Português: contexto, interlocução e sentido



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. Acesso em: 8 abr. 2016.
Página 394

CAPÍTULO 19

A estrutura das palavras

As palavras e sua estrutura (p. 199)

1 Os termos são gelo (em “Era do Gelo”) e degelo. O substantivo gelo nomeia o estado sólido alcançado pela água (ou outros líquidos) sob a ação do frio. A expressão “Era do Gelo” é o título de um filme de animação que se passa na Era Glacial. O substantivo degelo, que, na charge, também se refere a uma suposta “era”, indica a transformação de estado sólido em estado líquido devido ao aumento da temperatura da Terra.

2 As consequências da ação humana para o aumento da temperatura terrestre.

3 A alteração feita foi o acréscimo de um prefixo (des-) ao radical gelo. Como esse prefixo agrega a ideia de oposição ao radical em que é acrescentado, faz com que a palavra passe a designar o estado contrário ao do gelo, por meio da ação de degelar.

> A lista de exemplos é grande. Alguns seriam: desigual, desleal, desconfiança, demover, etc.

Atividades (p. 203)

1 Há um jogo de palavras entre “(jogador) raçudo” e “(torcedor) racista”.

> As duas palavras são formadas a partir da palavra raça, usada para fazer referência tanto à etnia quanto, em sentido figurado, ao espírito de luta, à coragem que caracteriza um indivíduo ou um grupo. Ao radical dessa palavra (raç-) foram acrescentados os sufixos -udo (que significa “provido” ou “cheio de”) e -ista (que indica “adepto de uma doutrina ou sistema”). O sentido associado a cada um dos sufixos acrescentados ao radical raç- determina a diferença de significado entre os termos usados na charge para fazer referência a comportamentos distintos no futebol: o adjetivo raçudo é utilizado para caracterizar o jogador que demonstra grande empenho e determinação quando está em campo. Já o adjetivo racista refere-se ao torcedor que usa termos preconceituosos para ofender outras pessoas.

2 A charge traz duas imagens: a primeira, de um punho fechado com o polegar para cima (intencionalmente retratado da mesma forma que o símbolo curtir de uma conhecida rede social), representa um gesto que indica aprovação, relacionado a jogador raçudo; a segunda, com o polegar para baixo, desaprovação ou condenação, relacionado a torcedor racista.

3 A partir do contexto estabelecido pelo título (“Raça no futebol”) da charge, a oposição entre jogador raçudo e torcedor racista, associada aos gestos de aprovação e desaprovação (respectivamente), faz uma crítica às manifestações de racismo e de preconceito dos torcedores no ambiente em que esse esporte é realizado.

4 O autor vai até uma farmácia e, ao pedir um determinado medicamento, recebe a informação de que sua importação foi interrompida.

5 A partir dessa situação, o autor faz uma reflexão sobre como as farmácias hoje são ambientes desagradáveis, nos quais são exibidas opções de produtos de diversas naturezas (higiene pessoal, beleza, etc.). O setor de medicamentos, no entanto, “resume-se a uma parede no fundo da farmácia”, segundo ele, e, na maior parte dos casos, o cliente não encontra o remédio que procura.

6 Ele fica irritado porque a moça usou um eufemismo — o termo descontinuada (cuja estrutura informa aos leitores: “Des + continuar = interromper”) —, em lugar de dizer claramente que a importação do remédio que ele precisava comprar havia sido interrompida. O comentário irônico refere-se justamente à necessidade de resgatar a estrutura da palavra utilizada pela atendente para compreender o que, de fato, está sendo dito.

7 As palavras são desagradáveis e desabastecido.

a) Desagradáveis: des- + agradáveis; desabastecido: des- + abastecido.



b) Sim. Nos dois casos, o prefixo des- tem o sentido de negação.

CAPÍTULO 20

Formação de palavras I

Composição e outros processos (p. 204)

1 Autoajuda.

> O termo autoajuda refere-se a uma ação individual que consiste em resolver determinados problemas de ordem psicológica ou alcançar objetivos preestabelecidos por meio do uso de recursos próprios (mentais e morais).

2 Quando ouve a informação de que se trata de um livro de autoajuda, o homem de camisa listrada conclui, pelo significado por ele atribuído a essa palavra, que somente o homem de chapéu poderia ser o autor de um livro com orientações sobre como mudar a própria vida.

3 “Se está recebendo conselhos de outra pessoa, é um livro de ajuda... Autoajuda não inclui outra pessoa.”

a) Segundo o homem de camisa listrada, o termo “autoajuda” seria aplicável, por exemplo, quando uma pessoa cai e se levanta sozinha.

b) Para o homem de camisa listrada, o termo autoajuda só pode ser usado para fazer referência a algo criado, pensado, feito pelo próprio indivíduo que necessita de ajuda.

4 Embora autoajuda faça referência a algo que um indivíduo faz por si mesmo, isso não significa, como supõe o homem de camisa listrada, que não se possam seguir conselhos ou orientações dados por outra pessoa (o autor de um livro de autoajuda, por exemplo). Nesse sentido, o termo tem uma conotação mais ampla, referindo-se a ações individuais, mas que podem ter sido desencadeadas por uma orientação alheia.

Atividades (p. 208)

1 Dalcio, em sua charge, faz referência ao alto número de casos de dengue contabilizados anualmente no Brasil. Em algumas regiões, considera-se que essa doença se tornou endêmica. O aumento no número de casos é resultado da proliferação dos mosquitos transmissores da dengue, que se reproduzem ao depositar seus ovos em locais ou recipientes que acumulam água, como pneus, garrafas vazias, caixas-d’água sem a devida cobertura, pratos usados em vasos de plantas, etc.

