memória.
(Eugénio de Andrade)
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Capítulo 7
O QUE É MESMO A
INFORMATIVIDADE DO TEXTO?
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Com o título "A informatividade do texto", este trabalho foi publicado na revista Arte e Comunicação, do Centro de Artes e Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco, em 1994.
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1. Em que consiste?
Fazer do texto objeto de análise é uma tarefa que supõe paradigmas mais amplos que aqueles definidos pelas descrições da gramática tradicional, normalmente focalizados em questões morfológicas e sintáticas. A relevância da linguística de texto decorre exatamente das propostas de ampliação desses paradigmas e das categorias a serem vistas como ponto de investigação. Para além das regularidades léxico-gramaticais com que se constroem os textos, encontram-se, e de forma igualmente pertinente, outros fatores que constituem critérios da adequação, da qualidade e da relevância de nossas atuações verbais.
Um desses fatores é, sem dúvida, a informatividade, uma propriedade que diz respeito ao grau de novidade, de imprevisibilidade que a compreensão de um texto comporta.
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Uma observação: mais adiante, veremos como certos textos de algumas de nossas transações sociais, por razões práticas, apresentam-se com o mesmo conteúdo e, por vezes, sob a mesma forma.
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Em princípio, todo texto traz algum elemento de novidade. Ninguém fala para dizer o óbvio, ou o que o outro já sabe. Há sempre algo de novo, seja na forma - a maneira ou os recursos com que dizemos -, seja no conteúdo - informações, dados, ideias que expressamos.
O texto, portanto, comporta algum grau de imprevisibilidade, na dependência, é claro, daquele mesmo grau de novidade com que se apresenta. Consequentemente, o interesse que o discurso pode suscitar no interlocutor decorre desse maior ou menor grau de imprevisibilidade. Dizer o que o outro já sabe, a priori, não provoca nenhum interesse. Dispomo-nos a ouvir, a interagir com o outro na expectativa de que algo de interessante - quer dizer, de 'novo' (pelo menos naquele contexto) - nos vá ser dito.
Esse grau de interesse - causado pela novidade da informação - é que determina, por sua vez, a relevância do discurso, ou seja, seu teor de pertinência, diante do que nos dispomos a cooperar ativamente, ouvindo ou lendo cada trecho do que nos é dito.
Quando o discurso nos parece muito pertinente, não o queremos perder e, facilmente, consentimos em "prestar-lhe toda a atenção". Ocorre que um discurso é tanto mais pertinente quanto mais ele acrescenta; esclarece; informa; amplia nosso repertório; atende nossas aspirações estéticas; nossas representações simbólicas; satisfaz nossas necessidades de contato; nosso desejo do lúdico, do ameno etc.
Daí por que nem todo discurso tem o mesmo grau de relevância, ou seja, de informatividade, ou seja, de interesse. Nem poderia ter, pois as situações sociais em que as interações têm vez são diferentes, os propósitos com que interagimos são diferentes, as necessidades de comunicação são diferentes.
Na verdade, decidir pela maior ou menor informatividade é uma questão contextual, pragmática e saber fazê-lo representa uma habilidade comunicativa de grande apreço. A adequação de um texto à cena de sua ocorrência implica também administrar o grau de informatividade que o discurso terá.
Parece-nos de grande interesse, portanto, trazer esse tema da informatividade para reflexão, até porque, na prática pedagógica da avaliação dos textos dos alunos, essa propriedade não tem sido levada em conta na medida em que deveria ocorrer. Em geral, - sabemos de experiência própria
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- avaliar os textos dos alunos era, na verdade, uma tarefa de corrigir os erros de ortografia e de gramática, contando esses erros para cálculo da nota final. Pouco se prestava atenção na relevância do que era dito, por mais que as coisas ditas parecessem "obviedades gritantes". Se estavam bem escritas, ortograficamente, é claro, passavam. Assim... não crescia em nós a competência para dizer aquilo que precisa ser dito, porque traz algum elemento de novidade e de interesse para nosso interlocutor.
