Envolvidos pela lei



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Capítulo 2

Quando Andi entrou na sala da patrulha na ma­nhã seguinte, Gabe achou que ela fosse para um funeral. Saia preta, jaqueta preta, sapato preto fe­chado. O único alívio em seu traje era uma blusa branca por baixo. Nada na escolha da vestimenta apontava para a feminilidade dela, mesmo assim ela emanava sexo ao cruzar a sala em direção à sua mesa, arrastando os olhos de todos os homens, inclusive os de Gabe.

Em vez do rabo-de-cavalo, nessa manhã ela usa­va um coque. Um lápis, apontado como uma adaga, prendia o cabelo. Gabe imaginou-se retirando aque­le lápis e soltando o cabelo dela. Era uma imagem intrigante, e ele a tocava mentalmente o tempo todo, desde o dia anterior quando a vira sair do chuveiro com os cabelos soltos e toda molhada.

Franzindo a testa, Gabe tentou se concentrar no trabalho. Não devia ficar fantasiando sobre Andi. Não enquanto ela estivesse entre ele e sua chance de se tornar um detetive. Uma palavra negativa dela para o chefe Prater poderia diminuir as chances de ele ser promovido.

E por que perder tempo com ela? Ele se pergun­tou frustrado. Ela não era o seu tipo. Falava demais e era muito mandona.

Mas, droga, se o sangue dele não esquentava toda vez que olhava para ela.

- Thunderhawk!

Ele pulou, com seus pensamentos carnais esti­lhaçados pelo grito do chefe.

- Sim, senhor? - disse ele ao se levantar.

- No meu escritório. - Ele tirou o charuto apagado da boca e completou. - Você também, Andi.

Acostumado ao tratamento diferenciado com a sua parceira, Gabe fechou o arquivo que estava len­do e andou em direção à sala do chefe. Chegou à porta ao mesmo tempo em que Andi e se afastou para que ela entrasse primeiro.

- Sentem-se - disse o chefe. - Em que pé esta­mos no caso McPherson?

Como o chefe fez a pergunta a Andi, Gabe ficou em silêncio e ouviu.

- Estamos aguardando os resultados do teste de DNA que pedimos para o sêmen do estupra­dor - disse ela. - McPherson não sairá livre des­sa. Posso lhe prometer isso. O promotor me asse­gurou que lhe entregamos tudo o que ele precisa para condená-lo.

- Acreditarei quando vir. Já tivemos aquele per­vertido aqui, com acusações de estupro antes, e ele se livrou de todas. Não sei quem é mais malandro, ele ou o advogado dele. - De cara feia, ele rolou o charuto para o outro lado da boca e se recostou em sua cadeira. - E o caso Fortune? Algo de novo?

- Não, senhor. Estamos recapitulando para ver se deixamos passar algo da primeira vez.

Com a expressão ainda mais severa, ele arrancou o charuto da boca e atirou-o na lata de lixo ao lado de sua mesa. - Não gosto de ter um caso de assassi­nato arquivado na minha delegacia, e esse já está sem solução há dois meses.

- Eu também não gosto - acrescentou Andi. ­Mas sem a arma do crime ou testemunhas, não temos muito o que fazer. Logo que identificarmos o corpo, espero poder estabelecer uma causa provável e começar por isso.

O chefe concordou e pegou um charuto novo da caixa levando-o à boca.

- Tem um baile de caridade no sábado à noite no country club. Os Fortune estarão lá com certeza. Vou conseguir duas entradas para vocês.

Andi se endireitou na cadeira, obviamente insa­tisfeita com a missão.

- Por quê? Já falamos com cada Fortune no esta­do do Texas e nenhum deles foi capaz de identificar o corpo.

- Verdade - concordou o chefe -, mas a única pista que temos é a marca de nascença na cintura do cadáver, o que acaba nos levando de volta aos Fortune. Alguém naquela família tem que saber de algo. Eu pediria testes de DNA de cada um deles, mas não quero fazer isso até que tenhamos algo substancial para basear nossas suspeitas. Enquan­to isso, quero vocês naquela festa. Misturem-se. Vejam o que podem conseguir. - Ele olhou para Gabe. - Você vai precisar de um smoking. É um baile de gala.

Gabe segurou a insatisfação. Detestava vestir smokings. O último que vestira fora há três anos, no casamento do seu irmão Matt. Ainda se lembra do quanto lutou com aquela gravata-borboleta.

- Será que eu não poderia vestir um terno co­mum? - Ele perguntou, tentando evitar a tortura.

- Um smoking - repetiu o chefe. - Não quero vo­cê diferente da multidão.

- Não tem necessidade de ele alugar um smoking - disse Andi. - Eu posso ir sozinha.

O chefe balançou a cabeça.

- Se você aparecer sozinha, as pessoas vão ficar curiosas querendo saber o que você está fazendo lá. Não quero que suspeitem que você está numa missão.

- Ele está certo, Andi - disse Gabe, tomando as dores do chefe -, chamaremos menos a atenção jun­tos do que separados.

Andi saiu da sala do chefe, ressentida. Gabe vi­nha logo atrás.

- Por que teve que concordar com ele? - res­mungou ela. - Se você tivesse mantido a boca fechada, eu o convenceria a me deixar ir so­zinha.

- E perder a chance de sair com você?

- Ei, Andi! - Uma voz chamou do outro lado da sala. - Como você sai com o Gabe e não comigo? - Cala a boca, Reynolds - resmungou ela, sentan­do-se em sua cadeira e olhando para Gabe. - E isso não é um encontro amoroso.

Escondendo um sorriso, ele disse: - Claro que é.

- Na minha opinião, não é.

- Um homem e uma mulher, arrumados para a noite num country club? - Ele levantou os ombros. - Soa como uma noite romântica para mim.

- Não é - repetiu ela, nervosa. - Estamos trabalhando em um caso.

- Chame isso do que quiser - disse ele, piscando­-lhe o olho. – Mas, para mim, isso é um encontro.

Ela ficou furiosa, enquanto ele saía da sala, e pe­gou sua caneca de café, saindo da sala também. Na cozinha, onde os empregados passavam os interva­los, encheu a caneca de café, tomou um gole e xin­gou quando o líqüido quente queimou-lhe a língua.

- Cuidado - disse uma voz feminina atrás dela. - Pessoas vão aos tribunais por queimaduras de café quente.

Ela se virou e viu Deirdre entrar na cozinha. De cara feia, ela se sentou e disse:

- Você não sabe que não pode brigar com a pre­feitura?

Rindo, Deirdre sentou-se de frente para Andi. - Faz sentido.

- O que está fazendo aqui? - perguntou Andi. - Achei que estivesse trabalhando no cemitério esse mês.

- Estou, mas tive que finalizar um relatório de pri­são. Uns adolescentes celebrando o status de vete­ranos no colégio picharam a torre de água da cidade. - Ah, adolescentes. Bons tempos.

- É, aí você cresce e descobre que a vida é uma droga.

- Meu deus, não é que você está cínica hoje?

- São os fatos. As coisas são bem mais simples quando você é jovem.

