Alfa: Lucas Hunter Curadora



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Espalhando a mão na parte inferior das costas dela, ele a estimulou a chegar mais perto. — Você sabe o que a letra da canção significa? — ele perguntou quando o artista de rua começou a cantar uma canção em veneziano, uma linguagem que Riaz fez um esforço em aprender durante seu tempo na Europa.

Ela balançou a cabeça, fios sedosos de ébano se prendendo contra seu queixo com barba por fazer. — Soa bonito, contudo.

Acariciando-a, começou a traduzir, as mãos entrelaçadas postas contra seu peito. O suspiro dela com a emoção pungente da balada romântica foi eloquente, os lábios que ela pressionou na curva da base de sua garganta eram exuberantes e convidativos. O que arrancou um baixo e profundo som de prazer dele, seu corpo preparado. — Pare com isso se você quiser me manter traduzindo.

Uma risada feminina de provocação. — Eu vou me comportar.

Riaz murmurou-lhe as palavras até que a música terminou, a voz substituída pelos sons doces de seus dedos acariciando as cordas do violão.

— Deveríamos dar gorjeta a ele. — Ela moveu a mão de sua nuca para a curva por cima do ombro, sua respiração soprando um beijo delicado em sua pele quando ela falou.

— Você quer descer?

Ela olhou para cima, olhos violeta iluminados por âmbar. — Sim.

Dedos se enredando, eles deixaram a sala e fizeram seu caminho até o artista de rua. A gorjeta que deixaram em seu estojo de violão aberto o fez sorrir. — Venha, — ele convidou com um floreio de acordes, — dancem!

O sorriso de Adria era tímido. — Você gostaria?

Riaz tinha os braços de volta ao redor dela antes de perceber que estava se movendo, as familiares ruas de paralelepípedo de Veneza como novas por seu sorriso enquanto ela navegava a superfície irregular, alta o suficiente para ter escapado da inundação, os dedos apertando sua mão.

— Te peguei, — ele murmurou.

Seu lobo, tanto tempo preso em dor e confusão, pressionado contra ela, feliz. Deslizando a mão pelas costas dela, eles dançaram sob a meia lua, mal conscientes dos transeuntes até que um velho casal italiano, o cabelo da mulher era um vison luxuoso com listras cinza, o rosto de seu companheiro traçado pela a idade e a vida, rodou para se juntar a eles.

A sombria verdade que ele carregava dentro de si lutou para despertar em face do vínculo não expressado deles, mas a noite era bonita demais para se estragar com arrependimentos. Homem e lobo, ele concentrou cada parte de si mesmo para dançar com a mulher cativante em seus braços. Ele não sabia por quanto tempo eles balançaram no calor abafado, mas quando eles se separaram, foi em um acordo silencioso. Deixando os outros dançarinos, caminharam de volta para o quarto deles, a música seguindo-os para cima.

Ele deixou as portas da varanda entreabertas, e as cortinas transparentes flutuavam na brisa suave. Mantendo as luzes apagadas para garantir a privacidade, ele correu os dedos sobre a bochecha de Adria, deleitando-se com a suavidade de sua pele quente. — Não. — ele disse quando ela começou a tirar a camiseta. — Permita-me. — Passando a mão pelas curvas de seu corpo, ele levantou o tecido macio com lenta antecipação.



Ela estava sendo seduzida, pensou Adria, enquanto Riaz agarrava seus quadris e pressionava um beijo na pele nua de seu esterno, a camiseta tendo se amassado silenciosamente no rico creme do tapete.

— Você tem gosto de fruta, — ele murmurou, beijando o caminho até a inclinação de seu pescoço. — Madura, exuberante, suculenta.

Exceto por quando lhe perguntou sobre suas fantasias, ele nunca antes falara muito na cama. O profundo timbre da voz dele nublava sua mente, a pele calejada na dela ameaçando emaranhar as linhas de razão que lhe sobravam. — Você nunca me contou a sua fantasia, — sussurrou contra a boca dele.

Ele inclinou o rosto para roçar o queixo delicadamente contra sua bochecha, os polegares moldando o formato dos ossos de seu quadril. — Uma mulher forte e sexy na minha cama, minha para fazer o que eu quiser. Você.

— Está é a fantasia de um macho muito dominante.

Diversão sensual em seus olhos, ele apenas a encarou.

Ela riu, embora seu pulso fosse como uma batida interrupta. — Sim, por que estou surpresa?

Seu beijo foi tão lento e tão romântico quanto a noite, o tipo de beijo que um homem poderia dar a uma nova amante que ele estava tentando levar para sua cama. — Permita-me, — ele sussurrou novamente, abrindo seu sutiã para retirá-lo e soltá-lo em sua camiseta antes de pressioná-la contra ele novamente, grandes mãos espalmadas sobre as costas dela de uma maneira que gritava posse. — Permita-me. — Um beijo pressionado no ponto sensível atrás de sua orelha.

Tremendo, ela teceu os dedos na espessa seda do cabelo dele, querendo ser mimada, acariciada e adorada o suficiente para entregar as rédeas a este homem em quem confiava para não trair sua fé.

Fazia tanto tempo.

— Sim. — Foi o sussurro mais desinibido, mas ele a ouviu.

Dedos em seu queixo, outro beijo leve, o corpo dele tão grande e quente. — Aguente firme. — Com isso, ele se abaixou e a agarrou em seus braços, levando-a para o quarto... e para a cama feita com linho branco suave em que alguma alma romântica espalhara pétalas de rosas. Elas eram como mordidas de veludo contra suas costas quando ele a colocou na cama, a luz fraca derramando para dentro da varanda como a única iluminação.

Eles eram lobos. Era tudo o que eles precisavam.

— Devíamos dispensar a cama, — ela disse, com os olhos em cima dele quando ele alcançava atrás para retirar a própria camiseta, mostrando um corpo que ela ansiava ainda mais hoje do que na primeira vez que compartilharam os privilégios de pele mais íntimos.

— Sem lençóis, — ele disse, tirando os sapatos e, se esticando para puxar as meias com rápida eficiência masculina. — Eu quero vê-la. — Ele deu a volta para se livrar das botas e meias dela igualmente rápido, antes de rondar por cima dela, seu cabelo caindo sobre a testa. — Você é tão linda. — Ele parecia quase... Surpreso, como se a estivesse vendo pela primeira vez.

Talvez estivesse, porque ela não conhecia exatamente este amante também. Este que a tocava com fascínio sensual e queria descobrir cada um de seus pontos secretos de prazer. — Riaz, — ela sussurrou quando ele beijou o caminho até seu umbigo, tendo tirado as calças jeans e calcinha dela para descartá-las ao lado da cama.

— Mmm. — Um beijo molhado pressionado logo acima de seu osso púbico, as mãos empurrando suas coxas, a aspereza da pele dele como um choque que a fez estremecer.

Foi o mais íntimo dos beijos, a paciência dele, primorosa. Seus gemidos suaves pairavam no ar, brilhando na fina camada de suor que transformara sua pele em uma miragem. E ainda assim, ele a acariciou com uma lenta atenção aos detalhes que tornava claro que, enquanto ela era a pessoa que tremia e se entregava, era muito sobre o prazer dele também.

Sua fantasia.

A percepção foi mais inebriante do que qualquer vinho. Render-se às sensações, ela ainda estava ofegante quando ele finalmente fez o caminho de volta por seu corpo para mordiscar sua garganta forte o suficiente para deixar uma marca. Durante todo o tempo, ele acariciava seus seios, seu abdômen, os topos de suas coxas com mãos tanto proprietárias quanto exigentes o suficiente para que ela soubesse que o controle dele não era tão impecável como aparecia.

Ela abriu a boca para o beijo dele, com as pernas na coxa revestida de pelos que ele empurrava entre eles. Mas a retirou depois de apenas um segundo, murmurando, — Pele, — antes de rolar para longe e tirar a roupa e voltar para ela, um grande e perigoso predador, que decidiu acariciá-la a um prazer que ela nunca antes havia sentido.

Desta vez, ele se colocou sobre ela, a ereção empurrando agressivamente contra seu abdômen. Ele lhe permitiu fechar os dedos ao redor de seu aço aquecido, a pele que o embainhou era paradoxalmente suave. Ela queria saboreá-lo, satisfazê-lo como ele lhe satisfez, mas esta noite, ela era dele para fazer o que quisesse. Não era da natureza de uma fêmea dominante ceder tão completamente na cama, mas Adria nunca se sentira tão estimada por um amante. Ameaçava deixá-la com medo, mas ela se recusou a submeter-se a emoção insidiosa, recusava-se a manchar uma noite em que ela sabia que iria tornar-se uma memória que guardaria com carinho.

A boca em seus seios, lambendo e saboreando. A mão entre suas pernas. Os dedos deslizando profundamente em seu interior, o caminho facilitado pelo calor derretido de sua necessidade. Ela apertou, tentou segurá-lo, mas ele se retirou... E então ele estava afastando suas coxas e penetrando-a com a espessa intrusão de seu pênis.

— Permita-me, — ele sussurrou mais uma vez, deslizando uma das mãos sob a cabeça dela para envolver seu cabelo no punho, acariciando sua perna por cima do quadril com a outra.

