Tempos modernos tempos de sociologia helena bomeny



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. Acesso em: maio 2016.

Sites

Associação Brasileira de Antropologia (ABA): . Acesso em: maio 2016.

Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE/USP): . Acesso em: maio 2016.
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Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE/UFBA): . Acesso em: maio 2016.

Museu Nacional do Rio de Janeiro: . Acesso em: maio 2016.

Museu Antropológico do Rio Grande do Sul: . Acesso em: maio 2016.



Vídeo

Simpósio: perícia antropológica e a defesa dos direitos socioculturais no Brasil. Realizado pela Associação Brasileira de Antropologia, 2008. Duração: 77 min. Disponível em: . Acesso em: maio 2016.

Práticas inter e multidisciplinares no ensino



Cultura e conhecimento por meio de imagens

Todas as sociedades são produtoras de conhecimentos que constituem parte significativa de suas culturas. As sociedades modernas são marcadas fortemente pelo conhecimento científico e desenvolvimento tecnológico. Parte desse conhecimento é ensinada nas escolas. Será que sociedades chamadas “tribais”, “simples”, “primitivas” ou “tradicionais” também desenvolvem conhecimentos matemáticos, físicos, ambientais, químicos, monetários, históricos etc. e os transmitem às novas gerações? Como se produz conhecimento sobre o mundo natural e social nessas culturas?

Sugerimos a elaboração de uma exposição de imagens na escola sobre o tema “Cultura e conhecimento”. Cada grupo de trabalho deve eleger uma sociedade e expor fotografias (e/ou ilustrações) e maquetes (e/ou réplicas) com legendas sobre o conhecimento e as tecnologias que essa sociedade desenvolveu e a que necessidades pretendiam responder. A exposição pode envolver tanto sociedades já extintas quanto culturas vivas. Os objetivos da atividade são relativizar a ideia de que o conhecimento científico é superior a outras formas de conhecimento; contribuir para que os estudantes reconheçam suas especificidades diante de outras formas de saber; e ampliar o conhecimento deles sobre outras culturas.

Antes de propor o desafio à turma, sugerimos que você demonstre, com dois ou três exemplos, o que os alunos deverão pesquisar. Selecione alguns casos e discuta-os com eles.

Você pode realizar essa atividade em parceria com professores de outras áreas, que podem ajudá-lo a identificar formas de conhecimentos relacionados com suas respectivas disciplinas em outras sociedades. Por exemplo, para apresentar como as civilizações antigas resolveram seus desafios relacionados à contagem de mercadorias, de impostos e da população ao desenvolverem instrumentos de cálculo, você pode fazer uma aula coletiva com o professor de Matemática e o de História, levar réplicas ou imagens desses instrumentos e, de forma prática, apontar para a turma os aspectos que devem ser levados em conta na seleção de materiais para a exposição.

Comentários e gabaritos

Leitura complementar

O tema central do texto proposto é o etnocentrismo e como ele se manifesta nos contrastes criados entre a sociedade de quem investiga e a investigada: “Na minha cultura tem e na outra cultura não tem, é escasso, está em falta...”. Assim, cria-se a imagem da alteridade como sociedade “sem alguma coisa”. Essa forma de compreender a diferença predominou nas primeiras fases da Antropologia e foi sendo superada com o desenvolvimento de novas teorias sobre a cultura.

Antes de promover o debate com a turma sobre o texto, sugerimos que sejam feitas a leitura e o esclarecimento das ideias centrais do autor e da linguagem usada por ele. Você pode propor a realização de resumos do texto em grupos de trabalho, para que os alunos troquem impressões entre si.

Sessão de cinema



O enigma de Kaspar Hauser

Os antropólogos costumam dizer que a cultura é a segunda natureza das pessoas. A primeira diz respeito ao aparato biológico que os indivíduos herdam e ao pertencimento a uma espécie animal com determinadas características que as diferem de outras espécies. O aparelho físico humano possibilita o desenvolvimento de capacidades como memória, fala, imaginação, capacidade de produzir o que precisa para sobreviver etc. No entanto, o homo sapiens não desenvolve tais habilidades por instinto. Elas são incorporadas – tornando-se parte de si como se fosse de sua natureza – por meio da socialização e do aprendizado em determinado ambiente cultural.

O filme possibilita discutir a importância da cultura na construção da identidade dos indivíduos e também a capacidade de aprendizagem das pessoas – aprende-se o que a cultura natal ensina, mas também é possível aprender e incorporar novos aspectos originados de outros ambientes culturais.
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Muita terra para pouco índio?

Qual imagem temos hoje das sociedades indígenas brasileiras? Em geral as concepções que circulam são etnocêntricas: seja com base em uma visão idealizada de “pureza cultural” (andam nus, usam arco e flecha, não falam português e não têm contato com a sociedade brasileira ampla), seja considerando esses grupos negativamente (preguiçosos, vivem em mais terras do que precisam, querem ser brancos etc.). O documentário explora ricamente as imagens que a maioria da sociedade brasileira tem dos índios e mostra como integrantes de vários grupos indígenas veem a si mesmos e compreendem sua identidade. Com linguagem clara, o filme possibilita o aprofundamento dos conceitos trabalhados no capítulo.



Construindo seus conhecimentos

Monitorando a aprendizagem

1. a) Von Martius caracterizou os muras como tristes, miseráveis e com baixa tecnologia. As fisionomias, segundo Martius, eram “ferozes, hesitantes, abjetas”, ou seja, de seres desprezíveis. Também descreveu o modo de viver deles como sujo, pobre e animalesco.

b) Sim. Na visão do europeu, os muras eram inferiores porque lhes faltavam recursos, tecnologia, conhecimento. Enfim, eram miseráveis.

c) O etnocentrismo do naturalista consistia em julgar a cultura dos muras tomando a cultura europeia como referência. Ele não compreendia os muras nos termos da sua própria cultura.