Percebendo as olheiras da amiga, Andi atribuiu o humor dela à exaustão. Ela se aproximou de Deirdre e tocou nela, tentando confortá-la.

- Você só está cansada. Vá para casa descansar. Vai se sentir melhor depois de umas oito horas de sono.

- É, você está certa. - E, por falar nisso, como estão as coisas entre você e o Gabe? Vocês estão se dando bem?

Andi suspirou.

- Depende do que você quer dizer com "se dando bem".

- Ele não está dando em cima de você, está?

- Mesmo que estivesse - disse Andi -, não estou interessada nele. E mesmo que estivesse, ele é mui­to novo para mim.

- Ah, deixa disso. Sete anos não fazem muita di­ferença.

- Isso depende de que lado se está. Eu sou a mais velha.

- Tenha cuidado - Deirdre a avisou. - Gabe é char­moso, mas é um dissimulado. Confie em mim, te­nho provas. Mas isso é coisa do passado. Estou de olho em um outro rapaz.

- É mesmo? - disse Andi. - Quem?

Deirdre balançou a cabeça enquanto saía.

- Se eu lhe disser, pode dar errado. Não quero perder a chance com ele.

Andi ficou curiosa pelo fato de sua amiga não re­velar o nome de seu novo namorado. Ela nunca he­sitara em falar sobre os relacionamentos passados, inclusive com o de Gabe.

Suspirando, voltou à sala da patrulha. Não preci­sava ser avisada sobre Gabe. Ao contrário de Deir­dre, que pulava de relacionamento em relaciona­mento, desesperada para encontrar o Sr. Certo, Andi não queria e não precisava de um homem em sua vida. Ela chegara a essa conclusão na faculdade. E não foi por conta de algo que aprendera na sala de aula. Aprendera essa lição no quarto.

Deirdre entrou em seu apartamento, parou para pegar o jornal e olhou as notícias da primeira pági­na. A porta se fechou atrás dela e ela se virou, sua mão foi direto à arma na cintura.

- Você está atrasada.

Rindo, ela soltou a mão da arma.

- Nunca ouviu falar em bater antes de entrar? Ele levantou a sobrancelha.

- Posso ir embora, se quiser.

Deixando o jornal de lado, ela o abraçou e sorriu timidamente, enquanto se esfregava nele.

- De jeito nenhum. Passei a noite pensando nisso.

- Pensando em quê? - Ele perguntou enquanto enfiava a mão entre as pernas dela. - Nisto? - Com os dedos dentro da vagina dela, ele a levantou.

- Oh, sim - ela gemeu, enquanto ele enfiava mais os dedos.

- Caramba, você já está molhada. - Ainda com a mão nela, ele a empurrava para trás.

Fechou os olhos e se concentrou na crescente pressão dos dedos dele.

Bateu no sofá e caiu sentada, abrindo suas per­nas. Ele se ajoelhou entre as pernas dela e abriu-lhe a blusa, enchendo a mão com os seios dela.

Ela jogou a cabeça para trás gemendo.

- Diga-me o que você quer - sussurrou ele, enquanto apertava-lhe os seios.

Ela abaixou a alça do sutiã, oferecendo um seio nu.

-Chupe-me.

Ela gemeu quando ele abocanhou o seio. Prendeu joelho dele com suas pernas, curvando-se para trás enquanto ele sugava os mamilos.

- Toque-me - ela implorava, retirando o coldre e abrindo as calças.

Ele a empurrou para o lado e enfiou a mão den­tro da calcinha dela.

- Isso - sussurrava ela - Oh, sim! - Ela gritava enquanto ele lhe penetrava com o dedo.

Ele tirou o dedo lentamente e disse:

- Você gosta com força, não gosta, baby?

Ela arrancou as calças e abriu as pernas, oferecendo-se a ele.

Ele a penetrou novamente com o dedo.

- Ninguém faz você sentir prazer como eu, não é? Quase louca de desejo, ela jogou a cabeça para trás contra o sofá, concordando com tudo o que ele dizia, se ele a fizesse gozar.

- Ninguém.

- Nem mesmo aquele índio?

- Não. Nem ele.

Ele tirou a mão e abriu o fecho de sua calça, liberando o seu membro.

Segurando-o, ele o balançou, brincando com ela. - Quer isso, baby?

Ela olhava, com os olhos cheios de paixão e o corpo em chamas.

- Sim - sussurrou ela e agarrou-lhe o membro. Ele se afastou.

- Se você quiser, vai ter que pedir com jeito.

- Por favor - gemeu ela.

- Onde você quer? - Ele bateu com o seu membro na vagina dela. - Aqui?

Ela apertou os próprios seios e, de olhos fecha­dos, disse:

- Sim, aí. Por favor. Aí.

Ele apertou a sua ereção contra a abertura dela. -Aqui?

- Sim! - gemeu ela. - Oh, por favor. Me dê. Agora!

Ele a penetrou e ela abriu a boca para gritar de prazer, mas ele a impediu.

- Shh - disse ele. - Não quer que seus vizinhos ouçam. Quer?

Olhando nos olhos dele, ela balançou a cabeça. Sorrindo, ele retirou a mão de sua boca e agarrou seio, apertando o mamilo. Ela gemia baixinho.

Ninguém a entendia como ele, ela pensou, enquan­to sentia dor e prazer.

Ninguém.

Andi destrancou a porta de trás e abriu, louca para trocar de roupa e começar a trabalhar em casa. Se ela se apressasse, seria capaz de remover pelo menos metade da tinta da parte de trás da casa antes do pôr-do-sol. Talvez toda a tinta, se ain­da estivesse claro. Tinha planejado fazer esse tra­balho no sábado, mas o chefe estragou-lhe os pla­nos insistindo que ela e Gabe fossem ao baile de caridade.

Mentalmente listando as ferramentas que pre­cisava, trocou de roupa rapidamente. Pôs uma ban­dana na cabeça para proteger os cabelos e parou para checar a secretária eletrônica.

- Oi, é a Melissa do consultório de dentista do Dr. Andrew ligando para lembrar-lhe da sua consulta amanhã às nove. Se não puder comparecer amanhã, por favor, ligue para nós para agendar um outro horário.

Ela tremeu com a lembrança do seu exame den­tário anual, apagou a mensagem e aguardou a pró­xima. Mas nenhuma voz apareceu. Somente o zum­bido de silêncio gravado e um clique. Franzindo a testa, apertou o botão e checou o identificador de chamadas. Desconhecido. Andi apertou o botão apagar. Era a terceira ligação desse tipo naquela semana. Uma por mês já era rara.

Quando mudou para sua casa, solicitou um nú­mero que não figurasse na lista telefônica, uma pre­ocupação que a maioria dos policiais tinha para pro­teger sua privacidade e segurança. Confiara o seu nú­mero a algumas pessoas apenas. O despachante da delegacia, o dentista, o médico, alguns amigos, al­guns parentes distantes. Por que alguém ligaria sem dizer nada tantas vezes? Ela se perguntava.

- Provavelmente um vendedor cauteloso - disse ela a si mesma ao sair pela porta.

