Esses estranhos Homens deveriam ficar muito satisfeitos por serem julgados mais maldosos dó que realmente são



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Aha! Ele devia ter pensado nisso há semanas, meses! Mas a noite em que todos os rapazes teriam saído para festejar, a noite em que ele podia ter certeza de que não seria visto de Briscoe Hall, era essa noite, e talvez apenas essa. Alguma espécie de senso de destino fizera com que resistisse convictamente ao convite de Avaric. Pois agora estava montado no telhado do estábulo, e o vento que corria pelas folhas úmidas dos pés de azedinha e de pêra fazia uma suave fanfarra. E as garotas começavam a entrar lá no quarto ― como se houvessem ficado no corredor até que ele conseguisse a posição certa ― como se soubessem que ele estava vindo!

De perto elas não eram, no geral, assim tão bonitas...

Mas, onde estava aquela que o interessava?

E bonitas ou não, elas estavam nítidas. Os dedos que elas mergulhavam nas laçadas de seda, para desamarrá-las, os dedos dos quais tiravam as luvas, e desabotoavam manhosas fileiras de quarenta botões de pérola, os dedos que umas cediam às outras, mexendo nas íntimas rendas e nas partes pudendas das quais os rapazes de colégio sabiam apenas por mitologia! Os inesperados tufos de pêlos ― que suavidade! Como eram maravilhosamente animalescos! Suas mãos se apertavam e soltavam, como se tivessem vontade própria, mas famintas daquilo que ele mal conhecia ― e onde estava ela?

“Que diabos você está fazendo aí em cima?”

Então, ele escorregou, talvez porque estivesse deslumbrado, e talvez porque o destino, tendo sido tão bom ao premiá-lo com esse êxtase, por desforra, precisasse matá-lo agora. Seu pé lhe faltou e ele tentou se agarrar à chaminé, mas não conseguiu. Cabeça sobre as coxas, ele rolou como um brinquedo de criança, chocando-se contra a galharia da maldita pereira, que provavelmente salvou a sua vida, interrompendo sua queda. Ele aterrissou com um baque surdo num canteiro de alfaces, e o ar foi ruidosamente expelido dele, de um modo um tanto mortificante, através de todos os orifícios disponíveis.

“Oh, brilhante”, disse uma voz. “Neste ano as frutas estão caindo mais cedo.”

Ele teve uma última, perdida esperança de que a pessoa que falava fosse a sua amada. Tentou parecer composto, embora seus óculos tivessem despencado em algum outro lugar.

“Como vai?”, ele disse, incerto, sentando-se. “Não era assim que eu pretendia chegar.”

Descalça e de avental, ela saiu de trás de uma latada de uvas Pertha rosadas. Não era ela, não era a esperada. Era a outra. Ele podia notar isso até sem óculos. “Oh, é você”, ele disse, tentando não parecer desesperado.

Ela trazia uma peneira com algumas uvas minúsculas, das azedas que se usa em saladas rápidas. “Oh, é você”, ela disse, chegando mais perto. “Eu conheço você.”

“Mestre Boq, estou às suas ordens.”

“Você quer dizer, Mestre Boq, que está é nas minhas alfaces.” Ela catou seus óculos da rama dos feijões saltadores, e devolveu-os a ele.

“Como está você, Senhorita Elfinha?”

“Eu não estou ácida como uma uva e nem tão esborrachada como uma alface”, ela disse. “Como está, Mestre Boq?”

“Eu estou”, ele disse, “um tanto embaraçado. Vou arrumar algum problema aqui?”

“Posso dar um jeito nisso, se quiser.”

“Não tenha esse trabalho. Eu caio fora do mesmo jeito que cheguei.” Ele olhou para a pereira. “Coitada, eu quebrei alguns ramos de bom tamanho.”

“Pobrezinha da árvore. Por que você fez isso com ela?”

“Bem, eu estava apavorado”, ele disse, “e tinha uma opção: me jogar como uma ninfa da floresta pelas folhas, ou despencar silenciosamente do outro lado do estábulo, no meio da rua, e voltar à minha vida normal. O que você escolheria?”

“Ah, essa é a questão", ela disse, “mas sempre aprendi que a primeira coisa a fazer é negar a validade da questão. Eu, se estivesse assustada, nunca me jogaria silenciosamente na rua, nem despencaria ruidosamente nas árvores, rumo às alfaces. Eu me viraria do avesso para ficar mais leve, eu flutuaria até que a pressão do ar exterior tivesse me estabilizado. Daí, eu deixaria o lado interno da minha pele se acomodar no telhado, pondo um dedo do pé de cada vez.”

