Português 9º ano



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. Acesso em: 24 fev. 2015.
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Provocações

1. Logo na primeira fala, Creonte afirma:

“Tem poeira nos olhos dele e eu preciso tirar.”

• Poeira nos olhos é algo que nos impede de enxergar. O que Jasão não estaria enxergando direito?

2. Creonte refere-se à música feita por Jasão como “sambinha”. Considere as intenções de Creonte ao conversar com Jasão e responda:

a) Ele emprega esse termo para valorizar ou desvalorizar o trabalho de Jasão? Justifique sua resposta.

b) Creonte chama Jasão de “Noel Rosa”, um sambista famoso. Com base na continuidade dos diálogos entre as personagens e em sua resposta à questão anterior, pode-se dizer que ele faz isso de forma irônica? Por quê?

3. Na perspectiva de Creonte, por que um samba faz sucesso?

a) Ao afirmar “eu pago pra tocar porque merece”, Creonte está de fato elogiando o samba de Jasão ou reforçando a ideia de que ele é responsável pelo sucesso do samba do rapaz? Por quê?

b) Você acha que esse ponto de vista expresso por Creonte pode ser válido para explicar alguns sucessos musicais de hoje? Por quê?

4. Creonte defende que a “cadeira faz o homem, molda o sujeito”.

a) Ao chamar a atenção de Jasão para a cadeira e ao fazer a afirmação acima, Creonte está falando apenas da cadeira? Do que mais ele pode estar falando?

b) Pode-se afirmar que, enquanto Jasão está sentado na cadeira, Creonte o vai “moldando”? Explique.

5. Compare as falas de Jasão e de Creonte. Quais são mais incompletas?

• Por que isso acontece? Estabeleça relações com o que você respondeu no item anterior.



6. Releia a passagem da “filosofia do bem sentar”.

a) Copie em seu caderno qual das sentenças melhor a resume.

• Como conquistar o respeito alheio pelo modo de “se sentar”.

• Como impressionar bem os outros pelo modo de “se sentar”.

• Como inibir e manipular os outros pelo modo de “se sentar”.



b) O acompanhamento musical na cena da “lição” sobre a “filosofia do bem sentar” ajuda a reforçar a ideia de que se sentar, nas intenções de Creonte, deva ser um ato:

• de encenação, uma representação;

• espontâneo, que inspire confiança;

• de autoridade, vinda pelo trabalho.



Vamos lembrar

Ironia é o nome dado a algo que se diz ou escreve querendo significar justamente o contrário. Para perceber a ironia, é preciso considerar a situação de interação em que o texto aparece. Assim, por exemplo, se em um dia de muito frio uma pessoa esquece a porta aberta e outra, incomodada com isso, lhe diz “Que calor, não?!”, ocorre ironia.
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7. Releia.

“Poxa, nunca imaginei que sentar


fosse tão difícil. Bom, aprender...”

• Essa fala de Jasão pode ser considerada irônica? Por quê?



Oficina literária!

Que tal transformar a leitura dramática em um exercício de encenação para a turma experimentar e se divertir com a linguagem teatral?



Condições de produção

O quê?

Você e sua turma produzirão um exercício de encenação do fragmento lido da peça Gota d’água.



Para quem?

Para a própria turma experimentar recursos teatrais e suas possibilidades de “dar vida ao texto”.



Como fazer?

Organizem o grupo, conforme a sugestão de seu professor, e discutam a tarefa que lhes coube:

• Grupo 1: figurino de Creonte.

• Grupo 2: figurino de Jasão.

• Grupo 3: figurino de Alma.

• Grupo 4: cenário.

• Grupo 5: sonoplastia e luz.

Dicas!

• Todos os grupos devem reler bem o texto para imaginarem como ajudarão a “dar vida” a ele.

• Os grupos que trabalharão com os figurinos precisam decidir que imagens das personagens combinam com suas características psicológicas, morais, sociais, etc. Roupas, acessórios, maquiagem e penteado são elementos que ajudarão a criar essas imagens.

• Os alunos da equipe de cenografia comporão o cenário, decidindo: o que deve aparecer na cena? Que elemento(s) deve(m) ter mais destaque, ocupando o centro do espaço em que os atores atuarão?