No quintal, ela pegou a escada, apoiou-a no lado da casa e ligou a lixadeira elétrica. Armada com um raspador e luvas, subiu na escada e começou a tra­balhar. Pedacinhos de tinta caíam sobre o rosto, bra­ços e pernas dela, que ia descendo lentamente a es­cada, enquanto passava a lixa sobre a madeira. Quando chegava embaixo, reposicionava a escada e conti­nuava o trabalho.

Para ela, as reformas que fazia em sua casa eram um prazer. Comprara o imóvel dois anos atrás e passara cada momento ali remodelando e redecorando, dentro e fora. Descobriu que isso era uma ótima maneira de liberar o estresse do traba­lho de detetive.

Estava lixando perto da janela de seu quarto, quan­do notou arranhões na parte de baixo da tela de pro­teção. Desligou rapidamente a lixadeira e examinou os arranhões com cuidado. A julgar pela profundi­dade dos cortes ao longo da armação de alumínio, parecia que alguém tentara arrancar a tela. Quem quer que seja, falhara na missão, pois a tela ainda estava firme no lugar.

A maioria das mulheres teria entrado em pânico ao pensar que alguém tentara invadir sua casa e cor­rido para o telefone, para chamar a polícia. Andi, não. Ela era a polícia. A única emoção dela naque­le momento era raiva. Era difícil saber do que tinha mais raiva: do dano causado à janela ou do fato de alguém tentar invadir sua casa.

Desceu da escada e deixou a lixadeira de lado.

Agachou-se e examinou o chão logo abaixo da ja­nela. A vegetação espalhada em volta dos arbustos e flores no canteiro próximo à parede tinha quase dez centímetros de espessura, o que tornava impossível encontrar alguma pegada.

Frustrada, ela se levantou. Com as mãos na cin­tura, olhou em sua volta, tentando entender como o invasor conseguiu entrar. A cerca em torno do quin­tal era coberta de vegetação, o que tornava difícil, ou até impossível, pulá-la.

Do outro lado de sua cerca estavam os seus vizi­nhos: os Huckabee atrás, que ela conhecia apenas de vista; o sr. e a sra. Brown, à direita, um casal ido­so e querido, com o qual ela gostava de conversar; e Richard Givens, à esquerda, um divorciado de cin­qüenta e poucos anos, que se considerava um pre­sente de Deus para as mulheres.

Ela se contorceu de repulsa ao pensar em Ri­chard, com o seu cabelo louro oxigenado, bronzea­do falso e um cordão de ouro grosso no pescoço, resquício da era disco, sem dúvida. Ele já dera em cima dela diversas vezes, mesmo depois de dizer que não estava interessada.

Olhou pelo portão de ferro da área lateral entre a sua casa e a de Richard, a única outra maneira de se ter acesso ao seu quintal. Mantinha esse portão sempre trancado. Alguém poderia pulá-lo, se qui­sesse mesmo entrar, ela pensou. Richard mesmo se­ria capaz de pular aquele portão, mas não conseguia imaginar por que ele faria isso.

Ouviu um barulho familiar de pneus na garagem ao lado e intuiu que era Richard chegando em casa. Um Corvette vermelho. Ontem mesmo ele dirigia uma BMW.

Um suprimento infinito de carros era um dos be­nefícios que ele gozava como proprietário de uma loja de carros usados.

Tentando escapar antes que ele a visse, pegou a lixadeira e começou a subir a escada.

- Oi, Andrea! Trabalhando na casa de novo?

Ela parou e forçou um sorriso educado.

- É. Estou tentando terminar isso antes que es­cureça.

- Trabalho sem diversão faz da Andrea uma garo­ta tediosa. - Sorrindo, ele a convidou: - Venha co­migo que eu preparo uns martínis para nós.

- Desculpe, mas vou deixar para outra hora. - Ela levantou a lixadeira. - O trabalho me chama.

- Ah, deixa disso - continuou ele. - Com certe­za você tem tempo para um dos meus famosos martínis.

Ela se segurou para não gritar de frustração. - Não, Richard, não tenho.

Ele sorriu e deu de ombros, indo embora.

- A perda é sua.

Ela segurou o riso. Minha perda? Balançando a cabeça, continuou a subir a escada. Esse cara é louco. Parou e lembrou-se da tentativa de invasão. Não, ela disse a si mesma. Richard é um incômodo, mas não é um criminoso.

Ou pelo menos achava que não era.

Espantando esse pensamento, ligou a lixadeira.

No mesmo instante o seu celular tocou. Xingando, desligou a máquina e pegou o telefone preso à cin­tura.

- Matthews - disse ela.

- Temos um esfaqueamento na Maynor Road. No bar do Pete.

Ela ficou surpresa ao ouvir a voz de Gabe e não a do policial de plantão.

- Por que você ligou e não o Joe?

- Porque estou na delegacia e Joe está ocupado.

Ela olhou para o relógio.

- Encontro você lá em 15 minutos.

- Será mais rápido se eu passar aí para pegá-la.

- Não, eu... - antes que ela pudesse dizer que preferia dirigir, ele desligou o telefone.

Furiosa, ela guardou o celular e desceu da es­cada.

Andi tomou banho e se trocou em tempo recorde. Quando estava trancando a porta da frente, Gabe chegou.

Ela entrou no carro e disse:

- Eu não preciso de um motorista particular. Se você não tivesse desligado na minha cara, eu teria dito isso ao telefone.

Ele olhou para ela.

- Você é assim irritadinha com todos ou reserva toda a sua raiva para mim?

Olhando para a frente, ela disse: - Você me enche o saco.

Ele pisou no acelerador, arrancando com a cami­nhonete.

- O que houve no bar do Pete? - perguntou ela, esperando que se ela o distraísse, ele não correria tanto.

- Esfaqueamento. Jarrod, o novato, atendeu a li­gação.

- Algo sempre acontece no bar do Pete. Aposto que por causa de mulher.

- Gostaria de aceitar a sua aposta, mas isso seria como tirar doce de criança.

- Vejo que você não acredita que foi por causa de uma mulher.

Ele fez uma curva fechada e balançou a cabeça. - Não. Brigas por mulher normalmente acon­tecem perto da hora de fechar, quando os pares se juntam.

Ela levantou uma sobrancelha.

- Essa é a voz da experiência falando?

- Não. Senso comum.

- Ok, se não foi por mulher, então o que foi?

Ele entrou no estacionamento do bar e freou o carro bruscamente, atrás da patrulha já na cena.

- A maioria dos homens que vem nesse bar é de trabalhadores da construção civil. Acho que foi al­guma discordância que trouxeram do trabalho.

- Bem, veremos quem está certo.

Parecia que todos no bar tinham saído para o es­tacionamento para ver a briga. Fregueses e empre­gados formavam uma parede humana em volta da vítima. Ele estava sentado no chão ao lado de uma caminhonete, com as costas no pneu traseiro, segu­rando um pedaço de pano encharcado de sangue contra seu braço esquerdo. Tinha sangue na camisa e na calça. Jarrod, o policial novato, estava parado longe da vítima, batendo papo com o motorista da ambulância.

Andi andou até ele.

- O que diabos pensa que está fazendo?

O novato ficou atento rapidamente.

- Nada, senhor, eu, digo, senhora.

