Português: contexto, interlocução e sentido


Os rumos da prosa brasileira contemporânea



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Os rumos da prosa brasileira contemporânea

Um painel da produção ficcional brasileira contemporânea exige que se trate do conto, da crônica e do romance. É o que apresentamos a seguir, destacando algumas das principais temáticas em cada um desses gêneros narrativos.



O conto

Talvez motivados pela agitação e rapidez características da realidade em que vivem, muitos escritores brasileiros contemporâneos têm optado pelo conto. Uma explicação possível para essa preferência é a maior facilidade de, em textos curtos, explorar a semelhança entre a literatura e a notícia, tratando de situações anedóticas, que interessam mais ao leitor atual.

Outro aspecto importante verificado nesses textos é o desejo de levar ainda mais adiante a liberdade criadora conquistada pelos modernistas. As experimentações são tantas que chegam a comprometer a existência do enredo e impedir a narração continuada.

A vida urbana: violência, frustração e anonimato

Os temas desenvolvidos pela ficção em prosa, além de continuarem tendências já observadas na ficção brasileira, incorporaram elementos do coti diano urbano contemporâneo, como a violência.

A fragmentação dos elementos da narrativa ajuda a enfatizar problemas psicológicos, religiosos, filosóficos e morais, exacerbados pela vida nos grandes centros urbanos. Observe o exemplo abaixo, em que, apesar da extrema concisão, o leitor pode reconstruir toda a angústia da situação narrada.

O Senhor conhece um tipo azarado? Esse sou eu. Em janeiro bati o carro, não tinha seguro. Depois roubam o toca-fitas, nem era meu. Vendi os bancos para um colega e recebo só a metade. Em março, despedido da firma onde trabalhei sete anos. Empresto o último dinheirinho a outro amigo, que não me paga. Vou a um bailão, não danço e acabo apanhando.

TREVISAN, Dalton. 111 Ais. Porto Alegre: L&PM, 2000. p. 47. (Fragmento).

Entre os contistas mais conhecidos e consagrados cuja obra desenvolve essa temática, destacam-se João Antônio, Dalton Trevisan, Sérgio Sant’Anna, Ricardo Ramos, Luiz Vilela, Domingos Pellegrini Jr., Inácio de Loyola Brandão e Rubem Fonseca.

Dentre os autores mais novos, Luiz Ruffato conquistou a crítica e faz sucesso entre os leitores com contos que abordam a vida urbana a partir da perspectiva do homem


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comum, anônimo. Seu primeiro livro, Eles eram muitos cavalos, venceu os prêmios APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) e Machado de Assis e foi considerado uma das dez melhores obras de ficção da primeira década do século XXI pelo jornal O Globo.

Nesse livro, o leitor é apresentado à polifonia urbana de São Paulo por meio de 69 episódios que registram como foi o dia 9 de maio de 2000 na vida de pessoas anônimas. Explorando diferentes estruturas (poesia, música, prosa, discurso publicitário, teatro), Eles eram muitos cavalos mostra o movimento da megalópole que deixa para trás um rastro de pessoas e vidas facilmente esquecidas. Observe o trecho abaixo, do episódio 8.

8. Era um garoto

é um jesuscristinho ali assim deitado nem parece uma criança os longos cabelos louros cavanhaque antigos olhos castanhos um jesuscristinho estampa comprada num domingo de sol na feira da praça da república um garoto experimentando inconformado o vai-um das coisas um garoto formidável craque em matemática e física e química que manjava bem de português e cursava o advanced na cultura inglesa um menino maravilhoso músculos enformados no taekwondo um garoto adorável empurrando o carrinho de compras da mãe no pão de açúcar achando graça da mania dela de demorar-se entre as gôndolas calculadora somando e subtraindo e multiplicando e dividindo até tropicar nos números e irritada não mais conferir preço peso data de validade e após empilhar tudo nos armários sentarem-se exaustos na sala para ver o jornal nacional equilibrando o prato com a sobra do almoço na palma das mãos os pés apoiados na mesa-de-centro e nesses momentos acreditava-se em sintonia com um algo superior em harmonia com as forças positivas do universo e até perdoava aquele que a abandonara uma criança por criar preciso de um tempo e o jesuscristinho encorpando a ausência da figura paterna será que isso vai causar algum problema na cabeça dele [...]

RUFFATO, Luiz. Eles eram muitos cavalos. 11. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 19-20. (Fragmento).

No trecho, várias vozes se sobrepõem (narrador, mãe, pai), ecoando o caos da cidade e desafiando o leitor a reconhecer uma situação bastante familiar e recorrente no mundo contemporâneo: as inseguranças e dificuldades de uma mãe que, de repente, se vê sozinha com um filho para criar.

O maravilhoso explode no realismo fantástico

Uma vertente nova que surgiu na prosa contemporânea foi o realismo fantástico, que tematiza a tensão dos limites entre o possível e o impossível, entre o real e o sobrenatural. Aqui no Brasil a vertente fantástica foi trabalhada com maestria pelo mineiro Murilo Rubião e por J. J. Veiga. Os contos do gaúcho Moacyr Scliar também se aproximam dessa vertente, não por tratar diretamente do sobrenatural, mas por adotar o insólito, o pouco comum, como eixo narrativo.

Nos contos desses autores, o extraordinário surge em meio à vida cotidiana, como se dela fizesse parte. Em O centauro no jardim (1980), de Moacyr Scliar, por exemplo, um menino nasce centauro e é isolado do mundo pelos pais. Nesse conto, o fantástico permite refletir a respeito do estranhamento causado pelo diferente em uma sociedade em que tudo é massificado.

A ficção intimista: encontros e desencontros, vida e morte

Os dramas do relacionamento amoroso e do sofrimento gerado pelas desilusões também são expostos, contando com a cumplicidade do leitor para preencher todos os vazios que o narrador se recusa a explicar.

Olha, estou escrevendo só pra dizer que se você tivesse telefonado hoje eu ia dizer tanta, mas tanta coisa. Talvez mesmo conseguisse dizer tudo aquilo que escondo desde o começo, um pouco por timidez, por vergonha, por falta de oportunidade, mas principalmente porque todos me dizem sempre que sou demais precipitado, que coloco em palavras todo meu processo mental (processo mental: é exatamente assim que eles dizem, e eu acho engraçado) e que isso assusta as pessoas, e que é preciso disfarçar, jogar, esconder, mentir. Eu não queria que fosse assim. Eu queria que tudo fosse muito mais limpo e muito mais claro, mas eles não me deixam, você não me deixa. [...]

ABREU, Caio Fernando. Carta para além do muro. In: Caio 3D – o essencial da década de 1970. Rio de Janeiro: Agir, 2005. p. 249. (Fragmento).

Além de Caio Fernando Abreu, Lygia Fagundes Telles, Autran Dourado, Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Luiz Vilela, Heloisa Seixas são alguns dos nomes de destaque na produção dos textos de ficção introspectiva e reflexiva da literatura brasileira contemporânea.



A crônica

Transitando entre o conto e a notícia, a crônica é um gênero narrativo muito popular na literatura contemporânea.

