Como você viu, por causa da ação de fenômenos físicos, químicos e biológicos, o solo começa a se formar em camadas sobrepostas e aproximadamente paralelas
à superfície, denominadas horizontes. Eles contam a história do terreno ao registrar composições minerais e orgânicas.
Perfil esquemático de um solo maduro
Horizonte A: apresenta grande atividade biológica e grande quantidade de matéria orgânica (húmus) misturada com elementos minerais. Sofre perda de minerais em virtude da ação da água (lixiviação). Nas áreas agrícolas, encontra-se em contato com a atmosfera e contém as raízes das plantas.
Horizonte B: camada geralmente vermelha ou amarela, bastante inconsolidada e pouco alterada pela erosão natural e pela ação humana. Contém pouca matéria orgânica e muita matéria mineral. Recebe materiais deslocados de A pela água, como argila, húmus e ferro.
Horizonte C: material em decomposição proveniente da rocha-matriz. É chamado de regolito.
Horizonte R: rocha-matriz ou rocha não alterada.
Fontes: LEPSCH, F. Igo. Formação e conservação dos solos. São Paulo: Oficina de Textos, 2002. p. 65; SANTOMAURO, Beatriz. Saber subterrâneo.
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Acesso em: 29 out. 2015. Cores-fantasia. Sem escala.
Fatores de formação e desenvolvimento do solo
A origem e a evolução dos solos são condicionadas por vários fatores. Os principais são as condições climáticas. A temperatura e a chuva regulam as reações químicas das rochas, acelerando ou retardando a ação do intemperismo.
Em áreas que recebem muita chuva, por exemplo, os solos são pobres, porque a quantidade de água infiltrada é muito grande e os nutrientes são carregados para a camada inferior. A esse processo de lavagem do solo, dá-se o nome de lixiviação. Em áreas mais secas, ao contrário, os solos podem ser mais férteis, porque o transporte de minerais dissolvidos é menor.
Vale destacar que um mesmo tipo de rocha, quando submetido a climas diferentes, gera solos distintos. Por outro lado, rochas diferentes, submetidas a um mesmo tipo climático, podem gerar solos quase idênticos.
Os demais fatores que interferem na formação e no desenvolvimento do solo são:
▸ tipo de rocha-matriz – a velocidade e a intensidade do intemperismo e da erosão dependem da estrutura e da composição mineralógica da rocha-matriz;
▸ microrganismos – fungos, algas, bactérias e outros microrganismos agem na decomposição de restos vegetais e animais e na conservação do solo;
▸ topografia – interfere na desigual distribuição da água da chuva, de luz e de calor, favorecendo ou não os processos de erosão das rochas, que dão início à formação do solo. Em áreas mais baixas e côncavas, por exemplo, há um maior acúmulo de água participando da formação do solo; em encostas de montanhas elevadas, dificilmente se desenvolvem solos, porque o material que desagrega da rocha costuma escorregar.
É importante relembrar que a formação de um solo desenvolvido não é um processo instantâneo, requer centenas de milhares de anos para se completar. Assim, o tempo, apesar de variável, também é um dos fatores de que dependem a formação e o desenvolvimento do solo.
Uso e degradação do solo
O conhecimento sobre a capacidade e a fertilidade do solo é muito importante, uma vez que o solo está diretamente vinculado a inúmeras atividades humanas e à própria existência da vida na Terra. Algumas de suas funções são: filtrar a água, nutrir as plantas, abrigar a biodiversidade, etc. Quando para de exercer parte dessas funções, o solo é considerado degradado. Esse fenômeno atinge, em maior ou menor grau, cerca de 1,96 bilhão de hectares, número que equivale a mais da metade das superfícies cultiváveis do mundo todo.
Ao estudar os solos, a Geografia busca compreender os processos de degradação como resultado da interação das sociedades humanas com as bases naturais de sua existência. Há várias formas de degradação do solo, e as principais são aquelas provocadas pelas atividades humanas. O uso cada vez mais intenso e indiscriminado dos solos tem produzido grandes áreas de desertificação. Além disso, a ação humana pode
provocar a salinização (acúmulo de sal) dos solos. Mais frequente em áreas de clima quente e com baixos índices de chuva ou em regiões cobertas por oceanos em eras geológicas passadas, a salinização é originada pela utilização de água levemente salgada realizada por sistemas de irrigação mal-operados.