- Isso é óbvio - retrucou ela e apontou o dedo para a vítima. - Você tem noção de que esse homem está sangrando e pode até morrer enquanto você está aí de conversa fiada?

- Hã, sim, senhora. Tentei fazer com que ele fos­se com os paramédicos, mas ele não deixa ninguém chegar perto.

Ela se virou para a vítima e viu Gabe chegar lá antes dela. A julgar pela conversa, parecia que eles se conheciam.

- Ei, Dan - disse Gabe. - Como está esse feri­mento aí, companheiro?

- Está ruim - disse Dan, removendo o pano do braço. - Ele me cortou para valer.

- É um corte profundo - confirmou Gabe. - Pa­rece que ele atingiu até o osso. Precisamos levar vo­cê para o hospital.

Dan balançou a cabeça.

- Não. Não tenho dinheiro para andar de ambulância. O meu irmão Bill me leva quando sair do trabalho.

- A que horas ele sai?

- Ele trabalha das quatro às onze numa loja de conveniências em San Antonio.

- Eu não posso deixar que você fique sangrando até a morte aqui, enquanto espera pelo seu irmão – disse a Dan.

- Não vou na ambulância, já falei que não tenho dinheiro.

- Você não vai na ambulância - disse Gabe. - Vai comigo.

Em choque, Andi assistia Gabe levantar o ho­mem. Quando ele começou a levá-lo para o seu car­ro, ela os seguiu.

- Quem fez isso com você? - Ela ouviu Gabe perguntar.

- Whitey. Um rapaz da minha equipe. Tive que despedi-lo hoje. Não posso ter um homem na folha de pagamento que aparece no serviço quando bem entende.

Gabe nem ao menos olhou para Andi, mas o ou­viu dizer:

- Não falei?

Capítulo 3

Andi não questionou a decisão de Gabe de levar Dan pessoalmente para o hospital. E não o questio­nou quando ele deu o próprio endereço para a enfer­meira enviar a conta do hospital. Mas quando esta­vam de volta à caminhonete, a caminho da casa dela, essas questões queimavam-lhe a língua.

- Levar a vítima para o hospital não é parte do trabalho - disse ela, procurando um começo mais ameno.

- Eu sei.

- Então, por que o fez?

Ele parou no cruzamento, esperou um carro pas­sar e prosseguiu.

- Você o escutou. Ele não podia pagar pela corrida da ambulância.

- Isso não é culpa sua, nem sua responsabilidade.

- Não - concordou ele. - Mas não o deixaria sangrando até a morte ali. Duvido que você deixasse.

- Não - concordou ela-, mas de jeito nenhum pagaria pelo tratamento dele.

- Ele honrará a dívida.

Ela o olhou suspeita.

- Deixe disso, Gabe. Se ele não pôde pagar pela ambulância, acha que ele vai ter dinheiro para pagar a conta do hospital?

- Dan pode não ter o dinheiro na mão, mas é um trabalhador honesto e um bom construtor. Sempre quis construir uma despensa atrás do chalé. Ele po­de pagar o empréstimo com o seu trabalho.

Ele o encarou, incapaz de associar esse gesto bom com o Gabe Thunderhawk que ela pensava conhecer. A reputação dele na delegacia é de um policial durão.

- Você tem namorado?

Ela ficou pasma com a pergunta inesperada.

- Não que seja da sua conta, mas não. Por quê? Ele olhou no espelho retrovisor.

- Alguém está nos seguindo. Só queria ter certeza de que não era o seu namorado, antes de me livrar dele.

Ela se virou para trás, mas não via nada além do brilho do farol do carro próximo a eles.

- Tem certeza de que está nos seguindo? Ele pode estar apenas indo na mesma direção.

- Ele está atrás de nós desde que deixamos o hos­pital. Espere aí - disse ele. - Veremos o quanto ele nos quer.

Ela se segurou enquanto ele fazia uma curva fe­chada numa esquina. Em seguida, ele olhou nova­mente no retrovisor e disse:

- Acho que ele não nos quer muito.

Ele acelerou e pegou a próxima rua à esquerda, para retornar à rua em que estavam. Parou no cruza­mento e olhou para ambos os lados.

- Ele sumiu. Deve ter se tocado que o percebe­mos. - Gabe virou à direita e seguiu em frente. Quem quer que seja que os seguiam, desaparecera. - Você tem inimigos? - perguntou ele.

Ela franziu a testa, ao lembrar da tela de sua janela.

- Não, que eu saiba. - Ela olhou para ele. - Mas por que assumir que ele estava atrás de mim? Ele poderia estar seguindo você. Estamos na sua cami­nhonete.

- Talvez. Policiais têm mais inimigos do que ami­gos. Detetives mais ainda. Alguém que você tenha prendido foi libertado recentemente?

Ela pensou um pouco e apenas um nome lhe veio à mente.

- Dudley Harris saiu da prisão há três meses.

- O cara que espancou a própria mulher?

- Ele mesmo. Ficou preso seis meses após receber sentença de dois anos. Saiu por bom comportamento. - Sabe onde ele mora?

- Sei onde ele morava. A mulher vendeu a casa e se mudou para longe logo depois que ele foi preso. - Moça inteligente.

- Nem sempre. Ela deixou que ele a fizesse de saco de pancadas por muitos anos antes que pu­déssemos convencê-la a prestar queixa. Tinha medo dele. Sempre arranjava desculpas. Dizia que apa­nhava por culpa dela mesma.

- Isso é comum em casos de abuso. Quando a po­lícia chega, a mulher muda a história e acaba se cul­pando pelo ocorrido.

- É - concordou ela, com amargura. - Pois ela sabe que se não fizer isso, apanha mais quando a polícia for embora.

- Harris provavelmente acha que você é a res­ponsável por ele ter perdido a mulher e o lar. Pode ser que esteja atrás de você. - Ele estacionou o carro em frente à casa dela. - Eu vou entrar para dar uma olhada.

- Se você pensa que estou com medo de entrar na minha própria casa, está enganado. Dudley Harris não me assusta.

Ela desceu do carro, mas, quando contornou a frente da caminhonete, encontrou Gabe esperando por ela no final da calçada.

- Não preciso da sua proteção. Eu posso cuidar de mim mesma.

- Quem disse alguma coisa sobre proteger você?

Minha mãe arrancaria o meu coro se soubesse que eu deixei uma donzela na calçada, sem levá-la até a porta.

Franzindo a testa, ela passou por ele.

- Diga a ela que você fez o certo. Eu confirmo se ela questionar a sua honestidade.

- Eu nunca mentiria para a minha mãe. Mesmo se tentasse, ela descobria tudo. Eu juro, ela é um de­tector de mentiras ambulante.

Apesar de sua frustração com ele, Andi teve que disfarçar o sorriso, enquanto procurava pela chave na bolsa, imaginando Gabe quando menino.

- Aposto que você era impossível.

- Não mais do que os meus irmãos.

- Irmãos?

- É. Cinco, para ser exato.

Os olhos dela se arregalaram.

- Cinco? Uau, não posso imaginar o que seria cres­cer em uma casa com tantas crianças.

- Quantos irmãos ou irmãs você tem?