• O grupo que cuidará da sonoplastia e da iluminação deve preparar efeitos sonoros (sons, barulhos, músicas) e de luz e sombra para ajudar na encenação.

• Façam ensaios, sob a direção do professor, e, claro, divirtam-se!


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A morte de um rei, o aparecimento de um fantasma e um príncipe em busca da verdade... uma tragédia de William Shakespeare

Um dos mais importantes nomes do teatro ocidental, o dramaturgo inglês William Shakespeare, buscou nas lendas, crônicas e histórias anglo-saxônicas “matéria-prima” para também escrever tragédias. Suas peças tornaram-se clássicas, sobrevivendo no imaginário de muitas e muitas gerações, de vários países. Quem nunca ouviu falar, por exemplo, do amor impossível entre os jovens Romeu e Julieta, filhos de famílias inimigas? Ou do ciúme doentio de Otelo?



Hamlet, peça da qual você lerá um trecho, é uma de suas obras-primas. A história se passa na Dinamarca. Pouco tempo após a morte do rei, a rainha Gertrudes se casa com o irmão dele, Cláudio. Você já pode imaginar os boatos que isso causou, não é mesmo? Dentre eles, três guardas começaram a ver um espectro, um fantasma, com a aparência do rei morto. Hamlet, o príncipe, foi avisado e também o viu e, mais assustador, o ouviu! Uma assombração ou a alma de meu pai? — pergunta-se o jovem... Perturbação, imaginação ou realidade? — você deve estar se perguntando... Impossível definir; afinal, o fantasma só foi visto por essas poucas personagens e somente Hamlet se aproximou dele e o ouviu.

O mais importante, porém, é que o jovem príncipe tomou a aparição como real e passou a se sentir pressionado a investigar o que ela lhe contou: teria sido o rei assassinado pelo irmão? E sua mãe teria ou não tido culpa nisso? Hamlet deveria calar-se ou fazer justiça?

O jovem príncipe viu sua vida transformada em uma série de dúvidas e incertezas, tendo que se decidir entre ser uma pessoa que aceita a fortuna, isto é, a fatalidade, o destino, ou que enfrenta os acontecimentos, tentando fazer a própria história...

Ser ou não ser, eis a questão:
será mais nobre em nosso espírito sofrer pedras e setas
com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja,
ou insurgir-nos contra um mar de provações e em luta pôr-lhes fim?

SHAKESPEARE, William. Hamlet. Tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos. São Paulo: Abril Cultural, 1976. p. 108. (Fragmento).

Hamlet prefere agir e, genialmente, arranja um jeito de fazer com que o próprio assassino confesse o crime. Como? Finge-se de louco e, em meio a falas e atitudes “sem pé nem cabeça”, decide pedir a um grupo de teatro amador que represente para o rei e para a rainha uma peça... Os resultados dessa peça sobre esse nobre público serão reveladores...

Confira no texto a seguir uma versão adaptada do original, para tornar o texto de Shakespeare mais próximo de jovens leitores como você!


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Quem é

A maior parte do que se sabe sobre a vida de William Shakespeare foi resultado de pesquisas, depois de sua morte, em registros e documentos da época.

Tendo vivido no próspero reinado de Elizabeth I (1533-1603), Shakespeare (1564-1616) foi empresário das artes teatrais e escreveu peças que, além de marcarem o teatro inglês da época, tornaram-se referências obrigatórias no teatro ocidental.

Seus textos discutiam temas históricos e também quest ões universais, isto é, relevantes para sujeitos de diferentes lugares e tempos, como o que fazer diante da injustiça, por exemplo.

Suas tragédias mais conhecidas são: Romeu e Julieta, Macbeth, Rei Lear, Otelo e Hamlet.

Leitura

Confira as personagens que aparecerão neste fragmento da peça!



Horácio: faz parte da guarda real e é considerado por Hamlet um amigo leal.

Cláudio: novo rei da Dinamarca e tio de Hamlet.

Polônio: conselheiro do rei. É também pai da jovem Ofélia, por quem Hamlet é apaixonado.

Gertrudes: a rainha.

Guildenstern e Rosencrantz: guardas do rei incumbidos de vigiar o príncipe.