> Em primeiro plano, vê-se um mosquito apoiado em um pneu com água acumulada. A faixa colocada nesse pneu (com o enunciado “larva-rápido”) sugere que se trata de um potencial criadouro para o mosquito da dengue. Observa-se também que, no local retratado na charge, há outros recipientes abandonados (garrafas vazias, uma lata e o que parece ser uma caixa) que também acumulam água, contribuindo para a proliferação do inseto que transmite a doença.

2 A palavra é larva-rápido e, na charge, faz referência ao “negócio” próspero do mosquito da dengue, já que a água parada no pneu retratado seria o ambiente propício para que ele e outros mosquitos (seus clientes potenciais) depositem seus ovos. Rapidamente, esses ovos se transformarão em larvas que darão origem a outros agentes transmissores da doença.
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a) A palavra é um neologismo criado a partir do termo lava-rápido, que é muito utilizado em várias regiões do país para designar um tipo de comércio que se dedica à limpeza rápida de veículos automotivos. A semelhança entre os termos lava (ação de lavar) e larva (forma embrionária de insetos) deu origem ao neologismo presente na charge, formado pelo processo de composição por justaposição, a partir da junção das palavras larva e rápido, sem que houvesse alteração na sua forma fonológica.

b) A dengue é transmitida por um mosquito que se reproduz em água parada. Na charge, um deles inventa um novo negócio: o larva-rápido. Para se transformar em um “grande negócio”, a “pequena empresa” necessita apenas de um pneu com água acumulada, onde as larvas do mosquito encontram condições ideais para se reproduzir rapidamente. Por isso, o novo empreendimento é batizado com o neologismo apresentado na charge. A crítica de Dalcio à questão de saúde tematizada na charge é intensificada, ainda, pelo seu título (“Pequenas empresas, grandes negócios”), uma vez que é de conhecimento geral que um dos fatores que contribuem para o aumento do número de casos de dengue é o descuido no que se refere às ações de combate à proliferação do mosquito transmissor. Para conter o avanço da doença, é essencial que as autoridades e a população adotem ações que evitem o acúmulo de água em recipientes de natureza diversa, já que basta um pneu com água parada para produzir muitas larvas.

3 Segundo o release que informa sobre o tratamento, a morangoterapia consiste “em tomar uns banhos de morango e passar uns cremes feitos com a fruta no rosto”. Ainda segundo esse release, esse tratamento promove “uma verdadeira faxina corporal”.

4 a) A palavra morangoterapia resulta de uma composição por justaposição.

b) O radical morango é associado ao radical terapia sem que os dois sofram alteração na sua forma fonológica.

c) Sim. O fato de a palavra morangoterapia ser formada pela associação dos radicais morango (nome da fruta) e terapia (tratamento) provavelmente levaria o leitor a supor que a morangoterapia consiste em algum tratamento feito à base de morango.

5 A autora imaginou uma cena insólita e engraçada: estar em um divã conversando com um morango gigante. O termo terapia, um dos elementos da composição de morangoterapia, também é usado para fazer referência às sessões em que alguém busca tratamento para problemas psíquicos. Com base nesse significado do termo e no fato de ele estar associado ao vocábulo morango, a autora fez essa outra interpretação, bem humorada, da terapia oferecida.

6 As outras terapias são: unhaterapia (fazer as unhas) e fofocaterapia (fofocar).

> O radical que indica a “base do tratamento” — unha, fofoca, (a revista) Caras, respectivamente — é combinado ao radical terapia (tratamento). Assim, “surgem” as três formas terapêuticas de aliviar o estresse: fazer as unhas e fofocar com as amigas.

CAPÍTULO 21

Formação de palavras II

A formação de novas palavras por prefixação e sufixação (p. 209)

1 O que provoca o riso, no cartum, é o fato de que, ao “atirar contra o radical”, o prefixo comete um ato ilícito. Recupera-se, assim, o sentido da palavra derivada.

> Caulos analisa morfologicamente a palavra ilícito (“condenado pela lei e/ou pela moral; proibido, ilegal”), que é formada pelo acréscimo do prefixo i(n)- (que traduz a ideia de negação) ao radical lícito (“algo que é conforme à lei, aos princípios do direito”).

O humorista representa graficamente a separação entre o prefixo e o radical, obtendo assim um efeito de “confronto” (no caso, um confronto armado...) entre os dois.



2 Foram identificados, no cartum, o prefixo i(n)- e o radical lícito. Pode-se dizer, com relação ao funcionamento desses dois morfemas, que o radical lícito forma por si só um vocábulo, podendo ocorrer isoladamente. O prefixo i(n)-, por outro lado, não tem existência autônoma, traduzindo a ideia de negação apenas quando ligado a um radical, modificando seu sentido básico.

3 Imoral, imaturo, inadequado, inábil, impróprio, intocável, ilegível, irreparável. Chamar a atenção dos alunos para as alterações de forma que sofre este prefixo. Ele ocorre como i- antes dos radicais iniciados pelas consoantes l (ilegal), r (irreal) e m (imóvel) e como in- antes dos radicais iniciados por vogais (inútil, inacreditável) e pelas demais consoantes (indomável, imbatível, indolor, intocável). Deve-se também observar que a forma im- resulta da obediência à convenção ortográfica que exige o uso da letra m antes das letras p e b.

Atividades (p. 211)

1 O objetivo é conscientizar os motoristas de que buzinar para o carro da frente é uma atitude inútil, pois não fará com que os veículos se desloquem mais rapidamente em situações de engarrafamento.