2. Mas... um texto tem sempre
o mesmo grau de informatividade?
Quando um texto é mais, ou menos, relevante do ponto de vista das informações novas que traz?
Segundo Beaugrande (1980, p. 103) e Beaugrande & Dressler (1981, p. 39), a informatividade não concerne apenas ao princípio de que um texto tem um conteúdo, tem uma mensagem (como se costuma dizer na escola) e é, portanto, informativo.
No sentido definido por esses autores, a informatividade concerne ao grau de novidade e de imprevisibilidade que esse conteúdo ou a forma sob que se expressa assumem. Concerne, ainda, ao efeito interpretativo que o caráter inesperado de tais novidades e variedades produz.
A informatividade, nesse sentido, está relacionada com o grau maior ou menor do que é, co-textual e contextualmente, previsível para o conjunto de determinada atualização verbal. Ou seja, quanto mais um texto se realiza dentro dos padrões estabelecidos (padrões formais e padrões de conteúdo), sem variações, sem imprevisibilidades, menos informativo ele é. O grau de informatividade é avaliado, portanto, na proporção das novidades de conteúdo e deforma que ele apresenta. Portanto: mais novidade, mais informatividade.
Assim, o cálculo é feito com base no seguinte critério:
- quanto mais têm lugar ocorrências imprevisíveis, tanto mais alto é o teor de informatividade do texto.
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Tais imprevisibilidades, é natural, não são absolutas, no sentido de que cada falante pode, à revelia de qualquer norma, organizar os dados linguísticos de suas atuações verbais conforme lhe apraz. Limitam-se, essas imprevisibilidades, à condição de que as produções verbais em que aparecem devem ser funcionais, inteligíveis e socialmente pertinentes.
Recorrer a tais imprevisibilidades é, pois, indício de uma habilidade comunicativa do sujeito para adequar o aparato linguístico, no seu contingente formal ou semântico, às condições da situação comunicativa. É, ainda, indício de que se sabe discernir sobre como se afastar das previsibilidades estimáveis para determinado texto, em ordem a conferir-lhe um caráter funcional, de singularidade ou até de estranheza, em função de algum propósito particular.
As previsibilidades aqui consideradas explicam-se pela própria dinâmica da interação, que tem seus padrões, impostos e propostos, que acabam por estabelecer-se como 'modelos', como 'esquemas', como 'regularidades'.
Por essa prática reiterada é que são construídas expectativas sobre aquilo que constitui a realização padronizada de determinada atuação sociocomunicativa. Não sem fundamento, portanto, elaboramos modelos, a partir dos quais se levantam previsões e se calculam probabilidades de realização, de interpretação e de funcionamento dessas atuações.
A informatividade tem a ver com esses modelos, com essas previsibilidades, tanto no âmbito do conteúdo quanto no outro da forma.
3. De onde provêm as previsões que fazemos para nossas interações?
Beaugrande & Dressler (1981, p. 146-150) apontam uma série de fatores que atuam como fontes destas expectativas que subjazem à prática da interação verbal.
Entre tais fontes, esses autores enumeram:
a) a organização do "mundo real", em cujos fatos e consequentes crenças uma determinada sociedade se apóia para a construção de seu "modelo
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de mundo" — (a construção do "mundo textual" tem sua principal fonte e seu ponto de orientação no modelo de mundo, aceito e em circulação pela comunidade);
b) a organização léxico-gramatical do sistema linguístico em atividade;
c) a "estrutura de informação das sentenças", pela qual se organiza a distribuição dos conteúdos considerados "novos" ou já introduzidos anteriormente;
d) o tipo e o gênero de texto em uso;
e) o contexto imediato onde o texto se insere e circula.