- Nenhum. Sou filha única. - Ela girou a chave e abriu a porta. Antes que ele pudesse entrar, ela disse: - Você me trouxe até a porta. Sua mãe ficará orgulhosa.

- Eu mencionei que ela esperava que eu checasse todas as janelas e portas, e olhasse embaixo da ca­ma?

- Bela tentativa, mas se houver algum bicho-papão aqui, eu cuido dele sozinha.

- Aquele é o seu gato?

- Eu não tenho um...

Gabe aproveitou a distração dela para entrar.

Ao se dar conta de que fora trapaceada, ela disse:

- Esse truque é mais velho do que eu.

Ele caminhou em direção à cozinha.

- Mas você caiu nele.

Ela fechou a porta e foi atrás dele.

- Isso é ridículo. Não preciso de você vasculhan­do a minha casa.

Ele acendeu a luz da varanda de trás e levantou a persiana da janela para olhar.

- Você tem mensagem na secretária - disse ele. Andi olhou para o telefone e ficou surpresa ao ver que a luz de mensagem estava piscando. Ela apertou o botão. Dez segundos de silêncio seguidos por um clique.

Ele olhou para ela.

- Você recebe muitas ligações assim? Evitando olhar para Gabe ela disse:

- Não mais do que uma pessoa normal. Ele largou a persiana e se virou.

- E tem aumentado ultimamente?

- O que é isso? Um interrogatório?

- É. E você não vai responder à minha pergunta?

- Ok, talvez eu tenha recebido mais do que o normal, mas isso não quer dizer que alguém está atrás de mim.

Ele foi em direção ao corredor. Andi foi atrás. - Onde pensa que vai?

- No seu quarto.

Ela ficou parada em silêncio, assistindo enquan­to ele olhava embaixo da cama. Em seguida, abriu o closet. Empurrou as roupas para o lado e olhou den­tro. Quando viu que não havia ninguém ali, ajustou os cabides e começou a fechar a porta. Ele parou, enfiou a mão e pegou algo.

Andi ficou ruborizada quando o viu segurando a sua lingerie preta.

- Você se importa de vestir isso para mim?

Ela arrancou-a da mão dele apontou para a porta. - Fora!

Ele deu de ombros.

- Você não pode culpar um homem por tentar.

- Fora! - Ela repetiu.

Andi, ao lado da cama de Leo, olhava o seu parceiro com preocupação.

- Você perdeu quantos quilos?

- Não sei. Uns quinze.

- E o médico acha isso normal?

De cara feia, ele olhou para a televisão, mudando de canal.

- Você é igual a Myrna. Um bando de galinhas cacarejando à minha volta o tempo inteiro. Não posso nem fazer xixi sem alguém atrás me vi­giando.

Acostumada com o mau humor de Leo, Andi se­gurou o riso.

- E por falar nisso, onde está a Myrna?

- Foi ao cinema com as amigas. Disse que não agüentava mais ficar comigo. Que seja. Também já estou cansado dela.

Rindo, Andi deu-lhe um beijo na careca.

- Se eu não soubesse que vocês se amam, ficaria preocupada.

- Aquela mala velha está comigo há trinta e sete anos. Não imagino a vida sem ela.

- Bom. Você nunca encontrará uma mulher como ela.

- É, ela não é tão mal.

O que na língua do Leo significava que ele era louco por ela. Rindo, Andi puxou uma cadeira e sentou-se perto dos pés dele.

- Quando você verá o médico novamente? Ele a olhou entediado.

- Por que não pára de rodeios e diz o que está pensando? Eu sei que não veio aqui discutir a minha saúde.

Ela quis negar que algo a incomodava, mas sabia que não podia enganar Leo. Às vezes, ele parecia conhecê-la melhor do que ela própria.

- É o Gabe. - Ela admitiu.

- Se ele não está fazendo o trabalho dele, me diga e vou lá dar uma surra nele.

Sorrindo, ela apertou a mão de Leo no descanso de braço.

- Sei que daria.

- Isso mesmo.

Ela ficou séria e tirou a mão de volta para o seu colo.

- Não é a ética de trabalho dele. Nesse quesito não posso acusá-lo.

- Então, qual é o problema?

Sem saber como dizer, ela se levantou e andou de um lado para o outro.

- O chefe Prater mandou irmos ao baile de cari­dade no sábado no country club. Ele acha que en­contraremos pistas sobre o caso Fortune.

- Comida e bebida de graça? Por que reclama?

- Gabe se refere a isso como um encontro.

- Ahh - disse ele balançando a cabeça -, então esse é o problema.

- E o que isso quer dizer?

- Você é uma mulher, ele é um homem, isso aconteceria mais cedo ou mais tarde.

Ela apertou os lábios.

- Você e eu somos parceiros há nove anos e nunca pensei em fazer sexo com você. Nem uma vez.

- E você está pensando em fazer sexo com Gabe. Ela se deu conta do que dissera. Pensou em dizer para Leo que o ataque do coração deve ter afetado a audição dele, pois não era aquilo que dissera.

Em vez disso, ela se sentou e abaixou a cabeça. - Eu não sei o que pensar. Num minuto, eu quero arrancar os olhos dele, e no outro, estou tirando as roupas dele com os olhos.

- Para mim isso é amor.

Ela levantou a cabeça e olhou para Leo. - Não estou apaixonada por ele.

- Tesão, então.

- Leo, eu tenho 36 anos. Isso é coisa de adolescente.

- Que nada, eu tenho 62 e ainda persigo a Myrna pelo quarto.

Fazendo cara de nojo, ela levantou a mão. - Por favor. Não precisa dizer isso.

- Você acha que sexo é só para crianças? Diabos, quanto mais velho você fica, melhor o sexo fica.

- Leo! - Ela gritou. Ele levantou as mãos.

- Ok, ok Não falo mais nada. Mas lembre-se de que os canos enferrujam por falta de uso.

Ela ficou de pé, com as bochechas queimando. - Pronto - disse ela, e foi em direção à porta. ­Estou fora daqui.

Rindo, ele gritou:

- Da próxima vez que vier, traga Gabe com você.

Quero ouvir os detalhes do seu encontro.

Mesmo irritada toda vez que pensava em Leo se referindo à sua missão com Gabe como um encon­tro, no sábado à noite até ela teve que admitir que se sentia como se estivesse se preparando para um.

Gastou mais de duas horas no chuveiro, arru­mando o cabelo e colocando a maquiagem, e mais uma hora se vestindo. Ela finalmente escolheu um vestido preto, com uma gola larga apontando para o decote.

Com o olhar fixo em seu reflexo no espelho, ajus­tou a gola um pouco mais acima do decote. Em se­guida, virou-se para ver as costas, onde o vestido se abria até alguns centímetros da cintura, expondo uma quantidade enorme de pele nua.

- Eu não escolhi esse vestido para impressionar Gabe Thunderhawk - não parava de dizer a si mesma.

Infelizmente, a consciência dela se recusava a acreditar nessa afirmação.

Com os ombros caídos, como se tivesse sido der­rotada, virou-se de frente para o espelho novamente. Ok. Talvez tenha escolhido esse vestido com ele em mente. Mas a culpa por ela estar pensando nele era toda dele! Ele era quem tentava colocar um toque pessoal no que era para ser um relacionamento es­tritamente profissional.