“E você então inverteria a sua pele?”, ele disse, surpreso.

“Depende de quem estivesse lá e o que quisessem, e se me desse na telha. Também depende de que cor o lado de dentro de minha pele ficasse. Como nunca me inverti, você sabe, eu não posso ter certeza. Sempre achei que deve ser horrível ficar cor de rosa e branco como uma porquinha.”

“Em geral é”, disse Boq. “Especialmente no banho. Você se sente como um bife mal passado...” Mas ele se interrompeu. O absurdo estava ficando muito pessoal. “Realmente, peço desculpas”, ele disse. “Eu assustei você e não queria isso.”

“Você estava olhando no topo das árvores, examinando a nova safra, suponho?”, ela disse, brincando.

“É verdade”, ele respondeu friamente.

“Você viu a árvore dos seus sonhos?”

“A árvore dos meus sonhos é dos meus sonhos, e eu não falo dela nem para os meus amigos nem para você, que eu mal conheço.”

“Oh, mas você me conhece. Nós estivemos juntos numa brincadeira de infância, no ano passado você lembrou que nos tínhamos conhecido. Ué, nós somos quase irmão e irmã. Você pode na certa descrever sua árvore favorita para mim, e eu direi se sei onde ela está.”

“Você está me gozando, Senhorita Elfinha.”

“Ué, não é o que eu pretendo, Boq.” Ela usou seu nome sem o honorífico de um modo amável, como se tentasse sublinhar o seu comentário anterior sobre eles serem feito irmãos. “Suspeito que você queira saber da Senhorita Galinda, a jovem gillikinesa que conheceu no matadouro poético da Madame Morrible no último outono.”

“Talvez você realmente me conheça mais do que penso.” Ele suspirou. “Posso ter esperança de que ela pense em mim?”

“Bem, esperança você pode ter”, disse Elphaba. “Seria mais eficaz você perguntar a ela e acabar com isso. Ao menos você saberia.”

“Mas você é amiga dela, não é? Você não sabe?”

“Você não vai querer confiar no que eu sei ou não sei”, disse Elphaba, “ou no que eu disser que sei. Eu poderia mentir. Eu poderia estar apaixonada por você, e trair minha colega de quarto mentindo sobre ela...”

“Ela é sua colega de quarto?”

“Está muito surpreso com isso?”

“Bem... não... apenas... apenas satisfeito.”

“Os cozinheiros devem estar lá tentando adivinhar que diálogos serão esses que estou travando com os aspargos”, Elphaba disse. “Posso dar um jeito de trazer a Senhorita Galinda até aqui alguma noite, se você quiser. De preferência o mais breve possível, de modo a acabar com a sua alegria de um modo mais claro e completo. Se é que é isso que irá acontecer”, ela disse, “mas, como digo, como poderei saber? Se não posso prever o que vamos ter de sobremesa, como posso prever as afeições de alguém?”

Marcaram um encontro para três noites a partir dali, e Boq agradeceu Elphaba ardentemente, apertando suas mãos com tal força que seus óculos caíram no nariz. “Você é uma grande e velha amiga, Elfinha, mesmo que eu não a tenha visto por quinze anos”, ele disse, devolvendo a ela seu nome sem o honorífico. Ela bateu em retirada, esgueirando-se por debaixo dos galhos da pereira, e desapareceu na trilha. Boq achou a saída para a horta da cozinha e voltou a seu dormitório, e releu seus livros, mas o problema não estava resolvido, não, não estava. O problema fora exacerbado. Ele não conseguia se concentrar. Ficou acordado até ouvir os estardalhaços, os pedidos de silêncio, e as cantorias murmuradas, feitos pelos rapazes embriagados ao retornarem a Briscoe Hall.

2
Avaric partira no verão, assim que os exames terminaram, e Boq tinha ou superestimado suas possibilidades ou fracassado, nos dois casos havendo pouco a perder agora. Esse primeiro encontro com Galinda poderia ser o último. Boq se preocupou com as roupas mais que o habitual, e obteve uma dica de como arrumar seu cabelo na nova moda que reinava nos cafés (uma fina faixa branca em torno da cabeça, empurrando seu cabelo direto do topo, de modo que caísse em anéis, como espuma transbordando de uma bacia de leite entornado). Ele engraxou seus sapatos várias vezes. Estava muito quente para usar sapatos, mas ele não tinha sandálias de noite. Que fosse do jeito que fosse.