2 O uso da gíria parça (criada a partir da redução da palavra parceiros e usada, em geral, por jovens para se referir a um amigo ou a pessoas da mesma faixa etária com as quais se relacionam), da expressão meça suas buzina (em lugar de meça suas buzinas) e do neologismo helicopteriza provavelmente chama a atenção dos leitores desse cartaz.

a) O uso de estruturas linguísticas coloquiais na escrita (como parça e meça suas buzina) e de neologismos (helicopterizar) não seria esperado em uma página de comunicação de uma Prefeitura Municipal. Em geral, canais de comunicação de órgãos oficiais adotam, como referência, as variedades urbanas de prestígio nas notícias e matérias publicadas.

b) Os responsáveis pelas publicações na página da Prefeitura de Curitiba parecem investir intencionalmente no uso de estruturas linguísticas coloquiais, provavelmente porque supõem que elas estariam mais próximas do modo de falar da população e que esse uso garantiria, por sua vez, uma maior proximidade entre os curitibanos e a administração municipal.

3 A palavra helicopteriza foi usada com o sentido de que algo (um carro, no caso) teria a capacidade de se transformar em helicóptero e levantar voo. Esse neologismo foi criado a partir da combinação do substantivo helicóptero com o sufixo verbal -izar, resultando na forma helicopterizar, que aparece flexionada no cartaz (helicopteriza).

> A imagem do cartaz mostra três automóveis parados no trânsito: o do meio tem hélices e levanta voo depois que o veículo atrás dele buzina (ação representada pelas três linhas curvas na frente do último carro). A imagem se relaciona diretamente com o neologismo helicopteriza, já que essa forma verbal é usada de forma irônica no cartaz para fazer referência ao fato de que o uso insistente da buzina não é capaz de transformar qualquer automóvel em um helicóptero que levante voo (“Sua buzina não helicopteriza ninguém”), desobstruindo, assim, a passagem de um motorista impaciente que deseja que o trânsito flua mais rapidamente. Por meio de recursos verbais e não verbais, o cartaz pretende colaborar com a educação no trânsito, deixando implícito que a atitude de buzinar insistentemente além de inútil é desrespeitosa.

4 Vemos, no lado esquerdo da tira, o que parece ser uma família de moradores de rua vivendo embaixo de um viaduto: uma mulher parece cozinhar algo, um homem está recostado na parede e há uma criança dentro de uma caixa de papelão com os pés sobre cobertores ou um colchão. Em cima da caixa de papelão há um ventilador e ao lado dela, uma cadeira. Todos esses elementos sugerem que essas pessoas moram ali. Na
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abertura da parede lateral, há um rato com a cabeça voltada para a direção em que se encontra a família, como se estivesse observando essas pessoas. À frente dele, no lado direito da tira, observa-se um outro rato, usando um telefone público. Pela sua fala, percebe-se que ele está tentando contratar os serviços de uma empresa (no caso, de “desumanização”).

a) Na formação de desumanização, é usado o prefixo des-, que exprime negação, ausência ou falta.

b) Em geral, a palavra desumanização é usada para indicar a perda do caráter humano ou das qualidades humanas, como a personalidade, a dignidade, a compaixão, etc. Considerando a situação retratada (um rato entrando em contato com um “serviço de desumanização”), percebe-se que a palavra foi usada por analogia com desratização, termo que indica a ação de eliminar ratos de um local, por meio da contratação de uma empresa que realiza esse tipo de trabalho. Assim, desumanização, na tira, faz referência a um tipo de serviço que livraria determinados lugares da presença dos seres humanos.

c) O uso da palavra desumanização, associado ao contexto em que ocorre, mostra uma inversão de papéis entre as pessoas e os roedores: os ratos agem como seres humanos (ligam para um serviço que realiza a retirada ou eliminação de pessoas indesejáveis) e os seres humanos são tratados como ratos (vivem em condições de extrema miséria e sujeira). Nesse contexto, desumanização assume duplo significado: faz referência ao serviço de limpeza solicitado pelos ratos e à situação vivida pelos moradores do viaduto, que lhes nega a condição de humanos, animalizando-os.

5 Armandinho usa a palavra revolta com o sentido de “voltar mais uma vez”, imaginando que ela seja formada a partir do acréscimo do prefixo re- (que dá a ideia de repetição, de que algo será feito novamente) ao substantivo (re- + volta).

a) Em geral, a palavra revolta é usada com o sentido de “manifestação coletiva contrária a algo, rebelião”.

b) Para Armandinho, se no ano anterior ele já viveu o dia de volta às aulas, no momento atual ele estaria vivendo uma revolta, já que essa situação estaria se repetindo. Apesar de Armandinho não demonstrar insatisfação com o retorno às aulas e atribuir outro sentido à palavra revolta, para muitos alunos esse período pode ser temido e gerar desagrado, já que marca o fim das férias. O humor da tira é construído pela combinação dessas duas interpretações possíveis.

6 O fato de Laerte e Alexandre Beck saberem que os prefixos des- e re- exprimem, respectivamente, as ideias de ausência ou negação e de repetição é o que possibilitou que, em cada tira, eles fizessem uso desse conhecimento para criar interessantes efeitos de sentido. Na primeira tira, para fazer uma crítica à situação dos moradores de rua, Laerte cria um contexto em que o termo desumanização passa a ter duplo sentido, justamente pelo significado do prefixo des-. Na segunda, Alexandre Beck explora o fato de que, na língua, o prefixo re- indica que algo será feito novamente para usar o termo revolta com um sentido diferente do usual e assim construir o efeito de humor da tira.

