Dos primeiros humanos ao renascimento manual do professor gislane azevedo



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reprimir quaisquer reações de senhores feudais e, até mesmo, de burgueses insatisfeitos.

Isso nos permite vislumbrar com clareza como as transformações históricas são marcadas por rupturas e permanências; uma dessas últimas, como o apoio da Inquisição à monarquia espanhola, foi a manutenção de práticas de intolerância religiosa no cerne daquilo que se poderia chamar de Modernidade.

DE OLHO NO MUNDO

(p. 226)


O novo Código Civil brasileiro trouxe mudanças importantes para as relações familiares e matrimoniais no país, como a admissão da falta de amor como um dos possíveis motivos de separação, sem que haja punição de qualquer natureza contra o cônjuge que reconheça ter deixado de amar e a redução da maioridade civil de 21 para 18 anos, permitindo a qualquer pessoa com mais de 18 anos estabelecer uma união estável, entre outras. Além disso, o Código Civil reconheceu que todas as pessoas são capazes de direitos e deveres, promovendo com isso a igualdade de gênero no texto da lei. Porém, isso não significa que toda a legislação brasileira garanta medidas igualitárias para qualquer indivíduo que deseje estabelecer relações matrimoniais ou familiares. Um dos exemplos mais claros disso é a questão do casamento homoafetivo. O próprio Código Civil só reconhece a possibilidade de casamento entre casais heterossexuais. Ainda que existam decisões judiciais que autorizam o casamento homoafetivo, a inexistência de garantias claras no Código Civil demonstra as dificuldades em garantir direitos igualitários nesse aspecto de nossa sociedade. Outro exemplo é o debate em torno do Estatuto da Família, votado pela Câmara dos Deputados em 2015, que prevê que a definição de família no Brasil seria apenas aquela relação estabelecida entre um homem e uma mulher. Com base nisso, é importante que os alunos reflitam e destaquem que a legislação brasileira já avançou muito em termos de igualdade de gênero, porém ainda precisa avançar em muitos outros aspectos de modo a garantir direitos igualitários entre todos os indivíduos de nossa sociedade.

ORGANIZANDO AS IDEIAS

(p. 229)


1. a) As relações de vassalagem, que faziam parte da cultura germânica, baseavam-se no juramento de fidelidade entre dois guerreiros: o vassalo, que se comprometia a viver sob as ordens de um chefe militar, e o suserano, que, em troca, lhe oferecia proteção.

b) No período carolíngio, a vassalagem assumiu novo significado. Os reis passaram a conceder aos nobres o direito de uso (não de propriedade) de algum bem, chamado de feudo. Em geral, o feudo era uma extensão de terra, mas também podia ser o direito de cobrar impostos, de controlar a justiça ou administrar um castelo. O rei oferecia, além do feudo, proteção contra os inimigos e exigia, em troca, lealdade dos vassalos, que deviam lutar ao lado dele em caso de guerra.

c) Um senhor feudal podia ser vassalo do rei e suserano de outros senhores menores, que a ele se reportavam como vassalos, porque todo o sistema de poder estava fragmentado na sociedade feudal. Esse processo de subdivisão dos feudos também foi provocado pela enorme frequência de guerras no período. As necessidades constantes de aumentar o número de cavaleiros e soldados só podia ser garantida de modo eficiente, nas condições feudais, por essa subdivisão de terras.

2. O processo de fragmentação do poder político das sociedades europeias iniciou no século V, por conta das invasões germânicas. Esse processo introduziu as relações de vassalagem como elemento central nas relações políticas na Europa. Nos séculos seguintes, os conflitos e as disputas entre diferentes senhores de terra provocaram a intensificação das relações de vassalagem e da feudalização da sociedade. Entre os séculos VIII e IX, os grandes senhores feudais se tornaram as principais autoridades políticas em seus feudos e os reis perderam seu poder e sua importância.