O uso de adubos e fertilizantes também provoca a degradação dos solos, principalmente quando essas substâncias químicas, usadas para corrigir problemas nos solos, não são empregadas segundo as normas que regem a boa prática agrícola. Ao acelerar certos processos naturais, alguns produtos químicos podem desencadear a contaminação de solos, rios, animais e pessoas. O despejo inadequado de agrotóxicos ou resíduos industriais e o fluxo de águas poluídas também comprometem a composição química dos solos.
O desmatamento é outro grande vilão da degradação dos solos. Para ter uma ideia da gravidade desse problema, observe o mapa a seguir.
Mundo: desmatamento (2000-2010)
Fonte: Adaptado de FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2013. p. 25.
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
Texto & contexto
1. Que fatores influenciam a formação e o desenvolvimento do solo? Explique como é a ação de cada um desses fatores.
2. Qual é a diferença entre um solo jovem e um solo maduro?
3. Cite algumas causas e consequências do desmatamento.
A sociedade transforma o relevo
Como você viu nos itens anteriores, o relevo terrestre está sempre se transformando em virtude da atuação de forças endógenas e exógenas. O vento, a chuva, a água de mares e rios, os vulcões e os terremotos agem sobre as rochas, moldando o relevo da Terra em um processo que pode ser rápido ou que pode durar milhares de anos. Nesses processos naturais, montanhas são aplainadas, rochedos são esculpidos à beira-mar, grandes blocos de rochas são carregados pelas águas dos rios, etc.
O ser humano também atua no relevo terrestre, direta ou indiretamente. Um exemplo de ação humana indireta no relevo começa com o desmatamento, prática que antecede o plantio, a criação de gado e outras atividades. Sem a cobertura vegetal, o solo e as rochas ficam expostos ao intemperismo e às erosões fluvial e eólica. Esses processos dão origem ao ravinamento nas encostas ou à formação de voçorocas.
Outro exemplo de ação humana indireta no relevo começa com a impermeabilização dos solos, procedimento muito comum nas áreas urbanas. Ao ser impermeabilizado, o solo não permite a infiltração das águas; isso costuma causar enxurradas, que, por sua vez, podem provocar erosão nas encostas e levar grande volume de detritos e sedimentos para os leitos dos rios, o que também pode interferir no trabalho geomorfológico.
A ação humana no relevo terrestre costuma ser muito intensa e direta nas áreas litorâneas. Para você ter uma ideia, basta citar os inúmeros municípios com mais de um milhão de habitantes localizados à beira-mar. Nessas áreas, os seres humanos têm realizado suas maiores obras geomorfológicas, não raro, bastante destrutivas. A urbanização decorrente da construção da rodovia Rio-Santos (BR 101), por exemplo, acabou por degradar a faixa litorânea em razão de desmatamentos, ocupações de áreas de preservação permanente, despejos de esgotos a céu aberto, entre outros problemas.
Outro exemplo muito interessante das ações humanas no relevo terrestre são as ilhas artificiais de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
Pulsar Imagens/Enrico Marone
Trecho da rodovia Rio-Santos, que interliga o município do Rio de Janeiro ao município de Santos, no litoral paulista. Foto de 2011.
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Getty Images/Gallo Images
Vista de uma das três ilhas das Palmeiras em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, em 2013. Essas são as maiores ilhas artificiais do mundo. Estudiosos consideram que elas prejudicaram
o meio ambiente marinho, pois as
pedras e a areia enterraram leitos de ostras e recifes de corais.
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Classificação das formas de relevo
Há vários critérios para classificar as grandes unidades do relevo terrestre. Um deles considera as altitudes, a morfologia e os processos predominantes de sua formação. Segundo esse critério, as grandes formas encontradas no relevo são: montanhas, planaltos, planícies e depressões.
Montanhas são grandes elevações do terreno, geralmente formadas por agrupamentos de montes. A maioria delas, sobretudo as mais altas, tem sua origem ligada a fatores internos. Mas há montanhas que, por serem antigas, não estão mais em processo de construção; podem apresentar razoáveis altitudes e, em geral, estão ligadas a planaltos que sofreram falhamentos. Um grande alinhamento de altas montanhas é chamado de cordilheira.