2. As correntes evolucionistas entendiam que todas as sociedades tinham origem comum, embora umas estivessem em estágios de desenvolvimento mais avançados do que outras. A sociedade europeia estaria no topo do desenvolvimento, e as sociedades silvícolas nos estágios mais primitivos. Os adeptos do evolucionismo social frequentemente falavam em selvageria, barbárie e civilização como categorias amplas que representariam os estágios de desenvolvimento das sociedades.

3. O relativismo cultural foi uma abordagem desenvolvida por antropólogos no final do século XIX, com o objetivo de compreender a alteridade ou as culturas sem tomar como referencial o grupo social do pesquisador, em geral integrante das sociedades industrializadas ocidentais. Mais do que um princípio, era uma orientação que pautaria o método antropológico da etnografia: ao descrever a cultura que pretendia conhecer, o pesquisador deveria distanciar-se de seus valores, ou seja, estranhar seu mundo “familiar” (sua cultura), relativizando-o, para tornar familiar (compreensível) o mundo que inicialmente lhe parecia “estranho”.

4. Não. No plano cultural, há muitas maneiras de vivenciar a humanidade. Essa multiplicidade de formas de “ser humano” é chamada de diversidade cultural.

5. O método antropológico inicialmente foi desenvolvido para conhecer e compreender as culturas “não ocidentais”. Contudo, os estudos culturais incorporaram cada vez mais a diversidade presente nas sociedades industriais e urbanas. Nesse sentido, a Antropologia tem se dedicado ao estudo tanto de sociedades tradicionais quanto de culturas modernas, urbanas e industriais. Ela contribui para o conhecimento da sociedade brasileira, que é uma sociedade multicultural, formada por muitas subculturas, integradas na comunidade nacional. O conhecimento antropológico pode contribuir para a compreensão da diversidade cultural brasileira, e o conhecimento que ela disponibiliza é útil para promover uma melhor convivência no espaço público entre os diferentes grupos culturais.

De olho no Enem

1. Se a descrição que Pero Vaz de Caminha faz dos nativos parece “isenta” (ou realista) e se ele os chama de “inocentes”, cabe indagar aos alunos em que sentido ele teria sido etnocêntrico. Essa pergunta (ou provocação) deve levar a turma a refletir sobre as imagens construídas acerca dos indígenas (“alteridade”): São inocentes em que sentido? Estão nus em que sentido? Certamente na visão do europeu, que criou a imagem do “bom selvagem” – aquele que vive na “infância da humanidade”. A ideia de nudez também é fortemente marcada pela cultura europeia, que não compreendia que penas, tinturas e adereços feitos de ossos eram as vestimentas dos indígenas.

2. O fragmento de texto mostra o etnocentrismo do ancião tupinambá, que procura compreender o destino dado às madeiras de pau-brasil tomando sua própria cultura como referência. O etnocentrismo nem sempre resulta na depreciação do outro, mas sempre está relacionado à compreensão da alteridade nos termos da própria cultura. Trata-se de um “desentendimento” sobre o outro porque a referência é o próprio grupo.
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3. A tira ironiza a visão de mundo etnocêntrica, que cria categorias e estabelece critérios de classificação nos termos da própria cultura de quem avalia.

4. A questão aborda um tema importante que gerou (e ainda gera) muitos debates. Pode-se falar em pureza cultural? As culturas podem manter-se inalteradas? As culturas passam por transformações, mesmo quando não há fatores externos interferindo – a intensidade das transformações pode variar, mas elas ocorrem. O texto proposto aborda a possibilidade de manter a identidade cultural, ainda que o contato com outros grupos aconteça e provoque mudanças em determinados aspectos da cultura. Essa é uma das questões que a Antropologia tem se colocado na contemporaneidade: o estudo das identidades culturais em um mundo globalizado com intensas trocas culturais.

5. O fragmento propõe um exercício de reflexão que procura explicitar a naturalidade com que aceitamos nossos padrões culturais e como rejeitamos os padrões das outras culturas, ainda que, eventualmente, possam guiar-se por princípios semelhantes aos nossos. O texto sugere que o desafio do exercício da alteridade está relacionado com nossa dificuldade de superar o etnocentrismo.

Assimilando conceitos

1. Antes de os estudantes iniciarem a atividade, sugerimos uma breve troca de impressões sobre a imagem, favorecendo a participação e o entendimento da mensagem que ela pretende comunicar. O Oriente está representado por uma jovem com burca – traje islâmico que, para os ocidentais, está associado ao fundamentalismo religioso e à opressão das mulheres. O Ocidente está representado por uma jovem com os olhos vendados. As duas situações vistas conjuntamente parecem complementares: o que está descoberto em um lado está coberto no outro. Explore outros elementos e mensagens que a imagem comunica.

a) Resposta pessoal. Peça aos alunos que criem subtítulos e os apresentem para os colegas. Ao final dessa etapa, revele o título completo escolhido pelos elaboradores do anúncio: “Oriente e Ocidente: os dois lados da intolerância”.

b) Sim. Nos conflitos culturais, a dificuldade de compreender o ponto de vista do outro geralmente vem acompanhada de repulsa, estigmas e preconceitos. Nesse sentido, ao abordar a intolerância das duas partes, o cartaz faz alusão ao conceito de etnocentrismo.

Observação: os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 não devem ser compreendidos como resultados de um conflito exclusivamente cultural, muito embora tenham se tornado frequentes as interpretações que acentuaram esse aspecto.



