A van cinza de placa jnu 0839 estaciona na esquina da praça Brasil, na Pituba



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O Caminho

Parece que não, mas sinto como um longo caminho percorrido. Da concepção da pauta e as entrevistas para a matéria do Dez! em novembro do ano passado, passando pela publicação da matéria, minha continuação com as visitas aos meninos da Pituba até as festas de fim de ano em 2002. E fazer a proposta de uma oficina. E esperar, esperar, esperar. Querer desistir, pensar em outro projeto, quase colocá-lo em prática.


Até que veio o aceite e eu comecei a visitar todos os bairros junto com o Consultório (com exceção da quinta-feira na Barroquinha, onde a equipe ainda está em fase de adaptação e eu só pude conhecer no final desse trabalho). Imaginando como seria o formato que daria as histórias que ouvia todas as noites. Acredito que as histórias (e seus personagens) por si só se ajeitaram nos relatos. Quando comecei a escrever, o fiz de maneira bem natural.
O fato de não ter tido tempo para executar a minha oficina, como planejado inicialmente, me obrigou a redefinir a estratégia de abordagem. Essa parte em alguns momentos ficou meio confusa. Era preciso lembrar aos meninos que eu não era uma psicóloga ou assistente social, mas estava ali para observar a atuação do Consultório com eles e contar aquelas histórias depois.
Mas a aceitação não foi difícil. Posso ter tido as minhas conquistas, mas o fato do Consultório já ter um vínculo com essas pessoas e eu chegar junto com eles ajudou bastante. Em outros momentos, o fato de estar atrelando o meu projeto a um projeto já existente atrapalhou um pouco. Tempo foi a questão principal. Eu tinha a urgência que nenhum deles ali tinha. Não podia perder um dia de visita durante esses três meses.
Quanto à técnica de entrevista, decidi que não iria anotar nada na frente das pessoas. Aboli também a possibilidade de gravador. A primeira e única vez que fiz essa tentativa vi como era intimidatória, deixava alguns desconfiados. “Está anotando o que aí?”. Não deu certo. Como o que queria fazer era literalmente estar com eles e contar o que aconteceu depois, resolvi agir, participar.
Se havia roda de capoeira eu jogava, se tocasse música eu dançava, se fosse para jogar peteca, bola, brincar de algum jogo, ler um gibi, o que fosse, eu também fazia. Prestava muita atenção no que ouvia durante esse processo (e algumas vezes quando o que ouvia era difícil de memorizar, porém interessante, pedia permissão aos meninos e anotava).
Comecei a escrever um diário. Todas as noites, assim que chegava em casa, sentava e escrevia tentando me lembrar de tudo o que tinha acontecido, o que as pessoas tinham dito. Um bloquinho de anotações no caminho de volta para casa reforçava a memória. E assim mantive a base do que precisava para escrever, depois dos três meses de visita e mais os meses anteriores em que ainda não tinha definido o Consultório como projeto, mas já rabiscava sobre o que acontecia.
O diário e os desenhos que eles fizeram (e as poucas fotografias que consegui) serviram de base para escrever os relatos. Como optei por me incluir na história desde o começo, resolvi abrir certos parênteses no texto e escrevê-los em itálico, em uma espécie de licença para criticar o que estava escrevendo, como um diálogo comigo mesma, com o texto e com o leitor.
Os relatos têm essa pontuação. Parênteses com textos em itálico, como pensamentos em voz alta. Gostei de fazer isso, é o que geralmente faço quando escrevo. Mas não se publica opinião de repórter, não é? Nem chamo aquilo de opinião, chamo de consciência. Em certos momentos foram inevitáveis esses parênteses (que eles não se confundam com juízos de valor). Tive até uma certa dúvida, se não estaria me colocando demais na história. Mas precisei desse desabafo.
Fui orientada por Nadja Miranda desde o começo que tinha liberdade para escrever. Ela foi, sem dúvida, uma incentivadora do meu exercício da criatividade. Foi através dela que eu tomei conhecimento das idéias de Cremilda (com a ajuda da amiga e também jornalista Regina Bochichio). Nadja me mostrou que eu poderia diversificar o meu trabalho inserindo crônicas (meio tímida, mas gostando muito de fazê-lo), poesias, letras de música, versos.
Minha escolha em ter Nadja Miranda como orientadora passou muito por essa questão. Eu sabia, por ter sido sua aluna durante três semestres, que com ela poderia ficar a vontade para experimentar em jornalismo impresso. Em minha opinião, ela também acredita que os padrões vigentes podem ser remodelados. Achei que seria uma pessoa que permitiria que eu tentasse fazer de uma maneira um pouco à margem do esquema convencional.
Acho que essa liberdade vem junto com a falta de preconceitos. Desde as primeiras aulas com a disciplina Oficina de Comunicação Escrita, aprendi com Nadja a tentar fazer com que o meu texto e o meu olhar fossem abertos o suficiente para enxergar as diferenças nas realidades à minha volta. Quase cinco anos depois eu estava olhando para um mundo ao qual pouco tive acesso antes e não gostaria de fazer esse recorte de realidade para contar essas histórias com conceitos pré-estabelecidos.
Poderia fazer o que considerasse novo no trabalho, desde que aquilo não fosse uma coisa solta, desde que pudesse ser justificado. E a minha maior justificativa era justamente estar em busca de um caminho alternativo para contar histórias, assumir o papel de jornalista como aquele que pode contar boas histórias, que pode tocar a vida das pessoas e ajudar a transformá-las. Contribuir com o meu relato para que algo se mova, que algo seja dito.
no final do trabalho, tive uma certa dúvida quanto ao fato de colocar ou não o depoimento de fontes especializadas nas reportagens, além daquelas que fazem parte do Consultório de Rua. Mas depois ponderei e vi que não era uma discussão que eu queria suscitar, não dessa maneira. Queria contar histórias que vi através do que experimentei. Sem necessariamente ter que contar com o aval de especialistas.
Os profissionais e estudantes ligados ao Cetad que aparecem nos relatos de alguma maneira contextualizam as histórias. Querendo ou não, por estarem vivendo aquele cotidiano ao lado dos meninos, são fontes que explicam a situação de perto, através de um discurso teórico, mas ao mesmo tempo através do lado prático desse discurso.
Não foi fácil. Além de minhas angústias e dúvidas em relação ao projeto, considero que esse último semestre foi particularmente difícil para outros aspectos da minha vida. Me senti envolvida com situações que por diversos momentos me fizeram questionar minha escolha. Dramas de fim de curso? Sim. Insegurança de não estar fazendo a coisa certa? Também. Falta de convicção absoluta do que farei daqui para frente? Com certeza.
Mas bastou me concentrar e ver o trabalho acontecendo. Tentei usar muito do que aprendi durante esse último ano como colaboradora do Caderno Dez! por apostar em seu formato e sua linguagem, por ter sido para mim, ao lado dessa faculdade, uma escola. Escrevi o meu trabalho lembrando da minha chefe, Najda Vladi, brincando que o lead morreu. Leia-se: podemos fazer de outra forma, por que não tentar?
Chego ao final do curso exatamente com essa vontade: de arriscar. Com a consciência de preservar a ética, de arriscar sem transformar o papel de jornalista em aventureiro inconseqüente. Nada disso. Arriscar significa tentar novas abordagens, novas linguagens, ter ousadia para fazer diferente. Mas ter consciência de como fazê-lo.


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