A definição do corpus definiu-se problemática dadas algumas dificuldades não esperadas já que muitos nigerianos, anteriormente concordes com a entrevista, não a quiseram concretizar com medo que o registro das informações pudesse lhes trazer algum tipo de perseguição no futuro.
Um dos nigerianos, que “a priori” havia concordado em ser entrevistado, se negou a dar a entrevista alegando que em conversa com outro amigo nigeriano soube que no passado, alguns nigerianos que responderam algumas perguntas feitas por um jornalista sobre a condição dos nigerianos no centro de São Paulo, foram perseguidos pela Polícia porque falaram que eram tratados com discriminação pela Policia Federal.
De fato, verificamos na grande mídia uma série de reportagens e matérias jornalísticas de cunho depreciativo em relação à nacionalidade Nigeriana, o que faz com que se crie uma barreira a este grupo.
Todos os entrevistados optaram por participar da pesquisa ocultando os seus nomes e dados pessoais, desta maneira, não insistimos na identificação, pois acreditamos que isso poderia inibir os participantes na completude das informações sobre a sua trajetória e acolhimento na cidade de São Paulo que não iria acontecer caso tivessem as suas identidades reveladas.
Apenas três entrevistados permitiram que as entrevistas fossem gravadas em vídeo e áudio, sendo que os demais solicitaram que as informações fossem anotadas pelo pesquisador e não permitiram sequer a gravação do áudio da entrevista.
Diante desta dificuldade e para padronizar os dados coletados optamos por transcrever a síntese das entrevistas ao invés de transcrição literal dos seus conteúdos, reagrupando as informações nas categorias pré estabelecidas no roteiro semi estruturado, respeitando estritamente a fidelidade e completude das informações fornecidas, no sentido indicado por Thompson (1992) e Queiroz (1992, apud Demartini, 2005, p.97) para quem a
“[...] análise dos relatos orais é este processo de decomposição das informações coletadas para reagrupá-las segundo as categorias que se pretende analisar, o que nos permite chegar a uma compreensão mais profunda de seu sentido [...]”.
Sendo uma pesquisa exploratória encontramos novas categorias de informações durante as entrevistas, que foram incorporadas nesta análise. Histórias, fatos e acontecimentos que reputamos importantes para o objetivo desta pesquisa.
Tendo em vista que não encontrarmos documentos oficiais sobre a imigração nigeriana não foi possível a confrontação dos dados fornecidos pelos entrevistados com outras fontes de pesquisa, com as datas de chegada, os deslocamentos internos etc. Como foi dito, procuramos a Policia Federal e a Embaixada da Nigéria para a coleta de outras fontes e realizar este confronto, porém, como os dados são sigilosos não foi possível o acesso a eles.
Alguns entrevistados, quando solicitados, apresentaram passaportes e outros documentos que comprovavam a veracidade das informações prestadas, inclusive datas de chegada, viagens efetuadas para a terra natal, porém nenhum deles permitiu que tirássemos cópias para apresentar neste trabalho.
Para este trabalho indicaremos os entrevistados pela ordem com que foram entrevistados, nos referindo a eles pela letra E maiúscula, seguida do número que designa a ordem de entrevistas realizadas, E1, E2 e assim por diante.
Após procurar por diversos grupos de nigerianos residentes em São Paulo, obtivemos um total de oito entrevistas com nigerianos residentes na cidade de São Paulo, sendo que o corpus tem o seguinte perfil:
Entrevistado
|
Sexo
|
Ano de Nascimento
|
Data de chegada
|
Profissão
|
E1
|
M
|
1971
|
1997
|
Comerciante
|
E2
|
M
|
1970
|
1997
|
Comerciante
|
E3
|
M
|
1965
|
1970
|
Comerciante
|
E4
|
M
|
1963
|
1986
|
Industrial
|
E5
|
M
|
1960
|
1982
|
Industrial
|
E6
|
M
|
1968
|
1993
|
Professor
|
E7
|
F
|
1972
|
2002
|
Missionária
|
E8
|
F
|
1972
|
1999
|
Estudante
|
Tabela - Perfil dos entrevistados
Fonte: organização própria (2011)
Do corpus contemplamos as diferentes levas tratadas por Kaly (2007). O estudo evidencia a motivação da emigração para fins de estudo e a busca por melhores condições de vida; os entrevistados E4 e E5 emigraram para o Brasil em decorrência do acordo cultural bilateral Brasil-Nigéria, o que os proporcionava a oportunidade de estudos gratuitos em universidades brasileiras e os entrevistados E1, E2, E3 e E6 emigraram pela procura de melhores condições de vida e melhores perspectivas de futuro, já que aqui esperavam encontrar melhores condições de desenvolvimento profissional e ascensão financeira.
Além das categorias propostas por Kaly (2007) identificamos mais duas entrevistadas que emigraram por motivos diferentes, a E7 emigrou por motivos de missão religiosa, sendo designada para vir ao Brasil pela igreja a que pertence e a E8 emigrou para acompanhar o seu marido, também nigeriano que estava morando no Brasil.
Os entrevistados são oriundos de regiões diferentes da Nigéria, porém todos têm em comum o fato de terem passado por Lagos, a capital do país na época da emigração.
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