Ela não podia fazer outra coisa, seu corpo era instrumento dele. Balançando a casa com um grunhido, ele reivindicou outro beijo, desta vez mais quente, mais exigente, mas continuando a manter aquela característica preguiçosa que dizia que ele tinha toda a noite para amá-la. E quando ele começou a se mover, foi com o mesmo ritmo lânguido, os corpos trancados em uma dança lenta que cauterizava o prazer através de seus dedos.

Seduzida... Ela estava sendo seduzida.

Quarenta e um

Hawke olhou para o outro lado da cabana onde sua companheira estava sentada enrolada na cama com um reader. Ela estava lendo um artigo que seu professor recomendara, enquanto ele tinha o relatório conjunto de Kenji e Riaz sobre as negociações dos Blacksea. Ele preferia estar na cama ao lado de Sienna, mas ela o barrou. — De outra maneira, não conseguiremos fazer qualquer trabalho.

Esparramado na poltrona que ele adicionara à cabana um par de semanas atrás, ele tentou descobrir por que estava tão feliz quando por direito, deveria estar se sentindo um pouco mal-humorado.



Porque ela está aqui. Minha companheira está aqui comigo, segura, fazendo algo completamente normal.

Era um presente que ele podia ter antecipado há alguns meses, e um que não deixaria ninguém manchar com medo.

Sienna olhou para cima naquele instante. — Você não está trabalhando. — Tocando o dedo na tela de seu reader, ela virou uma página afetadamente.

— E você esteve na mesma página por dez minutos.

— Bobo. — Rindo, ela colocou o reader no edredom e jogou os braços para frente. — Como Ben diria, ‘Oi! Quer brincar?’

Sempre. — Não lá fora. — Estava chovendo, e enquanto seu lobo poderia funcionar muito bem através da neve e granizo, ambas as partes dele gostavam de estar quentes e secas.

— Que cara durão.

— Venha aqui e fale isso. — Deixando de lado o relatório, ele entortou um dedo.

Em vez de obedecer, Sienna lhe lançou um olhar dissimulado e um pouco culpado. Ele vira aquele mesmo olhar mais vezes do que podia contar, quando ela era juvenil. Tentado a atacá-la, ele disse: — Eu quero saber?

— Eu quero fazer cookies.

Ele sorriu. — É disso que estão chamando agora?

Ela jogou um travesseiro nele. — Eu trouxe os ingredientes na minha mochila. Então, podemos?

Arremessando-o de volta, ele inclinou a cabeça. — Temos a noite para nós mesmos. — Uma missão a se cumprir, mesmo com a atual paz relativa — E você quer fazer cookies?

Ela de repente ficou muito interessada no travesseiro. — Lara faz e parece divertido. Marlee e Toby gostam. — Ela pegou na costura da fronha. — Eu gostaria de saber como... Para o futuro.

No caso de termos filhos um dia.

Ela poderia ter pedido a Lara, Evie, Tarah, mas esperou para pedir a ele. O que o tornou seu escravo mais uma vez. — Outra memória para sua caixa?

Seu sorriso era o sol saindo das nuvens. — Eu trouxe gotas de chocolate.

— Então eu acho. — Levantando-se, ele estendeu a mão. — Que vamos fazer cookies.

Determinados a conseguir, eles pegaram receitas na Internet, assistiram a vídeos de demonstração, e substituíram uvas por cranberry, porque nenhum deles era um fã de — uvas-passas.

A melhor coisa que poderia ser dito sobre o esforço prendado deles é que era comível e que Sienna tinha chocolate derretido na ponta do nariz e ele teve que lamber.

Eles conseguiram queimar a segunda fornada, em um forno sem queima.

A terceira fornada, no entanto... — Estes são meus. — Ele fez uma linha imaginária na bandeja que colocava noventa por cento dos cookies do seu lado.

Jogando os braços em volta do pescoço dele, Sienna o beijou, sorrindo o tempo todo. — Tudo bem, — ele murmurou. — Eu vou lhe dar dois.

— Está dizendo que meu beijo só vale dois?

— Eu poderia ser persuadido a reconsiderar.

Mais tarde, depois dele tê-la alimentado com biscoitos quentes enquanto ela lhe prometia todos os tipos de favores, eles beberam leite e escovaram seus dentes para compensar o açúcar atualmente nadando através de suas correntes sanguíneas, e deitaram na cama de frente um para o outro. A chuva continuava a bater no telhado, um escudo temporário em torno do próprio mundo privado deles que fez a cabana parecer ainda mais confortável.

— Eu me diverti. — Foi um comentário suspirado de sua companheira.

Traçando um dedo ao redor da concha de sua orelha, ele disse, — Eu acho que deveríamos tentar fazer muffins depois. Eu gosto de farelo de banana. — Porque ele se divertira também, o menino nele há muito esquecido subindo à superfície. Ele fizera cookies com sua mãe há muito tempo, perdera a memória sob o peso da dor que chegara mais tarde, mas ela era mais uma vez uma joia radiante em sua mente.

— Eu estava pensando em bolo mármore, — Sienna disse, a expressão cintilando de excitação.

Ele assobiou. — Ambiciosa.

Esfregando o nariz contra o dele, ela sussurrou, — Ninguém jamais vai saber se acabarmos com um bolo que tem vagamente a cor de lama.

Ele riu, agarrando-a e virando-se de costas para que ela acabasse deitada ao longo de seu corpo. — Olhe para nós, estamos falando sobre algo tão doméstico. — Sem armas. Sem inimigos. Nenhuma tensão.

Ela sorriu intensamente. — É maravilhoso, não é?

— É, é sim. — Perigo espreitava sua companheira, mas esse momento era deles, privado, seguro e com cheiro de cranberries e chocolate derretido no ar.



ADRIA acordou se sentindo melhor do que já se sentira nos últimos anos. Ela passou a noite enroscada em um homem sexy e lindo que rira com ela nas horas da meia-noite, a voz dele um delicioso raspar sobre sua pele, e que fizera amor com ela novamente em algum momento antes do amanhecer. Ele foi mais exigente na segunda vez, mas não menos suave. Ela estava se sentindo terrivelmente acariciada e mimada.

Quando ela tirou a cabeça do lençol e a levantou para vê-lo entrando na sala vestido com nada além de uma toalha enrolada em torno de seus quadris, uma caneca de café na mão, simplesmente parou de respirar por um segundo. — Venha aqui, — ela murmurou quando pode falar novamente. Ele cheirava a sabão, homem e café, e ela só queria esfregar o rosto contra seu peito, satisfazer a profunda necessidade sensorial que ele tanto criava e preenchia nela.

Sentando na cama, ele colocou o café na mesinha de cabeceira com as bonitinhas pernas curvadas. Os olhos dela se prenderam em uma gota de água que descia o peito dele, o tom moreno de sua pele misturado ao um punhado de cabelos escuros. — Você esqueceu de uma gota, — ela disse, pegando-a com seu dedo.

Sem riso, a expressão dele era reservada.

Dedos se curvando em sua palma, ela permitiu que a própria mão caísse no lençol. — Isto muda as coisas, não muda? — Ela sabia que a noite fora bonita demais para não mudar, vinha tentando ignorar a verdade inevitável, porque esse sentimento dentro dela era uma alegria efervescente que não sentia há tanto tempo que não era sequer uma memória.

— Sim. — Uma única palavra áspera, mas a mão dele fechou-se sobre a dela, quente e protetora.

Ela abriu os dedos, os entrelaçou com os dele. — Você quer terminar? — O fato de que fazer essa pergunta a machucava profundamente era um sinal inequívoco que ela já começara a se apaixonar por este homem que nunca poderia lhe dar o que precisava.

— Nós deveríamos terminar, — Riaz disse, os olhos marrom pálidos lançando âmbar na luz do sol da manhã, — antes que custe a ambos.

— Você está certo.

No entanto, nenhum deles fez o movimento para quebrar a conexão física. A loba de Adria ficou em silêncio, incerta... Assustada. Era difícil admitir, aceitar que apesar de cada uma das promessas a si mesma, Riaz chegara perigosamente perto de violar o núcleo que ela jurou proteger. Parte dela queria arrancar sua mão da dele, ir embora. Seria a escolha mais segura, permitindo-lhe sair disto um pouco machucada, mas de coração inteiro. E ainda assim...

Riaz segurou o rosto dela com a mão livre. — Eu sou um péssimo risco, Adria. — Bruto, sua alma despida. — Realmente péssimo.

Desembaraçando seus dedos, ela se ergueu em uma posição ajoelhada, o lençol preso aos seios. — Eu sou pior. — As cicatrizes que ela carregava eram invisíveis, e marcavam-na até os ossos. — Não sei se algum dia serei capaz de confiar inteiramente em um homem novamente. — A honestidade dele merecia a dela. — Meu defeito é profundo.

Quase capaz de provar a intensidade de sua dor, Riaz curvou a mão sobre a nuca dela. — Eu juro por Deus, vou caçar Martin e estraçalhá-lo membro por membro. — O orgulho de uma fêmea dominante e sua autoconfiança eram sua armadura, algo de que nenhum homem que se preze jamais iria tentar despi-la.

Um riso surpreso coloriu o ar, Adria o puxou para baixo até que suas testas se tocassem. — Não tem necessidade. Demorei mais tempo do que deveria, mas eu o vi pelo que ele era, e vi os erros que cometi também.