Capítulo XI

Hamlet e os atores da companhia teatral hospedada no Kronborg passaram a tarde preparando a apresentação da noite, particularmente ensaiando a inserção proposta pelo príncipe. Seria uma pantomima, a ser apresentada na abertura do espetáculo, e trazia como principais personagens um rei, uma rainha e um sobrinho do soberano.

O cenário já havia sido preparado. No salão de banquetes e festas do castelo, os assentos estavam dispostos de dois lados, com um estrado ao fundo, cerrado por cortinas e trazendo um palco interno. Orientados pelo ator principal, que representará o rei, os demais seguiam atentamente as orientações de Hamlet.

— Quero que reproduzam essas falas como eu as pronunciei, língua ágil e voz clara, sem berros e sem cortar o ar exageradamente com as mãos — Hamlet orienta os atores, gesticulando bastante, agitando nas mãos as páginas que escrevera há poucas horas.

As regras básicas a serem seguidas eram manter o autocontrole e a moderação na representação, evitando exagero:

— O gesto deve ser ajustado à palavra, pois o objetivo do teatro é exibir um espelho da natureza, manifestar a virtude e o ridículo à sua própria imagem. Enfim — ensina Hamlet —, mostrar a sociedade tal qual ela é, na sua exata condição.

Terminados os ensaios, Polônio aparece para verificar os preparativos.

— E então, senhor, o rei concorda em assistir à peça? — pergunta Hamlet.

— E também a rainha... Eles virão em seguida — responde Polônio, inclinando-se antes de sair para buscar Suas Majestades.

Guildenstern e Rosencrantz, que acompanhavam o conselheiro do rei, são dispensados pelo príncipe, que lhes pede que acompanhem o velho senhor e retornem apenas na hora do

Glossário
Pantomima: representação teatral em que os atores se exprimem unicamente por meio de gestos.
Estrado: estrutura plana, geralmente de madeira, formando plataforma mais ou menos alta, sobre a qual se coloca alguém ou algo a que se quer dar destaque.
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espetáculo. Queria Hamlet ficar a sós com Horácio — que havia assistido a todo o ensaio, quieto em um canto —, a fim de combinarem as observações que fariam durante a apresentação.

— Horácio, você é a pessoa mais equilibrada com quem convivi durante toda a minha vida.

— Que é isso, meu caro príncipe...

— Não se trata de bajulação, isso não é necessário entre nós... É que, em você, a paixão e a razão convivem em perfeita harmonia — o príncipe elogia o amigo. — Agora, preste atenção: uma das cenas da representação desta noite lembra as circunstâncias de que lhe falei, da morte de meu pai — esclarece Hamlet, que já havia contado a Horácio a história revelada pelo espectro. — Peço que observe meu tio atentamente durante a apresentação. Se suas feições não denunciarem qualquer culpa, saberemos que o que vimos era um espírito do inferno. Eu também não tirarei meus olhos de cima dele.

— Fique tranquilo, meu senhor, nada escapará à minha observação.

— Obrigado, Horácio. Depois juntaremos nossas impressões para avaliar a situação — finaliza o príncipe, já ouvindo os sons de trombetas e tímpanos. — Estão chegando para o espetáculo... Devo fazer-me de louco! Vai, Horácio, escolha um bom lugar.

As portas no alto das escadarias do salão de banquetes e festas abrem-se para a entrada do rei e da rainha, de Polônio e Ofélia, dos amigos Rosencrantz e Guildenstern e de outros nobres da corte. Ao som de uma marcha dinamarquesa, sempre tocada em ocasiões festivas, a guarda real desce as escadas carregando tochas, conduzindo os espectadores mais importantes.

O rei dirige-se ao príncipe:

— Como tem passado nosso sobrinho Hamlet?

— Passo bem, bem alimentado de ar e de promessas... — responde Hamlet, sempre irônico, insinuando que aguarda o cumprimento da promessa de que herdará o trono, como lhe garantira seu tio.

— Não entendo sua resposta... Suas palavras me escapam — rebate o rei.

— Não, senhor, elas escaparam de mim, uma vez que eu as pronunciei — brinca Hamlet. Dirige-se a Polônio e pergunta: — É verdade que o senhor representou também na Universidade? — o príncipe insinua que o conselheiro representa também na vida real.

— É verdade — confirma Polônio, inocentemente. — E até era considerado bom ator!

— E representou o quê?