Outros processos de derivação (p. 212)

1 Para o menino, democracia se fundamenta em poder escolher. Em outras palavras, ele acredita que a liberdade de as pessoas realizarem as escolhas que julgam mais acertadas, sem serem submetidas a pressões, é o que define a democracia.

2 Segundo a borboleta, mesmo na democracia, as pessoas não têm a possibilidade de realizar escolhas totalmente livres. Por isso, ela acrescenta à definição de que “democracia é poder escolher” a ressalva: “e ao mesmo tempo não ter escolha”.

3 As palavras são (poder) escolher e (ter) escolha.

a) Escolher é um verbo em uma locução verbal. Escolha é um substantivo.

b) Alcançar/alcance; perder/perda; ganhar/ganho; buscar/busca.

c) Pode-se dizer que os substantivos são formados a partir dos verbos. Nesse processo de derivação, observa-se que há uma redução na forma dos substantivos.



Atividades (p. 214)

1 Na tira, radical designa alguém que tem um comportamento extremado, que vai às últimas consequências.

a) A palavra radical é utilizada para caracterizar um comportamento identificado como comum ao motoqueiro, ao surfista e ao cientista: os três fizeram tatuagens relacionadas a suas atividades. Esse comportamento é definido como “radical”, ou seja, algo que explicita de maneira “intensa” elementos comumente associados à imagem dessas atividades.

b) Radical, como especifica o sentido de substantivos, qualificando-os, é um adjetivo.

c) O humor da tira está no fato de o cientista fazer tatuagens (essa não é uma prática comumente associada a cientistas) e, além disso, ao fato de essas tatuagens serem fora do comum: uma delas é de um planorbídeo e a outra de um balanoglossus. Como o comportamento radical do motoqueiro e do surfista relaciona-se à imagem definidora das atividades que realizam, as tatuagens que fazem também são associadas à imagem dos praticantes dessas atividades (aranha, morcego e escorpião, no caso do motoqueiro; e dragão, no caso do surfista). Nesse sentido, o comportamento “radical” de um cientista seria tatuar algo relacionado à sua atividade (provavelmente à Biologia, no caso), por isso a escolha do planorbídeo e do balanoglossus.



2 Não. Nesse caso, a palavra radical foi utilizada para designar um ser, o que fica evidente pela presença do artigo indefinido um que a antecede (“Temos um radical...”).

a) Como designa um ser, radical desempenha a função de um substantivo.

b) O processo é a derivação imprópria. Por meio desse processo, palavras de uma determinada classe gramatical podem mudar de classe sem que sua forma seja alterada. No caso, isso ocorre pela presença do artigo indefinido que promove a substantivação do adjetivo radical.

3 Sim. A pergunta Internet emburrece? leva a entender que a reportagem tratará da possibilidade de o uso da internet comprometer ou não nossa capacidade intelectual. O texto que acompanha essa pergunta adianta uma informação: segundo cientistas, o uso frequente e simultâneo de e-mails e outras diferentes ferramentas do mundo da internet está modificando o modo de funcionamento do cérebro humano.

4 A palavra é o adjetivo burro.

> O processo é a derivação parassintética. Ao radical burr- (do adjetivo burro), foram acrescentados, simultaneamente, o prefixo em- e o sufixo -ecer.

Enem e vestibulares (p. 215)

1 a) O termo esculhambativo foi formado a partir do processo de derivação sufixal. Acrescentou-se o sufixo –(t)ivo, ao verbo esculhambar, obtendo, assim, o adjetivo em questão, que tem a função de criar um adjetivo a partir de um verbo.

b) Na expressão “evento esculhambado”, a ideia principal é a de um evento desorganizado. No texto, a expressão “evento esculhambativo” produz a ideia de uma ação direcionada de ridicularização, de desmoralização, de zombaria do outro evento.



2 Alternativa E.

3 Gatochim é uma brincadeira sonora entre gato e a onomatopeia atchim, criando um neologismo para explicitar a ideia de um gato que espirra.

Branda alavanca das ancas é uma assonância, ou seja, repetição sonora pelo fonema nasal | ã |.
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Bibliografia

Os textos indicados a seguir constituem a base de fundamentação teórica desta obra. Podem ser consultados pelo professor que desejar aprofundar-se no estudo de determinados aspectos ou conceitos.



Gramáticas e dicionários

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. revista e ampliada. Rio de Janeiro: Lucerna, 1999.

CÂMARA JR., Joaquim Mattoso. Dicionário de linguística e gramática. Petrópolis: Vozes, 1984.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionário de dificuldades da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 3. ed. Rio de Janeiro: Lexicon, 2008.

GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. 17. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1996.

HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

KURY, Adriano. Novas lições de análise sintática. 2. ed. São Paulo: Ática, 1986.

LUFT, Celso Pedro. Novo guia ortográfico. 19. ed. Rio de Janeiro: Globo, 1987.

______. Dicionário prático de regência nominal. São Paulo: Ática, 1992.

______. Dicionário prático de regência verbal. 4. ed. São Paulo: Ática, 1994.

NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. São Paulo: Unesp, 2000.

PERINI, Mário A. Gramática descritiva do português. São Paulo: Ática, 1995.

RODRIGUES, Vera. Dicionário Houaiss de verbos da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003.



Obras de referência

BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1999.

FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 1996.

GERALDI, João Wanderley (Org.). O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 1997.

GNERRE, Maurizio. Linguagem, escrita e poder. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

GUIMARÃES, Eduardo; ZOPPI-FONTANA, Mónica (Org.). Introdução às ciências da linguagem. Campinas: Pontes, 2006. 3 v.