A crônica dá ao escritor uma liberdade muito grande, porque parte de um acontecimento cotidiano que desperta a sensibilidade do cronista e o leva à reflexão. Por esse motivo, ela pode ser lírica, memorialista, política, social, policial, esportiva.

Gênero de forte tradição na literatura brasileira, desenvolvido por grandes romancistas como Machado de Assis e José de Alencar, ou poetas como Drummond e Bandeira, a crônica conta com espaço fixo nos principais jornais do país. Rubem Braga, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos e Fernando Sabino foram alguns dos nomes que ajudaram a manter vivo o prestígio do gênero.


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Entre os cronistas contemporâneos em atividade, alguns nomes merecem destaque pela legião de leitores que conquistaram: Carlos Heitor Cony, Luis Fernando Verissimo e Martha Medeiros.

Analisando aspectos da vida social e política brasileira, Cony transformou a crônica em um espaço que combina reflexão e denúncia. Luis Fernando Verissimo, por sua vez, adotou a ironia e o humor como bases para desencadear o processo analítico da realidade. Muitos dos textos que escreveu foram transformados em roteiros e adaptados para programas humorísticos de televisão, como Comédias da vida privada e Amor Verissimo.

A escritora Martha Medeiros faz parte da novíssima geração de cronistas gaúchos e conquista legiões de leitores interessados em suas reflexões sobre os relacionamentos amorosos. Em comum com Verissimo, a autora tem a capacidade de expor o ridículo de alguns comportamentos humanos.



O romance

Talvez o romance seja o gênero ficcional em que a literatura brasileira tenha se mantido mais conservadora, embora seja possível identificar alguns experimentalismos. O desejo de conquistar um maior número de leitores estimulou a produção de gêneros mais populares, como a narrativa ficcional, a policial e a de ficção científica, que convivem com outras vertentes preexistentes.

Os romances regionais

Herdeiros de uma forte tradição no romance brasileiro, alguns escritores contemporâneos deram prosseguimento às narrativas regionais. Um dos mais conhecidos nessa vertente é João Ubaldo Ribeiro. Seus romances combinam a abordagem regional à reconstituição histórica, como é o caso de Viva o povo brasileiro. Márcio Souza, Mário Palmério, Bernardo Élis e José Cândido de Carvalho são alguns dos outros nomes associados a essa tendência.

Romances autobiográficos: entre a memória pessoal e a denúncia

O crítico Antonio Candido afirma que o acontecimento literário mais importante de 1972 foi a publicação do romance Baú de ossos, do mineiro Pedro Nava, que estreava na ficção aos 70 anos de idade. O romance é claramente autobiográfico, mas sua elaboração estética fez com que o gênero alcançasse o status de criação artística, superando a classificação como um relato da história pessoal.

Ainda nos anos 1970, muitos testemunhos dos dramas vividos por quem enfrentou a ditadura militar começaram a surgir. Vários autores, conscientes da necessidade de levar aos leitores um outro lado da história política recente do país, participaram desse processo: Renato Tapajós, Alfredo Sirkis, Fernando Gabeira e Marcelo Rubens Paiva.

De olho no filme

Atenção: este filme contém cenas de violência.

A luta pelo fim da ditadura

Baseado no livro de memórias de Fernando Gabeira, com roteiro de Leopoldo Serran, é a história de um grupo de jovens que, na época da ditadura militar, sequestra o embaixador norte-americano no Brasil para pressionar o governo a atender a suas exigências.

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Cena do filme O que é isso, companheiro?, de Bruno Barreto. Brasil, 1997.

JÚLIO GUIMARÃES/AGÊNCIA O GLOBO

Memória e história na prosa de ficção

Na linha da ficção memorialista, de forte tradição entre os escritores brasileiros, alguns romances abordaram história e política, enquanto outros vasculharam a vida familiar, recuperando tempos, traçando painéis de épocas diversas.

Antonio Callado merece destaque especial com Quarup, romance monumental em que o autor traça um amplo panorama político e social do Brasil desde fins da era Vargas até o período da ditadura militar.

Ivan Ângelo também recria o período mais violento do governo militar e da repressão no romance A festa, que trata da guerrilha urbana.

Ficção e história também se misturam em Agosto, de Rubem Fonseca, romance que reconstrói os últimos dias de Getúlio Vargas no poder. Adaptado para a televisão, Agosto foi uma minissérie de grande sucesso.

Em Quase memória, Carlos Heitor Cony parte de um fato estranho — um misterioso embrulho é entregue ao escritor, com seu nome escrito com a letra do pai, morto há 10 anos — para recriar o passado familiar. O Rio de Janeiro das décadas de 1940 e 1950 é o pano de fundo desse romance, que vendeu mais de 400 mil exemplares, em uma clara demonstração de que o público se identificou com a linguagem poética que dá vida a um passado ameno.

Entre os autores mais atuais, dois nomes sobressaem pela qualidade literária dos romances que criaram: Milton Hatoum e Raduan Nassar. Ambos combinam a reconstrução de um passado familiar às influências das origens libanesas.

Por volta de 1914, Galib inaugurou o restaurante Biblos no térreo da casa. O almoço era servido às onze, comida simples, mas com sabor raro. Ele mesmo, o viúvo Galib, cozinhava, ajudava a servir e cultivava a horta, cobrindo-a com um véu
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de tule para evitar o sol abrasador. [...] Desde a inauguração, o Biblos foi um ponto de encontro de imigrantes libaneses, sírios e judeus marroquinos que moravam na praça Nossa Senhora dos Remédios e nos quarteirões que a rodeavam. Falavam português misturado com árabe, francês e espanhol, e dessa algaravia surgiam histórias que se cruzavam, vidas em trânsito, um vaivém de vozes que contavam um pouco de tudo: um naufrágio, a febre negra num povoado do rio Purus, uma trapaça, um incesto, lembranças remotas e o mais recente: uma dor ainda viva, uma paixão ainda acesa, a perda coberta de luto, a esperança de que os caloteiros saldassem as dívidas. [...]

HATOUM, Milton. Dois irmãos. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. p. 36. (Fragmento).

O espaço urbano: a narrativa intimista e o romance policial

Muitos escritores contemporâneos desenvolvem uma temática mais intimista, às vezes associada a um olhar memorialista, às vezes contaminada pelas pressões do espaço urbano. Lygia Fagundes Telles, Lya Luft e Nélida Piñon são algumas das vozes femininas que se destacam nessa abordagem. Entre as vozes masculinas, Chico Buarque de Hollanda surpreendeu, no início da década de 1990. Músico consagrado, mostrou que o talento para criar belas canções se estendia ao romance. Desse talento nasceram Estorvo, Benjamim eBudapeste.

Vida e morte, velhice, os incômodos diários enfrentados pelas pessoas também são objeto de interesse para os escritores contemporâneos. Em Fim, romance de estreia que surpreendeu pela qualidade, a atriz Fernanda Torres acompanha a trajetória de cinco amigos cariocas: Álvaro, Sílvio, Ribeiro, Neto e Ciro. Entre cenas do presente e lembranças que evocam um passado em que seus corpos tinham mais vitalidade, o leitor mergulha na história das suas vidas e das suas muitas frustrações com os obstáculos cotidianos.