3. Os servos eram indivíduos que viviam como arrendatários dos grandes senhores de terra. Por conta disso, eles recebiam proteção e tinham o direito de trabalhar na terra para se sustentar, mas em troca perdiam suas liberdades plenas, ficando preso à terra. Além disso, assumiam obrigações diversas para com o senhor, tanto na forma de impostos quanto na prestação de serviços variados. Os vilões eram os camponeses livres que entregaram suas terras para um senhor feudal em troca de proteção. Com isso, eles tinham garantido o direito de trabalhar nas terras arrendadas, mas também tinham obrigações com o senhor feudal; muitos impostos e taxas cobradas dos servos não recaíam também sobre os vilões.

INTERPRETANDO DOCUMENTOS: IMAGEM

(p. 229)


a) Pode-se identificar as diferenças sociais pelo vestuário e pela distribuição dos personagens no quadro. No centro da grande mesa, há um personagem elegantemente vestido, com uma espécie de chapéu, um cinturão e um medalhão no pescoço. Ele é Gaston Phoebus, senhor das terras onde tem lugar a cena e líder da caçada. À sua volta, quatro personagens parecem dirigir a atenção a ele, como se pode observar pelos gestos das mãos e pelos olhares. Entre esses personagens, porém, há diferenças importantes: sentados ao lado do senhor das terras, dois homens parecem entretê-lo com alguma conversa, enquanto os outros dois oferecem alimentos, numa atitude servil. Professor, você pode acrescentar que, pelas vestimentas e por sua familiaridade com Gaston Phoebus, com o qual conversam, os dois primeiros homens deviam pertencer à nobreza e ser também caçadores.

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Os cavalos utilizados na caçada (à esquerda da iluminura) pertenceriam a esses nobres. Os demais personagens, os dois homens que servem Gaston e seus convidados e os outros que estão sentados no chão, seriam serviçais, que seguiam o cortejo a pé, conduziam os cães, selavam os cavalos, preparavam os alimentos, etc. Essa hierarquização reproduzia as rígidas diferenças sociais entre os nobres (proprietários de terras) e os servos e camponeses (neste caso, os serviçais).

b) Professor, trata-se de uma resposta pessoal, mas você pode relembrar aos alunos dois aspectos importantes: tratava-se de uma sociedade basicamente rural, cuja vida se passava nos limites de uma grande propriedade de terras; e a baixa produtividade agrícola podia ser parcialmente compensada com a oferta de carne de animais selvagens. Os alunos podem identificar na caça um claro sinal de distinção social: na iluminura, o nobre proprietário de terras é também a autoridade responsável pela caça. Em diversas regiões, a caça ao veado e a outros animais de grande porte era um privilégio da nobreza. Os pobres estavam autorizados a caçar apenas pequenos animais, como o coelho.

DE OLHO NO MUNDO

(p. 232)


O povo curdo é uma etnia que habita o norte do Iraque e o sul da Turquia e reivindica a criação de uma nação própria, o Curdistão. Depois da queda do ditador Saddam Hussein, os curdos estão representados no novo Parlamento iraquiano. Já os nacionalistas bascos consideram o território situado ao norte da Espanha - hoje administrativamente uma comunidade autônoma espanhola - e ao noroeste da França como parte da nação basca. A formação de um país independente é também o objetivo do movimento armado clandestino chamado ETA, que muitas vezes usou de violência para alcançar seus objetivos e por isso foi qualificado de terrorista pelas autoridades espanholas. Em 2011, o ETA enviou um comunicado renunciando à violência. Os palestinos, por sua vez, vivem em sua maioria num território dividido: a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, ambos no Estado de Israel. Partes dispersas dessas áreas passaram há alguns anos a ser administradas por uma entidade autônoma, a Autoridade Palestina.

ESQUEMA-RESUMO

(p. 236)


As principais características da sociedade feudal eram a intensa ruralização da economia, a presença de uma rígida hierarquia social, na qual existia uma elite formada por senhores de terra e pelo alto clero, enquanto a maioria da população era formada por camponeses que trabalhavam para os donos das terras, bem como a fragmentação do poder político entre inúmeros senhores feudais, os quais se relacionavam entre si a partir de compromissos de vassalagem. Todas essas características começaram a se transformar a partir do século XI, quando uma série de processos modificou o modo como a sociedade feudal estava relacionada. Nesse movimento, pode-se destacar o desenvolvimento comercial, o surgimento da burguesia e o lento e gradual processo de fortalecimento dos reis. A combinação desses fatores permitiu a centralização do poder político e o surgimento de monarquias nacionais em diversas regiões da Europa, como na França, na Inglaterra e na península Ibérica.