ILARI, Rodolfo. A linguística e o ensino de língua portuguesa. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

______. Introdução à semântica: brincando com a gramática. São Paulo: Contexto, 2001.

______. Introdução ao estudo do léxico. São Paulo: Contexto, 2002.

______. O português da gente. São Paulo: Contexto, 2006.

KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. 8. ed. São Paulo: Contexto, 1996.

______; Travaglia, Luiz Carlos. A coerência textual. 7. ed. São Paulo: Contexto, 1996.

LUFT, Celso Pedro. A vírgula. São Paulo: Ática, 1996.

MARTINS, Eduardo. Uso do hífen. São Paulo: Manole, 2006.

NEVES, Maria Helena de Moura. A gramática na escola. São Paulo: Contexto, 2001.

______. A gramática. São Paulo: Unesp, 2002.

______. Guia de usos do português: confrontando regras e usos. São Paulo: Unesp, 2003.

PERINI, Mário A. Sofrendo a gramática: ensaios sobre a linguagem. São Paulo: Ática, 2000.

______. A língua do Brasil amanhã e outros mistérios. São Paulo: Parábola, 2004.

______. Texto e gramática. São Paulo: Contexto, 2006.

POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado de Letras, 1996.

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______. Mal comportadas línguas. Curitiba: Criar, 2003.
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PRODUÇÃO DE TEXTO

RESPOSTAS AOS EXERCÍCIOS

UNIDADE 7 O discurso

Como ler um texto (p. 219)

1º passo: Identificar o tema do texto.

O primeiro parágrafo do texto fornece uma boa “pista” sobre o tema do texto: “A breve história das interações humanas com as tecnologias digitais é marcada por uma intimidade em constante evolução [...]”. Ao longo do texto, a hipótese de que o tema trata do impacto das tecnologias digitais na vida das pessoas se confirma, quando constatamos que, após um breve histórico da invenção e desenvolvimento dos computadores, os parágrafos do texto passam a abordar essa questão.



2º passo: Elaborar uma síntese do texto.

No momento de avaliar quais elementos do texto os alunos selecionam para elaborar sua síntese, o professor deve assegurar que as seguintes informações estejam presentes:



> A atração dos computadores para as pessoas surpreendeu até mesmo os técnicos e cientistas envolvidos em sua criação e desenvolvimento. A partir da década de 1970, centenas de milhares de pessoas passaram a adquirir computadores.

> O desenvolvimento da tecnologia digital está provocando uma revolução na relação entre as pessoas e as máquinas: o “computador pessoal” está se transformando em “computador íntimo”.

> Todas as tecnologias afetam nosso comportamento.

> Somos criaturas tecnológicas. Recorremos à tecnologia para expandir nossos limites.

> O reino digital permite ampliar as experiências humanas e simular a criação de outros mundos.

3º passo: Organizar as próprias ideias com relação aos elementos relevantes.

Esse é um procedimento necessariamente individual, porque depende das informações de que cada um dispõe sobre o tema abordado no texto. Sugerimos que sejam feitas algumas perguntas aos alunos, para que possam começar a organizar as informações de que dispõem.



> Você já teve oportunidade de refletir sobre o impacto das tecnologias digitais na vida das pessoas?

> Em que contexto se costuma refletir sobre essa questão?

> Já viu/leu alguma reportagem a esse respeito? O que era dito nela?

> Já assistiu a algum filme que tratasse do assunto? Qual? Como a questão da interação entre seres humanos e as tecnologias digitais foi tratada? (Se for necessário, indicar aos alunos o filme Minority Report: a nova lei.)

> Passou por alguma experiência recente que possa ser relacionada a essa questão? (Situação em família em que as pessoas, em vez de dialogar, estavam todas utilizando smartphones ou tablets? Saiu com amigos e observou que muitos estavam preocupados em conferir se havia atualizações de mensagens em seus smartphones? Estava no cinema e havia pessoas falando ao celular durante o filme?) Quando os alunos já tiverem coletado as informações de que dispõem, devem ser orientados a pensar sobre como tais informações podem ser articuladas com o que foi dito no texto lido.

Minority Report: a nova lei, de Steven Spielberg. EUA, 2002.

No ano de 2045, o combate ao crime na cidade de Washington é feito com base em previsões realizadas por três cognitivos (os precogs). Com quatro dias de antecedência, os precogs têm uma visão e, como resultado, o nome da vítima e o do criminoso aparecem gravados em duas esferas. Com base nas informações obtidas nessas visões, uma divisão especial da polícia — Pré-crimes — entra em ação, para impedir que o crime aconteça. Por seis anos esse processo funciona sem qualquer problema, até que o sistema é posto em xeque por uma possível falha humana.



4º passo: Estabelecer relações entre os elementos relevantes e entre eles e outras informações de que o leitor disponha.

Após a apresentação de um breve histórico da criação dos computadores e de como eles se desenvolveram até chegar ao ponto em que se encontram nos dias atuais, o texto oferece uma hipótese explicativa para a importância das tecnologias digitais: as máquinas mais modernas oferecem um novo tipo de experiência para as pessoas, permitindo que estejam conectadas a maior parte do tempo. Para desenvolver essa hipótese, o texto introduz a ideia de que os “computadores pessoais” sofreram uma revolução, com o avanço tecnológico, e passaram a desempenhar, com o advento dos smartphones e tablets, a função de “computadores íntimos”, estabelecendo um novo nível de integração das tecnologias digitais às nossas vidas.