— Representei Júlio César, o imperador romano. Brutus me assassinou no Capitólio.

— Mas que brutalidade! — Hamlet volta a brincar com as palavras. — Como pôde matar um carneirão tão capital?

Glossário
Bajulação: agrado para obter vantagem.
Capitólio: fórum na Roma antiga.
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Hamlet se mostrava empolgado e bem-disposto para uma noite que sabia ser fundamental para a confirmação de suas suspeitas e para a continuidade de seu plano de vingança. A todo instante virava-se para o palco, buscando os atores, e verificava se a plateia já estava a postos.

— Venha cá, querido Hamlet, sente-se ao meu lado — pede a rainha.

— Perdão, minha mãe, tenho aqui um ímã mais atraente — justifica-se o príncipe, apontando para Ofélia. O intempestivo galanteio de Hamlet surpreende Polônio, o rei e a rainha, que ficam a cochichar entre si.

Na realidade, Hamlet usava Ofélia como uma desculpa para sentar-se do lado oposto ao rei, à rainha e a Polônio, a fim de observá-los melhor.

[...]


— O senhor está alegre hoje! — Ofélia comenta.

— Quem, eu? É que sou um farsante... O que faria o homem se não risse? Olhe só a felicidade de minha mãe... E meu pai morreu há menos de duas horas! — Hamlet exagera, argumentando em favor de sua ideia, enquanto a rainha volta a cochichar com o rei e Polônio.

— Está enganado, senhor... Faz duas vezes dois meses que seu pai morreu!

[...]


— Céus! Morto há tantos meses e ainda não foi esquecido! Meu Deus, um homem terá de construir toda uma catedral ou sofrerá a punição do esquecimento? — lamenta o príncipe, criticando os que desejam que esquecesse a morte do pai.

[...]


Enquanto conversam, um ator posta-se diante das cortinas do palco. O rei e a rainha pedem silêncio, para que todos prestem atenção. O ator diz apenas três frases, numa espécie de prólogo da peça:

Para nós e nossa tragédia,


pedimos sua audiência e clemência,
além, é claro, de suplicarmos paciência.

Quando o ator sai, Hamlet observa:

— Isso é um prólogo ou apenas uma inscrição de anel? — referindo-se à escassez de palavras.

— Pelo menos foi curto — comenta Ofélia.

— Como o amor de uma mulher! — Hamlet retruca, dando uma alfinetada em Ofélia e, indiretamente, também em sua mãe.

Mas são interrompidos pelo abrir das cortinas do palco, onde se encontram os dois atores que representam o Rei e a Rainha. Eles conversam...

O REI

Trinta voltas perfeitas o sol já tinha dado sobre o verde da terra e o mar salgado, e trinta dúzias de luas sobre nós haviam contornado desde que o amor nos uniu em laços sagrados.
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A RAINHA


Mil voltas darão o sol e a lua antes que nosso amor tenha fim. Mas me sinto tão infeliz por ver que tem a alegria afastada de seus dias!

O REI


Eu devo lhe deixar muito em breve, mas o fim da existência não me preocupa sabendo que minha amada terá outro marido...

A RAINHA


Não, eu não aceito! Um outro amor não cabe no meu peito... É maldição ter novo companheiro, só tem o segundo quem mata o primeiro.

— O veneno! O veneno! — diz Hamlet, baixinho, enquanto os atores seguem com a peça.

A RAINHA

Deixar um novo marido me beijar no leito é o mesmo que matar o primeiro de outro jeito.

O REI


Diz isso irrefletidamente, pois a intenção é transitória e ficará apenas na memória. O sangue quente da dor e da alegria já traz consigo a própria hemorragia; de repente, a dor canta e a alegria chora. O mundo não é eterno e tudo tem um prazo, nossas vontades mudam nas viradas do acaso, pois esta é ainda uma questão não resolvida: a vida faz o amor ou é o amor que faz a vida? A quem não precisa nunca falta uma amizade, mas quem mais precisa só experimenta falsidade, e descobre, oculto no amigo, um inimigo antigo. Se pensa que não terá outro marido, sua crença morrerá quando eu tiver morrido.

A RAINHA


Se isso vier a acontecer, jamais terei sossego e paz, e minha alegria estará para sempre perdida. Se, uma vez viúva, for outra vez esposa, quero que a eterna angústia se aposse de minha alma!