Não faz muito tempo, ir da minha casa até o consultório do Mattos, Mattos é o meu clínico geral, me custava dez minutos a pé. Hoje, levo quarenta. Andar deixou de ser um ato inconsciente. Vigio os passos, os joelhos, mantenho a atenção na rota. Tudo dói, pelas razões mais diversas, todas condizentes com a velhice. O Mattos me mandou para mais de dez especialistas. Um quer operar a catarata, o outro, a vesícula, todos me entopem de remédios. O dr. Rudolf acha que minhas veias já não seguram a pressão do sangue, planeja meter canículas na femoral, na aorta. Fico quieto, finjo que não estão falando comigo. São uns neuróticos esses médicos, vaidosos, brutais. Queria ver um deles encarar a faca.

TORRES, Fernanda. Fim. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 15. (Fragmento).

O foco narrativo em primeira pessoa nos leva a acompanhar os passos lentos de Álvaro e nos ajuda a entender como o processo de envelhecimento e a aproximação da morte desencadeiam sentimentos que vão da revolta à resignação, passando pela melancolia e pelo medo.

Explorando uma linha completamente diversa da intimista, autores como Luiz Alfredo Garcia-Roza, Patrícia Melo e Jô Soares deram um forte impulso ao romance policial urbano. Esses autores começaram a criar na literatura brasileira contemporânea uma tradição que já era explorada há muito tempo pelos autores de língua inglesa com grande sucesso.



TEXTO PARA ANÁLISE

A caçada

Neste conto, a personagem não entende sua fascinação por uma tapeçaria de uma loja de antiguidades e, muito menos, a sensação de familiaridade que tem com a cena retratada.

[...]


Ele então voltou-se lentamente para a tapeçaria que tomava toda a parede no fundo da loja. Aproximou-se mais. A velha aproximou-se também.

— Já vi que o senhor se interessa mesmo é por isso. Pena que esteja nesse estado.

O homem estendeu a mão até a tapeçaria, mas não chegou a tocá-la.

— Parece que hoje está mais nítida... [...]

O homem acendeu um cigarro. Sua mão tremia. Em que tempo, meu Deus! em que tempo teria assistido a essa mesma cena. E onde?...

Era uma caçada. No primeiro plano, estava o caçador de arco retesado, apontando para uma touceira espessa. Num plano mais profundo, o segundo caçador espreitava por entre as árvores do bosque, mas esta era apenas uma vaga silhueta, cujo rosto se reduzira a um esmaecido contorno. Poderoso, absoluto era o primeiro caçador, a barba violenta como um bolo de serpentes, os músculos tensos, à espera de que a caça levantasse para desferir-lhe a seta. [...]



Retesado: esticado.
Touceira: moita.
Espreitava: vigiava, espiava, tocaiava.
Esmaecido: desbotado, sem cor.
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Quando? Percorrera aquela mesma vereda, aspirara aquele mesmo vapor que baixava denso do céu verde... Ou subia do chão? O caçador de barba encaracolada parecia sorrir perversamente embuçado. Teria sido esse caçador? Ou o companheiro lá adiante, o homem sem cara espiando por entre as árvores? Uma personagem de tapeçaria. Mas qual? Fixou a touceira onde a caça estava escondida. Só folhas, só silêncio e folhas empastadas na sombra. Mas detrás das folhas, através das manchas pressentia o vulto arquejante da caça. Compadeceu-se daquele ser em pânico, à espera de uma oportunidade para prosseguir fugindo. Tão próxima a morte! O mais leve movimento que fizesse, e a seta... [...]

E se tivesse sido o pintor que fez o quadro? Quase todas as tapeçarias eram reproduções de quadros, pois não eram? Pintara o quadro original e por isso podia reproduzir, de olhos fechados, toda a cena nas suas minúcias: o contorno das árvores, o céu sombrio, o caçador de barba esgrouvinhada, só músculos e nervos apontando para a touceira. “Mas se detesto caçadas! Por que tenho que estar aí dentro?” [...]

Saiu de cabeça baixa, as mãos cerradas no fundo dos bolsos. Parou meio ofegante na esquina. [...] “Que loucura!... E não estou louco”, concluiu num sorriso desamparado. Seria uma solução fácil. [...]

Quando chegou em casa, atirou-se de bruços na cama e ficou de olhos escancarados, fundidos na escuridão. [...]

Haveria de destruí-la, não era verdade que além daquele trapo detestável havia alguma coisa mais, tudo não passava de um retângulo de pano sustentado pela poeira. Bastava soprá-la, soprá-la!

Encontrou a velha na porta da loja. [...]

— [...] Pode entrar, pode entrar, o senhor conhece o caminho...

“Conheço o caminho” — repetiu, seguindo lívido por entre os móveis. Parou. Dilatou as narinas. [...] Lançou em volta um olhar esgazeado: penetrara na tapeçaria, estava dentro do bosque, os pés pesados de lama, os cabelos empastados de orvalho. Em redor, tudo parado. Estático. [...] Era o caçador? Ou a caça? Não importava, não importava, sabia apenas que tinha que prosseguir correndo sem parar por entre as árvores, caçando ou sendo caçado. Ou sendo caçado?... Comprimiu as palmas das mãos contra a cara esbraseada, enxugou no punho da camisa o suor que lhe escorria pelo pescoço. Vertia sangue o lábio gretado.

Abriu a boca. E lembrou-se. Gritou e mergulhou numa touceira. Ouviu o assobio da seta varando a folhagem, a dor!

“Não...” — gemeu, de joelhos. Tentou ainda agarrar-se à tapeçaria. E rolou encolhido, as mãos apertando o coração.

TELLES, Lygia Fagundes. Antes do baile verde: contos. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. p. 61-66. (Fragmento).



Embuçado: disfarçado, oculto, escondido.
Gretado: rachado.

1. No conto de Lygia Fagundes Telles (1923-), o protagonista se impressiona com a cena que vê na tapeçaria. Que cena é essa?

a) Como é caracterizado o primeiro caçador?

b) Por que o protagonista se impressiona com a tapeçaria?

2. À medida que o conto se desenrola, a cena vai ganhando contornos mais nítidos para o protagonista e suas dúvidas aumentam. O que faz com que se fortaleça nele a impressão de já ter participado da cena?

a) Qual é a dúvida que atormenta essa personagem?

b) Qual o argumento empregado pelo protagonista para negar a hipótese de ter sido o pintor do quadro que teria dado origem à tapeçaria?

c) Para que outra reflexão esse mesmo argumento serve de base?

3. Que aspectos o texto ressalta daquilo que o protagonista vê retratado na touceira onde estaria escondida a caça?

a) De que maneira os aspectos destacados contri buem para dar maior realismo à sensação do protagonista de fazer parte da cena?

b) O que sente o protagonista ao imaginar a caça acuada na moita?

c) O que as frases “Tão próxima a morte! O mais leve movimento que fizesse, e a seta...” sugerem sobre o destino da presa? De que maneira a organização das frases e sua pontuação contribuem para garantir esse efeito?

d) Explique de que maneira a relação do protagonista com a tela é sugerida pelas impressões do homem a respeito dos caçadores e da presa e pelo argumento empregado por ele para justificar por que não deveria estar em uma cena de caçada.