Uma citação do teórico canadense Marshall McLuhan é utilizada para apresentar o argumento que sustentará o ponto de vista apresentado: “moldamos nossas ferramentas, e então as ferramentas nos moldam”. A introdução da ideia de que a evolução humana está associada ao desenvolvimento de diferentes tecnologias permite ao texto ampliar o campo de análise, demonstrando que a evolução humana, a construção de cidades e de civilizações sempre esteve vinculada a algum salto tecnológico. Esses argumentos reforçam a hipótese de que o esforço humano para desenvolver novas tecnologias se explica pelo nosso desejo de “ampliar a nós mesmos e ao mundo — ir além dos limites e nos adaptarmos”.

É importante que, ao dar esse passo, o aluno procure levar em conta sua experiência pessoal e as informações que tem sobre o uso (excessivo ou não) das novas tecnologias digitais: são capazes de se lembrar de como era a vida antes dos smartphones e tablets? Em que medida seu comportamento (ou o de seus parentes e amigos) foi alterado pelo acesso a esses equipamentos? Essas alterações são positivas ou negativas? Feita essa reflexão, é hora de o aluno se perguntar sobre o modo como essas informações podem ser relacionadas ao que diz o texto: ajudam a confirmar a análise feita? Permitem refutá-la? Por quê?



5º passo: Interpretar os dados e os fatos apresentados.

A interpretação dos dados já é explicitada no próprio texto: o comportamento dos seres humanos vem sendo alterado à medida que novas tecnologias surgem e afetam sua relação com o trabalho e com o lazer. Em lugar de condenar a suposta submissão das pessoas às tecnologias, o texto vê esse processo como inevitável, já que dependemos delas para ampliar nossos próprios limites.



6º passo: Elaborar hipóteses explicativas para fundamentar a análise do texto.

No caso do texto lido, a hipótese explicativa para a maneira como se vem configurando a relação entre os seres


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humanos e a nova tecnologia digital aparece no 6º parágrafo. Ali, lemos que “Mais importante do que a capacidade [das máquinas criadas] é a experiência que essas máquinas proporcionam”. Mais adiante, o texto chama a atenção para o fato de que, por meio dos novos equipamentos, o ser humano adquiriu a capacidade de construir novos mundos. E conclui: “Talvez esse seja o milagre central de nossa era — e aquele que melhor explica a contínua migração de esforços, atenção, emoção, atividade econômica e inovação em direção às tecnologias digitais”. A sugestão final feita pelo autor é a de que as simulações geradas por meio dos equipamentos de alta tecnologia têm, hoje, um poder de sedução maior do que as experiências reais vividas pelas pessoas.



CAPÍTULO 22

Discurso e texto

Análise (p. 227)

1 Os versos que constroem a imagem de Amélia são os seguintes: “Às vezes passava fome ao meu lado / E achava bonito não ter o que comer / E quando me via contrariado / Dizia: ‘Meu filho, o que se há de fazer!’ / Amélia não tinha a menor vaidade / Amélia é que era a mulher de verdade”. Os alunos podem também identificar trechos em que as características de Amélia nasçam da oposição estabelecida entre a outra mulher e ela. Se alguém disser que Amélia não é egoísta ou exigente, estará identificando corretamente características implícitas a ela atribuídas pela letra da música.

> A ideia de uma mulher “passiva” pode ser associada aos versos “Às vezes passava fome ao meu lado / E achava bonito não ter o que comer”. A mulher, neste caso, é apresentada como um apêndice do homem, incapaz de exigir o que quer que seja (mesmo o alimento necessário para sua sobrevivência), quase como se o fato de estar ao lado desse homem fosse suficiente para sustentá-la. A postura “serviçal” pode ser entendida como um desdobramento da passividade de Amélia. Se ela não reivindica nada para si, podemos inferir que não só aceita o que lhe dá o marido, como também se submete às suas vontades, se dedica a servi-lo, aceitando o papel que, na época, era reservado à mulher no casamento. De certo modo, a visão de Amélia como “amorosa” deriva também da sua submissão total ao papel de esposa. Não contrariava as vontades do marido e chegava mesmo a anular-se (“não tinha a menor vaidade”, segundo a música), como se não tivesse vontade própria.

2 Segundo o texto, Emília deve ser uma mulher versada nas prendas domésticas (deve lavar e cozinhar), deve acordar cedo e preparar o café para o homem com quem vive. Por essas características, pode-se imaginar que ela deva se comportar como uma dona de casa perfeita, que vive para atender a todas as necessidades de seu companheiro.

> Não. Emília não poderia ser descrita como independente, porque sua imagem sugere exatamente o perfil contrário: o de uma mulher que vive em função de um homem, que se subordina a ele.

3 A passagem a seguir indica que o autor do texto trabalha com uma imagem de mulher ideal mais ampla: “Eu quero uma mulher que saiba lavar e cozinhar / Que, de manhã cedo, me acorde na hora de trabalhar”.

a) Quando afirma que deseja encontrar “uma mulher”, o uso do artigo indefinido uma faz com que o referente do substantivo mulher se generalize. O que o autor está dizendo nesse momento é que procura alguém com características específicas (saber lavar e cozinhar, que levante cedo para acordá-lo para o trabalho, que faça seu café).

b) Em “Ai que saudades da Amélia”, vemos confrontados dois perfis de mulher: o de Amélia (a “mulher de verdade”) e o de uma outra mulher, que “só pensa em luxo e riqueza”, quer tudo o que vê, não leva em consideração as dificuldades por que passa seu companheiro (“nem vê que eu sou um pobre rapaz”). Essa comparação tem o efeito de louvar as qualidades de Amélia como mulher ideal, porque ela nunca exigia nada para si, era companheira (“Às vezes passava fome ao meu lado / E achava bonito não ter o que comer”), não tinha vaidade, representava, enfim, a companheira perfeita.