Na noite marcada, ele refez o seu caminho e, no telhado do estábulo, descobriu que uma escada de apanhador de frutas fora deixada encostada no muro, assim, não precisava descer pelas folhas como um chimpanzé vertiginoso. Ele desceu cuidadosamente pelos primeiros degraus, e daí saltou valentemente pelo resto do caminho, evitando as alfaces dessa vez. Num banco sob os castanheiros lá estavam Elphaba, os joelhos dobrados em direção ao peito e os pés descalços esparramados no assento do banco, e Galinda, cujos tornozelos estavam caprichosamente cruzados e que se ocultava atrás de um leque de seda, olhando para outra direção.

“Bem, quem diria, uma visita”, disse Elphaba. “Que baita surpresa.”

“Boa noite, senhoras”, ele disse.

“Sua cabeça parece a de um porco-espinho em pânico, o que é que você fez?”, disse Elphaba. Uma olhadinha pelo menos Galinda se virou para dar, mas daí desapareceu novamente por trás do leque. Ela estaria tão nervosa? Seu coração estaria fraquejando?

“Bem, eu sou Porco-Espinho em parte, não lhe contei?”, disse Boq. “Pelo lado de meu avô. Ele acabou virando costeleta para a comitiva de Ozma numa temporada de caça, e uma lembrança saborosa para todos. A receita passa de mão em mão na família, registrada num álbum. Serve-se com queijo e molho de noz. Mmm.”

“Você é mesmo?”, disse Elphaba. Ela pôs o queixo nos joelhos. “Porco-Espinho no duro?”

“Não, foi uma brincadeira. Boa noite, Senhorita Galinda. Foi amável de sua parte concordar em se encontrar comigo de novo.”

“Isso é altamente impróprio”, disse Galinda. “Por um bom número de razões, como bem sabe, Mestre Boq. Mas minha colega de quarto não me deu sossego até que eu dissesse sim. Não posso dizer que estou satisfeita por encontrá-lo novamente.”

“Oh, diga, diga sim, talvez isso se torne verdade”, disse Elphaba. “Faça uma tentativa. Ele até que não é tão ruim. Para um rapaz pobre.”

“Eu estou satisfeita que você esteja tão interessado em mim, Mestre Boq”, disse a Senhorita Galinda, usando de cortesia. “Estou lisonjeada.” Era claro que ela não estava lisonjeada, estava era humilhada. “Mas você deve entender que não pode haver uma amizade especial entre nós. Tirando a questão dos meus sentimentos, há muitos obstáculos sociais para enfrentarmos. Eu concordei em vir apenas para que pudesse lhe dizer isso pessoalmente. Parecia a única atitude justa.”

“Parecia a única atitude justa e podia ser engraçado também”, disse Elphaba. “Eis porque eu vim junto.”

“Há a questão das culturas diferentes, para começar”, disse Galinda. “Eu sei que você é munchkinês. Eu sou uma gillikinesa. Precisarei me casar com alguém de minha própria terra. É o único jeito, sinto muito” ― ela baixou seu leque e ergueu sua mão, mostrando a palma, para interromper o protesto de Boq ― “e, além disso, você é um fazendeiro, da escola de agricultura, e eu quero um estadista ou um banqueiro das Torres de Ozma. É assim que as coisas são. Além do mais”, disse Galinda, “você é muito baixinho.”

“E que dizer de sua violação dos costumes vindo aqui desse jeito, e que dizer de sua burrice?”, disse Elphaba.

“Basta”, disse Galinda. “Isso é suficiente, Senhorita Elphaba.”

“Por favor, você é segura demais de si mesma”, disse Boq. “Se eu posso ter o atrevimento de dizer.”

“Você não é tão atrevido”, disse Elphaba, “você é quase tão atrevido quanto um chá feito de folhas usadas. Você está me decepcionando com essa resposta. Vamos, diga alguma coisa interessante. Estou começando a preferir ter ido à igreja.”

“Você está interrompendo”, disse Boq. “Senhorita Elfinha, você fez uma coisa maravilhosa encorajando a Senhorita Galinda a se encontrar comigo, mas devo lhe pedir para nos deixar a sós para resolver isso.”