Mas o estrago estava feito, ele pensou, não era nada que iria facilmente desaparecer, suas cicatrizes tão indeléveis quanto às dele. Tão indelével quanto à força feminina que a trouxera para fora da escuridão. Seu lobo, os dentes ainda a mostra, deu um passo em direção a ela, e parou. Ele se sentiu como se estivesse à beira de um penhasco traiçoeiro. Um único movimento errado poderia mandá-lo rolando em um desfiladeiro rochoso, quebrando seus ossos, sua mente, sua própria alma.

Ele nunca esperou estar aqui, diante deste momento, com qualquer mulher.

Uma nuvem de tempestade lá no fundo, a sombra de um passado que ele estava determinado a colocar para descansar ameaçando escurecer a manhã, mas tão forte quanto o conhecimento de que não podia viver no limbo para sempre sem enlouquecer, e que a chama bruxuleante entre ele e Adria era algo importante, algo pelo qual valia a pena lutar.

Talvez, apenas talvez, duas pessoas quebradas conseguissem criar algo inteiro. — Sim, — ele disse e esperou, o corpo de seu lobo tremendo com uma tensão que lhe chutava nas entranhas com exatamente o quanto importante Adria se tornara para ele. E, com os olhos na marca que deixara no pescoço dela, ele soube que não iria se comportar e ir embora se ela dissesse não.

— Sim.


A resposta dela fez seu lobo vir à tona. Ele não lutou contra a mudança, porque esta decisão era tanto do lobo quanto do homem. Uma linda mulher com grandes olhos cor de violeta e cabelos como uma cascata de seda estava ajoelhada ao seu lado quando ele completou a mudança para caminhar ao redor e se sentar sobre os lençóis, seu corpo pressionando contra os joelhos dela. Um instante depois, o ar se encheu de faíscas iridescentes de cor... para tomar a forma de uma elegante loba prateada com um inesperado cintilar branco em sua cauda.

Sacudindo-se como para se ajeitar em sua nova pele, ela se deitou ao lado dele, o focinho nas patas dianteiras, o corpo dela era metade do tamanho do dele nesta forma. Ele se deslocou para encurralá-la contra a cabeceira. Rosnando, ela o espetou com suas garras quando ele forçou demais. Ele mordiscou sua orelha.

Olhos cor de âmbar se viraram para ele em um aviso que fez seu lobo se aninhar a ela com uma afeição selvagem que vinha do coração do predador. Ela não era aquela que fizera a sua alma cantar em reconhecimento quando estiveram nesta cidade alagada antes, mas era sua amiga, sua amante, ostentava o seu cheiro. O lobo confiava em tê-la na sua retaguarda, com seus segredos, não tinha intenção de deixá-la partir.

Era tarde da noite, bem depois da hora de dormir de uma criança de sete anos e meio, quando Judd sentou-se ao lado de William em um tronco caído no bosque que ficava atrás da casa que a família do garoto comprara na fronteira entre os territórios DarkRiver e SnowDancer. Não havia mais necessidade de Judd esconder sua presença, mas ele garantia que suas visitas para ver William continuassem secretas mesmo assim, no instante em que o vulnerável garoto fosse associado a ele, ele se tornaria um alvo. Havia alguns, Psy ou não, que não hesitariam em capturar William e moldá-lo em um instrumento da morte.

Como Judd, o menino era um Tk-Cell. Ele podia, literalmente, mover células dentro de um corpo, o que significava que ele poderia parar um coração e fazer com que parecesse uma morte natural. Judd teve que ensinar a William esta feia verdade, não só porque o garoto já havia inadvertidamente matado um animal de estimação da família, mas também porque William precisava perceber e reconhecer todos os aspectos de sua capacidade para que pudesse ganhar controle sobre ela. No entanto, eles estavam levando a aplicação prática da força Tk-Cell de William em uma direção totalmente nova.

Alcançando, ele bagunçou o cabelo castanho e suave do garoto. — Corte de cabelo ruim. — Era como se alguém tivesse colocado uma tigela em cima de sua cabeça e cortado em torno dela. Torto.

William apoiou os cotovelos sobre os joelhos, envolvendo o rosto. — Mamãe. — Pura exasperação. — Ela diz que vai crescer, mas eu tenho que ir para a escola!

Com bastante tempo e esforço, William poderia aprender a transformar as células de seu próprio corpo, mas a habilidade era difícil e enervante mesmo para Judd, e ele era muito mais forte do que William. — Diz a todos que você fez isso em um desafio, — ele disse, optando por uma solução muito mais acessível e eficaz.

Um sorriso. — Isso é esperto. — Seus olhos foram para o bolso interno da jaqueta de couro sintético de Judd, revelado pela forma que Judd apoiou os antebraços nas coxas. — Eu gosto de chocolate.

Judd tirou a barra que pegou no caminho. — É sua se você puder demonstrar sua proficiência com a técnica que ensinei na última vez.

— Como um teste?—

— Sim. — Alguns diriam que o menino era jovem demais para essas coisas, mas essas pessoas não entendiam como uma perda de controle psíquico poderia devastar. A morte acidental de seu animal de estimação quase destruíra William. O que aconteceria se ele parasse o coração de sua mãe ou causasse um derrame em seu pai?

Não. Era melhor que Judd fosse um mestre rígido, embora não tivesse intenção de tratar o menino como brutalmente fora tratado quando criança, até ser descontruído e reformado em um assassino. Daí a barra de chocolate como recompensa, como recomendado por Ben, seu consultor pessoal quando se tratava de todas as coisas relativas a crianças pequenas.

— Okay — William disse, pulando do tronco. — Eu estive praticando.

Colocando a barra de chocolate no bolso, Judd tirou um pequeno canivete. — Pronto?

William esfregou as mãos na frente de seu jeans, respirou fundo e disse, — Sim. Vai.

— Eu preciso monitorá-lo telepaticamente. — A única vez em que invadiria a mente do garoto sem pedir seria se William perdesse o controle fatalmente, e o próprio William fez esse pedido.

— Para que você veja se estou seguindo o processo correto. — William disse, seu tom uma imitação perfeita do de Judd quando ele falara aquelas palavras.

O que fez seu peito aquecer, o sorriso se construindo por dentro. — Sim.

— Aqui vão eles. — William baixou seus escudos, mas nunca ficando vulnerável a um ataque, Judd já assumira a tarefa.

— Um, dois, três. — Ele passou a lâmina da faca em sua mão.

O sangue jorrou, grosso e vermelho.



Quarenta e dois

Parecia impressionante, mas ele cortou superficialmente, isto era sobre construir a confiança de William em suas habilidades. Não demorou muito para que ele sentisse sua pele começa a formigar, então puxar. Na frente dele, a testa de William estava enrugada, os olhos grudados no corte até que Judd não estivesse certo de que o rapaz estava piscando. Suor escorria de uma têmpora, seus pequenos punhos cerrados com tanta força que o castanho claro de sua pele estava sem sangue.

Cinco minutos de concentração feroz mais tarde, William disse, — Terminei, — e oscilou em seus pés.

— Sente. Beba. — Ele deu ao menino a garrafa de um litro de água esportiva rica em nutrientes que deixara ao seu pé. Somente quando William estava mais firme, ele tirou um lenço do bolso para enxugar o sangue e revelar a linha rosada de uma cicatriz que parecia já ter dois dias. — Muito bom. — Ele passou a barra de chocolate.

William arrancou a embalagem para dar uma grande mordida. — Isso me deixa realmente com fome, — ele disse depois de engolir. — E cansado.

— É por que você está usando seus músculos psíquicos. Você precisa se lembrar de reabastecer e descansar. — Jovem, seu corpo em desenvolvimento, as reservas psíquicas de William eram baixas. O que não negava seu poder. — Você fez um trabalho excelente.

Quando William sorriu e se apoiou nele, Judd sentiu mais um daquelas rachaduras se formar dentro dele. Aquelas que as pessoas que amava continuavam a causar, mostrando que ele tinha a capacidade de sentir ainda mais do que acreditava.

William terminou a barra de chocolate e olhou para cima. — Okay, estou pronto para a outra coisa.

A ‘outra coisa’ era onde Judd levou o menino através de todo o seu método, lhe ensinando onde poderia ser mais eficiente, mais forte, ou mais cuidadoso. — Feche seus olhos e foque. — Baixando seus escudos internos apenas o suficiente para permitir que William deslizasse para uma parte específica de sua mente, Judd mostrou ao menino o caminho psíquico que tomara, pedindo-lhe para criticar seu próprio desempenho.

William era inteligente e motivado, um excelente aluno.

Muito bem, ele disse depois que o menino descobriu a solução para um pequeno problema. É o suficiente por hoje. Desengatar, escudos levantados.

— Eu vou para Veneza, — ele disse quando William abriu os olhos. — você sabe onde fica?

— Não, mas eu sei que tem água, muita água. E barcos engraçados. — Uma pausa. — Foi por isso que eu tive que tirar uma soneca durante o dia e encontrá-lo tão tarde? Porque você vai partir amanhã?

— Sim, — Judd disse, porque ele não mentia para as crianças. — Você é importante.

— Você é também. — O abraço de William foi feroz.

Judd o abraçou de volta antes de escoltar o rapaz até a fronteira da propriedade de seus pais, onde a mãe e o pai estavam sentados à espera em uma mesa de piquenique de madeira. William correu para eles, explodindo para compartilhar o seu sucesso. Somente quando a pequena família estava a salvo no interior da casa que Judd se virou e caminhou de volta para a floresta... E para os homens que o esperavam. — Aden, — ele disse, encontrando o Arrow sentado no mesmo tronco que ele e William usaram. — Vasic.