Todo esse complexo conjunto de fatores - reitero - atua como base para as previsões que se nutrem acerca do modo de ocorrência de determinada interação verbal. Pode-se concluir, então, que a informatividade é uma questão complexa, com muitas ramificações e desdobramentos.
Qualquer fuga a qualquer uma das previsões autorizadas por aqueles fatores tem o caráter de inesperado, de quebra da regularidade provável e, desta forma, preenche o papel de elemento catalisador da atenção e do interesse do interpretante.
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Na verdade, frente aos outros, esperamos que tenha sentido aquilo que eles nos dizem, ou seja, esteja de acordo com o fluxo normal das coisas no mundo; esperamos que as coisas sejam ditas dentro dos padrões lexicais e gramaticais de nossa língua, esperamos que as informações, entre novas e velhas, se organizem nas frases; esperamos que o texto esteja conforme o tipo e o gênero de texto requisitado, conforme o contexto em que estamos. Ou seja, há uma regularidade, bem estabelecida, que é, por isso mesmo, esperada, presumida. Quebrar essa regularidade, de alguma forma, afeta o grau de informatividade do texto.
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4. Que diferentes graus de informatividade podem ser reconhecidos nos textos?
Apoiados na aceitação desse princípio da fuga ou não às regularidades previstas, Beaugrande (1980: p. 105-112) e Beaugrande & Dressler (1981 p. 141-146) avançam na definição dos "graus de informatividade", cuja escala global compreende três ordens. Vejamos.
4.1. Numa primeira ordem de informatividade, situam-se as ocorrências com o grau máximo de previsibilidade e, em razão disso, de processamento
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interpretativo mais fácil. A "estabilidade" prevista, a partir do conjunto de fatores atrás mencionados, é mantida, é preservada. Não há descontinuidades, nem rupturas, nem discrepâncias, nem surpresas. A atenção do destinatário é, nessas condições, requisitada em proporções muito reduzidas. Podemos lembrar, como exemplo de textos dessa primeira ordem de informatividade, aqueles que servem de sinais para o trânsito de veículos e pedestres.
Na verdade, em textos do tipo: PROIBIDO ESTACIONAR, ou outros semelhantes (DESVIO À ESQUERDA, REDUZA A VELOCIDADE, CURVA PERIGOSA), há o máximo de previsibilidade porque há, simultaneamente, o mínimo de alternativas para o preenchimento adequado das expectativas interpretativas levantadas.
Isto é, não existem muitas hipóteses de interpretação para esses textos. Praticamente, todos "acertam" na sua interpretação, todos compreendem o mesmo, quer dizer, todos aqueles que partilham as mesmas experiências de vida, o que, mais uma vez, põe em evidência a relevância dos elementos contextuais da atividade verbal. Condições de ordem pragmática restringem o número das hipóteses interpretativas e fazem convergir - oportunamente - para outros níveis a atenção imediata do destinatário da interação comunicativa. Por conta daquele conhecimento partilhado, qualquer um reconhece o sentido atribuível aqui à palavra estacionar, por exemplo, e qualquer um sabe que coisa não pode ficar estacionada; mais: todos sabem, mesmo sem qualquer indicação linguística, que o lugar no qual não se pode estacionar é aquele em que a placa está exposta.
Com base no contexto de uso desses textos, um contexto, de certa forma, inteiramente inalterado, a escolha interpretativa se reduz, sempre, a uma única alternativa, de maneira que a polivalência interpretativa é afastada por inteiro. Na verdade, a elaboração de outras hipóteses interpretativas ocuparia a atenção do leitor, o que seria inadequado para esse momento, que exige outros cálculos e cuidados.
Esta primeira ordem de informatividade está sempre presente em qualquer texto, pois qualquer ocorrência representa a rejeição da "não- ocorrência como uma alternativa".