— Que belo perjúrio! — comenta Hamlet, antecipando que a Rainha não cumprirá seu juramento.

O REI

Ouvi seu solene juramento. Por favor, me deixe... Meu espírito pesa. Quero enganar com o sono o tédio que sinto agora! — proclama o Rei antes de adormecer.

A RAINHA


Que o sono embale sua alma e que nunca haja amargura entre nós, só calma... — diz a Rainha antes de deixar o palco.

De volta à audiência...

— Senhora, que tal lhe parece o drama? — pergunta Hamlet a sua mãe.

Glossário
Perjúrio: falso juramento.
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— Parece-me que promete muita coisa... — ela avalia.

— Creio que ela cumprirá a promessa feita — Hamlet dissimula.

— Você já conhece o argumento? — intervém o rei — Não há nada ofensivo nele?

— Imagine... Eles apenas brincam! — responde Hamlet, irônico — Até o veneno é de brincadeira! Não há ofensa, não...

Hamlet dá mais algumas informações, esclarecendo que a peça, intitulada “A ratoeira”, tem como ponto central um assassinato ocorrido em Viena, cometido contra um rei chamado Gonzaga.

— Trata-se de uma obra-prima de perfídia, de traição... O senhor verá!

— Hamlet garante ao rei. — Mas que importa, não é? O senhor e todos nós aqui temos almas limpas... Isso não nos afeta! — diz o príncipe, enquanto observa a entrada de um novo personagem. — Aquele é Luciano — comenta —, sobrinho do Rei.

O ator que representa Luciano traja um gibão negro, certamente simbolizando a morte. Caminha em direção ao Rei adormecido, segurando numa das mãos um frasquinho e fazendo gestos ameaçadores.

[...]


Ao final da cena, Hamlet olha para o seu tio e o vê transtornado, irrequieto em seu assento. Traz a luz novamente para si, reforçando o drama a que todos assistem:

— Ele envenena o Rei no jardim de seu palácio para usurpar o trono — explica o príncipe. E, como se precisasse dar veracidade ao texto representado, comenta: — A peça foi inspirada em fatos reais... O texto original foi escrito num italiano impecável! — E antecipa a trama, acrescentando:

— Agora, vocês verão como o assassino arrebata o amor da mulher do soberano Gonzaga...

O outro soberano, alvo da vingança de Hamlet, ergue-se cambaleante e pálido como a neve.

— O rei se levanta! — anuncia Ofélia, vendo Cláudio equilibrar-se em suas trêmulas pernas.

— Sente-se mal, meu senhor? — pergunta a rainha, assustada, procurando amparar o marido.

Polônio é o primeiro a tomar providências:

— Parem a peça! — ele ordena, imediatamente procurando a guarda para a retirada do rei.

— Luz... Deem-me alguma luz! — grita o rei, desesperado. Depressa!

Antes mesmo que as tochas iluminem seu caminho, Cláudio se precipita em direção à saída do salão, tropeçando nos degraus que levam à porta.

Sua atitude revela-se quase uma confissão, um forte indício de que fora atingido de alguma forma pelos fatos ali representados.

[...]


SHAKESPEARE, William. Hamlet: o príncipe da Dinamarca. Adaptação de Leonardo Chianca. São Paulo: Scipione, 1999. p. 51-58. (Série Reencontro). (Fragmento).

Glossário
Perfídia: deslealdade; falsidade.
Gibão: veste masculina antiga, que ia do pescoço à cintura e se usava por baixo do paletó.
Usurpar: apropriar desonestamente.
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Conversa afinada

Sugerimos que esta seção seja realizada oralmente, no coletivo, para se caracterizar como uma situação de leitura compartilhada.



1. Nessa adaptação, além das características típicas do texto teatral, há o uso de outro recurso épico. Copie no caderno o item que indica esse recurso.

• Rubricas indicando as falas das personagens.

• Diálogos diretos entre as personagens.

• Voz narrativa que comenta e organiza os diálogos.



2. No início do trecho, Hamlet orienta os atores sobre como espera que representem. Acredita-se que essa voz é o próprio autor, Shakespeare, indicando como deveria ser a encenação de seus textos. Copie no caderno a frase que melhor resume as orientações dadas por Hamlet aos atores.