4. Não conseguindo se livrar das imagens da tapeçaria e das sensações que ela provoca, o protagonista retorna à loja. Qual o seu objetivo ao retornar?

a) O que acontece no momento em que ele se coloca diante da cena outra vez?

b) Transcreva no caderno o trecho em que o protagonista se dá conta do motivo por que tem tanta familiaridade com a cena retratada.

c) No último parágrafo, dois espaços e dois momentos estão mesclados. Quais são eles? Justifique.

5. A dona da loja, quando o homem retorna, diz que ele pode entrar, pois já “conhece o caminho”. Considerando a repetição dessa expressão pela personagem e o desfecho do conto, que sentidos ela tem? Explique.

Literatura e contexto histórico

O indivíduo pós-moderno, em geral, é solitário, inseguro e não tem certezas em que se apoiar. A vida causa-lhe medo, pois não sabe qual é o seu papel. Relacione esse estado de espírito às informações sobre o contexto histórico apresentadas neste capítulo e no anterior e à sua própria experiência como indivíduo do século XXI.
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O novo lirismo português

Se a prosa ficcional portuguesa contemporânea assumiu um olhar crítico para sérias questões como as guerras coloniais e a ditadura, na poesia o que se observa é uma multiplicação de temas e formas que cria um ambiente de absoluta liberdade criativa.

A partir de meados da década de 1960, o experimentalismo formal domina a poesia portuguesa. Autores como E. M. de Melo e Castro, Ana Hatherly e Herberto Helder são nomes de destaque no movimento, que expandiu os limites do texto e chegou a incorporar recursos das artes visuais, produzindo alguns objetos híbridos de poesia e pintura. Também é evidente a influência do Surrealismo no modo como alguns poetas percebem a realidade. Observe.

[Não toques nos objectos imediatos]

Não toques nos objectos imediatos.


A harmonia queima.
Por mais leve que seja um bule ou uma chávena,
são loucos todos os objectos.
Uma jarra com um crisântemo transparente
tem um tremor oculto.
É terrível no escuro.
Mesmo o seu nome, só a medo o podes dizer.
A boca fica em chaga.

HELDER, Herberto. In: ANDRADE, Eugénio de. Antologia pessoal da poesia portuguesa. Porto: Campo das Letras, 1999. p. 521.



Sophia de Mello: a essência revelada

Ao lado do experimentalismo formal, também surgiram poetas que revisitaram temas fundamentais da identidade portuguesa, como é o caso de Sophia de Mello Breyner Andresen. A obra dessa autora prima por explorar ao máximo a possibilidade de promover o casamento entre a palavra (verbum) e a coisa (res).

Para Sophia, a poesia é o espaço da investigação e da revelação da essência, em um processo contínuo de desocultação por meio das palavras. É na natureza que os sentimentos e as emoções humanas ganham sentido e, por isso, é também ali que devemos procurar a nossa essência.

Inicial

O mar azul e branco e as luzidias


Pedras — O arfado espaço
Onde o que está lavado se relava
Para o rito do espanto e do começo
Onde sou a mim mesma devolvida
Em sal espuma e concha regressada
À praia inicial da minha vida.

ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner. Dual. Obra poética III. 4. ed. Lisboa: Caminho, 1999. p. 134.



Gonçalo Tavares: uma voz para o século XXI

Reconhecido como um fenômeno literário, Gonçalo M. Tavares é um jovem escritor que, em apenas cinco anos, conquistou importantes prêmios literários portugueses. Sua primeira obra, Livro da dança, foi publicada em 2001 e, de lá para cá, surgiram romances, peças de teatro, pequenas ficções e livros de poesia, em um total de 22 títulos. Ao entregar ao escritor o prêmio José Saramago pelo romance Jerusalém, livro que investiga os limites entre a loucura e a razão, Saramago desabafou: “Gonçalo M. Tavares não tem o direito de escrever tão bem apenas aos 35 anos: dá vontade de lhe bater!”.

Sua produção lírica traz a marca dos grandes poetas, capazes de revelar, de modo inesperado, a transcendência de coisas, gestos e pequenos acontecimentos que sequer costumam ser percebidos pelas pessoas. Sem recorrer a formas poéticas tradicionais, Gonçalo Tavares nos desafia a olhar para o mundo que nos cerca e a compreender o sentido profundo das coisas.

Chão

Não há limite que não seja por ele suportado.


Suporta todo o cansaço. Traições, fadiga, falhanços.
Aconteça o que acontecer tens um corpo que pesa;
e um chão, mudo, imóvel, que não desaparece.

TAVARES, Gonçalo M. Homenagem. 1. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. p. 113.



Falhanços: fracassos, derrotas.

Feliz quem recebe um único estilhaço do optimismo (neutro) dos astros. De cima nunca veio um exemplo medíocre. E um poeta funciona como uma sentinela: pressente aquilo que é forte.

TAVARES, Gonçalo M. Livro das investigações claras. 1. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. p. 196.

E assim, cumprindo a sina de pressentir aquilo que é forte, Gonçalo M. Tavares se anuncia como a voz que introduz a poesia portuguesa no século XXI.



Lirismo e experimentação na poesia brasileira contemporânea

Depois de toda a exploração dos sons, formas e signos visuais feita pelos concretistas e seus seguidores, a poesia brasileira viveu anos agitados a partir da década de 1970. Hoje, como acontece com a prosa, abriga poetas de tendências muito distintas. A seguir, conheceremos um pouco melhor o retrato da poesia brasileira contemporânea.


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Tropicália: “seja marginal, seja herói”

Como vimos no Capítulo 3 deste volume, a Tropicália retomou os princípios estéticos dos manifestos Pau-brasil e Antropófago para criar obras que revelassem o caldo cultural (nacional e estrangeiro) em que foram concebidas. Os “olhos cheios de cores”, cantados por Caetano, são um tributo a Oswald de Andrade, que afirmava: “os casebres de açafrão e ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos”.

Para acentuar ainda mais o diálogo entre a produção nacional e a cultura universal, os tropicalistas abraçaram os meios de comunicação como poderosos aliados na divulgação da sua arte.

Caetano Veloso, Capinan, Gilberto Gil, Tom Zé, Torquato Neto e outros investiram no sincretismo e misturaram pop e folclore, rock, bossa nova, samba e baião. O resultado, como eles mesmos chamaram, foi a “geleia geral”, que abalou os alicerces da música popular brasileira e, ainda hoje, encanta jovens e influencia compositores.



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Na obra Bólide caixa 18, poema caixa 2 – Homenagem a Cara de Cavalo (1966), Hélio Oiticica constrói um bólide em que o traficante Cara de Cavalo aparece morto de braços abertos. Nos estandartes, a frase “Seja marginal, seja herói” expressa o desejo de denúncia do artista: Cara de Cavalo vivia à margem da sociedade. Mais que isso, era um criminoso, um traficante. Em sua marginalidade, o traficante revolta-se contra a sociedade. Essa revolta social era vista, por Oiticica, como transformadora.