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Contudo, a primeira ordem de informatividade não constitui nem a única nem a forma padrão. Textos dessa natureza, reduzidos ao mínimo, com grande parte de seus componentes informacionais não explicitados, constituem um modelo atípico e requisitam situações altamente especiais de utilização. A inalterabilidade que caracteriza esses textos contribui, inclusive, para o natural desgaste de sua força comunicativa, embora constitua também uma das condições de sua funcionalidade.
Pode-se ver, portanto, que há contextos sociais em que o uso de textos com um grau mínimo de informatividade se impõe como a realização mais adequada e com possibilidades de maior sucesso comunicativo.
4.2. A essa primeira ordem de informatividade, quase integralmente estável, segue-se uma segunda, caracterizada como uma ordem média, em que aquelas expectativas atrás referidas realizam-se em proporções que medeiam os extremos da ordem anterior - da ampla previsibilidade - e aqueles da ordem seguinte, a terceira, de baixa previsibilidade. Por isso mesmo, uma ordem média.
No nível dessa segunda ordem, situa-se a maior parte das atividades verbais - orais e escritas - das pessoas. É natural que haja, por parte do sujeito interlocutor, o cuidado para encontrar o equilíbrio no recurso à imprevisibilidade, até mesmo por fidelidade àquele "princípio de cooperação", que Grice (1975) postula existir entre os parceiros da comunicação. Conforme se viu, ocorrências de primeira ordem, apesar de serem adequadas às condições de algumas situações, são pouco instigadoras do interesse e da atenção do receptor, além de restringirem-se a usos e contextos demasiado específicos, de tal forma que não podem estender-se à generalidade da interação verbal.
O mais comum é que transitemos entre uma primeira e uma terceira ordem, numa espécie de jogo entre o mínimo e o máximo, conforme pareça apropriado a cada situação. A propósito, vale lembrar o que prevê a receita popular: "Nem tanto ao mar nem tanto à terra", em vistas ao equilíbrio do meio. Sempre, é claro, na dependência das condições da interação.
4.3. Uma terceira ordem de informatividade concerne àquelas situações em que predominam as imprevisibilidades, as quebras de padrão, as irregularidades, afinal. Em linhas gerais, poderíamos lembrar que estão
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nessa ordem de informatividade os textos da teorização ou da exposição científica, as produções da literatura, as reflexões mais complexas, os relatórios especializados, as peças judiciais, para citar apenas esses.
Os destinatários de tais discursos já esperam deparar-se com imprevisibilidades, com "novidades", de conteúdo ou de forma. Mas, na suposição de que é mantida a intenção da comunicação coesa e coerente, tentam descobrir o que motivou tais imprevisibilidades, tentam interpretá-las e conferir sentido à interação.
É evidente que, por esse viés, as imprevisibilidades em causa diferem daquelas que poderiam ocorrer por inabilidade comunicativa de alguns. Pelo contrário, a excentricidade que responde pela elevação do teor informativo dos textos resulta da competência do sujeito para manipular, de forma inusitada, as virtualidades da língua, o valor imagético das palavras, a maleabilidade dos recursos e dos procedimentos estilísticos.
Vejamos, por exemplo, a excentricidade, a "novidade" do que é dito neste poema de Manoel de Barros:
RETRATO DO ARTISTA QUANDO COISA
A menina apareceu grávida de um gavião.
Veio falou para a mãe: o gavião me desmoçou.
A mãe disse: Você vai parir uma árvore para
A gente comer goiaba nela.
E comeram goiaba.
Naquele tempo de dantes não havia limites
para ser.
Se a gente encostava em ser ave ganhava o
poder de alçar.
Se a gente falasse a partir de um córrego
A gente pegava murmúrios.
Não havia comportamento de estar.
Urubus conversavam sobre auroras.
Pessoas viravam árvore.
Pedras viravam rouxinóis.
Depois veio a ordem das coisas e as pedras
Têm que rolar seu destino de pedra para o resto
dos tempos.
Só as palavras não foram castigadas com
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a ordem natural das coisas.
As palavras continuam com seus deslimites,
nas suas conchas puras?