• Usar diferentes volumes, de modo que as partes mais trágicas do texto sejam bem destacadas.

• Manter naturalidade na fala e nos gestos para que a representação fique parecida com a realidade.

• Gesticular bastante para tornar a interpretação mais expressiva para quem assiste à peça.



3. O que inspirou o roteiro da peça que Hamlet está ensaiando com os atores?

4. Quais são as intenções dele com essa encenação?

• De que modo o título dado a essa peça anuncia ironicamente essa intenção?



5. Em sua opinião, por que Hamlet se faz passar por louco durante a apresentação da peça?

• Apesar de aparentemente sem sentido, suas falas são repletas de ironia. Explique o que ele realmente quis dizer ao reclamar para Ofélia que o prólogo da peça foi “curto como o amor de uma mulher”.



6. Por que Hamlet, mesmo após ver o tio transtornado, comenta a cena que acabou de acontecer?

Vale a pena ver!

Quando o príncipe da Dinamarca, Hamlet (Mel Gibson), volta para seu país, seu pai, o rei, morre. Logo em seguida, a rainha (Glenn Close) casa-se com o tio (Alan Bates) de Hamlet tornando-o rei. Mas o fantasma do pai do príncipe surge, contando como fora assassinado pelo casal. Hamlet fica atormentado sobre o que fazer: vingar a morte do pai ou permanecer passivo diante do fato.


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Capítulo 2 - Ridendo Castigat Mores ou Rind, Castigam-se os Cstumes Viciss
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Conversa afinada

Sugerimos que esta seção seja realizada oralmente, no coletivo, para se caracterizar como uma situação de leitura compartilhada.



1. Que sentimentos e sensações as imagens provocaram em você? Indique com palavras-chave.

2. Compare essas cenas com as que abrem o capítulo anterior.

a) Que diferenças há em relação ao uso das cores nos figurinos?

b) Quais figurinos ajudam a perceber melhor que personagens estão sendo representadas? Explique.

c) Que diferenças há entre as expressões faciais dos artistas?

3. Como as encenações das comédias poderiam ter explorado os outros elementos típicos do teatro?

4. O que você já sabe sobre essas peças?

O que vamos fazer neste capítulo

Você e sua turma conhecerão um pouco da tradição da comédia, experimentando como o humor dessa arte pode levar à reflexão crítica. Lerão fragmentos da comédia grega Lisístrata ou A greve do sexo, do Auto da barca do Inferno, e de outro auto repleto de elementos da cultura popular brasileira, o Auto da Compadecida. Poderão ainda transformar os resultados de suas leituras em encenações, que serão apresentadas no Festival do Ris.

Divirtam-se, o que aqui quer dizer: descubram como a visão crítica sobre sociedades e seus costumes pode ser expressa de modo bem engraçado!

Seria interessante que antes da próxima leitura você conversasse com os alunos, ajudando-os a resgatar o que aprenderam sobre o papel da mulher na democracia grega e como o teatro de Eurípedes se colocou em relação a isso.



Mulheres e política em uma comédia grega

Com exceção das espartanas, que recebiam uma educação física ao lado dos homens para integrarem o exército (mas isso também era imposto, e não decisão delas!), as mulheres gregas viviam praticamente reclusas nos lares. Envolvidas no cotidiano familiar, eram alheias às decisões políticas e até mesmo às decisões que diziam respeito a seus próprios destinos. Agora, você já sabe também como na peça de Eurípedes Medeia desafiou esses costumes. O que você talvez ainda não saiba é que nem só de tragédia se fazem desafios como o dela... O grande nome da comédia grega, Aristófanes, também criou personagens femininas irreverentes. Em uma comédia dele, as mulheres conseguiram fazer o que foi impossível aos homens gregos: pôr um fim pacífico à longa e dura Guerra do Peloponeso. Você deve estar se perguntando: e o que elas fizeram para isso? Bem, na verdade, a graça está no que elas não fizeram... As mulheres casadas, lideradas pela ateniense Lisístrata, recusaram-se a dormir com seus maridos, em uma greve de sexo!