— Nós não achávamos que você o avistara, — Aden disse quando Vasic se deslocou para fora das sombras viscosas entre as árvores.

Judd se sentou ao lado de Aden. — Eu aprendi muito sobre rastrear com os changelings. — Ele sentiu a presença de Vasic por causa do silêncio que o teletransporte criara nos pequenos habitantes da floresta.

Foi Aden que falou em seguida, seu olhar focado na direção da casa. — O garoto é um de nós.

— Sim.


As próximas palavras de Vasic foram calmas. — Eu vou ficar de olho nele enquanto você estiver em Veneza.

Judd não esperava nada menos. Se havia uma coisa que era verdade para todo Arrow que ele conhecia, exceto Ming LeBon que nunca realmente fora um deles, era que eram leais. Às vezes essa lealdade era mal orientada, dada àqueles que não a mereciam, mas nunca era falsa, e nunca estava à venda. — Vocês me rastrearam por uma razão?

— Nós sempre temos uma razão, Judd. — Aden pegou um fruto, examinou-o com cuidado. — Você sabe sobre os outros? Em Veneza?

— Não. — Ele nunca ouvira nada sobre outros Arrows clandestinos.

— Bom. Isso significa que tivemos sucesso. — O Arrow médico colocou o fruto de volta no chão.

— O tamanho do grupo?

— Uma pequena porcentagem das pessoas que morreram oficialmente durante as missões ao longo da última década.

— Como? — Todos os corpos de Arrows eram recuperados, a morte confirmada por um patologista que não fazia parte da equipe.

— Primeiro a equipe pegava certos cadáveres de funerárias depois de eles terem sido arrumados para o enterro. Do tamanho e da altura certa para se adequar a um Arrow a ponto de desertar. Em seguida, os cadáveres eram colocados no lugar dos Arrows em incidentes planejadas onde os corpos estariam tão danificados, o DNA tão degradado, que não seria difícil enganar os exames. Explosões e incêndios.

— Arriscado. — A coisa toda teria sido desvendada se um cientista consciencioso decidisse checar novamente suas descobertas antes de o corpo do ‘Arrow’ ser cremado.

— Sim, mas possível com a geração anterior de scanners de DNA, — Aden disse, dando a Judd outra indicação da natureza de longo prazo do plano. — O mesmo procedimento não funcionaria agora. É por isso que atualmente canalizamos a maioria dos desertores por meio de uma instalação de suporte nos Alpes Dináricos.

O Fantasma, Judd recordou, havia mencionado a instalação nos Alpes Dináricos em conexão com Arrows que foram retirados do Jax.

Vasic falou nos calcanhares desse pensamento. — Ming disse para Aden afastar os Arrows nos Alpes Dináricos do Jax para ver se poderiam ser reabilitado, e em algumas semanas mais tarde disse à sua equipe médica para garantir que nenhum deles jamais conseguisse sair de lá vivo.

Porque Ming LeBon queria apenas soldados perfeitos. Fraturas que não pudessem ser consertadas ou que pudessem deixar uma vulnerabilidade tornavam um homem inútil para ele.

— Ele contratou pessoal não-Arrow para me vigiar, — Aden acrescentou, — mas se esqueceu de que eu não sou apenas um médico de campo.

Judd perguntou se Aden usara as habilidades telepáticas que aprendeu com Walker para influenciar sutilmente as mentes da equipe médica, que podiam muito bem serem cordeiros levados para o abate. — Sem razão, então, para Ming questionar as eventuais certidões de óbito que saíam da instalação.

A expressão de Aden não mudou quando ele disse, — Especialmente quando seus corpos já haviam sido cremados, as cremações verificadas pela própria Keisha Bale.

— A M-Psy chefe, — Vasic disse quando Judd olhou para cima em questionamento.

— Eu conheço os renegados? — Judd perguntou, impressionado com a dimensão da farsa.

— As quatro primeiras deserções ocorreram na geração anterior à nossa, os dois iniciais permaneceram fortemente protegidos na Rede por quase dois anos depois de suas ‘mortes’, até que uma terceira deserção pudesse ser conduzida com sucesso, — Aden disse. — Três é o menor grupo que precisavam para tentar em termos de uma rede autônoma.

— Uma decisão inteligente. — A RedeLauren tinha inicialmente dois adultos, uma adolescente e duas crianças, e foi preciso tudo o que possuíam para manter o tecido da rede psíquica.

— Depois da terceira deserção, seguida rapidamente por uma quarta, o programa entrou em hibernação para aliviar qualquer suspeita. Foi reiniciado quando eu assumi a posição de médico de campo.

Foi quando Judd fez a conexão. — Seus pais morreram depois que o pequeno barco secreto em que estavam explodiu no mar. — Aden era um garoto... Mas era velho o suficiente para estar sob o Silêncio, velho o suficiente para ter aprendido a proteger os segredos dentro de sua mente.

O outro homem não confirmou sua suposição, mas não negou. — Eu o observei depois que você foi retirado do Jax, — Aden disse ao invés, — considerei trazê-lo, mas você era um Arrow tão perfeito. Não pude encontrar uma maneira de provar que o Jax já não tinha feito o que deveria fazer, que você não era um dos fantoches reprogramados de Ming.

Irônico, pensou Judd, que ele fizera um trabalho tão bom em esconder suas intenções, que mesmo seus companheiros Arrows nunca suspeitaram que tivesse tendências sediciosas. — Krychek?

— Melhor do que o Ming, — foi a resposta curta. — Quanto ao resto... Nós vamos tomar decisões que beneficiem a equipe e a Rede. Esse é o único fator operatório.

Nunca antes, pensou Judd, os Arrows ameaçaram se separar tão completamente das potências dominantes da PsyNet. Por enquanto, Aden e os outros seguiam Kaleb Krychek, mas só até que ele os traísse. Esse fora o erro fatal de Ming. — Vocês pretendem eliminar Ming?

— É uma possibilidade. — Aden encarou a floresta. — A Rede já está se desestabilizando. Parte da equipe acredita que o impacto da morte dele não será tão importante quando o tecido global estiver se propagando, mas sou da opinião de que poderia ser o ponto de inflexão que leva a uma ruptura mortal.

— Concordo, — Judd disse, tendo tido uma atualização do Fantasma quanto à situação atual. — O Conselho pode estar fraturado, mas a maioria da população não acredita nisso ainda. — Embora os rumores estivessem se tornado virais. — A morte de Ming seria um choque psíquico profundo.

Aden deu um pequeno aceno de cabeça. — A equipe vai seguir minha liderança sobre isso, e eu disse que vamos esperar. Ele vai morrer quando precisar morrer.

Judd sabia que não era falsa confiança. Ele também sabia que Aden entendia exatamente o quanto Ming seria um adversário maldoso, seu assassinato precisaria de um planejamento cuidadoso, um ataque preciso. Uma única dica de advertência, e Ming o transformaria em um confronto sangrento.

Vasic se deslocou uma fração, as folhas farfalhando ao redor de suas botas. — Os Arrows em Veneza, eles gostariam de falar com você, mas não pode ser em público.

— Seu rosto é muito conhecido agora, — Aden disse. — Não podem arriscar qualquer coisa que possa comprometer o disfarce deles.

Judd não tinha problemas com isso, entendia por que os Arrows precisavam manter esse segredo. — Você tem imagens de um local privado? — Ele precisava de um ponto para o teletransporte.

Aden pegou um pequeno telefone e lhe entregou. — Fotos carregadas. Ligue para o número predefinido quando você chegar e um deles vai sair para encontrá-lo. A conexão é segura, não pode ser rastreada mesmo se for hackeada.

Recebendo-o, Judd considerou quantos mais desses celulares desertores deveriam haver em todo o mundo, marciais e familiares. — Você tem que lançar as bases para um total de deserção da Net. — Casas, finanças, vidas alternativas, os desertores tiveram anos para colocar tudo no lugar.

Aden levou tempo para responder. — É uma opção, mas apenas se não houver nenhuma outra. A equipe não tem desejo de abandonar a Net, mas também não vamos ficar parados assistindo os que estão no poder nos usarem e então nos descartarem.

— Alguns de nós estão cansados, Judd, — Vasic acrescentou calmamente, o cinza de seus olhos guardando a mais escura das sombras. — Quando isso estiver acabado, tudo que pedimos é paz.



Quando isso estiver acabado...

Judd se perguntou se alguma coisa ou alguém iria sobreviver quando a guerra civil na PsyNet começasse para valer, se Vasic algum dia encontraria sua paz... Ou seguiria para sua morte, como um Arrow, até o fim.



— Nós precisamos ver Bowen hoje? — Adria disse a Riaz quando terminaram o café da manhã na varanda, querendo sugerir que passassem o tempo andando pela cidade. Um pouco de espaço poderia aliviar a estranha e dolorosa tensão que tanto os ligava quanto distanciava.

Ele balançou a cabeça. — Até que Judd chegue aqui para testar os chips neurais, não há muito que possamos fazer. — Seu telefone tocou naquele instante, o número na tela fazendo-o sorrir quando atendeu. — O negócio está feito? — Uma pausa, então, — Sim, tudo bem. — Seu sorriso se alargou para o que quer que a pessoa do outro lado tenha dito, antes que ele falasse novamente. — Onde? Certo.