Olhares sobre a sociedade

1. O texto proposto mostra que a reflexão relativista não é exclusividade dos antropólogos. Pessoas comuns que vivem em sociedades multiculturais ou mesmo em sociedades relativamente homogêneas podem fazer “bom uso” do relativismo. O mau uso representa a compreensão de que não há certo ou errado (ou moral e ética para orientar a conduta das pessoas). Para o autor, o que importa é pensar e agir em relação ao outro sem construir hierarquias que transformem uns em superiores e outros em inferiores, que discriminem e segreguem o diferente. A proposta do autor é reconhecer a diferença, mas sabendo que todas as culturas e sociedades estão unidas na mesma humanidade.

Estimule os alunos a manifestar seus pontos de vista sobre o texto. Proponha uma questão para orientar o debate, por exemplo: É possível conviver com a diferença sem inferiorizá-la, segregá-la, desumanizá-la ou anulá-la?

Além de abordar essa temática transversal que se volta para a formação da cidadania, sugerimos que você converse com a turma sobre a atual importância do conhecimento antropológico. Seria interessante discutir o papel dos antropólogos na sociedade brasileira: o conhecimento que disponibilizam sobre as sociedades indígenas e colônias de imigrantes por meio das etnografias; a importância dos laudos antropológicos para o reconhecimento das comunidades quilombolas e tradicionais; as pesquisas sobre subculturas urbanas; os estudos sobre gênero e sexualidade etc.

Exercitando a imaginação sociológica

Os dois textos abordam o encontro entre culturas distintas. O primeiro fala sobre a compreensão da alteridade nos termos da própria cultura com base no conceito de etnocentrismo. O segundo discorre sobre uma importante conquista do Ocidente, que foi ter desenvolvido um conhecimento capaz de lançar luz tanto sobre suas próprias contradições quanto sobre os dilemas éticos que enfrenta na atualidade a fim de preservar suas mais profundas convicções. O tema propicia uma reflexão acerca do que foi apresentado no capítulo e de como as questões sobre as quais a Antropologia se debruça estão relacionadas com nossa vida cotidiana.


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O “outro”, que por longo tempo foi compreendido como “pertencente a uma cultura distante geograficamente”, está cada vez mais próximo, dada a intensificação da comunicação e da globalização, que favorecem os intercâmbios culturais. Diante disso, o pensamento relativista e o etnocêntrico também se voltam para a compreensão dos universos culturais (ou para a “alteridade”) que estão a nosso redor.

Capítulo 4: Saber as manhas e a astúcia da política

Orientações gerais

Objetivos

Ao longo das aulas, os alunos deverão:

• identificar os fundamentos do pensamento político moderno;

• perceber questões que mobilizam os cientistas políticos e que são pesquisadas pelas Ciências Sociais no Brasil;

• relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades;

• comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre fatos políticos;

• identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.

Recursos e questões motivadoras

O desenvolvimento da Ciência Política, assim como ocorreu com a Sociologia e a Antropologia, está atrelado às transformações que deram origem às sociedades modernas.

No século XVI foi escrito o primeiro texto moderno sobre a política – O príncipe, de Maquiavel –, que faz uma explanação da política como ela seria na realidade, e não como ela deveria ser. Essa proposta de análise da realidade foi um dos pontos fundamentais para o desenvolvimento posterior das Ciências Sociais. É importante perceber que, antes da constituição de um campo de saber dedicado à dimensão política, houve o desenvolvimento de teorias e ideias políticas que foram centrais para a formação das sociedades modernas, como o contratualismo, o liberalismo, o socialismo, o anarquismo etc. Mas a Ciência Política só veio a constituir-se em disciplina acadêmica no final do século XIX, tal qual a Sociologia e a Antropologia.

Desenvolvendo as aulas

Sugerimos que as aulas partam inicialmente dos conceitos de política e poder, antes de abordar o desenvolvimento da Ciência Política. A apresentação dessa disciplina requer do professor sensibilidade relativa às percepções dos estudantes quanto ao fenômeno político, a saber, o objeto que essa ciência pretende conhecer.

No entanto, política seria partido, eleição, campanha, governo, deputados e corrupção? É importante explorar o conhecimento prévio dos alunos sobre política para, em seguida, problematizar algumas compreensões objetivando construir um novo conhecimento. A política é um fenômeno que está presente nas sociedades humanas. Essa palavra, de origem grega, tem relação com o vocábulo polis (cidade-Estado). Político é aquele que participa das decisões e dos destinos de sua sociedade (seja ela qual for, no tempo e no espaço). Logo, política diz respeito à experiência social e nos remete a pelo menos duas dinâmicas de participação – mandar e obedecer –, que indicam como o poder é organizado em cada sociedade.

A Ciência Política está fortemente relacionada ao estudo das organizações políticas das sociedades modernas, mas política é um fenômeno que envolve todas as sociedades humanas e, por essa razão, antropólogos, arqueólogos, historiadores, filósofos e sociólogos também têm essa dimensão da vida como objeto de estudo. A política é um objeto multidisciplinar por excelência.

Para trabalhar o conceito de política pública, sugerimos que você explore com os alunos a leitura complementar. É importante que compreendam que a vivência política não se restringe ao voto, mas se realiza no dia a dia. É na formulação e implementação de políticas públicas pelos mandatários eleitos que os direitos dos cidadãos são materializados. As políticas públicas podem ter caráter universal ou ser direcionadas a determinadas populações. Essas são chamadas políticas públicas de ação afirmativa, cujo princípio fundamental não é a igualdade, mas equidade, ou seja, “oferecer mais a quem tem menos”. Essa modalidade de política pública não é consensual em sociedades regidas por princípios meritocráticos, pois oferecem “vantagens” a indivíduos que não conseguiriam ocupar determinadas posições se tais políticas não existissem.
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Por outro lado, os defensores das políticas de ação afirmativa procuram mostrar que as oportunidades não são igualmente distribuídas a todos os membros da sociedade, motivo pelo qual entendem que, sem essa interferência política, não é possível romper o ciclo de desigualdades estruturais que atingem determinados grupos da sociedade. No capítulo há dois boxes que mostram essa polêmica com base na “política de cotas” em favor de populações negras para o acesso em universidades públicas. Ao propormos essa discussão, nosso objetivo não é fechar a questão em um dos dois lados, mas oferecer elementos para que os alunos tomem suas posições nesse debate, que cresce cada vez mais no espaço público.