Clipe

A guerra do Peloponeso

Longo conflito (que durou 27 anos, entre 431 a.C. e 404 a.C.) e opôs as cidades de Atenas e Esparta. De acordo com o historiador grego Tucídides (em sua famosa obra História da Guerra do Peloponeso), a razão do conflito foi o crescente poder da cidade de Atenas frente à cidade de Esparta.


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No fragmento que você lerá, mulheres de várias cidades gregas, principalmente, claro, das cidades rivais Atenas e Esparta, já estão devidamente organizadas na greve e invadiram nada mais nada menos do que a Acrópole de Atenas!

Conheça as principais personagens que falarão nessa parte do texto:

Lisístrata: mulher ateniense que concebeu e organizou a greve e a invasão da Acrópole.

Cleonice: a mulher ateniense que mais apoiará o plano, embora o ache bem difícil.

Comissário: representante do exército ateniense.

Antecipe suas expectativas em relação à peça, refletindo sobre as seguintes questões:

• Por que a ocupação da Acrópole pode ter sido uma estratégia interessante para as mulheres colocarem um fim à guerra?

• Com que intenções, provavelmente, o comissário foi procurar Lisístrata?

• O que se pode esperar do encontro entre eles?

Seria interessante que esse exercício de formulação de hipóteses para o texto fosse feito coletivamente. Ajude, se necessário, os alunos a perceberem que os clipes trazem informações interessantes para o leitor elaborar expectativas em relação a essas questões.

Clipe

Acrópole

Como era a acrópole na época de Aristófanes?

Vamos tentar imaginá-la: antigamente, as cidades eram construídas no ponto mais alto da região para que seus habitantes ficassem protegidos dos ataques inimigos. Esse lugar se chamava “acrópole”. Em grego, ákros.

A acrópole era um recinto religioso muito importante. Lá dentro ficavam vários santuários e a “calcoteca”, um prédio onde se guardavam as armas e os esporões dos navios.

ARISTÓFANES. Lisístrata ou A greve do sexo. Adaptação de Anna Flora. São Paulo: Editora 34, 2002/2009. p. 29.

Quem é

Aristófanes (455 a.C. - 375 a.C.) nasceu e passou a vida toda em Atenas. Dentre suas mais de quarenta comédias, destacam-se: Os Arcanenses, Os cavaleiros, As nuvens, As vespas, A paz, As aves, Lisístrata ou A greve do sexo, Só para mulheres, As rãs, A revolução das mulheres e Um Deus chamado dinheiro.

Leitura

Seria interessante sugerir aos alunos uma primeira leitura silenciosa e individual do texto e, em seguida, propor uma leitura dramática compartilhada, preferencialmente preparada com antecedência por você e alguns alunos.

[...]

LISÍSTRATA:



No início da guerra, nós aguentamos caladas muitas besteiras que os homens fizeram.

Todo dia perguntava ao meu marido: “O que decidiram sobre a paz?”.

E ele me respondia (fazendo voz grossa): “Esse assunto não é pra mulher!”. (Voltando à voz normal.) E eu me calava.

CLEONICE:

Se fosse eu, não me calaria!

COMISSÁRIO:

Coitado do seu marido...

LISÍSTRATA:

Mas eu calava. E as decisões iam piorando: “Mas, querido, como podem ser tão tolos?”. E ele respondia (fazendo voz grossa): “Já pra costura, a guerra é dos homens, como afirmava o poeta”.

COMISSÁRIO:

Seu marido tinha razão!
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LISÍSTRATA:

Razão?! Vocês votaram propostas absurdas na Assembleia! Por causa dessa guerra interminável nossos maridos estão morrendo! E tudo isso só porque vocês querem competir pra ver quem é o mais forte! Pois chegou a hora dos homens ficarem calados e ouvirem nossas ideias!

COMISSÁRIO:

Eu, ficar quieto, enquanto você fala?! Que pretensão!

LISÍSTRATA:

Silêncio!

COMISSÁRIO (exaltado):

Uma mulher não pode exigir que um homem se cale! Logo você, que usa saia!

LISÍSTRATA:

Não seja por isso: dou-lhe uma saia, é só vesti-la e calar a boca!

(As MULHERES vestem o COMISSÁRIO com uma túnica cor-de-rosa e amarram uma fita em seu cabelo.)

LISÍSTRATA (dirigindo-se ao COMISSÁRIO):

Está ótimo! Agora você é uma moça e ouvirá nossas opiniões.