“Nenhum de vocês dois vai entender o que o outro está dizendo”, disse Elphaba calmamente. “Sou uma munchkinesa por nascimento, se não por formação, e sou uma garota por acaso se não por escolha. Sou o árbitro natural entre vocês dois. Não acredito que vocês possam se entender sem mim. De fato, se eu sair desta horta, vocês deixarão de decifrar a linguagem de cada um completamente. Ela fala a língua dos Ricos, você fala a dos Pobres Esfarrapados. Além disso, paguei por esse espetáculo tentando convencer a Galinda por três dias corridos. Tenho de assistir.”

“Seria tão bom você ficar, Senhorita Elphaba”, disse Galinda. “Eu preciso de uma acompanhante quando estou com um rapaz.”

“Viu o que eu disse?”, Elphaba falou a Boq.

“Então, se você vai ficar, ao menos me deixe falar”, Boq disse. “Por favor, deixe-me falar, por uns minutos, Senhorita Galinda. O que você diz é verdade. Você é bem-nascida e eu sou comum. Você é gillikinesa e eu, munchkinês. Você tem um padrão social a obedecer, e eu também. E o meu não inclui me casar com uma jovem rica demais, estrangeira demais, exigente demais. Casamento não foi o que vim aqui para propor.”

“Estão vendo, fiz bem de não ter saído, a coisa está ficando boa”, disse Elphaba, mas fechou a matraca quando os dois olharam para ela, ferozes.

“Eu vim aqui para propor que nos encontrássemos de quando em quando, só isso”, disse Boq. “Que nos víssemos como amigos. Que, livres de expectativas, viéssemos a nos conhecer como bons amigos. Eu não nego que você me deslumbra com sua beleza. Você é a lua em tempos de plenitude; você é a fruta da árvore flamejante; você é a fênix em círculos de fogo...”

“Isso parece ensaiado”, disse Elphaba.

“Você é o oceano mitológico”, ele concluiu, jogando todos os ovos no cesto.

“Eu não sou muito ligada em poesia”, disse Galinda. “Mas você é muito amável.”

Ela pareceu ficar pouco animada com os cumprimentos. De qualquer modo, o leque se moveu mais rápido. “Eu não entendo realmente o trecho da amizade, como você diz, Mestre Boq, entre pessoas não-casadas da nossa idade. Me parece ― perturbador. Vejo que pode levar a complicações, especialmente quando você confessa uma quedinha a que eu não posso corresponder. Nem em um milhão de anos.”

“Estamos na idade da ousadia”, disse Boq. “É a melhor época que temos. Devemos viver no presente. Somos jovens e vivos.”

“Eu não sei se vivos explica tudo”, disse Elphaba. “Me parece uma coisa forçada.”

Galinda deu uma pancadinha na cabeça de Elphaba com seu leque, que foi fechado com habilidade e se reabriu com a desenvoltura de antes, um gesto de elegância experiente que impressionou a todos. “Você está sendo cansativa, Senhorita Elfinha. Eu aprecio a sua companhia, mas não preciso de um comentário a cada fala. Sou perfeitamente capaz de decidir sobre os méritos do discurso de Mestre Boq por mim mesma. Deixe-me examinar as idéias estúpidas que ele tem. Lurline dos céus, mal posso ouvir meus próprios pensamentos!”

Perdendo o controle, Galinda ficava mais bonita que nunca. Então, o velho provérbio estava certo, também. Boq estava aprendendo muito sobre garotas! O leque estava abaixado. Era um bom sinal? Se ela não tivesse alguma afeição por ele, teria posto um vestido com um decote que descia só um pouquinho mais abaixo do que ele ousaria desejar? E havia a essência de água de rosas que ela usava. Ele sentiu uma onda de possibilidade, uma inclinação a roçar seus lábios no ponto onde o ombro de Galinda se transformava em pescoço.

“Seus méritos”, ela dizia. “Bem, você é corajoso, suponho, e inteligente, para ter imaginado isso. Se Madame Morrible o encontrasse aqui, estaríamos numa grande encrenca. Claro que você não sabia disso, então, vamos cortar o corajoso. Fica apenas o inteligente. Você é inteligente e um pouco, oh, bem, eu quero dizer que, de aparência, você é...”

“Bonito?”, sugeriu Elphaba. “Vistoso?”

“Você é engraçado”, concluiu Galinda.

Boq ficou de queixo caído. “Engraçado?”, ele disse.

“Eu daria muito para chegar a engraçada”, disse Elphaba. “O máximo a que posso aspirar é estimulante, e quando as pessoas dizem isso, geral-mente se referem à digestão...”