Recursos complementares para o professor

Leitura

BOBBIO, Norberto. Estado, governo, sociedade: para uma teoria geral da política. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

TAYLOR, Charles et al. Multiculturalismo: examinando a política de reconhecimento. Lisboa: Instituto Piaget, 1998.

WEFFORT, Francisco. Formação do pensamento político brasileiro: ideias e personagens. São Paulo: Ática, 2006.

______ (Org.). Os clássicos da política. São Paulo: Ática, 2006. 2 v.

Sites

Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP): . Acesso em: maio 2016.

Biblioteca Acadêmico Luiz Viana Filho (Biblioteca do Senado Federal): . Acesso em: maio 2016.

Filmes

A vocação do poder. Brasil, 2005, 110 min. Direção de José Joffily e Eduardo Escorel.

O Bem Amado. Brasil, 2010, 107 min. Direção de Guel Arraes.

O coronel e o lobisomem. Brasil, 2005, 106 min. Direção de Maurício Farias.

Práticas inter e multidisciplinares no ensino

Sugerimos que você discuta com os alunos o conceito de política pública (seção Leitura complementar – páginas 66 e 67). Em seguida, proponha o desenvolvimento de pesquisa em grupo sobre as políticas públicas implementadas em seu município.

Cada grupo deve identificar um projeto de política pública (distributiva, redistributiva ou regulatória); os segmentos que demandaram tais políticas; os atores políticos envolvidos; o debate público desencadeado em torno do problema que se pretendia resolver e da política implementada; sua forma de financiamento, fiscalização e avaliação de resultados etc.

O desenvolvimento desse projeto de trabalho pode ser realizado em parceria com os professores das demais disciplinas, uma vez que políticas públicas envolvem todas as esferas da vida social (saúde, educação, cultura, tecnologia, ciência, economia etc.). Os resultados podem ser apresentados por meio de dissertação, exposição de imagens e legendas nos murais da escola, em fichas ou no formato digital. Os objetivos da atividade são incentivar os alunos a conhecer as questões políticas que envolvem sua cidade, desenvolver neles a capacidade de análise crítica e avaliação das políticas públicas em andamento e estimular o encaminhamento de novas propostas de intervenção na realidade.

Comentários e gabaritos

Leitura complementar

Embora as transformações do papel do Estado no mundo ocidental não sejam o mote central do texto, ele começa abordando esse assunto. Isso significa que prover o “bem-estar social” e atender aos interesses públicos são objetivos que nem sempre foram entendidos como atribuições do Estado. Sugerimos que você aborde com a turma as formas de Estado que existiram na Era Moderna (absolutista, liberal, de bem-estar social, totalitário, socialista) como um exercício de desnaturalização e contextualização do tema proposto, que é o conceito de política pública e o modo como ela está relacionada com o sistema representativo, com os setores da sociedade e com a disputa (competição) no campo político.

Sugerimos apresentar para a turma os tipos de políticas públicas: distributivas, redistributivas e regulatórias, citando exemplos concretos (especialmente aqueles que influenciam a vida dos estudantes). Localize suas escalas (municipal, estadual ou federal); as demandas de quais setores sociais elas visam atender; os atores envolvidos nas disputas; quem financia tais políticas; quem fiscaliza sua implementação etc.
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Como o objetivo da discussão do texto é construir um novo saber da dimensão política, é importante ouvir o que os alunos já sabem a respeito do assunto e incentivá-los a “descobrir” os principais projetos de políticas públicas em discussão na cidade (ver subtítulo Práticas inter e multidisciplinares no ensino).

Sessão de cinema

Porta a porta – A política em dois tempos

A exibição de cenas desse documentário pode ser feita para abordar o desenvolvimento da Ciência Política no Brasil e as primeiras questões que chamaram a atenção de pesquisadores como Victor Nunes Leal. Ao explorar práticas políticas contemporâneas que podem ser identificadas em contextos urbanos e rurais, os alunos poderão expressar suas percepções sobre elas e ter elementos para construir novos conhecimentos sobre a cultura política e o sistema político brasileiros.



Raça humana

A duração do documentário (42 min) possibilita a exibição integral em uma aula. Ele aborda um tema que tende a mobilizar estudantes do Ensino Médio – o acesso ao Ensino Superior. O filme pode ser explorado para aprofundar o conceito de política de reconhecimento e ações afirmativas (ver o subtítulo do capítulo A política na vida contemporânea). No que tange à política de cotas raciais nas universidades federais, o filme ajuda a compreender o debate e as disputas em jogo no processo de implementação de determinada política pública (ver Leitura complementar desse capítulo). O documentário propicia o tratamento de algumas questões que mobilizam as três disciplinas das Ciências Sociais: desigualdades sociais e educacionais brasileiras, diversidade cultural e políticas públicas. Nesse sentido, o filme contribui para a compreensão do que é discutido no subtítulo Saberes cruzados, que encerra o capítulo.