Análise (p. 228)

1 Os atributos físicos apresentados na letra da música são os seguintes: “tem um tribal no tornozelo / E na nuca adormece uma serpente”, “faz mechas claras nos cabelos”.

a) As características e os comportamentos que definem o perfil de Dandara são: ter um jeito próprio de se vestir, viver “entre o aqui e o alheio”, ser transparente, ser livre, falar com amigos e com o namorado em um celular vermelho.

b) A imagem de uma mulher livre e senhora de si. Tanto no modo como se veste como na sua aparência física (tem tatuagens, faz mechas no cabelo), vemos indícios da mulher que age de acordo com a sua vontade. O seu comportamento (pelo que se vê, na letra da música, Dandara faz o que bem entende) também sugere a mesma independência.

2 As mulheres “não gostam muito dela”. O eu lírico (masculino) procura saber os seus roteiros para fingir que a encontra por acaso. Também se afirma, na letra, que Dandara tem “perto dela o mundo inteiro” e à sua volta “outro mundo, admirado”.

a) Ser livre.

b) No refrão aparece o efeito provocado pelo fato de Dandara ser livre: “Ela é livre e ser livre a faz brilhar / Ela é filha da terra, céu e mar”.

3 A imagem de uma mulher guerreira se relaciona diretamente com a ideia da busca da liberdade, da conquista e da defesa dos próprios direitos. O que observamos, nas características atribuídas a Dandara, é a construção de um perfil de mulher essencialmente livre, tanto na sua aparência quanto no seu jeito de ser.

Atividades (p. 230)

1 Mercedes procura se apresentar ao analista. Conversa, portanto, sobre o seu perfil.

2 Mercedes parece incomodada com a sua multiplicidade. Quando afirma que não consegue se “distinguir”, está dizendo que não é capaz de definir de modo preciso a sua identidade.

> É pouco provável que, na década de 1940, um problema como esse fosse típico da vida das mulheres. Embora algumas importantes conquistas femininas já tivessem ocorrido, pode-se supor que o questionamento do próprio papel social não fosse ainda um tema de discussão como acontece hoje em dia. É ainda menos provável que as mulheres da época fossem procurar um psicanalista para resolver seus problemas. Como o papel social da mulher era claramente definido, naquele momento, a possibilidade de ela se “perder” em uma infinidade de características conflitantes, como acontece com Mercedes, era mínima, embora vivências individuais de mulheres, ao longo da história, possam apontar para o contrário. São exemplo disso Joana D’Arc, Anita Garibaldi, Virginia Woolf, entre outras.

3 O que Mercedes quer dizer é que pensa como um homem, mas sente como mulher. Ou seja, reconhece como masculinas características próprias do seu modo de ser e ver o mundo, porque não se encaixa em uma imagem estereotipada de mulher (“Adoro massas cinzentas, detesto cor-de-rosa”). O fato de ter um cérebro que funciona a partir do que ela supõe serem princípios “masculinos” é que determina o seu “hermafroditismo”.

> Segundo a personagem, mesmo que seu modo de pensar tenha características masculinas, as pessoas veem apenas a sua aparência, que é claramente feminina.

4 Os trechos são “odeio falar sobre crianças, empregadas e liquidações”, “Sou [...] um verdadeiro desastre na cozinha”,
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“Peça para eu arrumar uma cama e estrague meu dia”, “Vida doméstica é para os gatos”.



> Como vimos, na formação discursiva predominante na década de 1940, os temas e termos associados ao perfil de mulher ideal a caracterizam como dona de casa perfeita, alguém que se realiza na execução das tarefas domésticas. O texto de Martha Medeiros apresenta uma personagem que se recusa a se submeter a estereótipos femininos. Para Mercedes, ser mulher significa ser versátil, ter muitas faces (“Sou tantas que mal consigo me distinguir”). Essas marcas textuais sugerem uma formação discursiva na qual a imagem de mulher está associada à possibilidade de ser como quiser, não ter de seguir papéis sociais previamente estabelecidos, ter a liberdade para escolher o que julga melhor para sua vida.

O discurso no tempo: produção de painel sobre imagens do jovem (p. 231)

Sugestão

Sugerimos que a discussão e a análise das letras de música transcritas sejam feitas com a classe, para que os alunos possam ser orientados sobre como identificar, nos textos, os elementos que definem a imagem do jovem. Em um período de repressão política no Brasil e em outros países da América Latina, “Sangue latino” nos apresenta a imagem do jovem que procura resistir à opressão (“o que me importa / É não estar vencido / Minha vida, meus mortos / Meus caminhos tortos”). “Geração Coca-Cola” traz a imagem do jovem alienado pela influência da TV, principalmente dos “enlatados americanos”, programado para comer “lixo comercial e industrial”. O refrão ironiza o fato de o “futuro da nação” ser justamente a “Geração Coca-Cola”.