Franzindo a testa, olhou para o seu closet, lem­brando-se dele ali segurando a sua lingerie na ponta dos dedos. E como ele era abusado ao sugerir divi­dir a sua cama com ela se a vestisse. Será que ele não pensava em nada além de sexo?

Convencida de que ele não pensava em mais nada além disso, jogou um batom em sua bolsa e olhou-se no espelho pela última vez. Chegando mais perto do espelho, corrigiu um pequeno bor­rão na maquiagem dos olhos, que era um exagero, na opinião dela, mas necessária para um evento formal como esse no countryclub. E o cabelo ar­rumado levara horas para acertar, mas da mesma maneira, era um requisito se ela queria mesmo se misturar com os ricos e famosos sem sobressair como um peixe fora d'água.

A campainha tocou. Ela olhou no relógio. Nada de diferente. Ele estava atrasado. Calçou o sapato de salto alto, sabendo que se arrependeria mais tarde, e dirigiu-se à porta da frente. Respirou fundo e abril a porta. Andi quase engasgou ao vê-lo.

Podia até esperar que ele desobedecesse as or­dens do chefe de usar o smoking, mas ele usava um... ou parte de um. Ele estava com as calças ­graças a Deus - e segurava o paletó sobre o ombro. A camisa era o problema. Ele não a colocara para dentro da calça, e não a abotoara por completo, deixando uma grande porção do seu peito exposta.

- Você está louco? - perguntou ela, e olhou atrás dele para ver se tinha alguém olhando. - O que os vizinhos vão pensar?

- Que você tem um encontro quente?

Ela o puxou para dentro e fechou a porta. - Isso não é um encontro.

Ele jogou o paletó sobre uma cadeira.

- Eu disse ao rapaz da loja que detestava gravata­ borboleta. Ele sugeriu essa camisa sem colarinho. Ele disse que estaria formal o suficiente, se usasse isso. - Ele abriu a mão, revelando um emaranhado de alfinetes. - Infelizmente, ele esqueceu de me dizer como prendê-los.

- Se você tivesse perguntado, aposto que ele fi­caria feliz em mostrá-lo.

- De jeito nenhum eu deixaria aquele cara chegar perto de mim. - Ele abriu os braços. - Mas você pode me tocar onde quiser.

Ela descobriu que sua irritação não era páreo para a masculinidade dele, ao tocar sua pele cada vez que espetava um alfinete, ou quando, a cada respiração, ela inalava uma mistura intoxicante de sândalo e puro homem.

Ouviu um gemido de aprovação. Quando olhou para Gabe, ele estava olhando para seus seios.

- Quer me ajudar ou não?

Ele prendeu os lábios para não rir.

- Você sabe que eu quero - disse ele.

- Então feche os olhos. E nada de bisbilhotar.

Depois de fixar o último alfinete, ela soltou a respiração e disse: - Feito.

Ele abriu os olhos e agradeceu.

- Obrigado. - Em seguida, desabotoou a calça na frente dela, e virou-se de costas. - Quanto tempo acha que teremos que ficar no baile?

Ela não pôde deixar de olhar, incapaz de acredi­tar que ele desabotoara as calças na frente dela. Tentou desviar, mas o som do zíper pareceu conge­lar-lhe o olhar. Continuou olhando enquanto ele ajeitava a camisa dentro da calça. Era um ato sim­ples, mas tão absolutamente... masculino.

- Eu... Eu não sei.

Ele fechou a calça e virou-se para ela, olhando-a de cima em baixo.

- Modelito sexy, o seu. Deixe-me ver as costas. Antes que ela pudesse evitar, ele pegou-a pelos ombros e girou-a.

- Não - corrigiu ele, com a voz mais grave - É simplesmente um pecado. Pôde sentir o calor do olhar dele deslizando da nuca até a cintura dela e fechou os olhos. De repen­te, sentiu uma tontura. Ele passou a mão pelos braços dela e chegou per­to de seu ouvido com o rosto, enquanto as mãos se entrelaçavam. Ela se segurou para não tremer, inca­paz de recordar-se da última vez em que um homem a tocara dessa maneira. A fricção sensual de pele contra pele. O calor do corpo de um homem bem junto ao dela. O calor úmido do hálito dele acari­ciando-lhe o ouvido. Seria muito fácil para ela dei­xar sua cabeça repousar no ombro dele e oferecer o pescoço para sua boca, seus lábios. Sentir de novo o turbilhão quente de desejo espalhando-se pelo seu corpo.

Mas isso seria submeter-se às necessidades mais básicas, expondo uma fraqueza que poderia lhe cau­sar danos. Aprendera, ao longo dos anos, que a úni­ca maneira de resistir ao desejo era evitá-lo a qual­quer custo.

Sabendo disso, afastou-se dele, para longe da tentação.

- Bom trabalho - disse ela ao pegar a bolsa. Sor­rindo, ela deu um tapinha no rosto dele. - Se você continuar assim, ninguém perceberá que estamos lá para espioná-los.

Da área onde aguardavam os manobristas prontos para estacionar os carros dos convidados até o salão principal, onde champanhe jorrava de uma fonte em gigantes bacias de prata em torno de sua base, era óbvio que o encarregado pela produção da festa não economizara dinheiro.

Noites Árabes era o tema da noite. Pedaços enor­mes de tecido corriam do teto até os cantos do salão, criando a ilusão de um interior de uma tenda árabe. Garçonetes vestidas de odaliscas e garçons de sultãos ofereciam bebidas e petiscos para os con­vidados. As portas francesas que separavam a sala de jantar do pátio estavam abertas, permitindo uma vista maravilhosa do céu coberto de estrelas e dan­do aos convidados a liberdade de se moverem de uma área para a outra.

Gabe teve de admitir que essa fora a missão mais agradável para a qual fora convocado em toda a sua carreira de policial. Toda a comida e bebida que quisesse consumir e uma bela moça a seu lado. O que mais ele poderia querer?

Ele olhou para Andi e franziu a testa.

Qual é a dela?, ele se perguntou frustrado. Na ca­sa dela, chegou a pensar que fizera algum progres­so, quando a teve em seus braços. Ele poderia jurar que sentiu uma reação, e então... Bum! Ela o des­prezava.

Franziu a testa ao lembrar dela elogiando-o pelo trabalho bem-feito. Caramba, ele não estava fingin­do! Não estava mesmo!

Mas talvez ela estivesse, ele pensou. Já trabalhara disfarçado e sabia como era fácil fingir ser algo di­ferente do que se é. Certa vez assumiu o papel de um motoqueiro, para infiltrar-se em uma gangue de motoqueiros que traficava drogas. Fingiu tão bem que, quando a polícia chegou, um dos agentes o al­gemara antes que Gabe pudesse convencê-lo que era da polícia.

Mas se o caso fosse realmente esse, a pergunta era: que personagem Andi estava fingindo ser? Qual das personagens com quem ele interagira nessa noite era a Andrea Matthews verdadeira? Qual era o papel que ela interpretava? A raposa sexy que tre­mera em seus braços? Ou a detetive certinha que o elogiara pelo trabalho bem-feito?