Construindo seus conhecimentos

Monitorando a aprendizagem

1. Foi preciso emergir a compreensão de que a ordem social é uma construção humana, e não resultado da vontade divina.

2. Entre os principais aspectos podemos citar: estado de natureza, contrato social e fundamentos das leis. O estado de natureza seria uma situação hipotética em que a espécie humana viveria na condição “associal” (fora da cultura e da dimensão política). No estado de natureza, a humanidade estaria mais próxima da condição biológica, natural, desconhecendo a vida social (compartilhamento de interesses, valores, sentido de existência, conflitos, poder etc.). A suposição desse estado de natureza foi fundamental para definir os objetos das ciências da sociedade, em particular da Ciência Política – homem social. A noção de contrato social – ainda que discutida e recusada hoje por algumas correntes teóricas – contribuiu para dar ênfase à ideia de que a sociedade, o Estado e as demais instituições sociais são construções humanas, e não são resultado de um ordenamento divino ou natural. Em suma, não há na dimensão política algo que possa ser visto como em conformidade com a “natureza”. Os fundamentos das leis, terceiro aspecto abordado pelos contratualistas, remetem à diversidade das organizações políticas – como cada sociedade, cada grupo, cada ordenamento social define autoridade e poder, regulamenta a si mesmo e constrói sua unidade.

3. Democracia é uma palavra que faz parte do vocabulário corrente e merece reflexão, de modo que seja percebida como um conceito com sentido específico para as Ciências Sociais. Além de explorar o texto de Robert Dahal, sugerimos que seja feito um contraponto entre democracia moderna e democracia antiga. Para isso, seria interessante o desenvolvimento de uma atividade em parceria com os professores de Filosofia e de História.

4. A maior parte da população brasileira das primeiras décadas do século XX vivia no campo. Com isso, certos traços da cultura política relacionados ao ambiente rural revelavam muito sobre como a sociedade brasileira se relacionava com os modernos princípios políticos de democracia, eleições, participação e separação entre esfera pública e privada. Victor Nunes Leal concluiu que o coronelismo permeava toda a vida política nacional (urbana e rural) porque, ao submeter o voto da maior parte dos eleitores à lógica do compromisso entre os coronéis e os políticos, traindo o princípio democrático da livre escolha do voto, esse sistema acabava por determinar toda a configuração política do país.

5. O princípio de reconhecimento relaciona-se com os direitos das minorias, pois fundamenta a construção de direitos relacionados a coletividades ou a grupos sociais específicos (abrangendo os indivíduos enquadrados em tais grupos, como mulheres, pessoas com necessidades especiais, grupos étnicos ou indivíduos que não expressam sexualidade ou afetividade dominante etc.). O direito das minorias remete às condições históricas desses grupos, que tiveram seus direitos sociais, políticos e civis ameaçados em decorrência de sua origem ou condição sociocultural.
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De olho no Enem

1. O pensamento de Maquiavel procurava combinar os aspectos imponderáveis (como a ideia de destino, acaso, sorte, revés, vontade de Deus) e responsabilidade humana – um importante conceito moderno. Isso significava que havia uma expressiva margem de escolha, decisão, vontade, arbítrio para os indivíduos e as sociedades conduzirem a própria vida. Esse campo para a ação humana seria regido pela racionalidade, pelo cálculo e pelos interesses.

2. No pensamento político moderno, as leis ocupam lugar central, pois são elas que regulam a vida coletiva. Desse modo, o pensamento de Montesquieu procura conjugar a margem de ação do indivíduo (liberdade) e sua conduta no espaço público (compromisso com as leis).

3. O livro Do espírito das leis, escrito pelo Barão de Montesquieu e publicado em 1748, apresenta as teorias que exerceram profunda influência no pensamento político moderno. Os conceitos sobre as formas de governo e exercícios da autoridade política tornaram-se pontos centrais para a Ciência Política. A questão explora um deles, que é a separação e independência dos três poderes. O objetivo da tripartição é evitar a concentração de poder nas mãos de uma única pessoa, como ocorria no Estado Absolutista.

4. Com base no fragmento, explore as relações de mando e obediência que havia no Brasil nas primeiras décadas do século XX e como o coronelismo não apenas marcou as relações no campo como também permeou todo o sistema político nacional (ligando campo e cidade; município e estado; poder político e poder econômico).

5. O fragmento de autoria do filósofo e sociólogo alemão J. Habermas discute conflitos entre culturas minoritárias e majoritárias (dominantes) nas esferas pública e privada e a possibilidade de descontentamentos quando a vida republicana está fundamentada apenas em direitos individuais (normalmente pautados nos interesses da “maioria”). A questão da construção do direito cultural das minorias (fundamentado no princípio do reconhecimento) é um dos temas centrais das sociedades democráticas contemporâneas e traz consigo o desafio do debate público para a construção de tais direitos – respeitando-se os princípios democráticos de decisão – e para o desenvolvimento de uma cultura de respeito à diversidade e à diferença.

Assimilando conceitos

1. O desenvolvimento dessa atividade envolve a identificação do acontecimento político retratado pela imagem e a capacidade de relacioná-lo a conceitos de poder explorados pelo cientista político Norberto Bobbio, cuja matriz está na teoria social de Max Weber.

Sugerimos que primeiramente você explore o fato social que a imagem retrata – se os alunos já tiveram contato com esse objeto de conhecimento nas aulas de História, sugira-lhes que falem a respeito dele. Se desconhecerem completamente o movimento social que surgiu em Canudos nos primórdios da república brasileira, apresente os fatos construindo uma narrativa atraente. O fato político-social em questão mostra que a ideia de povo brasileiro e de cidadania não era compreendida naquela época como compreendemos no Brasil dos dias de hoje.

O segundo desafio será discutir os conceitos de poder propostos no enunciado. Qual seria o mais apropriado para definir a autoridade de Antonio Conselheiro? Seria uma forma de poder carismático, tradicional ou racional? Por quê?