ORGANIZANDO AS IDEIAS

(p. 237)


1. A organização econômico-social do feudalismo tinha por base o feudo, geralmente uma grande propriedade de terra na qual trabalhavam os servos, que mantinham uma relação de dependência com o senhor feudal. A principal atividade econômica nas sociedades feudais era a agricultura, mas cada feudo produzia também, para o consumo de sua população, quase todos os artigos necessários à vida: roupas, armas, móveis, utensílios domésticos, etc. A sociedade era rigidamente hierarquizada. Nela, as pessoas estavam ligadas por fortes laços de dependência mútua: senhores e servos, suseranos e vassalos, reis e senhores feudais. No topo da hierarquia, havia uma pequena elite de senhores de terra e do alto clero, enquanto a maior parte da população era formada por camponeses e servos que trabalhavam na terra, formando a base da pirâmide social. Do ponto de vista político, a principal característica da sociedade feudal era a fragmentação do poder. Cada senhor feudal tinha o mando político, judiciário e militar em seu feudo.

2. A partir do século XI, com a expansão das atividades comerciais e da vida urbana, surgiu um novo grupo social formado por mercadores que enriqueceram e se fortaleceram: a burguesia. Esse grupo via no poder dos senhores feudais um obstáculo para o crescimento e a prosperidade do comércio. Nos domínios de cada propriedade, havia pesos e medidas diferentes, impostos diversos e abusos praticados pelos senhores feudais. Assim, a burguesia procurou aproximar-se dos reis em busca de apoio político capaz de limitar os poderes da nobreza. Por outro lado, alguns monarcas, interessados em enfraquecer a nobreza feudal e em fortalecer seu próprio poder, passaram a aproximar-se da burguesia, adotando medidas a favor desse grupo social. Finalmente, os pobres também viam na figura real uma espécie de protetor contra as injustiças cometidas pelos senhores feudais. Apoiando-se nesses conflitos de interesses e contando com o apoio da burguesia mercantil, os reis puderam enfrentar e vencer a resistência dos senhores feudais e concentrar poderes em suas mãos: tinha início a formação das monarquias nacionais na Europa ocidental.

3. O processo de unificação da monarquia francesa teve início com as ações de Filipe II, que se aproximou da burguesia, ampliou a fiscalização do comércio e a cobrança de impostos e intermediou as disputas entre senhores feudais. Os monarcas seguintes continuaram adotando medidas para

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intensificar o controle sobre a nobreza e o clero, especialmente por meio da criação de uma moeda única, da ampliação do poder dos tribunais do rei e da cobrança de impostos do clero. Porém, um ponto decisivo na formação da monarquia francesa foi a mobilização do sentimento de identidade nacional a partir da Guerra dos Cem Anos, travada contra a Inglaterra entre 1337 e 1453. Já o processo de formação da monarquia inglesa teve início com um conflito militar entre o duque da Normandia e os saxões. A vitória de Guilherme, o Conquistador, permitiu a centralização do poder político na Inglaterra. Os monarcas seguintes reforçaram esse poder por meio de um conjunto de leis conhecido como Common Law. Porém, ao contrário da França, o rei inglês foi obrigado a aceitar algumas exigências dos nobres contidas na Carta Magna. Esse documento limitou o poder do rei e assegurou os direitos dos grupos sociais mais ricos, como a nobreza e o alto clero.