“Bem, eu posso ser todas ou nenhuma das coisas que você diz”, disse Boq com firmeza, “mas você verá que eu sou persistente. Não deixarei você dizer não à nossa amizade, Galinda. Ela significa muito para mim.”

“Observem o animal macho rosnando na selva à procura de sua parceira”, disse Elphaba. “Vejam como o animal fêmea fica soltando risadinhas afetadas atrás de um arbusto enquanto se enfeita para dizer: ‘Perdão, querido, você disse alguma coisa?’ ”

“Elphaba!”, os dois gritaram com ela.

“Peço a palavra, patinha!”, disse uma voz atrás deles, e os três se viraram. Era alguma ajudante de meia-idade num avental listrado, seu fino ca-belo grisalho enrolado num laço na cabeça. “O que você está aprontando aqui?”

“Ama Clutch!”, Galinda disse. “Como pensou em me procurar aqui?”

“Aquele cozinheiro zebra me disse que um papinho animado andava rolando no quintal. Você acha que eles são cegos lá na cozinha? Agora, quem é esse aí? Isso não me parece muito bom, não para mim.”

Boq se aprumou. “Eu sou Mestre Boq de Margens Agitadas, Terra de Munchkin. Sou quase um graduado terceiranista de Briscoe Hall.”

Elphaba bocejou. “Isso é uma exibição?”

“Bem, eu estou chocada! Um convidado não se apresenta numa horta do quintal, por isso acho que o senhor veio sem convite! Senhor, saia já daqui, antes que eu chame os porteiros para retirá-lo!”

“Oh, Ama Clutch, não me faça uma cena”, disse Galinda, suspirando.

“Ele mal é desenvolvido o bastante para a gente se preocupar”, apontou Elphaba. “Olhe, ele ainda nem barba tem. E do que podemos deduzir...”

Boq disse prontamente: “Talvez tudo isso esteja errado. Eu não vim aqui para ser insultado. Perdão, Senhorita Galinda, se eu fracassei até em divertir a senhorita. E quanto a você, Senhorita Elphaba” ― a voz era tão fria quanto lhe era possível produzir, e mais fria que qualquer outra que ouvira em si mesmo ― “Eu estava enganado ao confiar em sua compaixão.”

“Espere para ver”, disse Elphaba. “O engano leva um tempo danado para ser provado, segundo minha própria experiência. Enquanto tal não acontece, por que você não dá uma aparecidinha de vez em quando?”

“Não haverá segunda vez para isso”, disse Ama Clutch, dando um puxão em Galinda, que estava se provando tão sedentária quanto cimento fixo. “Senhorita Elphaba, que vergonha a senhorita estimular um escândalo desses.”

“Nada foi feito aqui além de uma brincadeira, e brincadeira sem graça, até”, disse Elphaba. “Senhorita Galinda, você está me parecendo muito obstinada. Você está se plantando na horta na esperança de que a Visita desse Rapaz possa ocorrer novamente? Será que entendemos mal o seu interesse?”

Por fim, Galinda se aprumou com alguma dignidade. “Meu caro Mestre Boq”, ela falou, como se estivesse lendo um ditado, “minha intenção desde o princípio foi dissuadi-lo de me perseguir, para uma ligação romântica ou mesmo para uma amizade, como colocou. Não tive a intenção de feri-lo. Não é de meu feitio.” Ao ouvir isso, Elphaba revirou os olhos, mas dessa vez manteve a boca fechada, talvez porque Ama Clutch tivesse cravado as unhas no seu cotovelo. “Não vou me dignar a arranjar outro encontro como esse. Como Ama Clutch lembrou, está abaixo de mim.” Ama Clutch não havia dito isso exatamente, mas mesmo assim concordou, sombriamente. “Mas se nossos passos se cruzarem de um modo legítimo, Mestre Boq, farei a cortesia de ao menos não ignorá-lo. Confio em que ficará satisfeito com isso.”

“Nunca”, disse Boq com um sorriso, “mas é um começo.”

“E agora, boa noite”, disse Ama Clutch, em beneficio de todos, afastando as jovens dali. “Bons sonhos, Mestre Boq, e não volte!”

“Senhorita Elfinha, você é horrível”, ele ouviu Galinda dizer, enquanto Elphaba se virava e acenava um adeusinho com uma risada que ele não pôde entender claramente.