CAPÍTULO 23

A interlocução e o contexto

Análise (p. 234)

1 Luther King dirige-se a seus irmãos negros.

a) Há diferentes passagens em que a presença dos ouvintes de Luther King é marcada. Nos trechos a seguir, é possível concluir que o reverendo está falando prioritariamente para ouvintes negros: “Mas há algo que devo dizer a meu povo, [...] ao longo do processo de conquista do nosso merecido lugar, não podemos nos condenar com atos criminosos.”; “[...] muitos de nossos irmãos brancos [...] compreenderam que o seu destino está ligado ao nosso. Eles compreenderam que a sua liberdade está atada à nossa [...]”; “Não ficaremos satisfeitos enquanto os nossos filhos forem despidos de sua personalidade e tiverem a sua dignidade roubada por cartazes com os dizeres ‘só para brancos’. [...]”

b) A presença dos ouvintes é muito marcada no discurso de Luther King. De modo geral, são utilizados pronomes de 1ª pessoa do plural (nosso lugar, nossos irmãos brancos), de 1ª pessoa do singular (meu povo), de 2ª pessoa do plural (alguns de vocês, vocês), e verbos flexionados no Imperativo afirmativo (continuem, voltem) para deixar claro que as suas palavras têm relação direta com o público presente.

c) Essas informações entre parênteses representam a resposta do público ao que está sendo dito pelo reverendo em seu discurso. Na maior parte das vezes, as pessoas participam para mostrar que se identificam com as palavras ditas pelo reverendo.



2 Luther King começa sua fala relembrando a assinatura da Proclamação da Emancipação, porque pretende deixar claro que, cem anos mais tarde, o negro americano ainda não conquistou a igualdade de direitos prevista na Declaração de Independência e na Constituição.

a) “[...] cem anos depois, o negro ainda não é livre. Cem anos depois, a vida do negro ainda está tristemente debilitada pelas algemas da segregação e pelos grilhões da discriminação. Cem anos depois, o negro vive isolado numa ilha de pobreza em meio a um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois, o negro ainda vive abandonado nos recantos da sociedade na América, exilado em sua própria terra. [...]”

b) Ele declara que o objetivo da presença de centena de milhares de negros em Washington é denunciar a vergonhosa condição em que vivem.

3 O reverendo afirma que a Proclamação da Emancipação entregou aos negros uma “nota promissória”.

> O sentido dessa imagem é o de que a Proclamação da Emancipação ofereceu, aos negros, mais do que a libertação da escravidão. Estendeu também a eles os direitos assegurados pela Declaração da Independência e pela Constituição a todos os americanos: “direitos inalienáveis à vida, à liberdade e à busca da felicidade”.

4 É a metáfora do cheque sem fundos (“A América entregou à população negra um cheque ruim, um cheque que voltou com o carimbo de ‘sem fundos’”).

> Essa é uma boa imagem, porque a ideia de uma “nota promissória” cria a expectativa de que ela seja honrada, ou seja, que o seu portador consiga receber o que lhe é devido. No caso dos negros, a nota promissória não prometia somente o fim da escravidão, mas também acesso a todos os direitos garantidos aos cidadãos norte-americanos. Como, cem anos mais tarde, eles continuavam sendo vítimas de discriminação e preconceito, Luther King afirma que a “nota promissória” dada aos negros no ato da Proclamação da Emancipação equivale a um cheque sem fundos.

5 Luther King preocupa-se em evitar que os negros, revoltados por não serem reconhecidos como iguais e por terem seus direitos constitucionais desrespeitados, apelem para a violência. Teme, ainda, que a violência venha como resposta natural à violência praticada pelos brancos contra os negros. Por essas duas razões, o reverendo diz que eles devem sempre conduzir a sua luta “no mais alto nível de dignidade e disciplina”.

6 Essa denominação traduz uma imagem explorada no final do discurso pelo reverendo: ao explicitar, para seus irmãos negros, o sonho que tem, ele enumera as conquistas sociais pelas quais estão se manifestando em Washington. A repetição introdutória — “Eu tenho um sonho” — vem acompanhada pela definição de um país ideal em que a convivência entre negros e brancos não seja marcada pela violência; em que a igualdade de direitos prevaleça; em que as pessoas não sejam julgadas pela cor de sua pele e sim por seu caráter, até que “os clamores dissonantes” de um país segregacionista sejam transformados “em uma bela sinfonia de fraternidade”.

Texto “Vidas e costumes sob o risco de extinção” (p. 235)

Sugestão

Este texto também oferece uma boa oportunidade para explorar as marcas da opinião do autor. Comentar com os alunos que o emprego do termo inusitadas e o trecho que caminham a passos lentos em direção ao século XXI permitem entender que o autor do texto expressa um juízo de valor em relação à cultura que descreve: embora pareça valorizá-la e defendê-la, ele manifesta um estranhamento em relação ao que observa e a expectativa de que a tribo houvesse incorporado aquilo que considera como avanço na direção do século XXI. Esse estranhamento e essa expectativa sugerem um olhar não muito respeitoso em relação à diversidade e podem levar o leitor a acreditar que a extinção da cultura descrita poderia não ser considerada algo tão negativo. Essa impressão pode ser confirmada pelo último parágrafo do texto original: “‘A barragem permitirá que empresas estrangeiras irriguem territórios indígenas, arrendados pelo governo etíope para plantar cana-de-açúcar, algodão e palma de óleo’, afirma Stephen Corry, diretor da ONG. ‘Os povos do Omo não foram consultados e, quando os indígenas protestam, eles são presos. Mais de 100 nativos foram detidos.’ O governo de


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Adis Abeba quer apenas acelerar o crescimento do país”. O emprego do advérbio apenas, nesse caso, justifica a ação do governante, confirmando a desvalorização da cultura descrita. É uma marca da opinião que o autor do texto deseja formar. Os vários exemplos apresentados revelam que o uso da língua nunca é isento ou totalmente objetivo: os textos sempre trazem marcas que explicitam o conjunto de valores de quem os produziu. Caso ache necessário, o texto integral pode ser encontrado em


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