O objetivo da atividade não é fazer um encaixe simplificado de um conceito em um fato social, e sim discutir a própria dificuldade de fazer tais aproximações. Seu propósito é demonstrar como os cientistas sociais procedem na análise de fatos sociais, discutir por que usam conceitos em seus trabalhos e como eles podem ajudar a compreender os fenômenos sociais.

Você pode adaptar essa atividade apresentando para a turma imagens de outras situações políticas que estimulem o mesmo tipo de reflexão.

Olhares sobre a sociedade

A importância de se fazer uma boa leitura e elaborar sínteses e resumos é fundamental para a aprendizagem. A identificação das ideias centrais e dos argumentos a favor de determinado ponto de vista ou contra eles, bem como o posicionamento crítico diante das ideias apresentadas são competências leitoras fundamentais que devem ser construídas na educação básica. O texto proposto, de autoria de um jornalista de mídia independente, chama a atenção para o poder político que as mídias têm e, mais do que isso, para os privilégios políticos dos grupos econômicos ligados a elas.

• O fenômeno do coronelismo eletrônico, segundo o texto, engloba situações em que políticos eleitos se tornam proprietários de empresas concessionárias de rádio e televisão ou agentes midiáticos que são eleitos para cargos do poder público e passam, no caso dos eleitos para o Congresso Nacional, a participar das comissões legislativas que outorgam os serviços e regulam os meios de comunicação no país, “legislando em causa própria” e não em favor dos seus representados.
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• As instituições políticas são afetadas pelo fato de serem cooptadas pelo poder econômico dos grupos de comunicação. Assim fazendo, o “coronelismo midiático” contribui para redução da diversidade de opiniões e estimula as pautas jornalísticas ligadas aos interesses dos grupos econômicos específicos.

• Nas sociedades democráticas, cabem a esses meios de comunicação (rádio e TV) darem expressão às demandas e à diversidade da sociedade em todos seus aspectos e fiscalizar os poderes públicos e a iniciativa privada. É também por meio de uma mídia livre dos “coronéis” que se estabelece a ligação e o controle entre representantes e representados como princípio fundamental para o ambiente democrático. Por isso, a Constituição Federal garante o direito de acesso à informação aos cidadãos e, em conjunto, a liberdade de imprensa.

• Uma alternativa para enfrentar o “coronelismo” da mídia pode ser notada pela ampliação da mídia independente, sobretudo na internet. Há muitas contribuições no campo da informação de blogs, coletivos jornalísticos e outros meios similares. Contudo, mesmo nesses casos é importante que os cidadãos verifiquem a procedência e a veracidade das notícias e avaliem a qualidade da informação disponibilizada.



Exercitando a imaginação sociológica

O desafio que os estudantes enfrentarão ao realizar essa atividade será opinar a respeito da cultura política brasileira, cujas marcas profundas foram estudadas por Victor Nunes Leal em sua tese sobre o fenômeno do coronelismo e o sistema político nacional. Essa temática suscita muita discussão, pois, em geral, a política é desacreditada em razão da corrupção, dos privilégios dos políticos, da demagogia, dos esquemas que favorecem determinados grupos, dos escândalos políticos etc.

Antes do desenvolvimento da atividade, sugerimos discutir com a turma os conceitos abordados ao longo do capítulo que poderão ajudar na formação da opinião sobre o problema proposto, por exemplo, o de cultura política. Será possível transformar um padrão cultural indesejável (cultura da transgressão das leis) em desejável? De quais recursos as sociedades democráticas dispõem para esse tipo de transformação?

O debate deve caminhar no sentido de “desinstalar” os estudantes, ou seja, levá-los à reflexão sobre o conhecimento que construíram ao longo do estudo, indo além das prenoções que trouxeram. Para tanto, sugerimos que você problematize as afirmações mais apressadas e apresente elementos para desconfiar do fatalismo de que “não dá para mudar”. A experiência de determinados movimentos sociais pode ajudá-los a identificar transformações na sociedade com base em ações e decisões políticas.


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Parte II: A Sociologia vai ao cinema

Sociologia e cinema

Orientações gerais

Objetivos

Ao longo das aulas, os alunos deverão:

• compreender que a Sociologia oferece uma pluralidade de formas de ver o mundo e de responder à pergunta “O que é sociedade?”;

• entender o papel cultural da Sociologia: desnaturalizar os fenômenos sociais (percebendo que nem sempre foram do modo como se apresentam em dado momento) e estranhar o que parece óbvio, corriqueiro ou que se julga não merecer explicação;

• posicionar-se, de forma crítica, diante da relação entre imagens, representações e realidades sociais usando o conhecimento sociológico em suas argumentações.

Recursos e questões motivadoras

Apresente o filme Tempos modernos. A seção O Cine Escola orgulhosamente apresenta... aponta diversos aspectos da obra e de sua criação e o contexto histórico que possibilitou sua produção. O enredo do filme é facilmente assimilado por quem o vê, mas, sem conhecer o contexto em que foi produzido, não é possível compreender sociologicamente o mundo que ele representa em suas cenas.

Explore as imagens do capítulo. Chame a atenção dos alunos para a fotografia da “fila de desempregados”: O que vocês estão vendo? Há apenas uma fila? O que mais essa fotografia mostra? Mostre como a preocupação da fotógrafa com a perfeita montagem da situação ajuda quem observa a imagem a refletir sobre as contradições da sociedade norte-americana flagradas no instante fotográfico. A fotografia está retratando ideias, além de imagens. Os alunos deverão compreender que as imagens – estejam elas em um cartaz, uma fotografia, nas cenas de um filme ou naquilo que vemos com os próprios olhos – comunicam coisas que precisam ser interpretadas, analisadas por quem as vê.