Desligando sem se despedir, ele disse, — Você conhece o Pierce?

— Alto, olhos verde gelo, poderia ser italiano, indiano, do Leste Europeu, uma combinação de todos os itens acima ou nenhum deles? — O homem em que ela estava pensando os visitou com Matthias um par de anos atrás, depois de ter levado a mãe e o sobrinho até lá para ver um show. — Soldado sênior do setor de Alexei?

Riaz sorriu a sua descrição. — É ele. Ele fechou o acordo em que estava trabalhando e está dirigindo para nos ver. Eu assumi que estaria tudo bem para você se encontrar com ele.

— Claro. — Mesmo um lobo solitário, ela pensou, precisava de contato com os membros de seu clã, e se Pierce assumisse as funções de Riaz, ele poderia ficar sozinho por meses.

— Quanto à ascendência dele, — Riaz disse a ela, com os olhos brilhando, — Pierce me disse que vem de uma linhagem de saqueadores itinerantes que viraram comerciantes e que se “cruzaram” com homens e mulheres de todos os países conhecidos e alguns que já não existem através dos séculos.

— Boa história.

— Pelo histórico dele, as mulheres, obviamente, acham que sim.

Pierce aparentemente já estava em um ônibus aquático quando ligara e apenas quinze minutos depois eles se encontraram com o outro homem no lobby do hotel. A loba de Adria riu vislumbrando os olhares de soslaio das mulheres que passavam, e mais do que alguns homens, que não conseguiam tirar os olhos de Riaz e Pierce. Uma mulher quase bateu em uma coluna. Adria se simpatizou. Separadamente eles eram homens sexys e perigosos, com cabelos escuros e corpos que podiam fazer uma mulher gemer. Juntos, eles eram letais.

Alheios à atenção, os dois homens se abraçaram de uma forma tipicamente masculina, completando com tapas nas costas e socos nos ombros.

— Você ainda me deve dinheiro, porra, — foi a saudação de abertura de Pierce.

— Eu te comprarei um sorvete.

A troca fez a loba de Adria sorrir, porque estava claro que os dois eram amigos próximos o suficiente para que não se preocupassem em ser educados. Quando Pierce virou-se para ela, seus olhos claros de cristal se estreitaram por um segundo. — Setor do Matthias?

— Memória excelente. — Apresentando-se, assumiu uma posição secundária na conversa enquanto saíam para explorar, as vozes tranquilas e profundas eram um acompanhamento bem-vindo à sua absorção em Veneza.

Entrando em uma forja de vidros na ilha vizinha de Murano, ela se perdeu nas cores e formas criadas a partir do fogo, enquanto Riaz e Pierce rondavam ao lado dela com paciência preguiçosa. As peças criadas naquela pequena oficina e as que se seguiram eram além de belas, sonhos frágeis nascidos de sílica e artesanato meticuloso. Ela acariciou a mão sobre uma escultura fluida que suspirava sensualidade, riu de alegria dos pequenos pássaros de vidro empoleirados em uma árvore coberta, foi enganada pelos lustres em miniatura.

No final, ela comprou um trio de aves com plumagem cobalto brilhante. — Para Tarah, Indigo, e Evie, mais esse colar lindo para a minha mãe, — ela disse a Riaz, quando ele se aproximou do outro canto da loja do artesão, mostrando-lhe as contas laranja-brilhantes circundadas por ouro. — E estes para mim. — Ela ergueu um par de beija-flores em miniatura, os brincos eram verdes com uma pitada de vermelho.

— Tem certeza de que quer estes? — Uma pergunta solene. — Você esteve em apenas metade das lojas da ilha.

— Vá em frente, — ela disse, — tire sarro da viajante novata.

Ele a beijou na bochecha em vez disso, o calor de seu corpo uma carícia de que ela sentiria falta. — Eu gosto de ver Veneza através de seus olhos.

Um pequeno broto de esperança surgiu em seu coração. — Obrigada por me mostrar esta loja. — Ela estava escondida, um tesouro secreto.

— O que é isto?

Ele levantou duas caixas de vidro pequenas em cores diferentes, amarrados com laços de vidro prateados. — Eu levei uma para minha mãe da última vez e ela me disse que precisava de um conjunto. E para sua alteza, Marisol, levarei uma grande caixa de doces.

Era impossível não adorar um homem que não fazia mistério sobre o quanto amava as mulheres de sua vida. — Sua sobrinha é uma garota de sorte, — ela disse, levantando-se para soltar um beijo no canto de sua boca. — E sua mãe criou um bom homem.

Seu braço deslizou pela cintura dela para se firmar no quadril. — Pierce encontrou algo que ele acha que você vai gostar. — Tocando-a no nariz, ele acenou com a cabeça para o outro lado da loja. — Eu vou pedir para embrulhar isto para você.

— Obrigada. — Do pequeno broto dentro dela cresceu uma única folha fina como um sussurro de verde vívido: O sexo era uma coisa, mas dar e aceitar tão doce afeição, pública e brincalhona, levava o relacionamento deles para um novo lugar assustador. Um lugar que poderia lhe causar dor terrível, e ainda assim um lugar do qual não podia se afastar.

Era tarde demais para isso.



Quarenta e três

Peito apertado com a percepção, Adria passou por Pierce e olhou para dentro da caixa de vidro ao lado da qual ele estava. A escultura exibida dentro era francamente bizarra, parecia que alguém havia quebrado um pedaço de vidro colorido como vômito, então o remontado. Mal.

— Não é magnífica? — Pierce tocou a caixa com dedos reverentes.

Não querendo ferir seus sentimentos, ela tentou rapidamente achar uma resposta. — Posso ver que ela fala com você.

— Oh, sim. O fluxo artístico é indescritível.

Adria não sabia muito bem o que dizer sobre isso, mas ele estava esperando que ela respondesse com uma expressão tão expectante em seu rosto, que ela soube que tinha de falar. — Sim, é... ah... Imaginativa.

Pierce começou a falar sobre a absorção ambígua das formas e como o poder da peça era uma fusão sutil de luz e escuridão. Foram quase dois minutos mais tarde, justamente quando ela estava planejando sua fuga, que captou o brilho em seus olhos e percebeu que fora pega. O intenso, apaixonado e inteligente Pierce era um lobo brincalhão em seu íntimo.

— Sim, sim, — ela disse quando ele fez uma pausa, — Você está tão certo. Na verdade, eu acho que é o presente perfeito. — Mordendo a parte interna da bochecha para não desatar a rir, ela tomou uma das mãos dele no meio das suas. — Eu vou comprá-la para você, não, não, eu insisto. Você tem sido ótimo hoje, tão paciente.

Um alarme distinto. — Não há necessidade. Eu já tenho...

— Eu insisto. — Virando-se, rapidamente seguiu para onde Riaz estava de pé no balcão, a sacola contendo suas lembranças na mão. — Riaz, eu achei o melhor presente para Pierce.

— Se você me der essa monstruosidade, — Pierce rosnou atrás dela, — vou te dar de presente de volta no seu aniversário.

Um bufo escapou de Adria. Os olhos de Pierce se estreitaram. E então ela estava rindo tanto, que teve que sair e cair contra a parede. Após sua saída, Riaz puxou sua trança. — Pierce não está divertido. — Ouro profundo, seus olhos lhe disseram que o lobo dele certamente estava.

O rosnado de Pierce fez lágrimas saírem de seus olhos. — Muito bem feito, — ela conseguiu dizer para o homem carrancudo.

— Ei! Eu estava... — Uma pausa abrupta. — Acho que é meu celular.

Adria não tinha ouvido nada, mas talvez estivesse para vibrar. Enquanto ele se afastava alguns passos para atender a chamada, ela se virou para Riaz. — Temos tempo para uma passadinha no museu de vidro que eu vi?

Riaz passou o braço em volta dos seus ombros, puxando-a para perto. — Vamos.

Querendo se aninhar em sua garganta, ela cedeu um pouco e deu um beijo no oco. A resposta foi um piscar rápido e o fechar de dentes perto de sua orelha.



Ficaremos bem.

O sinal ficou verde, mas no fundo, ela sabia que nunca seria tão simples.



Viajando sob um nome falso, e com suas características disfarçadas para evitar atenção, Judd saiu de um jato no Aeroporto Marco Polo no final da tarde, então pegou um ônibus aquático para Veneza. Ele poderia ter se teletransportado e negado a necessidade de subterfúgios, mas não havia motivo em usar suas reservas telecinéticas sem justa causa.

Quando ele chegou à ilha, encontrou um canto fora da vista dos transeuntes e das câmeras de segurança, concentrou-se nas imagens que Aden lhe dera, e se teletransportou para o local onde encontraria os rebeldes. Que provou ser um pequeno pátio interior, as paredes cremosas com a idade e cobertas com algum tipo de videira verde escura.

Não havia necessidade de fazer uma ligação do celular.

— Disseram-me que eu era esperado, — ele disse para o homem armado que o observava com os olhos planos de um Arrow, embora ele estivesse vestido com jeans desbotados e uma camiseta azul.

A menor hesitação, os olhos do homem piscando para o seu cabelo. Estava atualmente loiro sujo, com os olhos de um cinza pálido. — Quem o mandou? — O outro homem não abaixou sua arma.