PY BREST - CORTESIA PROJETO HÉLIO OITICICA

A poesia marginal

O clima de experimentação rítmica e musical da Tropicália foi desaguar, na década de 1970, na poesia marginal. Era marginal o modo como os poetas faziam circular sua produção: cópias mimeografadas eram penduradas em “varais”, jogadas do alto de edifícios, distribuídas de mão em mão.

A ideia era “casar” vida e poesia e, como dizia Chacal, um dos grandes nomes dessa produção, “ensinar a poesia a falar”. A poesia marginal adotou como armas da guerrilha lírica a alegria e o humor, mostrando caminhos diferentes para a crise que, além de imobilizar, calava a sociedade brasileira.

Além de Chacal, participaram desse movimento de resistência cultural poetas como Charles, Ronaldo Bastos, Ledusha, Cacaso, Francisco Alvim, Pedro Lage, Luis Olavo Fontes, Afonso Henrique, Glauco Mattoso e Roberto Piva.

Pegando carona na poesia marginal, mas desenvolvendo um caminho mais independente, a poesia plural de Paulo Leminski (1944-1989) permanece como um exemplo do caráter inovador dessa geração.

Sintonia para pressa e presságio

Escrevia no espaço.


Hoje, grafo no tempo,

na pele, na palma, na pétala,


luz do momento.

Soo na dúvida que separa


o silêncio de quem grita

do escândalo que cala,


no tempo, distância, praça,

que a pausa, asa, leva


para ir do percalço ao espasmo.

Eis a voz, eis o deus, eis a fala,


eis que a luz se acendeu na casa

e não cabe mais na sala.

LEMINSKI, Paulo. In: GÓES, Fred; MARINS, Álvaro (Sel.). Melhores poemas de Paulo Leminski. 6. ed. São Paulo: Global, 2002. p. 169.

A guerrilha lírica

Conheça um poema de Chacal, que fez da poesia instrumento de guerrilha lírica.



Poema para ser transfigurado

quem somos


o que queremos
logo logo saberemos

por enquanto


sabemos
que um gesto
uma palavra
pode transformar o mundo

qual deles


qual delas
saberemos já já

esta a missão do artista:


experimentar [...]

CHACAL. In: Boa companhia: poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. p. 125. (Fragmento).


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Tendo se interessado pela obra dos concretistas, Leminski explorou os trocadilhos, flertou com o processo de “palavra puxa palavra” e enveredou pela composição de haicais. a



a Explicar aos alunos que haicai é uma forma poética oriental composta segundo regras muito precisas. Todo haicai deve ser formado por 17 sílabas distribuídas em versos de 5 a 7 sílabas métricas. Também deve conter um termo referente a uma das estações do ano (kigô). Bashô foi, entre os japoneses, um dos mais famosos autores de haicai, e foi a partir da leitura de seus textos que Leminski se apaixonou por essa forma poética.

Outros jovens poetas que surgiram nesse período, como Ana Cristina Cesar, Antônio Cícero, Alice Ruiz, Armando Freitas Filho, Zuca Sardan, também se tornaram importantes referências para a poesia brasileira contemporânea. Entre os novíssimos, destacam-se Eucanaã Ferraz, Frederico Barbosa e Arnaldo Antunes.



A reinvenção da linguagem e o cotidiano redescoberto

Na cena literária brasileira contemporânea, Manuel de Barros fez, com a linguagem poética, algo bastante semelhante ao que Guimarães Rosa fez na prosa. Na sua obra, as palavras renascem ou são reinventadas em novas funções, levadas a construir novas fronteiras para a significação e obrigando-nos a aprender a olhar de um modo diferente para o mundo.



Seis ou treze coisas que eu aprendi sozinho

1

Gravata de urubu não tem cor.


Fincando na sombra um prego ermo, ele nasce.
Luar em cima de casa exorta cachorro.
Em perna de mosca salobra as águas cristalizam.
Besouros não ocupam asas para andar sobre fezes.
Poeta é um ente que lambe as palavras e depois se alucina.
No osso da fala dos loucos há lírios. [...]

BARROS, Manuel de. O guardador de águas. In: Poesia completa. São Paulo: LeYa, 2010. p. 257. (Fragmento).



Ermo: solitário.
Exorta: estimula.

Outro nome a destacar é o da mineira Adélia Prado. Admiradora de Drummond, Adélia segue seus passos na transformação de pequenas situações cotidianas em poemas cujo lirismo é quase palpável e retoma uma tendência inaugurada por outro grande mestre, Manuel Bandeira.



Impressionista

Uma ocasião,


meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo.

PRADO, Adélia. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1999. p. 37. © by Adélia Prado.



TEXTO PARA ANÁLISE

O texto a seguir refere-se às questões de 1 a 4.

Contranarciso

Neste poema, o eu lírico trata da relação entre o “eu” e o outro.

em mim
eu vejo o outro


e outro
e outro
enfim dezenas
trens passando
vagões cheios de gente
centenas

o outro
que há em mim


é você
você
e você

assim como


eu estou em você
eu estou nele
em nós
e só quando
estamos em nós
estamos em paz
mesmo que estejamos a sós

LEMINSKI, Paulo. Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 32.



1. Nas duas primeiras estrofes, o poema trata da constituição da identidade. Como se dá esse processo?

> Que termos ou expressões são usados no poema para caracterizar o processo de construção da identidade?

2. Releia.

“assim como


eu estou em você
eu estou nele
em nós”

> Como esses versos podem ser interpretados, considerando o que é apresentado nas duas primeiras estrofes?

3. Os quatro últimos versos do poema trazem a conclusão da reflexão do eu lírico a respeito do processo de construção do “eu”. Explique.

4. O título do poema faz referência ao mito de Narciso, que é, por extensão, associado ao comportamento de alguns indivíduos. Observe as informações do boxe a seguir.
Página 132

O mito de Narciso tem várias versões, mas a mais conhecida é a apresentada na obra As metamorfoses, do poeta Ovídio. Segundo essa versão, Narciso era um jovem de extrema beleza, filho do deus-rio Céfiso e da ninfa Liríope. Objeto de amor de muitas ninfas e mulheres, Narciso desdenhava o sentimento de todas e acabou punido por sua arrogância, sendo condenado a apaixonar-se pela própria imagem. Na narrativa de Ovídio, o jovem fica encantado com a própria beleza refletida nas águas de um lago no qual vai se refrescar. Incapaz de abandonar a imagem da qual se enamorou, ele definha. Em outras versões do mito, Narciso se afoga ao tentar abraçar o seu reflexo no lago.



a) Considerando as informações sobre o mito e seu conhecimento de mundo, explique que comportamento é esse e em que consiste.

b) De que forma o título do poema e o desenvolvimento dado ao tema nele tratado se relacionam ao mito e a esse comportamento?

Panorama do teatro brasileiro no século XX

O crítico Sábato Magaldi acredita que o teatro brasileiro entrou verdadeiramente no século XX no dia 28 de dezembro de 1943, quando, sob a direção do polonês Ziembinski, a peça Vestido de noiva, de Nelson Rodrigues (1912-1980), estreou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Antes do surgimento de Vestido de noiva, a produção dos dramaturgos brasileiros era pouco significativa. De modo geral, o teatro era ocupado por peças estrangeiras, e os autores nacionais buscavam reproduzir o sucesso dessas produções quando se aventuravam a escrever alguma peça.