Recursos complementares para o professor



Leituras

BECKER, Howard. Explorando a sociedade fotograficamente. Cadernos de Antropologia e Imagem, n. 2, p. 95-98, 1996.

MARTINS, Ana Lúcia Lucas. Cinema e ensino de Sociologia: usos de filmes em sala de aula. Recife, 2007. Paper apresentado no Congresso Brasileiro de Sociologia. Disponível em: . Acesso em: maio 2016.

MOURA, Lisandro Lucas de Lima. Imagem e conhecimento: o uso de recursos didáticos visuais nas aulas de Sociologia. Caderno de Pesquisas Interdisciplinares em Ciências Humanas, Florianópolis, v. 12, n. 100, p. 159-182, jan./jul. 2011. Disponível em: . Acesso em: maio 2016.



Sites

Porta Curtas Petrobras: . Acesso em: maio 2016.

TV Escola, o canal da educação: . Acesso em: maio 2016.

Banco Internacional de Objetos Educacionais: . Acesso em: maio 2016.



Filmes

O garoto. EUA, 1921, 50 min. Direção de Charlie Chaplin.

Luzes da cidade. EUA, 1931, 83 min. Direção de Charlie Chaplin.

Práticas inter e multidisciplinares no ensino



Vamos ao cinema?

Construa um projeto de trabalho junto com os professores de Arte, de História e de Literatura que tenha como objeto de investigação os filmes. Escolha um tema – por exemplo, guerra, crise econômica, família, religião etc. – e diferentes filmes que abordem o problema. Cada grupo se encarregará de produzir resenhas sobre os filmes considerando o contexto em que foram produzidos. A ideia é relacionar a arte com sua linguagem, tempo e sociedade. Os objetivos dessa atividade são reconhecer a existência de diferentes perspectivas sobre um mesmo problema; a diversidade de expressões artísticas; a relação entre Arte e sociedade; e, de forma prática, apreender o conceito de representação social. Os resultados do trabalho poderão ser apresentados em exposições na escola ou por meio de seminários.


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Comentários e gabaritos

Leitura complementar

Embora a autora do texto use o filme como fonte histórica, é possível, com base nessa reflexão, mostrar como os cientistas sociais se aproximam dos filmes a fim de conhecer as sociedades que os produziram e como eles podem pensar a sociedade em que vivem. O fragmento selecionado exigirá sua atenção quanto ao vocabulário e ao esclarecimento do conteúdo, de modo que favoreça a aprendizagem dos alunos.

Sessão de cinema

Charlie: a vida e a arte de Charles Chaplin Tempos modernos

Sugerimos que adapte a exibição do filme Tempos modernos para a realidade de sua escola: na sala de aula ou na sala de projeção/vídeo. Se a escola não possuir o equipamento e o DVD do filme, talvez esta seja a oportunidade de fazer uma campanha para a família dos estudantes auxiliarem na aquisição dele, ou solicitar aos responsáveis pela escola (poderes públicos ou mantenedores privados) que providenciem os recursos – ou ainda, em último caso, usar material emprestado. Se mesmo assim não for possível a exibição do filme, relate para os alunos o enredo como um todo e chame a atenção para as cenas descritas nos capítulos da Parte II. Isso os ajudará a entender a história. A leitura dessas descrições também pode ser de grande valia nessa etapa de motivação. Recomendamos ainda a exibição de cenas do filme Charlie: vida e obra de Charles Chaplin, que contribuirão para a contextualização da obra.

Construindo seus conhecimentos

De olho no Enem

Essa questão testa a capacidade do aluno de fazer conexões entre o passado e o presente. Ela toma como exemplo a Crise de 1929, nos Estados Unidos, e em seu texto-base oferece um panorama do contexto que ambientou as filmagens de Tempos modernos. Embora apresente uma cronologia muito precisa para o início da crise, o texto da reportagem mostra seus desdobramentos, que foram sentidos por longo tempo pela sociedade norte-americana.



Assimilando conceitos

1 a 3. Parte da realização dessa atividade pode ocorrer em sala de aula. Crie um ambiente descontraído para ouvir as interpretações e conhecer as legendas elaboradas para a fotografia. Quando trouxerem a pesquisa feita na internet, verifique por meio de perguntas se os alunos compreenderam as relações entre imagem, representação e realidade.

Capítulo 5: O apito da fábrica

Orientações gerais

Objetivos

Ao longo das aulas, os alunos deverão:

• compreender a análise de Durkheim sobre as sociedades e sua contribuição para o desenvolvimento do pensamento sociológico;

• entender e empregar adequadamente o conceito de divisão social do trabalho;

• analisar as mudanças na estrutura social que levaram à formação das sociedades individualistas e ao intenso processo de diferenciação social;

• analisar as questões centrais que afetaram a organização do trabalho no contexto moderno e contemporâneo;

• elaborar propostas de intervenção na realidade a fim de superar problemas relacionados ao mundo do trabalho.

Recursos e questões motivadoras

Tempos modernos explora uma importante transformação no mundo do trabalho que começou algumas décadas antes do lançamento do filme. Foi durante a Segunda Revolução Industrial que o norte-americano Frederick Taylor (1856-1915) sistematizou o campo de saber que ficou conhecido como Administração de Empresas. Em uma época de forte concorrência, as empresas lançavam mão de vários recursos para se manterem à frente na disputa por mercados, como diminuição dos salários, aumento da jornada de trabalho, contratação de mulheres e crianças, a quem eram pagos menores salários, e substituição de máquinas por outras mais modernas. Taylor introduziu uma nova noção de competitividade que estava relacionada à eficiência, ou seja, produzir em grande quantidade e sem desperdício de tempo e matérias-primas. Segundo Taylor, para vencer a concorrência, a produção teria de se pautar em princípios científicos. Sua estratégia foi decompor o trabalho em partes simplificadas, nas quais cada tarefa correspondia a um posto de trabalho.
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Esse posto não deveria ser ocupado por qualquer trabalhador: “o homem certo” deveria estar “no lugar certo”. Desse modo, os trabalhadores foram se especializando e deixando de ter o conhecimento completo do processo produtivo. Com tarefas sistematizadas e gestores controlando os trabalhadores, Taylor modificou a cultura do trabalho. Ele criou uma estrutura rígida, hierárquica e burocrática, na qual o sistema produtivo era organizado por engenheiros e administradores. Essa mudança na concepção do trabalho produziu efeitos sobre o corpo dos trabalhadores, que, ao exercerem as tarefas, mais pareciam máquinas automáticas do que gente.