Dane-se, ele pensou. Não estava a fim de jogui­nhos. Ou ela estava interessada ou não estava.

Desejando que a noite acabasse logo, pegou An­die pelo cotovelo.

- Preciso de ar puro.

- Você viu Ryan Fortune? - Ela sussurrou para ele enquanto a levava para fora. - Ele estava perto da fonte de chocolate conversando com Melissa Wilkes. Eles pareciam muito amigos. Você acha que pode haver algo entre eles?

- Não sei - disse Gabe, apontando em direção ao salão com a cabeça. - Mas parece que a mulher dele também está preocupada com isso. Ela não tirou o olho dele a noite toda e não parece feliz com o fato de Melissa estar com ele.

- Entendo. Você se lembra do dia em que leva­mos Lily e Ryan para o necrotério para identificar o corpo? Ela estava com essa mesma expressão. Boca selada. Desgastada. Como se não confiasse nele.

- É, eu me lembro. Talvez ele esteja passando por uma crise de meia-idade. Um caso amoroso é um dos sintomas. Ele comprou uma Harley recen­temente?

Ela segurou o riso.

- Ryan de Harley? - Ela balançou a cabeça. - Ele não é o tipo. Não consigo imaginá-lo traindo a mulher.

- Qual é o seu problema? Desde que pegamos esse caso, você sempre quis conectar o Ryan com o assassinato. Por que mudou de idéia de repente?

- Assassinato e adultério são coisas diferentes.

Só porque alguém é capaz de cometer um não sig­nifica que é capaz de cometer o outro. Além disso, Ryan adora Lily. Todos sabem. Ele nunca a trairia ­disse Andi.

- Eu não teria tanta certeza. Quando um homem começa a questionar a sua virilidade, é capaz de fa­zer de tudo para provar que ainda é macho. E idade não é a causa. Um homem de trinta ou quarenta anos pode ter as mesmas dúvidas. Uma noitada com uma jovem gata é como uma injeção de adrenalina para os seus egos.

Ele percebeu que a colega ficou pálida. - O quê? - perguntou ele, confuso.

Ela se virou e olhou para os jardins, balançando a cabeça.

-Nada.


Franzindo a testa, ele a olhou, tentando entender o que dissera que a fizera ter essa reação.

Mesmo com vontade de pressioná-la para obter uma resposta, ele não o fez, sabendo que não era apropriado.

Estavam ali para fazer um trabalho. Ao lembrar­-se disso, ele deu uma olhada pelo pátio e ficou surpreso ao notar que alguns casais pareciam ter nota­do a reação de Andi. Ele a pegou pela mão.

- Vamos dar uma volta.

Quando ela resistiu, ele a segurou firme e disse: - Vamos. As pessoas estão olhando.

Ao levantar a cabeça e ver que ele estava certo, deixou-o guiá-los até o jardim.

Luminárias alinhavam-se no caminho que corta­va o jardim, oferecendo um calmo refúgio para os convidados ansiosos para escapar do barulho da fes­ta. Gabe andou devagar, dando tempo para Andi se recompor, antes de tocar no assunto de Ryan Fortune.

- A desconfiança de Lily pode não ter nada a ver com a mulher e tudo a ver com o assassinato - disse Gabe.

- Entrevistamos Lily - ela o lembrou. - O mesmo que fizemos com cada Fortune. Ela disse não co­nhecer a identidade do cadáver.

- Talvez ela estivesse dizendo a verdade. Mas isso não quer dizer que saiba de algo... como quem o assassinara.

Ela parou bruscamente, fazendo Gabe parar tam­bém.

- E você me acusa de mudar de idéia? Você não fez nada além de defender Ryan desde o primeiro dia, e agora pensa que ele é o assassino?

- Eu não iria tão longe. Só estou considerando todas as possibilidades. É óbvio que a mulher de Ryan está preocupada com algo. Se não por outra mulher, talvez por seu marido ir preso.

Ela franziu a testa e considerou.

- O Ryan é o pilar da comunidade. Podre de rico.

A única coisa que me impede de acreditar que ele é o assassino é por quê? Por que ele mataria alguém? - Você sabe que assassinos vêm de todas as for­mas. A razão dele, quem sabe? Talvez estivesse de mau humor.

- Eu riria se não soubesse que as pessoas se ma­tam por muito menos.

- É, e... - Gabe parou, certo de ter ouvido algum barulho. Ele pegou a mão de Andi e arrastou-a do caminho para as sombras escuras embaixo das ár­vores.

Ela tentou se livrar. - Tire suas mãos...

Ele tapou-lhe a boca com a mão.

- Alguém está vindo - sussurrou ele.

O som de passos no caminho de pedra ficou mais próximo. Gabe fechou os olhos, separando mental­mente o som de sapatos femininos e masculinos.

- Você está com ciúmes?

A pergunta foi feita por uma mulher.

- Daquele velho? - respondeu uma voz masculina. - Ele não deve nem conseguir uma ereção.

Os passos pararam bem próximos à sombra onde Gabe e Andi se escondiam. Gabe cerrou os olhos tentando identificá-los. O homem e a mulher olha­vam um para o outro e abraçavam-se na cintura. Ga­be identificou a mulher como Melissa Wilkes, aque­la flertando com Ryan Fortune minutos atrás. O homem estava de costas para Gabe, mas ele imaginou que fosse Jason Wilkes, o marido de Melissa.

- Sexo não é tudo - disse Melissa. - O tamanho da conta bancária é o que conta, e a de Ryan Fortune é enorme o suficiente para mim.

- Mentirosa. Você adora sexo - disse ele rindo e chegando perto do pescoço dela. - Sorte que eu posso lhe satisfazer ambos, sexo e ganância. Do contrário, você poderia me trocar por Ryan.

- Querido, sem ofensa. Você pode ser bom de cama, mas já vi o seu extrato bancário, e aquilo é troco perto da riqueza de Ryan Fortune.

- Fica comigo, baby. Antes do que você imagina, terei o controle da Fortune TX Ltda. Aí todo aquele dinheiro será nosso.

Ela se esfregou nele como uma gata.

- Hum. Adoro quando você fala assim. - Olhan­do nos olhos dele, ela pegou-lhe o dedo, levou-o até os lábios, chupou-o e tirou-o devagar, lamben­do a ponta.

Com um gemido, Jason a beijou. Respirações pesadas e gemidos, e em seguida Jason parou.

- Mais tarde - prometeu ele. - Agora precisamos voltar para a festa. Quero estar ao lado de Ryan quan­do ele mostrar aos convidados o cheque da Fortune TX Ltda.

Antes mesmo dos passos do casal sumirem por completo, Andi se virou para Gabe.

- Aquela meretriz! - sussurrou ela com raiva. ­Você ouviu o que ela disse sobre Ryan? E para o próprio marido! Ela é nada menos do que uma vadia sedenta por dinheiro.

- Ela com certeza sabe como trabalhar um ho­mem - disse Gabe.

- Não me diga que você se impressionou com aquele showzinho da gatinha sexy? - Andi o enca­rou surpresa.