A notável exceção a essa regra é O rei da vela, de Oswald de Andrade. Escrita em 1933, a peça era tão avançada para a época que só foi montada em 1967, pelo diretor José Celso Martinez Corrêa.

O protagonista da história é o agiota Abelardo I, burguês que fabrica velas, produto essencial para um país cheio de superstições como o Brasil. Ele se casa com Heloísa de Lesbos, filha de um aristocrata decadente. Por meio da trajetória desse rei da vela, Oswald representa a realidade característica de um país atrasado cultural e economicamente. Explorando abertamente a sexualidade das personagens, a peça O rei da vela pode ser vista como resultado das muitas influências europeias que haviam sido “deglutidas” por Oswald: o futurismo italiano, o expressionismo alemão e a psicanálise freudiana se encontram no palco.

Nelson Rodrigues: um revolucionário

O caráter inovador de Vestido de noiva eleva a qualidade do texto teatral, rompendo definitivamente com a linearidade narrativa da organização cronológica dos enredos. A peça é apresentada em três planos: o da realidade, o da alucinação e o da memória. A divisão do palco em três planos, cada um deles correspondendo a uma parte da história, representou uma inovação estrutural na peça e criatividade no uso da linguagem teatral.

Nelson Rodrigues reduziu a expressão cênica ao seu caráter essencial, com diálogos concisos em que cada palavra mostrava-se imprescindível. Seguindo o lema do poeta, ator e dramaturgo francês Antonin Artaud (1896-1948) — “O teatro foi feito para abrir coletivamente os abscessos” —, partiu da repressão sexual para expor as fístulas de uma sociedade conservadora e moralista que escondia comportamentos amorais.

O conjunto das peças teatrais que escreveu costuma ser organizado em três grupos temáticos.

I. Peças psicológicas: destacam problemas do ser humano como indivíduo e como membro de uma sociedade hipócrita no seio da qual ele é criado e que, por meio de suas ações, acaba por deformar. Ex.: Vestido de noiva, A mulher sem pecado, Valsa nº 6.

II. Peças míticas: tratam dos instintos humanos, da tentativa de compreender as origens de ações e sentimentos. Ex.: Álbum de família, Anjo negro, Doroteia.

III. Tragédias cariocas: enredos criados para desmascarar o egoísmo, a futilidade e a mesquinhez do mundo moderno. Ex.: A falecida, Perdoa-me por me traíres, Os sete gatinhos, Boca de ouro.

Depois da inovação trazida por Vestido de noiva, mais de uma década se passou antes que surgisse algo realmente novo nos palcos brasileiros.



Jorge Andrade e o Brasil rural

Quando A moratória, do dramaturgo paulista Jorge Andrade (1922-1984), estreia em 1955, surpreende. O palco, dividido em dois, mostra, simultaneamente, dois momentos da aristocracia rural brasileira: antes e depois da crise econômica desencadeada pela quebra da bolsa de Nova York. A alternância entre passado e presente dá ao público uma sensação de atemporalidade, porque conflitos sugeridos no presente da ação (1932) só são desenvolvidos no passado (1929), dando a impressão de ser aquele um momento futuro em relação ao presente.



A moratória também significou uma inovação ao trazer para o teatro o Brasil rural, que, a partir de então, começa a aparecer em outras obras teatrais.

Em 1957, surge um outro dramaturgo que dará à sociedade rural um tratamento diferente do proposto por Jorge Andrade. Trata-se de Ariano Suassuna, autor paraibano que funde, na sua obra, tendências aparentemente opostas: o espontâneo e o elaborado, o popular e o erudito.


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O exemplo mais bem-sucedido dessa tendência é a peça Auto da compadecida, em que histórias folclóricas são associadas a manifestações de religiosidade mais profunda. A forma adotada por Suassuna — o auto — também promove a combinação de opostos, porque associa a espontaneidade de um texto coloquial à estrutura quase medieval do teatro vicentino.



Ariano Suassuna: uma voz única emerge do sertão

Autor de clássicos como Auto da compadecida (1955), O santo e a porca (1957), A pena e a lei (1959), Farsa da boa preguiça (1960), o escritor paraibano Ariano Suassuna (1927-2014) trouxe uma linguagem nova para o teatro brasileiro a partir dos anos 1940.

Com uma dramaturgia que bebia da fonte popular sem abrir mão de influências do teatro ibérico clássico (Calderón de La Barca e Gil Vicente), a obra teatral de Suassuna também aproxima a vivência sertaneja da tradição de Shakespeare e Molière.

Embora seja mais conhecido pelas comédias, nas quais criou tipos inesquecíveis como João Grilo e Chicó, de Auto da compadecida, o autor também recuperou a estrutura do auto religioso medieval, em obras como Auto de João da Cruz (1950). Adaptadas para a televisão, algumas de suas peças ganharam vida nova nas mãos de diretores como Guel Arraes e Luiz Fernando Carvalho.



Os conflitos urbanos chegam ao palco

Em São Paulo, o Teatro de Arena trouxe para o palco os problemas sociais decorrentes da industrialização da sociedade brasileira em fins dos anos 1950 e início dos anos 1960.

Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006) é o autor de Eles não usam black-tie (1958), peça em que a vida dos operários explorados e a luta por melhores salários são apresentadas a partir de um ponto de vista marxista. Outro importante autor do Teatro de Arena foi Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974). Juntos, esses dramaturgos vão abraçar a defesa dos explorados e a crítica feroz ao sistema capitalista. Após o início do governo militar, o grupo do Arena incorpora a luta contra a ditadura.

Um jovem autor baiano, que despontou em 1960, foi mais um nome a tratar da temática dos explorados: Dias Gomes (1922-1999), que causa espanto com sua primeira peça — O pagador de promessas. No texto, Zé-do-Burro é um homem honrado, pequeno agricultor, que divide seus sí tios com os lavradores para cumprir parte de uma promessa feita a Santa Bárbara. A segunda parte da promessa — levar uma cruz de madeira por um percurso de sete léguas até a igreja de Santa Bárbara — é frustrada pela ignorância do padre local, que impede a entrada de Zé-do-Burro na igreja.

O motivo da ira do padre estava na origem do compromisso (Zé-do-Burro havia feito a sua promessa a Iansã, divindade do candomblé que, na crendice popular, corresponderia a Santa Bárbara) e na razão da promessa (agradecimento pela cura de Nicolau, um burro). Morto por uma bala perdida em meio ao conflito que se instala na porta da igreja, Zé-do-Burro torna-se um mártir popular e simboliza a força do sincretismo religioso entre os brasileiros.