4. A Carta Magna tinha o objetivo de assegurar os direitos dos grupos sociais mais ricos da Inglaterra, limitando o poder real e impedindo que o rei tomasse medidas que poderiam prejudicar esses grupos, como aumentar impostos e criar leis sem a aprovação do Grande Conselho, uma assembleia formada por representantes da nobreza e do alto clero. Além disso, a Carta Magna criava uma proteção contra arbitrariedades do poder monárquico. No século XIII, o Grande Conselho passou a ser chamado de Parlamento. Em 1350, ele foi dividido em duas Câmaras: a dos Lordes (formada por nobres e clérigos) e a dos Comuns (composta de ricos comerciantes e cavaleiros). Dessa forma, o Parlamento se tornou uma importante instituição que agia de modo a limitar o poder político do rei inglês.

5. Em 711, quase toda a península Ibérica caiu sob domínio muçulmano. Tempos depois, os cristãos deram início a ações de resistência à ocupação muçulmana, desencadeando lutas conhecidas como Reconquista, que pretendiam expulsar os muçulmanos da península. No século XI, essa ofensiva cristã se tornou sistemática. A partir de então, em quatro séculos de conflito, as cidades sob controle muçulmano caíram uma após outra, até que toda a península foi ocupada por reinos cristãos. Portugal surgiu a partir da doação do Condado Portucalense ao nobre francês Henrique de Borgonha pelo rei Afonso VI, do reino cristão de Leão e Castela. Em 1142, Afonso Henrique, filho do conde Henrique de Borgonha, se declarou rei e separou o Condado dos territórios de Leão e Castela. Isso deu origem ao reino de Portugal. Nos séculos seguintes, a monarquia portuguesa se consolidou no poder, especialmente após a Revolução de Avis. Já o reino da Espanha surgiu após a unificação dos demais reinos cristãos da península. O rei Fernando, de Aragão, casou-se com Isabel, filha do rei de Castela, em 1469. Após a morte do pai de Isabel, o rei Fernando unificou as coroas, o que resultou na formação da Espanha moderna.

6. a) No segundo mapa, que mostra a península em 1085, quando o Condado Portucalense foi entregue pelo rei Afonso VI ao nobre francês Henrique de Borgonha.

b) Apenas no último mapa, que mostra a península em 1212, quando os muçulmanos detinham apenas o reino de Granada.

c) À medida que os muçulmanos eram expulsos, reinos e condados cristãos expandiam seus territórios. Lentamente, o processo de lutas, o sentimento de apego ao território e a união de alguns reinos (por meio de casamentos ou disputas) levaram à formação de dois Estados Nacionais, Portugal e Espanha. Após a união dos dois reinos, os reis católicos selaram com a Igreja uma aliança com o objetivo de expulsar da Espanha todos os muçulmanos e judeus. Em 1478, o papa Sixto IV assinou uma bula autorizando a criação de um Tribunal do Santo Ofício na região sob controle do governo. Para os reis da Espanha, a Inquisição funcionava como um braço de seu poder.

INTERPRETANDO DOCUMENTOS: TEXTO E IMAGEM

(p. 237)


1. a) A razão da infelicidade da mulher é que ela sentia saudade de sua virgindade e de sua condição prévia ao matrimônio. Apesar de amar profundamente seu marido, seu matrimônio não lhe trazia alegria ou contentamento.

b) O matrimônio do cavaleiro e de sua mulher não ocorreu por conta de uma experiência amorosa ou uma paixão. Na realidade, o documento afirma que a mulher fora forçada a se casar com o cavaleiro por seus pais. Assim, pode-se dizer que o trecho associa o casamento forçado com o desejo da mulher em retornar para sua situação prévia de moça solteira e virgem. Mesmo que afirme amar seu marido, o matrimônio é a causa de insatisfação da mulher.

c) O matrimônio descrito no documento não descreve uma situação excepcional, já que a sociedade medieval tinha como prática comum o casamento arranjado. Isso ocorria como uma forma de evitar as divisões do patrimônio familiar, já que um casamento implicava mudanças na propriedade e na herança. Assim, pode-se formular a hipótese de que o casamento da mulher com o cavaleiro era uma forma de propiciar vantagens sociais para a família da mulher, mas também era uma maneira de preservar o patrimônio da família do cavaleiro.

2. a) Joana d'Arc foi representada montada num cavalo e equipada com uma armadura e um elmo. Ela está cercada por soldados que a conduzem para a prisão. É possível notar que Joana d'Arc não foi representada com traços femininos muito evidentes, sendo muito semelhante às figuras masculinas que aparecem na imagem.

