Língua Portuguesa volume 1



Yüklə 3,8 Mb.
səhifə18/45
tarix27.12.2018
ölçüsü3,8 Mb.
#87469
1   ...   14   15   16   17   18   19   20   21   ...   45
introducao/o-que-sao-terras-indigenas>. Acesso em: 14 abr. 2016.
A seguir há uma entrevista com o professor e antropólogo Tonico Benites, que também é um líder guarani-kaiowá.

Índios que vivem em reservas estão confinados, diz líder guarani-kaiowá

Paula Bianchi — Do UOL, no Rio — 23/11/2015 06h00

Ao menos 390 indígenas foram assassinados entre 2003 e 2014 no Mato Grosso do Sul, segundo relatório do Cimi (Conselho Indigenista Missionário). O número de assassinatos é mais que a soma dos índios mortos em todo o resto do país no mesmo período (364). Para o antropólogo e professor Tonico Benites, no entanto, essa é apenas a face mais cruel da luta pela terra no Estado.



Para Benites, as reservas criadas pelo governo são locais de “confinamento”. Guarani-kaiowá nascido na aldeia Sassoró, em Tacuru (MS) e pós-doutorando em antropologia pelo Museu Nacional da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), ele já foi ameaçado de morte quando fazia pesquisas na região e vê na expulsão dos índios de suas terras para essas áreas a raiz dos conflitos. A única solução, defende, é a devolução de parte do território do Estado para os indígenas.

1. UOL — Qual a situação dos povos indígenas no Mato Grosso do Sul?

Tonico Benites — O Mato Grosso do Sul tem a segunda maior população indígena do Brasil [em primeiro lugar vem o Amazonas]. São 77 mil indígenas, cerca de 47 mil apenas guarani-kaiowá, concentrados no sul do Estado, na fronteira com o Paraguai. O principal problema é a disputa pela terra, que já é demandada há muito tempo. Frente à demora na regularização dos territórios, os indígenas reocuparam uma parte.

2. UOL — Os indígenas reclamam mais terras?

Tonico Benites — Diferente de outros lugares como o Xingu, que é de fato uma terra indígena, com mais de 2 milhões de hectares, onde os povos indígenas nunca foram expulsos, os indígenas do MS perderam o seu espaço e foram colocados em pequenas áreas de terra, as reservas. As áreas em que os indígenas estavam foram consideradas terras de ninguém, espaços devolutos, o que está na raiz de todos os conflitos. 
3. UOL —Qual o problema das reservas?

Tonico Benites — A reserva faz parte da política indigenista, que se centrou mais no sul do país. O Estado achava que os indígenas estavam muito dispersos, que precisavam ser organizados. Eles eram retirados das terras onde já viviam, o tekoha, e colocados nas reservas, sempre criadas perto das cidades, então vilarejos, e das rodovias. Era também uma forma de civilizar e integrar. A reserva acaba sendo um lugar escolhido e governado pelo Estado para proteger os indígenas, mas ao mesmo tempo serve para liberar a terra em que eles já estavam.

4. UOL — O que seria o tekoha?

Tonico Benites — Tekoha em guarani tem vários significados. É o meu modo de viver, pensar, entender, circular. Os povos indígenas têm uma relação muito forte de pertencimento. Ao contrário da ideia de propriedade, quando o espaço pertence a você, no caso dos guaranis você pertence à terra. Mas a esse lugar específico, onde estavam os seus antepassados, onde morreram, foram enterrados, não a qualquer lugar. Eu amo essa terra, essa terra me ama. Fora desse lugar eu não me sinto bem, fico desvinculado.[...]

5. UOL — Como você vê a PEC 215 (Proposta de Emenda à Constituição que altera as regras para a demarcação de terras indígenas, de remanescentes de comunidades quilombolas e de reservas florestais)?