Vianinha: uma homenagem ao lutador político anônimo

Oduvaldo Vianna Filho, conhecido como Vianinha, produziu sua obra-prima na década de 1970: Rasga coração. É a história de um funcionário público (Manguary Pistolão), ex-militante do Partido Comunista Brasileiro, que vive em conflito com o filho pós-moderno, jovem alienado que se interessa por ioga, macrobiótica e zen-budismo. Constituída de saltos narrativos entre passado e presente, a peça mostra momentos cruciais da história brasileira do século XX. No plano do passado, Revolução de 1930, Revolta da Vacina, luta da militância comunista contra o Estado Novo. No plano do presente, a dificuldade de entendimento entre Manguary e seu filho Luca, em um período marcado pelo desenvolvimentismo de Juscelino Kubitschek, o golpe militar e a censura.

No prefácio da obra, Vianinha declarou seus objetivos: “Rasga coração é uma homenagem ao lutador anônimo político, aos campeões das lutas populares; preito de gratidão à Velha Guarda, à geração que me antecedeu, que foi a que politizou em profundidade a consciência do País. [...] Em segundo lugar, quis fazer uma peça que estudasse as diferenças que existem entre o novo e o revolucionário. O revolucionário nem sempre é novo e o novo nem sempre é revolucionário.”.

Os perdidos de Plínio Marcos

Na década de 1960, talvez a mais rica da dramaturgia nacional, ainda apareceria um outro autor revolucionário: Plínio Marcos (1935-1999). Suas peças Dois perdidos numa noite suja e Navalha na carne trazem os marginalizados para o centro da cena teatral. Seu texto manifesta uma grande indignação contra a hipocrisia da so ciedade brasileira e tem por objetivo desestabilizar a pacata existência burguesa, sem colorido político-partidário.

As comédias de costumes voltam à cena

O silêncio imposto pela censura fez com que o teatro brasileiro enfrentasse tempos de crise. O fim da ditadura militar, no início dos anos 1980, agravou essa crise, porque gerou uma espécie de vazio criativo que era rompido somente por vozes isoladas, como a do grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone.

Enquanto muitos atores encenavam peças de autores estrangeiros, na década de 1970, os membros do Asdrúbal iniciam o teatro experimental, com interpretação mais despojada e incentivando a criação coletiva. Trate-me leão (1977) foi a primeira obra escrita coletivamente, que inovava pela incorporação de passagens improvisadas, além de apresentar os atores sobre um palco sem cenário. Regina Casé e Luiz Fernando Guimarães tornaram-se as estrelas do grupo, sobressaindo por sua ironia e irreverência, além da alta capacidade de improvisação.

Mais recentemente, o teatro do “besteirol” (esquetes criados para explorar situações cômicas da vida cotidiana) tem ajudado a dramaturgia brasileira a cair novamente nas graças do público.


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Peças como Batalha de arroz num ringue para dois, de Mauro Rasi (1949-2003), Como encher um biquíni selvagem, de Miguel Falabella, e Trair e coçar é só começar, de Marcos Caruso, tornaram-se sucesso imediato, lotando centenas de apresentações feitas ao longo dos anos. Algumas dessas peças continuam a ser encenadas.

Embora ainda seja muito frequente a montagem de autores estrangeiros nos palcos nacionais, o teatro brasileiro contemporâneo conta com um impressionante time de autores de textos de alta qualidade dramática e cômica. Entre eles, Juca de Oliveira, Leilah Assunção, Maria Adelaide Amaral, Millôr Fernandes (1923-2012), Walcyr Carrasco, Fernando Bonassi, Naum Alves de Souza. Merece menção também o dramaturgo Mário Bortolotto, diretor do grupo Cemitério de Automóveis, que aborda em seus textos as idiossincrasias e a violência nos grandes centros urbanos.

A teledramaturgia brasileira

Com a chegada da televisão, na década de 1950, muitos dramaturgos nacionais enfrentaram o desafio de escrever textos para o novo veículo de comunicação. Celebrada no mundo inteiro, a telenovela brasileira talvez seja o melhor exemplo do resultado desse esforço. Autores como Dias Gomes, que já haviam conquistado sucesso no teatro, entenderam a linguagem mais ágil do novo veículo e criaram obras inesquecíveis como O bem-amado e Roque Santeiro. Durante os difíceis anos da ditadura militar, as novelas de Janete Clair, esposa de Dias Gomes, ofereciam a dose diária de fantasia que transportava o telespectador brasileiro para uma história em que, por mais difíceis que fossem os obstáculos, tudo terminava bem. Hoje, milhões de fãs continuam a acompanhar as tramas que nascem da imaginação de mestres como Gilberto Braga e Benedito Ruy Barbosa.



TEXTO PARA ANÁLISE

Primeiro ato

a Neste trecho da peça Vestido de noiva, no plano da alucinação, Madame Clessi aparece para Alaíde e as duas têm sua primeira conversa. Alaíde diz à prostituta que leu seu diário e tenta se lembrar por que está ali.

a Comentar com os alunos sobre as características da peça teatral Vestido de noiva. Em três planos (da memória, da alucinação e da realidade), o autor recria a história do casamento e da morte da protagonista, Alaíde, de forma completamente revolucionária. Os planos da memória e da alucinação se passam no subconsciente da jovem, enquanto esta é operada, no plano da realidade, depois de ter sido atropelada nas ruas do Rio de Janeiro. No plano da alucinação, a moça procura por uma prostituta chamada Madame Clessi, antiga dona da casa em que reside e que foi assassinada no início do século por seu namorado, um jovem de 17 anos. A esse plano se mescla o da memória, em que Alaíde tenta recompor os fatos de sua vida.

[...]


([...] Surge na escada uma mulher. Espartilhada, chapéu de plumas. Uma elegância antiquada de 1905. Bela figura. Luz sobre ela.)

[...]


Madame Clessi — Quer falar comigo?

Alaíde (aproximando-se, fascinada) — Quero, sim. Queria...

[...]


Alaíde (excitada) — [...] Meu Deus! Não sei o que é que eu tenho. É uma coisa — não sei. Por que é que eu estou aqui?

Madame Clessi — É a mim que você pergunta?

Alaíde (com volubilidade) — Aconteceu uma coisa, na minha vida, que me fez vir aqui. Quando foi que ouvi seu nome pela primeira vez? (pausa) Estou-me lembrando!

[...]


Alaíde — Me lembrei agora! [...] Foi uma conversa que eu ouvi quando a gente se mudou. No dia mesmo, entre papai e mamãe. Deixe eu me recordar como foi... Já sei! [...]

(Escurece o plano da alucinação. Luz no plano da memória. Aparecem pai e mãe de Alaíde.)

[...]


Mãe — Alaíde e Lúcia morando em casa de Madame Clessi. Com certeza, é no quarto de Alaíde que ela dormia. O melhor da casa!

Pai — Deixa a mulher! Já morreu!

Mãe — Assassinada. O jornal não deu?

Pai — Deu. Eu ainda não sonhava conhecer você. Foi um crime muito falado. Saiu fotografia.

Mãe — No sótão tem retratos dela, uma mala cheia de roupas. Vou mandar botar fogo em tudo.

Pai — Manda.

(Apaga-se o plano da memória. Luz no plano da alucinação.)

Alaíde (preocupada) — Mamãe falou em Lúcia. Mas quem é Lúcia? Não sei. Não me lembro.