A partir da primeira década do século XX, a organização científica do trabalho expandiu-se por entre as empresas e associou-se aos princípios, aos métodos e à tecnologia desenvolvida pelo norte-americano Henry Ford – a linha de montagem. Considerada uma das maiores inovações tecnológicas da era industrial, a linha de montagem reduzia significativamente o tempo de produção e colocava no mercado maiores quantidades de produtos, contribuindo para que eles se tornassem mais acessíveis aos segmentos populares.

Mais tarde, na década de 1950, as fábricas japonesas Toyota começaram a desenvolver um novo processo produtivo, no qual a demanda dos consumidores orientava a produção. Tratava-se de algo radicalmente diferente do sistema fordista-taylorista – pautado na produção em série. No toyotismo, a produção industrial foi se ajustando para começar depois da encomenda e, com isso, eliminavam-se os estoques de mercadorias. Esse sistema ficou conhecido como just in time.

O modelo fordista-taylorista entrou em crise na década de 1970: as novas demandas do mercado e a alta concorrência levaram as empresas a oferecerem produtos cada vez mais variados e adaptados às diferenças culturais e econômicas dos diversos grupos sociais. Saía na frente o grupo empresarial capaz de produzir bens de consumo voltados para diferentes perfis de consumidores.

A crise do fordismo-taylorismo teve um importante desdobramento no mundo do trabalho, que ficou conhecido como reestruturação produtiva. Entre outros aspectos, a reestruturação levou ao “enxugamento” dos quadros de funcionários das empresas. Com as demissões em massa, as expectativas de carreira profissional de longa duração ficaram desacreditadas. O surgimento de novos tipos de emprego (temporário, trabalho em casa e terceirizado) e o crescimento do trabalho informal refletiram-se nos direitos trabalhistas, que sofreram retrocessos em diversos Estados. Desse modo, o trabalho foi se tornando “flexível”, da mesma forma que o novo modelo de produção.

As transformações no sistema produtivo alteram a vida social e podem levar a uma situação de falta de regras, seja porque situações novas ainda não regulamentadas surgem, seja porque direitos e conquistas dos trabalhadores sofrem retrocessos ou são suprimidos. Durkheim, no final do século XIX, mostrou-se intelectualmente inquieto com as transformações na forma de produzir e analisou a situação com base na divisão social do trabalho e na anomia moral.

Desenvolvendo as aulas

Explore as imagens. Chame a atenção dos alunos para a cena do filme Tempos modernos, para a fotografia da fábrica de automóveis Ford no início do século XX e para a montadora de carros no início do século XXI. Explore as percepções deles sobre essas imagens por meio de perguntas como: Uma linha de montagem só serve para produzir carros? Você já se viu executando alguma tarefa como se estivesse em uma linha de montagem? A linha de montagem sempre existiu ou em algum momento essa técnica de trabalho foi “inventada”? Quando ela surgiu? Exponha essa técnica aos alunos e estimule sempre a participação deles por meio de perguntas como: O que representou a implantação das linhas de montagem no início do século XX? Convide-os a observar a fotografia da montadora de carros do século XXI com o objetivo de levá-los a perceber a mudança da organização do trabalho ao longo do tempo.

Promova o debate. Oriente as discussões para a sociologia durkheimiana perguntando aos alunos: O trabalho, ou como as sociedades organizam a produção, modifica as relações dos indivíduos entre si? Produz modelos diferentes de sociedade? O trabalho é o único aspecto ou o mais importante para identificar as diferenças entre as sociedades?

Instigue a reflexão. Sugerimos a análise de alguns versos da canção “Linha de montagem”, de Chico Buarque e Novelli. Essa canção faz parte da trilha sonora do documentário de mesmo nome dirigido por Renato Tapajós (Brasil, 1982), que aborda a greve no ABC Paulista na década de 1970. Proponha a audição da música em sala de aula e estimule os alunos a refletir sobre os possíveis sentidos das palavras elo e engrenagente, presentes em alguns versos: o “elo” seria algum tipo de solidariedade criada por esse sistema de trabalho?
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“Engrenagente” seria um novo tipo de trabalhador que resultou desse sistema de trabalho?

Recursos complementares para o professor

Leituras

ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 10. ed. São Paulo: Cortez; Campinas: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 2005.

BARBOSA, M. L.; OLIVEIRA, M. G. M. de; QUINTANEIRO, T. Um toque de clássicos: Marx, Durkheim e Weber. 2. ed. Belo Horizonte: UFMG, 2002.

DURKHEIM, Émile. Lições de Sociologia. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

GRAMSCI, Antonio. Americanismo e fordismo. In: COUTINHO, Carlos Nelson (Ed.). Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, v. 4, 2001.

RAMALHO, José Ricardo. Trabalho na sociedade contemporânea. In: MORAES, Amaury César. Sociologia: Ensino Médio. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, v. 15, 2010. p. 85-102. (Coleção Explorando o Ensino). Disponível em:


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