Tonico Benites — A PEC quer retirar o poder de regulamentar uma terra indígena do Executivo e passar para o Legislativo, o que significa o fim da regularização. O Poder Legislativo tem muitos fazendeiros, gente com interesse em explorar essas áreas. Nem se trata de dificultar, mas de acabar com a remarcação de terras no Brasil. Seriam os representantes dos fazendeiros que

Indígena guarani-kaiowá, do Mato Grosso do Sul. Foto de 2015.

iriam falar se é terra indígena ou não. A Constituição Federal de 1988 foi aprovada pelo próprio povo brasileiro depois de um grande movimento de redemocratização. Ao mexer nesse texto, a PEC não ataca só os indígenas, mas toda a população. Mas os indígenas não estão mais sós. Há movimentos contra a proposta em todos os cantos. Estudantes, jovens, professores... 

6. UOL — Há um interesse econômico nas terras demandadas pelos indígenas?

Tonico Benites — Fica muito claro que a terra indígena tem muitos recursos, importantes para a preservação, mas também madeira, ouro, entre outros, que geram interesse. Se o Mato Grosso do Sul tivesse sido demarcado, como o Xingu, hoje você veria de fato lá o mato grosso, a floresta preservada. Teriam 600 mil hectares de floresta protegida. O que a gente vê hoje? Cabeceiras dos rios destruídas, água poluída, erosão por todos os lados. E isso não atinge só os indígenas, mas toda a população. Se você chega em uma área recuperada pelos guaranis, nessa terra indígena, que é bem diferente da reserva, você encontra floresta na beira do rio, uma vegetação densa. Muitos criticam, dizem que antes havia soja, plantações. Mas o indígena está deixando o espaço descansar, fazendo o reflorestamento natural.

7. UOL — Como você vê a CPI do Genocídio?

Tonico Benites — Se realmente for levada a sério, essa CPI vai revelar a forma como aconteceu essa retirada forçada dos indígenas de suas terras, que é parte do genocídio. Você está na sua casa, sempre viveu lá, tem seu espaço, seu rio para pescar, a floresta, a roça, e, de repente, falam, “agora você tem que sair daqui e ir para a reserva”. As famílias não conseguem mais organizar suas formas de vida, ficam vulneráveis, instáveis. Culturas morrem. Têm terras que o governo vendeu, mas não reconhece. O fazendeiro vai à Justiça e mostra que comprou e pagou e ele também tem razão.

8. UOL — E qual seria a solução para o conflito no Estado?

Tonico Benites — O movimento indígena deixou muito claro desde os anos 1980 que a solução passa pela devolução dos espaços de terra. Os indígenas que vivem em suas áreas originais não pedem nada a ninguém. Já os índios nas reservas, nas beiras das estradas, não vivem assim. A terra tem uma figura de reorganização, reorganiza a família, a comunidade. Falam que a demarcação ia inviabilizar todo o progresso, também é mentira. O Mato Grosso tem 2 milhões de hectares demarcados no Xingu e isso não atrapalha o Estado. É uma terra demandada desde os anos 1980, identificada nos anos 1990, com relatórios publicados nos anos 2000, em estudo oficial. Geralmente a mídia fala, “índio invadiu fazenda” como se fosse do nada. Mas existe uma história. Toda a área que hoje é demandada à Justiça autorizou a perícia. Resolver essa parte da terra é bom para todos.

©Tonico Benites

Tonico Benites, nome de registro formal de Avá Verá Arandú, um dos líderes do povo guarani-kaiowá, no Mato Grosso do Sul, e pós-graduando no Museu Nacional da UFRJ. Fotografia de 2016.

XINGU. Disponível em:


Yüklə 3,8 Mb.

Dostları ilə paylaş:
1   ...   14   15   16   17   18   19   20   21   ...   45




Verilənlər bazası müəlliflik hüququ ilə müdafiə olunur ©muhaz.org 2024
rəhbərliyinə müraciət

gir | qeydiyyatdan keç
    Ana səhifə


yükləyin