Em vez de responder, Judd, tendo concentrado o foco correto, dobrou o cano da arma para baixo, tornando-a ineficaz. O Arrow rebelde jogou-a de lado, atingindo Judd com um golpe telepático ao mesmo tempo... Mas Judd tinha as mãos psíquicas nas células do coração do homem. Ele mudou coisas o suficiente para comprimir um vaso sanguíneo.

O homem empalideceu com o aviso. — Tk-Cell. — Foi um suspiro, as mão para cima com as palmas para fora.

Judd o soltou, fixando o dano enquanto soltava. — Eu assumo que mais introduções não serão necessárias.

A resposta veio de trás dele, onde sentiu uma presença familiar. — Eu me desculpo, Judd, — disse melódica voz feminina. — Alejandro tem ordens para incapacitar todos os desconhecidos que entram no pátio.

Mantendo Alejandro em sua linha de visão, ele se virou para ver uma mulher pequena em seus vinte e poucos anos com um rosto que era todo curvas suaves, seus lábios exuberantes. Mas eram os olhos que contavam a verdade de sua Natureza, da cor de carvão, eles eram como lascas de gelo. — Zaira. — Nascida na Jordânia e criada em um centro de treinamento para Arrows na Turquia, ela foi perdida em ação há cinco anos.

O olhar de Zaira mudou. Um segundo depois, Alejandro deu um forte aceno de cabeça e saiu. Só então Zaira se virou e o convidou para se juntar a ela em uma caminhada ao redor do pátio. — Nós não o esperávamos até esta noite. Foi por isso que um de nós não ficou de guarda.

— Alejandro está danificado.

— Suas funções neurais estão bem, mas ele teve uma overdose de Jax em uma missão. Isso o deixou incapaz de não cumprir uma ordem. Alejandro não entende sutilezas.

— Ele é seguro?

— Enquanto eu não lhe der uma ordem direta, ele não vai matar. — Zaira parou por um longo segundo antes de continuar a caminhada. — Eu salvei a vida dele, e ele ficou marcado por mim. Preocupa-me, mas de acordo com Aden, nada pode ser feito. Seus caminhos mentais estão fechados.

Judd pegou nuances de profunda emoção, se perguntou quanto era verdade e quanto era uma máscara criada para se misturar com o mundo humano. Arrows não deixavam o Silêncio facilmente. Ele sabia melhor do que ninguém. — Por que você queria me ver?

— Do que eu colhi dos relatos da mídia, você parece ter esculpido uma vida estável para si e sua família. Queremos saber como você fez isso.

Judd olhou ao redor do pátio, consciente de que estava sendo observado por mais olhos do que os de Zaira. — Todos vocês vivem aqui, neste complexo?

— Sim.


— O que vocês fazem por renda?

— Investimentos diversificados feitos ao longo de vários anos, incluindo propriedades em várias cidades e localidades. — Zaira virou a esquina do pátio, parando ao lado de uma passagem abobadada e curvada. — Dinheiro não é o que nos preocupa.

Judd fez uma última pergunta antes de dar a outra Arrow a resposta que procurava. — Vocês se misturam com a população lá fora?

— Apenas o quanto for necessário. O resto de nós não é como Alejandro, que simplesmente não pode lidar com a estimulação, mas continuamos a lidar com estar fora do Silêncio. — Ela olhou para ele com uma franqueza que desconcertaria a maioria dos não-Psy. — Eu desertei antes de você, assim como uma série de outros, mas estamos longe de estar tão integrados ao mundo.

Judd pensou no beijo que Brenna lhe dera quando ele saiu da toca, no abraço que Marlee correra atrás dele para reivindicar, o soco no ombro que fora a maneira de Drew dizer ‘Fique seguro’. — Vocês precisam aceitar — ele disse, — que precisam dos seres humanos e dos changelings, assim como eles precisam de vocês. — Sua raça tinha habilidades que uma vez foram muito respeitadas, e não apenas temidas.

— Isolamento vai simplesmente dar continuidade ao que começou na Rede. — Ele tinha família, sabia que Walker, Sienna, Toby e Marlee se importavam se ele vivia ou morria, e ainda estivera brutalmente perto do limite. Os Arrow que viviam aqui tinham apenas uns aos outros como família, e a maioria dos Arrows não entendia o que uma família era, muito menos como criar uma.

Zaira olhou para o céu que ficara daquele azul nebuloso que precedia o pôr do sol. — Não podemos arriscar qualquer forasteiro. Não ainda.

— Não. — Judd concordou, porque a tarefa deles era ser uma portinhola de fuga escondida. — Mas mudança está a caminho.

Os olhos de Zaira refletiam apenas o aço que lhe fazia uma assassina sem comparação. — Nós estamos prontos.

Nós somos Arrows.

— Vamos. Judd estará aqui em dois minutos, — Adria disse, depois de ter tomado banho e se trocado depois do dia fora.

Riaz, seu cabelo úmido do mesmo banho, seguiu para o corredor, fechando a porta atrás deles. — Pierce acabou de me enviar uma mensagem dizendo que vai lhe dar o troco por aquela pegadinha.

— Foi culpa dele mesmo, — ela disse com uma risada, sentindo um carinho acolhedor pelo belo lobo que era amigo de Riaz.

A resposta de Riaz foi inesperadamente séria. — Com ou sem banho, você carrega o meu cheiro na sua pele. — Olhos atentos. — Isso te incomoda?

Adria esperou até que estivessem dentro do elevador para responder, a felicidade espumante do dia, de repente um caroço no peito. — Da última vez que tive o aroma de um homem na minha pele, isso quase me destruiu, — ela disse, rasgando uma ferida mal curada...

Roçando sua bochecha, o aroma dele de madeira escura e algo cítrico penetrando em cada respiração. — Nós não somos todos bastardos, Adria.

As portas se abriram, salvando-a de ter que continuar a conversa. Não que ela não concordasse com suas palavras. Mas as lembranças, elas eram brutais, coisas dolorosas que arranhavam, mordiam e ameaçavam roubar sua racionalidade, sem aviso... Porque começara tenro com Martin, também.

Entranhas se agitando com a aceitação consciente de um medo que fora um sussurro nocivo na parte de trás de sua mente durante todo o dia, ela quase passou por Judd onde ele estava contra uma coluna no lobby do hotel movimentado. Foi o seu cheiro que a alertou, aquele toque de gelo que era um beijo frio. — Você dá um bom loiro.

— Brenna não gosta, — ele disse enquanto se dirigiam para a antecipada luz da noite, Riaz à sua esquerda e Judd à sua direita. — Ela já comprou o neutralizador para se livrar da cor assim que eu chegar em casa.

Se Adria o encontrasse na rua, pensaria que Judd era sofisticado e distante, mas não havia como perceber o amor em sua voz quando ele falava de sua companheira. — Tenho que admitir, — ela murmurou, — se eu pudesse escolher entre você com o cabelo castanho chocolate ou loiro, eu escolheria o castanho todas as vezes.

— Castanho chocolate, — Riaz murmurou. — Por que você não vai em frente e o compara com um cavalo garanhão?

Adria piscou para o comentário nervoso, tardiamente percebendo que o lobo solitário ao seu lado ficara irritado com a atenção que ela dera a Judd. Ela nunca foi uma mulher que se divertia deixando um homem com ciúmes e não mudara. Foi por isso que ela disse, — Por que eu sou parcial a belos olhos dourados.

Cor riscou as maçãs do rosto dele. — Judd, você não está escutando.

— Escutando o que? — O outro homem lhes lançou um olhar calmamente divertido. — Estamos sendo seguidos.

— Aliança, — Riaz disse. — Acho que é mais uma escolta.

Adria percebera os três homens também. — Bo, — ela explicou a Judd, — é agudamente paranoico, mas se estivesse no lugar dele, eu seria também. — Ela explicou o rapto, bem como a lavagem cerebral do técnico de comunicação, a suspeita do destino do ex-presidente.

Judd não soou surpreso. — O rumor é que Tatiana chegou a sua posição no Conselho matando seu mentor. Eu sei que de fato ela usou coação psíquica para obter determinados contratos, ela é uma das mulheres mais perigosas e sem escrúpulos na Net. Bowen tem razão em estar paranoico.

Qualquer conversa adicional parou quando eles chegaram ao prédio da Aliança e foram levados para dentro, onde um Bo carrancudo estava à espera nos elevadores. — Nós marcamos todas as rotas em Veneza, — ele disse, os olhos em Judd, — Vigilância completa com software de reconhecimento facial, e ainda assim você passou.

A resposta de Judd foi pragmática. — Não há muito que você possa fazer para impedir que alguém com a minha formação entre em sua cidade.

Com a expressão ainda sombria, Bowen os levou para a mesma sala que usaram ontem. Desta vez, a água era um negrume invisível além do vidro, o que criava a ilusão inquietante de estar encapsulada em nada. Escondendo seu estremecer, Adria olhou para as quatro pessoas que estavam sentadas esperando por eles em torno da mesa da conferência: uma mulher esbelta que Bo apresentou como sua irmã, Lily, junto com outros três homens, com idades entre vinte e poucos anos a quarenta e poucos anos.

— Eu imaginei que cinco cobaias, — Bo disse a Judd após eles se instalarem, — lhe dariam alcance suficiente para riscar escudos naturais da lista.