- Você tem que admitir, a mulher sabe como se mexer e tem o corpo para ajudar.

- Ela é uma trapaceira! Você a ouviu. A única coisa pela qual ela se interessa é a conta bancária de um homem. É óbvio que está usando Ryan para deixar Jason com ciúmes. E usando a riqueza de Ryan para fazer Jason subir na empresa e na vida, mais rápido.

- Ei, espere um pouco - disse Gabe. - Você está fazendo parecer que Jason é a vítima aqui. Melissa tem os seus defeitos, mas Wilkes não é nenhum santo.

- Não acredito que você está defendendo ela!

- Não estou defendendo ninguém. Estou apenas apontando para os fatos. Você o ouviu dizer que vai controlar a Fortune TX Ltda. Qualquer um que pen­se que pode controlar o império dos Fortune tem um ego inflado ou é um idiota completo. Os Fortunes construíram aquela companhia, e pode apostar que Ryan não vai ficar parado deixando que um executivo júnior entre e tome tudo isso deles.

- Se os Fortune perderem o controle do seu im­pério, a decisão não será feita na sala de reuniões. Será feita numa cama.

- Aposto que você está falando de Melissa e Ryan.

- E quem mais? Você ficou impressionado com o joguinho dela. O que impede que Ryan faça o mesmo?

Ela saiu.

Gabe foi atrás.

- Aonde você vai? - perguntou ele, frustrado.

- Avisar Ryan.

Ele a pegou pelo braço e virou-a.

- Você não pode entrar lá desse jeito, avisando Ryan sobre Melissa. Isso é o mesmo que acusá-lo de estar tendo um caso.

Furiosa, ela puxou o braço.

- Não estou acusando-o de nada. Só quero avisá-lo.

- De quê? De que a mulher de um de seus funcionários tem inveja do seu dinheiro? Ah, metade das mulheres dessa cidade gostaria de pôr a mão nele e em sua conta bancária.

Ele a sacudiu.

- Pense, Andi. O que ouvimos pode não passar de um sonho fantástico de uma mulher. Algo que ela usa para manter o seu marido trabalhando duro para ser promovido.

Ela olhou para Gabe e concordou:

- Ok - disse ela -, não direi nada. Mas ficarei de olho nela. E se eu vê-la agarrando Ryan de novo, direi a ele que ela está de olho em seu dinheiro.

- Tudo bem. Faça o que quiser. Só peço uma coisa. Certifique-se de que eu esteja bem longe de você quando decidir ter a sua conversinha com Ryan.

- Covarde - balbuciou ela. - Você acha que... Enquanto Andi resmungava, Gabe olhou para o outro lado, pensando ter ouvido algo. Por entre as árvores e arbustos que alinhavam o caminho, perce­beu um movimento e notou que alguém vinha em sua direção. Sem tempo para explicações, agarrou Andi e beijou-a.

Ela lutou com ele como em uma briga de ga­to. Para evitar que ela se livrasse, ele a segurou pela nuca e manteve um braço em volta da cin­tura dela.

Pelo canto do olho, ele viu um casal passar. A jul­gar pela expressão dos dois rostos, Gabe tivera su­cesso em fazê-los acreditar que ele e Andi eram apenas um casal dando uma escapadinha. Ele ficou ouvindo o som dos passos do casal, até que achou seguro soltar Andi.

Mas ele não a soltou.

Num determinado momento enquanto o casal pas­sava, Andi desistira de lutar. Suas costas estavam ar­queadas por baixo do peso do braço dele, os seios contra o peito do policial. Sua boca estava suave e quente na boca dele, enquanto ela movia os lábios no ritmo dos de Gabe.

A atitude mais cavalheira a se tomar seria termi­nar o beijo, explicar por que ele a silenciara dessa forma e fingir que não notara a reação dela. Mas ele seria um idiota se a largasse agora.

Apertando o braço em volta dela, trouxe-a para mais perto e invadiu-lhe a boca. No momento em que suas línguas se encontraram, um choque elétri­co invadiu o seu corpo, endurecendo-o. Gemendo, ele se mexeu e pressionou sua ereção contra o abdômen dela.

A resposta dela foi um gemido de desejo que vibrava na boca de Gabe e ressoava para todas ex­tremidades. Excitado por aquele som abafado, ele precisou de um momento para entender que ela não estava mais agarrando-o, mas sim empurrando-o para longe.

Ele soltou os braços e abriu os olhos para vê-la à sua frente, com os olhos cheios de paixão e a respi­ração ofegante. Uma mecha de cabelo caíra do arran­jo sobre seu, rosto. Ele tentou tocá-la.

- Andi, eu...

Ela deu um tapa na mão dele. - Não me toque.

Espantado com a explosão de raiva, ele apenas a olhou. Quando recuperou sua voz, ela já estava a uns seis metros dele, e correndo.

Gabe estacionou em frente à casa de Andi. Ela ficara em silêncio por todo o percurso de volta para casa, mas ele não se importou. Não estava interessado no que ela tinha a dizer... mas tinha muita coisa a dizer para ela.

- Já estou de saco cheio da sua...

Antes que ele pudesse dizer algo mais, ela estava fora da caminhonete, batendo a porta.

Ele a viu afastar-se, e saiu atrás gritando: - Andi, espere!

Ela apertou o passo.

- Andi! - disse ele furioso, pegando-a pelo braço, fazendo-a girar.

- Que diabos está errado com você?

- Eu lhe digo o que está errado - respondeu ela, com mais raiva ainda. - Não gosto de ser atacada pelo meu parceiro.

Ele a pegou pelos dois braços e sacudiu-a.

- Não venha com esse papo de assédio sexual co­migo. A única coisa de que sou culpado é de estar fazendo o meu trabalho. Enquanto você tinha um chilique sobre Melissa estar tentando roubar o di­nheiro do Ryan, eu vi um casal se aproximar.

- E daí você me beijou? - perguntou ela, incrédula.

- Foi a maneira mais rápida que pensei para calar você.

Ela afastou os braços dele e disse:

- Um simples silêncio... seria o suficiente.

- Você está brincando! Estava tão nervosa com a idéia de Melissa estar usando Ryan, que eu teria que lhe nocautear para conseguir a sua atenção.

- Então, da próxima vez que quiser minha aten­ção, você tem a permissão para me bater. Prefiro sofrer uma contusão do que ganhar um de seus beijos.

- Mentirosa.

- O quê?


- Você é uma mentirosa. Você gostou daquele beijo tanto quanto eu.

- Não gostei!

Ele pôs as mãos na cintura e disse:

- Ah, é mesmo? Então por que os movimentos da língua e da cintura?

Ele apenas assistiu enquanto ela ficava pálida.

Sabia que acertara em cheio. Gabe decidiu torturá­-la um pouco mais.

- Quando uma mulher reage daquela maneira, le­va um homem a pensar há quanto tempo ela não faz sexo.

- Isso é ridículo - disse ela, pronta para entrar. ­Recuso-me a falar sobre isso com você.

- Vá em frente, fuja - gritou ele. - Isso não muda nada. Você ainda é uma mentirosa. E provocadora! - Falando mais alto para que ela o ouvisse.


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