amor. Na última estrofe, a “astúcia” do Amor é revelada: ele desperta na alma das pessoas “Um não sei quê, que na[s]ce não sei onde. / Vem não sei como, e dói não sei por quê”.

b) Sim. A semelhança no comportamento do eu lírico nos dois poemas ocorre porque ambos investem na razão (o fato de terem consciência dos perigos do Amor) como proteção contra os danos do Amor. O Amor também é caracterizado de modo parecido. Em Camões, ele aceita o desafio e derrota o eu lírico. No soneto de Cláudio Manuel da Costa, o Amor é caracterizado como uma espécie de guerreiro cuja missão é tomar o coração do eu lírico.

c) A conclusão a que chega o eu lírico, no soneto de Cláudio Manuel da Costa, é semelhante àquela do soneto camoniano: não há condição humana (ou da natureza) capaz de enfrentar a força do sentimento amoroso. Por esse motivo, as pedras são advertidas pelo eu lírico: “Vós, que ostentais a condição mais dura, / Temei, penhas, temei, que Amor tirano, / Onde há mais resistência, mais se apura”.



Enem e vestibulares (p. 125)

1 Alternativa C.

2 Alternativa A.

Jogo de ideias: debate oral (p. 126)

A atividade proposta tem por objetivo, além de aprofundar a discussão apresentada na unidade, levar os alunos a refletir sobre as diferentes visões existentes sobre o processo de colonização do nosso país a partir do contexto histórico-cultural dos séculos XVI, XVII e XVIII e as manifestações literárias produzidas nesse período. Além disso, achamos ser possível, por meio dessa atividade, estimular a análise dos aspectos presentes nos textos da época, que permitem identificar tanto a visão do colonizador quanto a do colonizado durante o processo de colonização da terra descoberta.

Acreditamos, também, que a tarefa de organizar um debate para discutir essas diferentes visões contribuirá para que os alunos tenham estimulada a habilidade de expressar-se oralmente com clareza, desenvoltura e coerência, além de perceberem a importância de “preparar” seu discurso, seja na função de mediadores, de debatedores ou de representantes da plateia. Para que a atividade tenha o êxito esperado, é importante que os alunos sejam orientados a preparar muito bem cada uma das etapas apresentadas na proposta. A seguir, apresentamos algumas sugestões.

1ª etapa: Preparação do debate

Nessa 1ª etapa, sugerimos que as tarefas sejam atribuídas aos grupos também por meio de sorteio, já que a função dos debatedores e de seus grupos será mais trabalhosa que a dos grupos que deverão integrar a plateia e escolher representantes para fazer perguntas sobre o assunto debatido. Feito isso, os grupos que ficarão responsáveis por defender as posições definidas para o debate deverão selecionar o debatedor e ajudá-lo a preparar a sua argumentação.

No que diz respeito à elaboração da argumentação para cada uma das posições a ser defendida no debate, seria oportuno também chamar a atenção dos alunos para alguns elementos importantes.

O grupo que deverá assumir a perspectiva do colonizador, defendendo que o processo de colonização foi benéfico e trouxe vantagens para o povo colonizado, pode argumentar que esse processo determinou o crescimento do país e permitiu que uma organização social, política e econômica tivesse início na nova terra. Cidades foram fundadas, bibliotecas e universidades foram criadas e houve intercâmbio cultural entre o colonizador e o colonizado, o que levou a uma mudança de mentalidade desses povos, provocada pelo contato entre culturas e religiões muito diferentes. Além disso, os textos dos cronistas revelam uma visão bastante positiva do Brasil: é uma terra fértil, rica, com grande potencial de desenvolvimento e habitantes cordatos e receptivos. E foi essa visão que favoreceu, em grande parte, a vinda de muitos portugueses e outros imigrantes para cá, a fim de ocuparem e colonizarem o território, fazendo com que uma terra ainda “selvagem” e inexplorada pudesse crescer.

Por outro lado, o grupo que deve defender que o processo de colonização foi nocivo pode argumentar que o real interesse do colonizador não era o de ocupação e expansão do território brasileiro, mas o de exploração das riquezas que aqui existiam. Também pode destacar o processo de aculturação dos nativos, que foram “compulsoriamente” convertidos à fé cristã, a necessária submissão da colônia aos interesses políticos e econômicos de Portugal, os efeitos nocivos da postura predatória adotada pelos colonizadores, que levou ao desmatamento e à quase extinção de nossas jazidas de metais. Pode, ainda, ressaltar que a mentalidade predatória que caracteriza nosso país até os dias atuais foi gerada no processo de colonização.

Há outros elementos a serem identificados nos textos e no contexto histórico do período que podem ser usados para construir a argumentação para defender cada uma das posições determinadas na proposta. Por isso, é importante orientar os alunos a reler a teoria e os textos literários apresentados na unidade, além de pesquisar na internet e em livros para construir uma argumentação consistente e selecionar fatos, informações e trechos de textos que sustentem o ponto de vista que devem defender.



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