(Entrega um cesto a ele):

Pegue as agulhas, ajeite o vestidinho e fique bordando. A partir de agora, a guerra é assunto das mulheres!

1ª MULHER (dirigindo-se às outras):

Vamos lá pra dentro ajudar nossas companheiras!

(As MULHERES saem de cena. Ficam apenas CLEONICE, LISÍSTRATA e MIRRINA.)

LISÍSTRATA (com ênfase):

A paz é nossa meta! Ó deuses, para que a concórdia seja alcançada, basta Eros relaxar nossos corpos (com malícia) e enrijecer os dos homens!

COMISSÁRIO (irônico):

Enquanto Eros não atende ao seu pedido, posso saber que providências as mocinhas irão tomar em relação à cidade?

LISÍSTRATA:

Em primeiro lugar, vamos proibir os homens de usarem armas. Todos os dias, eles andam pelo mercado, fazendo ares de heróis, intimidando a todos!

COMISSÁRIO:

Estão cumprindo seus deveres; a cidade precisa de proteção.

CLEONICE:

Certo dia vi um tomando sopa no capacete e se encostando numa moça! E outro, flechando os figos.



Glossário
Assembleia: na Grécia Antiga, era na Assembleia que se decidiam os principais negócios do Estado. Essa Assembleia era popular, aberta a todos os cidadãos do sexo masculino, maiores de 18 anos, filhos de cidadãos gregos.
Eros: deus grego do amor.
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Quando reclamei, ele disse que só estava treinando a mira!

COMISSÁRIO:

Mas de que jeito vocês acabarão com essa bagunça?

LISÍSTRATA:

Isso é fácil.

COMISSÁRIO:

Fácil?!


LISÍSTRATA:

É como bordar: se a linha embaraça, desfazemos o nó. Pois bem: vamos acabar com o enrosco dessa guerra!

COMISSÁRIO:

E qual é a semelhança entre a costura e os negócios do Estado?

LISÍSTRATA:

Há muitos homens nos cargos públicos. Isso não dá certo. É como tentar enfiar várias linhas no buraco de uma agulha só!

Outra coisa: se cada um juntar seu fio com o do outro, todos juntos formaremos uma corda bem forte, com ponto firme! Muitas linhas darão roupa para o povo!

COMISSÁRIO:

Misturar linhas e agulhas com política? Vocês não entendem nada!

LISÍSTRATA:

Entendemos muito mais do que você, seu bobão! Criamos nossos filhos pra quê? Pra vê-los morrer nos campos de batalha?!

COMISSÁRIO (entristecido):

Não me faça lembrar de coisas dolorosas... Nosso consolo é que muitos se tornarão heróis.

LISÍSTRATA (com ênfase):

Não queremos heróis! Queremos os homens vivos e do nosso lado! Estamos perdendo a mocidade com nossos maridos longe!

As solteiras, coitadas, sofrem ainda mais: não há um homem disponível em toda a Grécia! O tempo passa e elas envelhecem sozinhas!

COMISSÁRIO:

Ora, os homens também envelhecem!

LISÍSTRATA:

Mas não é a mesma coisa! Um guerreiro, por mais velho que esteja, sempre acaba se casando. Já uma mulher, se não encontra marido durante a juventude, dificilmente achará alguém pra dar o que ela precisa.


Página 159

COMISSÁRIO (com malícia):

Pois eu, mesmo velho, ainda sou capaz de dar o que as mulheres precisam.

LISÍSTRATA:

Você?! Caindo aos pedaços desse jeito, dará é um belo defunto!

[...]


ARISTÓFANES. Lisístrata ou A greve do sexo. Adaptação de Anna Flora. São Paulo: Editora 34, 2002/2009. p. 90-95. (Fragmento).

Vale a pena ler!

Lisístrata ou A greve do sexo, Aristófanes.

São Paulo: Editora 34, 2010.

Nesta peça, escrita há quase 2.500 anos, as mulheres põem em prática uma revolução nos costumes: cansadas das guerras que mantêm seus maridos longe de casa, resolvem fazer uma “greve do sexo”. Como não poderia deixar de ser, as consequências são surpreendentes, divertidíssimas e altamente instrutivas.

Texto altamente recomendável pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).

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