A biblioteca secreta de John Dee
Astrólogo, matemático, espião, mago e escritor, John Dee nasceu na Inglaterra em 1527 e morreu em 1608. Foi sem dúvida um dos personagens mais encantadores de sua época, repleta de homens e mulheres excepcionais. Era irascível, impulsivo, perspicaz e não perdeu a oportunidade de cair nas graças das rainhas Maria Tudor e Elizabeth I. Convenceu ambas de seus poderes sobrenaturais e nenhuma delas saía do palácio sem consultar o horóscopo indecifrável que este curioso mestre fazia para elas.
Viajou por diferentes regiões da Europa, onde aprendeu os segredos mais delicados da alquimia. De noite e de dia, lia sem parar a Esteganografia do abade Tritheme. Em 1581 conheceu Edward Talbott (1555-1597), um farsante logo apelidado de Kelly, e conseguiu impressioná-lo quando lhe mostrou como podia falar com os mortos. Kelly espalhou o boato de que ele e Dee podiam transformar chumbo em ouro e ambos tiveram a sorte de ser recebidos em todas as cortes. A sociedade se manteve em bons termos durante anos, mas um dia Dee escutou Kelly dizer que tivera um sonho no qual um ser superior lhe revelava que a esposa de Dee devia ser compartilhada com seu amigo, e o temperamento filantrópico e sempre bondoso de Dee se azedou, como era de se esperar. De qualquer forma, quando abandonou Kelly, não sabia se ele seduzira sua mulher e, pior ainda, deu-se conta do enorme descrédito em que caíra devido às mentiras de tão incrível personagem.
A rainha Elizabeth admirava Dee, e não só o perdoou como o encarregou de missões que nem sequer seus colaboradores mais íntimos chegaram a conhecer. Entre outras coisas, Dee levou para seu país os primeiros globos terrestres de Mercator, contribuiu para a primeira tradução dos Elementos, de Euclides, e escreveu um livro misterioso intitulado A manada hieroglífica.
Durante uma de suas viagens, sua casa, em Mortlake, foi atacada por uma turba supersticiosa, e quando regressou, em 1589, viu que a biblioteca, uma das mais completas sobre textos esotéricos, havia sido saqueada.
Não há consenso sobre o número de livros dessa biblioteca, onde, diga-se de passagem, havia também instrumentos científicos matemáticos, como um quadrante feito por Richard Chancellor, globos de Mercator, compassos, um relógio fabricado por um especialista de sobrenome Dibbley, ímãs e mapas. A estimativa mais considerada assinalou: "A partir das principais fontes ou particularmente do catálogo de 1583 sabemos que as estantes de Dee guardavam entre três mil e quatro mil títulos, que representavam virtualmente cada aspecto do conhecimento clássico, medieval e do Renascimento. A biblioteca era especialmente rica em manuscritos científicos e históricos, e seus textos herméticos, marítimos, artísticos, paracelsianos e semíticos atraíram durante muito tempo a atenção dos estudiosos. A aspiração de um conhecimento total que caracterizou Dee e outros estudiosos do Renascimento foi a força que esteve por trás da forma de sua coleção.
Uma parte dos livros desapareceu e outra, com os anos, dispersou-se em diversas bibliotecas da Inglaterra. Acredita-se que alguns desses livros foram queimados no incêndio de Londres de 1666.
O novo rei, Jacob I, não quis ajudar Dee e ele terminou seus dias na pobreza e no esquecimento. Alguns atribuíram sua queda à relação com Kelly, e outros aos terríveis segredos revelados em seus escritos. Muito tempo depois de sua morte, foi publicado um livro seu, em 1659, Um verdadeiro e fiel relato do ocorrido entre o doutor John Dee e alguns espíritos, no qual o mago descreveu suas conversas com seres de outra dimensão, conseguidas por intermédio de uma pedra negra de antracito. Esses seres se puseram em contato com ele interessados numa aproximação proveitosa. Um dado relevante: viajavam pelo tempo e não pelo espaço.
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