3
Assim começou o verão. Tendo sido aprovado nos exames, Boq estava livre para planejar um último ano em Briscoe Hall. Diariamente ele caminhava apressado para a biblioteca em Três Rainhas, onde, sob o olho vigilante de um Rinoceronte titânico, o bibliotecário do principal arquivo, ficava limpando velhos manuscritos que claramente não eram pesquisados mais que uma vez a cada século. Quando o Rino saía da sala, ele travava frívola conversação com os dois rapazes que ficavam de seu lado, tipos clássicos do Rainhas, cheios de jargão fuxiqueiro e referências arcanas, importunos e leais. Ele os apreciava quando estavam de bom humor, e detestava suas birras. Crope e Tibbett. Tibbett e Crope. Boq fingia estar confuso quando eles ficavam muito maliciosos e insinuantes, o que parecia acontecer uma vez por semana, mas eles sumiam rapidamente. Pelas tardes, levavam seus sanduíches de queijo às margens do Canal do Suicídio e contemplavam os cisnes. Os rapazes fortes em grupos, cruzando o canal para cima e para baixo na prática de esportes de verão, faziam Crope e Tibbett se envergonharem e esconderem os rostos na grama. Boq ria deles, não ofensivamente, e esperava que o destino colocasse Galinda de novo em seu caminho.

Não foi uma espera muito longa. Cerca de três semanas depois de sua conversa na horta, numa manhã ventosa de verão, um pequeno terremoto causou alguns danos menores na biblioteca do Três Rainhas, e o prédio teve de ser fechado para alguns reparos. Tibbett, Crope e Boq levaram seus sanduíches, com algumas xícaras de papel para tomar chá, junto com a manteigueira, e se esparramaram no seu lugar favorito nas margens relvadas do canal. Quinze minutos depois, apareceram, juntas, Ama Clutch e Galinda e duas outras garotas.

“Tenho certeza que a gente conhece você”, disse Ama Clutch enquanto Galinda ficava um passo atrás, recatada. Em casos como esse, era dever da serviçal declinar os nomes dos estranhos no grupo, a fim de que pudessem se cumprimentar pessoalmente. Ama Clutch registrou em voz alta que eles eram Mestre Boq, Crope e Tibbett, sendo apresentados às Senhoritas Galinda, Shenshen e Pfannee. Daí, Ama Clutch deu um passo adiante para permitir aos jovens que dirigissem palavras uns aos outros.

Boq se ergueu feito mola e fez uma pequena mesura, e Galinda disse: “Seguindo a minha promessa, Mestre Boq, posso lhe perguntar como tem passado?”.

“Muito bem, obrigado”, disse Boq.

“Ele está maduro como um pêssego”, disse Tibbett.

“Ele está francamente delicioso, aqui deste ângulo”, disse Crope, sentado a uns poucos passos, mas Boq se virou e os olhou com tamanha fúria que Crope e Tibbett se sentiram castigados, e caíram num enfado gozador.

“E você, Senhorita Galinda?”, continuou Boq, examinando o rosto bem composto da jovem. “Você está bem? Que emocionante ver você em Shiz para o verão.” Mas essa não era a coisa certa a dizer. As jovens mais finas iam para casa no verão, e Galinda como uma gillikinesa devia se ressentir profundamente de estar encalhada ali, como uma munchkinesa ou uma estudante comum! O leque entrou em ação. Os olhos se abaixaram. As senhoritas Shenshen e Pfannee tocaram o ombro de Galinda em muda simpatia. Mas ela reagiu.

“Minhas caras amigas, as Senhoritas Pfannee e Shenshen estão alugando uma casa para o mês de alto verão nas praias do Lago Chorge. Uma pequena casa de fantasia perto da vila de Vale do Nunca. Decidi passar minhas férias lá, em vez de fazer uma jornada cansativa de volta às colinas de Pertha.”

“Que delícia.” Ele viu as bordas oblíquas de suas unhas laqueadas, as pálpebras coloridas como mariposas, a esmaltada e polida suavidade do rosto, a sensitiva dobra de pele bem na fenda de seu lábio superior. Na luz da manhã de verão, ela ficava realçada de um modo perigoso e arrebatador.

“Fique firme”, disse Crope, e ele e Tibbett se levantaram e pegaram Boq por um cotovelo. Ele, então, lembrou-se de respirar. Apesar disso, não conseguia pensar em nada para dizer, e Ama Clutch estava virando sua bolsa sem parar em suas mãos.


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