Planaltos são terrenos geralmente antigos, relativamente planos, situados em altitudes mais elevadas em relação às áreas limítrofes. Comumente apresentam terrenos ondulados e irregulares situados em altitudes superiores a 300 metros em relação ao nível do mar. Há milhares de anos, planaltos de todo o mundo sofrem processos de destruição que superam os de construção, pois os agentes de desgaste são mais intensos que os de sedimentação. Os planaltos típicos são de estrutura sedimentar, como o planalto da foto ao lado, mas também podem ser formados pelo soerguimento de blocos magmáticos. Nas bordas dos planaltos, muitas vezes, aparecem escarpas (formas que lembram um degrau) ou cuestas, comumente denominadas serras.
Principais formas de relevo
Julio Dian/Arquivo da editora
Cordilheira
Planalto
Escarpa
Depressão
Planície
Oceano
Elaborado pelo autor para fins didáticos.
Cores-fantasia. Sem escala.
Tyba/Ricardo Azoury
O pico da Neblina, na serra do Imeri (AM), é o ponto mais alto do Brasil, com 2 994 metros de altitude. Foto de 2012.
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©iStockphoto.com/Michelle7623
As chapadas do Brasil central são exemplos de planaltos sedimentares. Na foto, vista da chapada dos Guimarães, no estado de
Mato Grosso, em 2014.
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Planícies são superfícies mais ou menos planas de baixa altitude. Geralmente, não ultrapassam 150 metros em relação ao nível do mar. Nelas, os processos de deposição superam os de erosão. Costumam ser classificadas de acordo com o agente responsável por sua formação: planície costeira ou marinha (mar), planície fluvial (rio), planície lacustre (lago) e planície glacial (geleira).
Depressões são áreas rebaixadas em relação aos relevos circundantes (relativas) ou situadas abaixo do nível do mar (absolutas). Sua origem pode estar ligada a processos de erosão ou a afundamentos provocados por falhamentos. No Brasil, constituem superfícies levemente inclinadas e ocupam grandes extensões do território nacional. Uma depressão alongada sobre um planalto ou entre serras ou montanhas é chamada de vale, e sua origem pode ser fluvial ou glacial.
Ao analisar o mapa abaixo, você pode ter uma ideia das grandes formas de relevo presentes nas paisagens do mundo atual. Vale destacar que há muitas outras, como colinas, morros, cavernas, enseadas e penínsulas, que, ao lado de diferentes elementos, formam as inúmeras paisagens da Terra.
Pulsar Imagens/Andre Dib
Vista aérea da cidade de Boa Vista (RR), às margens do rio Branco, em uma planície fluvial.
Foto de 2014.
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Mundo: físico
Fonte: Adaptado de IBGE. Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro, 2012. p. 33.
João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora
Texto & contexto
1. Dê um exemplo de ação humana indireta e outro de ação humana direta no solo terrestre.
2. O relevo não é estanque nem no tempo nem no espaço. Explique essa afirmação.
Conexões
Um “jogo” de forças antagônicas resulta na dinâmica da superfície terrestre, a qual, na sua parte superior, abriga as sociedades humanas e os demais seres vivos do planeta. Que mecanismos comandam esse “jogo”? Quais são as fontes energéticas que os impulsionam?
O texto a seguir reforça a ideia de que o planeta Terra é um corpo dinâmico em constante transformação. Leia-o com atenção, a fim de ampliar o que você aprendeu no decorrer deste capítulo.
Planeta Terra: um corpo dinâmico
[...] Na superfície da Terra ou muito próximo dela, no interior da litosfera, encontram-se os recursos minerais e energéticos que alimentam as complexas organizações econômicas. Aí também estão os solos, as águas continentais e oceânicas, as formas de relevo e a atuação climática, que, em conjunto, facilitam ou não a ocupação e organização do espaço físico-territorial para as práticas agrícolas, as instalações de complexos industriais, a implantação de cidades e os núcleos de colonização, entre outros.
A rigidez que a superfície da Terra apresenta é apenas aparente. Na realidade, a estrutura sólida, sustentáculo das ações humanas, tem uma dinâmica que faz com que ela se modifique permanentemente. Tal dinâmica não é facilmente perceptível pelo homem em face da baixa velocidade de movimentação. O dinamismo da superfície da Terra é fruto da atuação antagônica de duas forças ou de duas fontes energéticas – as forças endógenas ou internas e as forças exógenas ou externas. Do jogo dessas duas forças opostas resulta toda a dinâmica da crosta terrestre ou litosfera. As pressões exercidas pelo manto e núcleo da Terra modificam as estruturas que compõem a litosfera e que sustentam as formas superficiais desta, ou seja, as formas de relevo ou modelado terrestre. Em contrapartida, as forças externas, ou seja, a energia solar através da atmosfera, exercem o papel de desgaste e de esculturação das formas produzidas pelas ações das forças endógenas. Esse processo de criação de formas estruturais pelas forças endógenas e de esculturação pelas forças exógenas é permanente ao longo do tempo e do espaço. Desse modo, agora e durante a história da origem e evolução da Terra, esses mecanismos de natureza estrutural vêm alterando permanentemente as fisionomias do relevo terrestre com velocidades e intensidades ora maiores, ora menores.