Madame Clessi — Então vocês foram morar lá? (nostálgica) A casa deve estar muito velha.

Alaíde — Estava, mas Pedro... (excitada) Agora me lembrei: Pedro. É meu marido! Sou casada. (noutro tom) Mas essa Lúcia, meu Deus! (noutro tom) Eu acho que estou ameaçada de morte! (assustada) [...]

Alaíde (animada) — Pedro mandou reformar tudo, pintar. Ficou nova, a casa. (noutro tom) Ah! eu corri ao sótão, antes que mamãe mandasse queimar tudo!

[...]


Alaíde — Lá vi a mala — com as roupas, as ligas, o espartilho cor-de-rosa. E encontrei o diário. [...]

Clessi (forte)Quer ser como eu, quer?

Alaíde (veemente) — Quero, sim. Quero.

Clessi (exaltada, gritando) — Ter a fama que eu tive. A vida. O dinheiro. E morrer assassinada?

Alaíde (abstrata) — Fui à Biblioteca ler todos os jornais do tempo. Li tudo!

Clessi (transportada) — Botaram cada anúncio sobre o crime! Houve um repórter que escreveu uma coisa muito bonita! [...]

RODRIGUES, Nelson. Vestido de noiva. In: Teatro Completo I: peças psicológicas – Nelson Rodrigues. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981. p. 114-117. (Fragmento).



Espartilhada: usando um espartilho, uma espécie de cinta usada para modelar o corpo feminino.
Volubilidade: inconstância, instabilidade.
Página 135

1. Por apresentar os planos da memória e da alucinação, a peça de Nelson Rodrigues foi considerada revolucionária. Descreva o que acontece em cada um deles no trecho transcrito.

2. Madame Clessi é uma personagem importante na peça. Que características da personagem o trecho que você leu apresenta?

a) Relacione o comentário “Alaíde e Lúcia morando em casa de Madame Clessi” e a decisão da mãe de queimar os objetos que estavam no sótão, e escreva, no caderno, a opinião da mãe a respeito da antiga moradora da casa.

b) Como Alaíde descobriu a existência de Madame Clessi?

c) O que, considerando a caracterização dessa personagem, indica que o diálogo entre ela e Alaíde não pode ter ocorrido no plano da realidade?

d) Os dois planos representam o inconsciente de Alaíde, que está em coma, sendo operada. Considere o que é apresentado em cada um deles e explique por que são denominados plano da alucinação e da memória.

3. Observe a apresentação dos planos no trecho transcrito. Em que ordem aparecem? Explique.

> Esse texto foi escrito para ser encenado. Sendo assim, além do conteúdo dos diálogos, outros elementos contribuem para que o espectador/leitor possa compreender o que está sendo apresentado. Que elementos garantem, no trecho, a identificação da mudança de planos?

4. Releia.

Alaíde (excitada) — [...] Meu Deus! Não sei o que é que eu tenho. É uma coisa — não sei. Por que é que eu estou aqui?

Madame Clessi — É a mim que você pergunta?

Alaíde (com volubilidade) — Aconteceu uma coisa, na minha vida, que me fez vir aqui. Quando foi que ouvi seu nome pela primeira vez? (pausa) Estou-me lembrando!

a) Madame Clessi é a figura que serve de apoio para que Alaíde tente reconstruir, estando em coma, o que aconteceu com ela. De que maneira isso é evidenciado nesse trecho?

b) Ao longo do trecho, alguns fragmentos da vida de Alaíde vão sendo apresentados. O que ficamos sabendo sobre a moça?

c) Madame Clessi é uma “manifestação” do inconsciente de Alaíde. Explique como o papel desempenhado por essa personagem é um dos elementos que permitem classificar essa peça como psicológica.

5. Pelo trecho final, é possível perceber que Madame Clessi simboliza, também, os desejos inconscientes de Alaíde. Transcreva no seu caderno o trecho em que isso fica evidente. Justifique.

Enem e vestibulares

1. (Enem)

Meu povo, meu poema

Meu povo e meu poema crescem juntos


Como cresce no fruto
A árvore nova

No povo meu poema vai nascendo


Como no canavial
Nasce verde o açúcar

No povo meu poema está maduro


Como o sol
Na garganta do futuro

Meu povo em meu poema


Se reflete
Como espiga se funde em terra fértil

Ao povo seu poema aqui devolvo


Menos como quem canta
Do que planta

GULLAR, Ferreira. Toda poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 2000.



O texto “Meu povo, meu poema”, de Ferreira Gullar, foi escrito na década de 1970. Nele, o diálogo com o contexto sociopolítico em que se insere expressa uma voz poética que

a) precisa do povo para produzir seu texto, mas se esquiva de enfrentar as desigualdades sociais.

b) dilui a importância das contingências políticas e sociais na construção de seu universo poético.

c) associa o engajamento político à grandeza do fazer poético, fator de superação da alienação do povo.

d) afirma que a poesia depende do povo, mas esse nem sempre vê a importância daquela nas lutas de classe.

e) reconhece, na identidade entre o povo e a poesia, uma etapa de seu fortalecimento humano e social.

2. (Enem)

O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa era a imagem de um vidro mole que fazia uma volta atrás de casa. Passou um homem depois e disse: Essa volta que o rio faz por trás de sua casa se chama enseada.


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Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que fazia uma volta atrás da casa.

Era uma enseada.

Acho que o nome empobreceu a imagem.

BARROS, Manoel de. O livro das ignorãças. Rio de Janeiro: Record, 2001.

Manoel de Barros desenvolve uma poética singular, marcada por “narrativas alegóricas”, que transparecem nas imagens construídas ao longo do texto. No poema, essa característica aparece representada pelo uso do recurso de

a) resgate de uma imagem da infância, com a cobra de vidro.

b) apropriação do universo poético pelo olhar objetivo.

c) transfiguração do rio em um vidro mole e cobra de vidro.

d) rejeição da imagem de vidro e de cobra no imaginário poético.

e) recorte de elementos como a casa e o rio no subconsciente.

Jogo de ideias: blog literário

Como você viu nesta unidade, o conceito de Pós-Modernismo, embora ainda em discussão, é usado, de modo geral, para fazer referência ao movimento que se inicia no final da década de 1940 para se consolidar nos anos 1960. Viu também que a produção artística do Pós-Modernismo é marcada pela diversidade e gera uma multiplicidade de modos de expressão da realidade.

Para compreender melhor como, na literatura, essa diversidade é revelada pelo grande número de autores com linhas estéticas e gêneros variados, propomos que você e seus colegas, em equipe, criem um blog literário que trate da produção artística do Pós-Modernismo.

1ª etapa: criação do blog literário

> Divisão da sala em grupos. Cada grupo ficará responsável pela seleção de textos e/ou trechos de textos dos autores mais significativos do Pós-Modernismo nas diferentes linhas estéticas e gêneros vistos na unidade (Geração de 1945, Concretismo, Prosa pós-moderna e Tendências contemporâneas).

> Escolha de um ou mais participantes que ficarão responsáveis pela criação e hospedagem do blog em uma plataforma digital. Dentre as opções gratuitas disponíveis para esse fim, destacamos as seguintes:


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