Não necessariamente, Judd pensou, dada a amplitude da Aliança. Se o conglomerado que representava os interesses humanos estava jogando algum tipo de jogo de alto risco, possuía o suficiente de uma sociedade para poder reunir cinco indivíduos com o tipo raro de escudo. No entanto, tudo o que ele disse a Bo foi, — Pronto?

O homem assentiu.

No instante em que ele tocou a mente de Bowen, ou tentou tocar, soube sem dúvida que o que parou sua intrusão não foi um escudo natural. Tais escudos sempre se pareciam como paredes sólidas para seus sentidos psíquicos, mas uma parede que podia lançar coisas de volta, repelir qualquer sonda psíquica. Esta era uma tempestade de eletricidade. Suas sondagens atravessaram... Mas foram destruídas antes mesmo de chegarem ao seu destino.

Firmando-se, ele tentou os truques telepáticos mais sutis que conhecia, inclusive um que Walker havia lhe ensinado durante seus teletransportes clandestinos a seu irmão quando Judd era um adolescente meio quebrado em um centro de treinamento Arrow. Falharam, todos eles. O escudo era uma obra-prima, alimentado pela carga elétrica do cérebro em si, e calibrado para fornecer a máxima proteção.

Tal como acontece com um changeling, a única maneira de rompê-lo sem ter acesso de longo prazo à vítima seria explodi-lo com força bruta, o que provavelmente resultaria em graves danos cerebrais. Inútil se a extração de dados era o alvo. A outra única opção era a remoção cirúrgica do chip. A menos... — O chip está fundido ao seu tronco cerebral?

Quarenta e quatro

Bowen deu um breve aceno de cabeça. — Qualquer tentativa de removê-lo uma vez que esteja totalmente integrado causará a morte.

O que significava que a extração seria tão inútil quanto a força violenta.

Considerando outras maneiras de passar através da eletricidade, Judd virou-se para Lily. Ela ficou branca, claramente menos certa da eficácia do escudo do que Bowen, mas acenou com a cabeça quando ele pediu permissão para tentar romper o escudo. O dela, ele descobriu, era diferente do de Bowen, menos ativo em alguns aspectos, as correntes mais suaves, mas era igualmente eficiente na degradação de suas sondagens.

— O teste está completo, — ele disse, retirando-se da mente do último individuo.

Bowen indicou que estava tudo bem que Lily e os outros saíssem, mas eles hesitaram. O chefe de segurança olhou para Judd. — Eles querem saber se você foi capaz de entrar.

Era um desejo que Judd poderia apreciar. — Não. A infiltração se provou impossível.

Bowen continuou a sorrir depois de as portas se fecharem atrás dos quatro voluntários, linhas enrugando a tonalidade marrom pálido de sua pele. — Você tem quaisquer dúvidas sobre a origem do escudo?

— É inequivocamente mecânico, — Judd disse, falando para Riaz e Adria, bem como para Bowen. — Um extremamente belo pedaço de engenharia biocompatível. — Sua admiração era genuína, assim como sua preocupação. — É seguro?

— Fizemos testes extensos. — Apesar das palavras confiantes, o sorriso de Bowen desapareceu em um olhar de determinação sombria. — Agora que nós autorizamos uma implantação geral, os pedidos estão superando de longe a oferta, mesmo tendo sido contundente sobre os riscos. O fato é... — Os olhos negros do chefe de segurança da Aliança se prenderam aos de Judd. — Mesmo que ele exploda nossos cérebros em alguns meses ou alguns anos, ainda teremos esse tempo sabendo que ninguém poderia entrar e pegar o que ele ou ela queria. Sabendo que nossos pensamentos eram privados.

Judd compreendia a necessidade. Sentira o mesmo desamparo quando criança. Toda a sua vida estava fora de seu controle, nas mãos de quem apenas queria usá-lo. — Integração completa, quanto tempo leva?

— Um ano, de acordo com as projeções, — Bowen disse. — Depois disso, o chip, em essência, se tornará parte do tronco cerebral.

— Então... — O tom de Riaz era calmo, sério. — Quem decidir colocar um deles terá um comprometimento para a vida toda.

— Sim. — Bowen esfregou o topo de sua cabeça, a barba raspando contra sua palma. — Nós fizemos os cinco primeiros com duas semanas de intervalo. Somos os controles. Se algo der errado ao número um dentro desse período de carência, o número dois terá uma chance de tirar o chip, e assim por diante.

— Você seria o primeiro a cair. — A voz rouca de Adria.

— É meu trabalho proteger o meu povo. — Empurrando a cadeira para trás da mesa, Bowen ficou de pé, as mãos apoiadas na mesa. — Divida a informação com o seu clã, e com os DarkRiver e Windhaven. Se você tiver companheiros de clã humanos que estejam preparados para assumir o risco, a Aliança está disposta a deixar um certo número deles cortar a fila como um gesto de boa fé.

Sienna estava sentada ao lado de Indigo na orla da Zona Branca, supervisionando um grupo de crianças de dois anos de idade brincando na caixa de areia, enquanto seus acompanhantes tiravam uma pausa para o café, quando a tenente disse, — Você precisa começar a sombrear diferentes membros do clã.

— Outros soldados, você quer dizer? — Sienna perguntou, assumindo que isso era um exercício de algum tipo.

Mas a mulher mais alta balançou a cabeça, seu longo rabo de cavalo roçando a parte de trás da camisa branca, de estilo ocidental com mangas três-quartos que enfiara em sua calça jeans de cintura baixa. — Uma pessoa de cada subgrupo da toca, das fêmeas maternais aos curandeiros, aos técnicos, aos mecânicos, às operações domésticas. Soldados, você já sabe. E, isto não é uma ordem, — a tenente acrescentou, — mas uma sugestão.

Sienna levou tempo para pensar na recomendação de Indigo, entendendo que a tenente queria fazer muito mais do que realmente disse. — Como Hawke — ela finalmente murmurou, falando mais para si mesma do que para Indigo. — Ele sabe cada detalhe de todos os aspectos do clã.

— Sim. — Um braço abraçando facilmente a perna que ela puxou na altura do joelho, as costas em um jovem pinheiro verde, Indigo fez uma pausa para gritar um incentivo a um par de pequeninos que estavam lutando com os seus baldes de areia. — Espere aí, é melhor eu ir ajudar, antes que um enterre o outro.

Voltando um par de minutos depois, areia nos joelhos de seus jeans e os ecos enfraquecidos do riso da loba em seus olhos, ela se acomodou em seu lugar. — Diga-me o por quê. — ela disse, como se a conversa nunca tivesse sido interrompida.

— Para que assim eu possa ser sua caixa de ressonância. — A pessoa com quem ele pode discutir ideias que ainda não está pronto para levar para seus tenentes. — Para que eu possa compreender as nuances das situações com as quais ele tem que lidar dia sim, dia não.

— Garota esperta. — Sacudindo os joelhos, a tenente virou-se para olhar para ela. — Mas esta não é a única razão.

— É para mim, também, — Sienna disse devagar, agarrando o que Indigo queria que ela visse. — Para fazer a transição de soldado novato para... Algo como um tenente, — Mas não igual, a sua prioridade era Hawke ao invés do clã. — Mais rápido e mais suave. — Lobos respeitavam força, e ela tinha isso. Mas ela precisava de mais experiência e, fundamentalmente, precisava da aceitação do clã, quando se tratava de qualquer alteração em seu lugar na hierarquia. — Quanto mais pessoas eu sombreio, mais conexões eu faço.

O ombro de Indigo roçou o seu quando a tenente assentiu. — Todo lobo gosta de se sentir apreciado. Hawke faz isso institivamente, você terá que fazê-lo de forma mais consciente, mas de nenhuma maneira desvalorizando o compromisso que você está fazendo para conhecer e compreender o coração do clã.

Falado, Sienna pensou, como a protetora que Indigo era. Eles eram mais fortes, inegavelmente mais letais, mas todos os dominantes consideravam-se a serviço dos mais vulneráveis ​​no clã, porque sem esses companheiros de clã mais gentis, não haveria ninguém para proteger, não haveria razão para eles existirem... Nenhum senso de uma casa colorida com afeto e carinho. Levara anos de convivência com os SnowDancer para entender essas sutilezas. — Acho que seria uma boa ideia começar com uma fêmea dominante materna, você não acha? — Elas exerciam tanto poder quanto os tenentes, simplesmente em uma esfera diferente.

O olhar de Indigo ostentava aprovação aberta e um orgulho que fez Sienna se sentir como tivesse lhe sido dado o louvor mais generoso. — Sim. Eu acho que se você perguntar à Lara, ela vai combinar tudo com Ava.

A tensão que Sienna não tinha consciência de sentir até aquele momento vazou para fora dela, seus ombros relaxando. Ela encontrara Ava um grande número de vezes. Seu filho, Ben, era um dos amigos de Marlee, embora os dois tivessem brigado recentemente e nenhum quis dizer qual era o problema. — Eu irei. — Inspirando longas respirações do ar fresco e limpo, ela viu um filhote em forma de lobo ajudar o amigo a completar um castelo de areia, acariciando a areia no lugar com patas de bebê. — Parece que estou construindo as bases para o resto da minha vida.

— Você se importa com isso?