[...] é preciso ficar claro desde já que no estrato geográfico terrestre nada é estático. Tudo é dinâmico, e esse dinamismo é diferente em cada um dos planos: o biótico (animais e vegetais) e o abiótico (terra, ar, água). Por outro lado, todo esse dinamismo tem somente duas fontes de energia: o calor solar, que aquece a atmosfera e comanda os tipos climáticos do globo terrestre ao longo do tempo e do espaço, e a energia do núcleo e manto do interior da Terra, que interfere nas mudanças da estrutura da litosfera e cria formas de relevos estruturais de dimensões também variáveis, ao longo do tempo e do espaço terrestre. [...]
A diversidade de fisionomias dos ambientes naturais existentes na Terra é fruto, portanto, das diferenças de atuação no jogo de ações e reações estabelecidas entre a superfície terrestre (subsolo, relevo e solo), a hidrosfera (oceanos, rios e lagos) e a atmosfera. A repartição da vida vegetal e animal (e, nesta, a dos homens) sobre a superfície terrestre é altamente condicionada pelos terrenos, pelos climas e pelas águas, recursos naturais imprescindíveis à vida. A intensidade de troca de energia e matéria ao longo do tempo e do espaço é, em última análise, a responsável pela diversidade fisionômica dos ambientes naturais, pela sua dinâmica de maior ou menor velocidade e pela maior ou menor riqueza de vida animal e vegetal na face deste planeta. [...]
ROSS, Jurandyr L. Sanches (Org.). Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 1995. p. 17-18.
Responda no caderno
▸ As transformações constantes da superfície da Terra e a diversidade fisionômica dos ambientes naturais são fruto da atuação antagônica de duas forças ou de duas fontes energéticas. Quais são essas forças e como atuam?
Responda no caderno
1. Observe as fotos a seguir e explique o processo erosivo predominante em cada uma das paisagens representadas.
©iStockphoto.com/SteveFrid
©Shutterstock/CraigBurrows
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©iStockphoto.com/agustavop
Vista do vale do rio Yellowstone, nos Estados Unidos, em 2015.
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Deserto do Saara, em vista de trecho no Marrocos, em 2014.
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Vista de geleiras no monte Branco, na França, em 2015.
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2. O texto a seguir aborda um problema presente no território brasileiro: a erosão do litoral. Leia-o com atenção e, em seguida, responda às questões.
Erosão do litoral pernambucano
No litoral de Pernambuco, a erosão marinha é um problema verificado em aproximadamente 1/3 das praias. Os fatores que contribuem decisivamente para este processo são vários. Em algumas praias, é produto direto das intervenções antrópicas, seja por ocupação das áreas adjacentes à praia (impermeabilização dos cordões marinhos arenosos holocênicos) e até das pós-praias, como é o caso particular da praia de Boa Viagem (zona metropolitana do Recife) e do litoral de Olinda e de Paulista, seja pela construção de estruturas rígidas artificiais de proteção contra o processo erosivo, muitas vezes implantadas sem conhecimento técnico.
Outras praias apresentam instalação de processo erosivo devido a alterações no suprimento sedimentar da praia, em alguns casos por fatores predominantemente naturais [...]. Os melhores exemplos são as praias de Serrambi, Tamandaré e Guadalupe. [...]
Dentre as causas citadas que contribuem para o processo erosivo, a interferência antrópica é a mais atuante, na medida em que acelera o referido processo, não dando chance para que as variáveis naturais encontrem o seu equilíbrio; porém, não é a única.
É muito difícil qualificar e quantificar cada um dos fatores que interagem no balanço sedimentar de uma praia, portanto é indispensável um trabalho de monitoramento que contemple: perfis de praia com a determinação dos parâmetros da onda (altura, período e ângulo de incidência), [...] das correntes e da granulometria dos sedimentos que a formam.
MUEHE, Dieter (Org.). Erosão e progradação do litoral brasileiro. Brasília: MMA, 2006. p. 189-190.
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