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b) De acordo com Duby, os padres afirmavam que as mulheres deveriam permanecer sob a tutela dos homens e não era conveniente que elas exercessem o poder público. Além disso, caso a mulher ocupasse uma posição de proeminência pública, ela deveria fazer isso convertendo a si própria, de modo a masculinizar sua aparência. É exatamente isso o que ocorre na representação de Joana d'Arc. Ela não é representada de forma feminina. Isso pode estar relacionado à posição de destaque que ela ocupou durante a Guerra dos Cem Anos. Como essa posição não era esperada para mulheres, Joana d'Arc acabou sendo representada de forma masculinizada, de modo a corresponder aos modelos de comportamento de gênero existentes na sociedade medieval.

c) A resposta é pessoal, mas espera-se que os alunos atentem para as diferentes representações que afirmam lugares ou funções determinadas para as mulheres, como aquelas que pensam que as mulheres devem desempenhar atividades relacionadas ao espaço doméstico e ao cuidado dos filhos, enquanto os homens deveriam se ocupar de funções públicas ou políticas. Existem outras situações cotidianas em que o machismo se evidencia, como as diferenças salariais entre homens e mulheres ou a maior participação masculina em cargos de chefia. Com base nessas situações, os alunos podem refletir sobre a permanência de ideias e concepções que enxergam a mulher de forma negativa ou menos capaz de desempenhar as mesmas funções que os homens.

TESTE SEU CONHECIMENTO

(p. 239)


1. A

2. E

3. A

4. C

5. Todas as afirmativas estão corretas; então, a alternativa certa é a letra E.

6. Apenas as afirmativas I e IV estão corretas; então, a alternativa certa é a letra C. O erro da segunda afirmativa é indicar que os cristãos permitiram a coexistência pacífica entre diversas religiões nos reinos que se formaram na península Ibérica durante a Reconquista. O Tribunal do Santo Ofício é um exemplo que indica que isso não ocorreu e os cristãos perseguiram aqueles que praticavam outras religiões. Já o erro da terceira afirmativa é indicar que a Revolução de Avis marcou a consolidação da ocupação islâmica na península Ibérica. Na realidade, a Revolução de Avis marcou a consolidação do poder monárquico em Portugal.

HORA DE REFLETIR

(p. 241)


1. A proposta da atividade é que os alunos reflitam sobre os diferentes sentidos que a ideia de identidade nacional, nacionalismo e xenofobia podem assumir em nosso mundo. Para isso, é importante que os alunos percebam que a identidade nacional é um elemento muito importante na constituição das identidades. Há uma grande variedade de símbolos, práticas, crenças e valores que estão diretamente associados com a ideia de identidade nacional, como os jogos das seleções nacionais dos mais diversos esportes, a ideia de uma cultura comum e semelhante, as práticas sociais caracterizadas por elementos nacionais (festas típicas, vestimentas, alimentação etc.), as bandeiras, os hinos, entre muitos outros. Esse tipo de ideia pode resultar em valores positivos, na medida em que estimulam o desenvolvimento cultural de uma região e criam espaços de identidade que aproximam diferentes indivíduos que se pensam como membros de uma mesma comunidade. Por outro lado, existem pessoas que transformam a identidade nacional em justificativas para hierarquizar as culturas e práticas sociais, afirmando que apenas determinadas nações são avançadas, enquanto as demais são atrasadas ou inferiores. Esse tipo de raciocínio resulta em práticas xenófobas e violentas, legitimando diversas formas de violência. Nesse caso, a identidade nacional assume uma conotação negativa e perigosa. Um elemento fundamental nessa discussão é desnaturalizar a ideia de identidade nacional, já que esta é uma construção social e histórica e não um traço dado e definitivo de um povo.