— Estou tão feliz, que às vezes acho que vou explodir. — A profundidade de sua alegria a assustava de vez em quando. Ela nunca imaginara que teria um futuro, uma vida, além da fúria do marcador-X. Agora que imaginava... — Eu vou construir uma base tão forte, tão sólida, que ela nunca irá balançar, não importa o que o futuro traga. — Ninguém, nem mesmo Ming LeBon, ia impedi-la de viver sua vida.



RIAZ e Adria se juntaram a Judd na viagem de volta para a toca naquela noite. O ônibus aquático automatizado de Veneza para o continente estava vazio, sem chance de serem ouvidos mas eles falavam em voz baixa, o vento forte contra suas bochechas.

— Você acha que alguém vai querer correr o risco? — Adria perguntou, preocupação e empatia lutando por espaço dentro dela. Sam, forte, leal e corajoso, era ao mesmo tempo um dominante e um humano. Iria devastá-lo se ele fosse vítima de uma violação mental de um Psy, o ato seria um golpe selvagem ao coração de sua natureza. — Eu posso ver porque eles iriam.

Apoiando os antebraços nas coxas, Riaz disse, — Tenho que admitir, eu nunca considerei o quão vulnerável os humanos devem se sentir, — uma expressão preocupada marcando as linhas fortes de seus traços.

— Sim, — Judd disse em sua direita.

Não lhe escapou que os dois a imprensaram entre eles todo o tempo em que estiveram juntos. Sua loba estava irritada, pronta para uma briga. Ela não era uma filhotinha para ser protegida, mas uma soldada sênior, bem capaz de se livrar de problemas. — Você acha que Hawke vai querer que a informação circule por todo o clã? — ela perguntou, lutando contra a vontade de rosnar. Seria como tentar explicar trigonometria para alguém que nunca viu um livro de matemática. As palavras simplesmente não computariam em seus cérebros masculinos carregados de testosterona.

— Não. — A resposta de Riaz foi decisiva, a masculinidade sombria de seu perfume entrelaçando-se em torno dela em fios invisíveis. — Não até que Ashaya tenha feito testes exaustivos para confirmar que o chip é seguro.

— Poderia ser dito... — A voz calma de Judd. — que os humanos do clã deveriam receber a informação e terem o direito de decidir por si mesmos.

Riaz olhou para o homem Psy. — Você sabe que um clã não funciona assim. Não pode.

— Sim. — Judd ecoou a posição de Riaz, o vento espalhando o loiro sujo de seu cabelo. — Hawke é responsável pela saúde do clã como um todo, e às vezes isso significa fazer decisões difíceis quando se trata de escolha individual.

— Sim, — Riaz respondeu. — Se nossos companheiros de clã humanos decidissem fazer isso, e os chips falhassem, as mortes arrancariam o coração dos SnowDancer. O ganho não vale o risco, não ainda.

A declaração de Riaz ecoou dentro de Adria.

Ela pensou no risco que estava correndo com este lobo solitário apaixonado e fiel que poderia nunca pertencer totalmente a ela, sabia que poderia estar justamente se preparando para a pior queda de todas. Mas, como dissera a Riaz, ela não era exatamente um bem intacto. E... Ela não queria olhar para trás e lamentar o que poderia ter sido.

A vida pode doer, pode machucar, pode deixar cicatrizes para sempre, mas era para ser vivida.

— Pense sobre isso, — Judd disse quando o pensamento feroz passou por sua mente, — A Rede Psy é estruturada mais como um clã do que qualquer outra coisa, com o Conselho no lugar de um alfa.

Adria balançou a cabeça, seu lobo rejeitando a ideia. — Há uma grande diferença, cada decisão de Hawke, seja democrática ou não, é para o bem do clã, enquanto os Conselheiros têm uma maneira de usar suas pessoas até que não sobre nada. — Irritava-a até seu âmago que fossem aqueles que deveriam proteger que estavam causando mais dano.

— Esta geração, sim. — A concordância de Judd foi solene. — Mas os Conselhos pré-Silêncio eram focados na força e saúde da raça como um todo. Ironicamente, foi esse desejo que levou ao Silêncio, mas eu acho que as sementes da esperança estão lá, enterradas na escuridão.

Quando Riaz respondeu a Judd, o baixo ressoar de sua voz levantou os cabelos em seus braços, ela se viu pensando que Riaz era, em muitos aspectos, mais parecido com Judd do que era a qualquer outro lobo. Levaria tempo para confiar em uma mulher o suficiente para se abrir totalmente com ela, mas uma vez que o fizesse, ele seria devotado.

Adria não esperava tal devoção... Não tinha certeza de que ela poderia lidar com isso se acontecesse, sua loba entrava em pânico com a ideia da possessividade que seria parte integrante desse tipo de amor. O que a fez imaginar como Brenna lidava com Judd, a outra mulher não era dominante, e estava terrivelmente ferida quando ela e Judd ficaram juntos pela primeira vez.

Mas essa não era a única coisa que ela pensava. — Você já se arrependeu de ter uma companheira? — ela perguntou à Judd após eles fazerem seu caminho do ônibus aquático para o aeroporto, e conseguirem assentos no salão do portão de embarque. Mesmo enquanto falava, seus olhos seguiram a forma musculosa quando ele foi até o estande de café para pegar as bebidas deles, seu cabelo brilhando com luzes ocultas de cobre e bronze.

Judd lançou-lhe um olhar indecifrável. — Uma pergunta incomum para uma loba.

— Não seria mais fácil, — ela esclareceu, — fazer o trabalho que você faz, enfrentar perigos, se você não tivesse uma companheira cujo coração se partiria se você fosse ferido?

Judd tomou seu tempo para responder, seu olhar sobre a vasta multidão e as pessoas caminhando e correndo para pegar seus jatos. — Seria mais... Conveniente. — ele disse por fim. — Mas não seria mais fácil, o Silêncio é baseado no preceito de que a emoção é uma fraqueza, mas o que eu sinto por Brenna me faz mais forte. Eu luto mais, e mais brutalmente, porque eu sei que qualquer ferimento a mim irá se refletir nela.

— Soa como uma discussão séria, — Riaz disse, entregando à Judd a garrafa de água que ele solicitara, antes de passar o chocolate quente de Aria. — Com marshmallows. — Um sorriso que vincou o rosto dele fez seus olhos piscarem ouro, selvagem e atraente.

Sua loba acordou com a visão dele, as lembranças felizes de deitar ao seu lado na cama do quarto do hotel, fazendo-as subirem contra a sua pele em uma afeição primitiva. Foi tudo o que pôde fazer para não acariciar com o rosto o seu pescoço. — Posso apostar que você está bebendo o seu lodo habitual. — O aroma do café dele era rico e potente.

— Vai fazer crescer pelos no meu peito. — Lábios ainda curvados, ele se acomodou em sua cadeira, dobrando seu braço ao longo das costas dela. — Então... — sua coxa pressionando contra a dela enquanto ele se empurrava para seu espaço de uma forma muito masculina. — O que vocês dois estão discutindo?

— Se a emoção nos torna mais fortes ou mais fracos, — Adria disse antes que Judd pudesse mencionar o vínculo, seu coração se torcendo com a ideia de roubar o sorriso dos olhos de Riaz. — O que você acha?

Tomando um gole de café sem dúvida escaldante, Riaz disse, — Eu diria que é isso que nos torna humanos, no sentido mais amplo. Sem ela, poderíamos muito bem ser máquinas.

— Independentemente dos seus problemas, — Judd discordou imediatamente, — os Psy na Rede não são inumanos.

— Por que em alguma parte profunda de si mesmos, — Riaz argumentou, — eles de fato sentem.

— Sim. — Foi uma resposta inesperada de um homem que Adria supunha ter passado pelo condicionamento mais rigoroso da Rede. — O Silêncio nunca foi tão inequívoco quanto a máquina de propaganda do Conselho nos levaria a acreditar. — Ele acenou com a cabeça em direção a uma mãe e sua filha andando pela multidão, a mão da criança segurando firmemente na mão da adulta.

Estava claro pela fria falta de expressão em seus rostos, a rigidez sutil do andar da mulher, que eram Psy. — Um conselheiro diria que ela segura a mão da criança porque é um método prático para garantir que seu legado genético não seja perdido ou ferido.

Naquele exato segundo, Adria viu a mulher se mover para bloquear uma mala que iria bater na criança, assumindo a colisão para si. — Talvez seja mesmo o que ela acredita, — Adria murmurou, — mas há mais ali. — Uma proteção que fazia a mulher colocar a criança mais perto de seu corpo, sua mão em concha atrás da pequena cabeça loira.

— Não para todos os Psy. — Judd olhou para um carrinho de bagagem prestes a rolar para longe de uma mulher idosa, e que então parou suavemente e aparentemente natural. — É tarde demais para alguns, os danos causados ​​pelo condicionamento são muito, muito profundos.

Jato expresso BD21 para San Francisco agora embarcando.

Acabando com seu chocolate quente, Adria recolheu o resto do lixo dele e o levou para a fresta de reciclagem. Riaz e Judd subiram e estavam esperando quando ela voltou, com Riaz tendo atirado a mochila dela por cima do ombro, juntamente com a dele. Ela não tinha problem algum com isso. Mas quando os dois ficaram um de cada lado dela, ela parou. — Eu não preciso de guarda-costas.

Um olhar confuso de ambos.

Sua loba mostrou os caninos, — Eu sabia que não iriam computar.



Quarenta e cinco




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