(Manoel de Barros. Retrato do artista quando coisa.
Rio de Janeiro: Record, 1989, p. 77).
Pode-se ver, com clareza, quanta regularidade foi quebrada nesse poema, quanto cuidado interpretativo tem que ser despendido para que sejam captadas as significações aí expressas (sobretudo aquelas simbólicas)!
4.4. Em suma, a essas diferentes ordens estão relacionados os graus de informatividade de um texto, a qual, reitero, ocorre numa proporção inversa. Por outras palavras, a informatividade eleva-se à medida que diminui a previsibilidade de ocorrência dos elementos.
Nessa linha de consideração, quero chamar a atenção para a relevância informativa das unidades lexicais em confronto com as unidades gramaticais. Em geral, as chamadas "palavras de conteúdo" (substantivos, adjetivos e verbos, sobretudo) são textualmente mais significativas que as "palavras de função" (artigos, preposições, conjunções, advérbios, sobretudo). No entanto, vale a pena sublinhar também que o distanciamento dessa regularidade é suscetível de conferir um maior grau de informatividade. Haja vista, por exemplo, o uso de palavras de função onde ordinariamente seria previsível o uso de palavras de conteúdo lexical, como se pode ver no poema ao lado:
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EMBORA SONETO
Vivo meu porém
No encontro do
todavia
Sou mas.
Contudo
Encho-me de ainda
Na espera do quando
Desando ou desbundo.
Viver é apesar
Amar é a despeito
Ser é não obstante.
Destarte
Sou outrossim
Ilusão, sem embargo
Malgrado senão.
(Paulo Alberto M. M. de Barros. 1986).
Naturalmente, os textos com um grau mais elevado de informatividade, graças ao maior afastamento das produções típicas, ganham mais interesse e envolvem maior empenho interpretativo das pessoas. Por outro lado, preenchem, também, usos muito particulares, tais como aqueles dos textos teóricos ou dos textos poéticos. Daí por que é no âmbito daquela segunda ordem de informatividade que acontece o contingente maior de nossas atuações verbais.
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De qualquer forma, a previsão mais geral é de que "todo texto é, pelo menos, um tanto informativo", uma vez que existe sempre a possibilidade de recorrer a um conteúdo ou a uma forma não inteiramente prevista.
É natural que haja, por parte do interlocutor, alguma motivação para a adoção de padrões de conteúdo ou de expressão não-convencionais e que, nessas circunstâncias, entrem em ponderação os recursos que a língua ou outros sistemas sígnicos oferecem.
Conforme a situação, indicações, mais ou menos explícitas, devem ser oferecidas para que a "nova" organização da mensagem seja não apenas entendida, mas, pelo contrário, ganhe, por esse caráter inesperado, um maior interesse ou uma maior força persuasiva (se for o caso).
Na sequência desse conjunto de considerações, podemos ver que a informatividade exerce um significativo controle sobre a seleção das palavras e de outros recursos, bem como sobre o arranjo que esses recursos vão assumir na organização do discurso.
Não quero deixar passar a oportunidade de ressaltar, mais uma vez, que a seleção do que dizer e de como fazê-lo é motivada por princípios muito mais gerais que a simples padronização prevista pela gramática da língua enquanto sistema normativo. Isso implica admitir que a gramática, se é necessária, é também insuficiente. Ninguém eleva o padrão de informatividade de um texto apoiando-se, pura e simplesmente, em gramática, muito menos em nomenclatura gramatical.
4.5. Alguma observação também poderia ser sumariamente avançada aqui no tocante à relação entre a informatividade - nas suas diferentes ordens e graus - e a atividade jornalística.