2. Esta atividade propõe uma reflexão sobre as relações políticas e econômicas na formação de uma instituição religiosa. Em muitos países muçulmanos, por exemplo, não há separação entre Igreja e Estado. Desse modo, os princípios religiosos interferem nas decisões políticas e econômicas do governo. Já nos países onde se verifica essa separação, como é o caso da maioria dos países ocidentais, entre eles o Brasil, embora as Igrejas não interfiram diretamente nas decisões de ordem política, elas exercem influência posicionando-se, por exemplo, contra a aprovação de leis ou contra práticas que contrariam seus princípios religiosos (como o uso de preservativos como forma de impedir a gravidez, a prática da eutanásia ou a descriminalização do aborto). Tal postura costuma gerar grandes debates na sociedade. Muitos alegam que as Igrejas não deveriam se envolver em política ou em questões práticas da vida dos indivíduos. Para essas pessoas, a religião deveria se restringir à esfera do sagrado e das relações entre o indivíduo e o mundo espiritual. Em oposição a essa concepção, outros contra-argumentam que uma religião é fruto da experiência histórica de determinado povo e que a instituição religiosa depende de diversos fatores sociais, políticos e econômicos para se estabelecer e se manter na sociedade. Segundo essa linha de raciocínio, pode-se dizer que as religiões se envolvem nos assuntos da vida mundana porque faz parte de sua natureza institucional participar da sociedade, definindo princípios éticos, valores e práticas de seus membros.

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Texto complementar

O trecho reproduzido a seguir foi extraído do verbete "Estado", escrito pelo historiador Jean-Philippe Genet para o Dicionário temático do ocidente medieval. Nessa passagem, o autor analisa as mudanças que podem ser identificadas entre o feudalismo e o chamado Estado moderno.



Ao taxar o conjunto de seus súditos porque são seus súditos, e não somente seus vassalos (com a obrigação de eventualmente taxar seus próprios homens), os reis não executavam uma simples mudança de escala, mas uma verdadeira subversão do sistema político, que vai bem além da multiplicação do número de contribuintes. Efetivamente, três mudanças fundamentais decorreram dessa medida: em primeiro lugar, ela ignora as diferenças de estatuto entre os homens e os poderes intermediários; livres e não livres, clérigos e leigos, nobres e não nobres, todos têm vocação para, um dia ou outro, ser contribuintes. Por outro lado, o conflito logo envolve os reis do ocidente e o papado: a humilhação de Bonifácio VIII em Anagni e depois o exílio do papado em Avignon mostram bem a vitória do Estado. Quanto à isenção fiscal que Carlos VII acabou por conceder à nobreza (com a mudança da monarquia francesa em monarquia absoluta) é mais exceção do que regra; a vassalidade como a servidão estão por isso mesmo destinadas ao se enfraquecerem enquanto relações sociais determinantes. Em seguida, já que o Estado se reserva o direito de apelar em caso de necessidade aos bens de seus súditos, é preciso que esses bens existam e sejam protegidos: contra a arbitrariedade da violência feudal e a flutuação dos variados tipos de terra que favorecem o feudalismo, o Estado por intermédio de seus juízes vai permitir e proteger o desenvolvimento da propriedade individual. Enfim, para negociar o assentimento do súdito, o Estado estabelece com ele um diálogo que se opera, ao menos em parte, por intermédio de assembleias representativas como o Parlamento inglês, os Estados franceses ou as Cortes ibéricas, e criou uma comunicação "política", posto que em toda parte os contribuintes irão subordinar seu acordo a concessões e contrapartidas de parte do Estado. No Estado moderno, a taxação é bem mais fácil (e rentável) porque fundamentada no consenso. Assim, o súdito passível de cobrança é antes de tudo um súdito ativo na política, prefiguração do que será, séculos mais tarde, o cidadão moderno. No fundo, o Estado moderno cria um princípio de participação política que é novo porque não está mais fundado no fato de o indivíduo pertencer à pólis; ele está adaptado a um espaço extensível, não diferenciado, justamente o que o império romano não havia conseguido. [...]

GENET, Jean-Philippe. Estado.In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean-Claude. Dicionário temático do ocidente medieval. Tradução de Hilário Franco Júnior et alii. Bauru: Edusc, 2006. v. I, p. 406-407.



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