Parece admissível que, por um lado, a contingência em que se incluem os jornais, como "meios de comunicação de massa", orienta-os, na sua grande generalidade, para formas de realização moderada, cabíveis numa segunda ordem de informatividade. Por outro lado, também parece razoável esperar que a atividade jornalística tenda a quebrar a predominância absoluta desta segunda ordem em direção a padrões menos previsíveis, com o intuito de por em elevação o grau de novidade e, dessa forma, suscitar e manter o interesse dos leitores, na dependência, obviamente, do complexo conjunto de fatores contextuais. Reconheço que há jornais mais especializados, restritos a um determinado público, e que, por isso mesmo,
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fogem ao trivial da notícia simples ou do comentário superficial. O importante é que o jornal, qualquer que seja ele, procure adequar-se às expectativas de seu público e seja, assim, "informativo" na medida certa.
5. Que relações tem a informatividade do texto com a coesão e a coerência?
A informatividade pode assumir uma grande significação em relação à coesão exatamente pelo fato de que essa propriedade constitui um dos mecanismos prováveis da organização do texto. É justo admitir-se, pois, que a forma mais ou menos padronizada de realização da coesão terá influência na graduação informativa do texto. Ou seja, igual a qualquer outra expectativa, supõe-se que as previsibilidades da coesão também podem ser intencionalmente quebradas, ou atenuadas, em ordem à elevação do grau de informatividade que se intenta conseguir. É certo que um texto, com um padrão novo de organização coesiva, exerça sobre o interlocutor um maior grau de interesse. A novidade desperta. É mais facilmente perceptível.
A relação entre a informatividade, a coesão e a coerência sobressai, ainda, quando se leva em conta o equilíbrio que um texto deve apresentar entre dois pontos opostos:
- a manutenção de um "ponto de orientação", de um eixo de convergência - o que nos mantém concentrados em um foco e nos prende a um mesmo tópico discursivo;
- e, ancorado nesse eixo de convergência, a saída para o novo, para o não-sabido, para o inédito - o que propicia a elevação do grau de informatividade.
A competência relevante que se espera do interlocutor que está com a palavra é que ele saiba conseguir esse equilíbrio e garantir para o discurso, simultaneamente, a âncora na informação "já conhecida" e o movimento para o novo, para o ainda "não sabido".
Um exemplo a partir do qual poderíamos ponderar sobre essa questão da informatividade é um texto em que Millôr Fernandes simula uma descrição, didática talvez, do Brasil.
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Vejamos o texto:
O BRASIL (DESCRIÇÃO FÍSICA E POLÍTICA)
O Brasil é um país maior do que os menores e menor do que os maiores. É um país grande, porque, medida sua extensão, verifica-se que não é pequeno. Divide-se em três zonas climatéricas absolutamente distintas: a primeira, a segunda e a terceira. Sendo que a segunda fica entre a primeira e a terceira. As montanhas são consideravelmente mais altas que as planícies, estando sempre acima do nível do mar. Há muitas diferenças entre as várias regiões geográficas do país, mas a mais importante é a principal. Na agricultura faz-se exclusivamente o cultivo de produtos vegetais, enquanto a pecuária especializa-se na criação de gado. A população é toda baseada no elemento humano, sendo que, as pessoas não nascidas no país são, sem exceção, estrangeiras. Na indústria fabricam-se produtos industriais, sobretudo iguais e semelhantes, sem deixar-se de lado os diferentes. No campo da exploração dos minérios o país tem uma posição só inferior aos que lhe estão acima, sendo, porém, muito maior produtor do que todos os países que não atingiram o seu nível. Pode-se mesmo dizer que, excetuando-se seus concorrentes, é o único produtor de minérios no mundo inteiro. Tão privilegiada é hoje, enfim a situação do país, que os cientistas procuram apenas descobrir o que não está descoberto, deixando para a indústria tudo que já foi aprovado como industrializável e para o comércio tudo que é vendável. Na arte também não há ciência, reservando-se essa atividade exclusivamente para os artistas. Quanto aos escritores, são recrutados geralmente entre os intelectuais. É, enfim, o País do Futuro, sendo que este se aproxima a cada dia que passa.
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