Português: contexto, interlocução e sentido



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As correntes do Barroco

Duas correntes são identificadas no Barroco literário: o cultismo e o conceptismo. Ambas buscam, por meios diferentes, um mesmo fim: criar artifícios de linguagem que revelem agudeza e engenho.

Cultismo ou gongorismo

Predominante na poesia, o cultismo (ou gongorismo) caracteriza-se pela elaboração muito rebuscada da linguagem. Os poetas utilizam três artifícios: jogos de palavras (trocadilho, sinonímia, antonímia, homonímia, perífrase), jogos de imagens (uso das figuras de linguagem) e jogos de construção (estruturação sintática elaborada). A exploração das imagens procura envolver o leitor por meio de estímulos sensoriais, com destaque para o trabalho com os sons e as cores no texto. O soneto “À morte de F.” é um exemplo dessa tendência barroca.



Lembre-se

Perífrase é a utilização de muitas palavras para exprimir o que poderia ser dito com poucas ou uma só palavra. Por exemplo: sumo pontífice (papa), país do sol nascente (Japão).

Conceptismo ou quevedismo

O conceptismo (ou quevedismo) predomina nos textos em prosa. Em lugar de investir no rebuscamento linguístico, o escritor conceptista procura seduzir o leitor pela construção intelectual, valorizando o conteúdo, a essência da significação.

Para deslumbrar o leitor com o desenvolvimento de um raciocínio, o escritor conceptista recorre a comparações ousadas, exemplificações frequentes, metáforas, imagens, hipérboles, analogias. O resultado dessa elaboração na apresentação do raciocínio muitas vezes dificulta a compreensão do conteúdo. Os sermões do padre Antônio Vieira, apresentados mais adiante, são manifestações do conceptismo barroco.


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TEXTO PARA ANÁLISE

As questões de 1 a 5 referem-se ao texto a seguir.



Aos afetos, e lágrimas derramadas na ausência da dama a quem queria bem

Gregório de Matos expressa as contradições de seus sentimentos em versos barrocos.

Ardor em firme coração nascido;


Pranto por belos olhos derramado;
Incêndio em mares de água disfarçado;
Rio de neve em fogo convertido:

Tu, que em um peito abrasas escondido;


Tu, que em um rosto corres desatado;
Quando fogo, em cristais aprisionado;
Quando cristal, em chamas derretido.

Se és fogo, como passas brandamente,


Se és neve, como queimas com porfia?
Mas ai, que andou Amor em ti prudente!

Pois para temperar a tirania,


Como quis que aqui fosse a neve ardente,
Permitiu parecesse a chama fria.

Porfia: insistência, perseverança, obstinação.

MATOS, Gregório de. In: WISNIK, José Miguel (Sel. e org.). Poemas escolhidos. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 232.



1. Quais são os dois elementos da natureza que se opõem e representam as contradições que o sentimento amoroso desperta no eu lírico?

a) O que cada um deles simboliza no poema?

b) Nas duas primeiras estrofes, quais as imagens e metáforas utilizadas pelo eu lírico para fazer referência a esses elementos?

2. Quem é o interlocutor a que o eu lírico se refere na segunda e na terceira estrofes?

a) Como ele é caracterizado?

b) Qual é o questionamento feito pelo eu lírico nesses versos?

3. Releia.

“Incêndio em mares de água disfarçado; Rio de neve em fogo convertido:”



a) Qual é a figura de linguagem que indica a tensão entre os opostos? Explique.

b) Há outros exemplos dessa figura no poema? Quais?

c) Nos versos acima, ocorre a fusão ou a aproximação dos opostos. Como ela se dá?

4. Como você observou, o Barroco apresenta não apenas o confronto dos opostos, mas também sua fusão. No soneto, vemos a habilidade do autor em trabalhar a linguagem para realizar essa conciliação. Releia os versos a seguir, observando os trechos destacados em negrito e em itálico.

“Se és fogo, como passas brandamente,


Se és neve, como queimas com porfia?”

“Como quis que aqui fosse a neve ardente,


Permitiu parecesse a chama fria.”

a) No início do poema, o eu lírico apresenta a oposição entre o calor e o frio, o fogo e a água, a paixão e a contenção (ou refreamento). Explique de que maneira os dois primeiros versos transcritos encaminham a fusão que ocorrerá entre esses elementos opostos no fim do poema.

b) As expressões destacadas nos dois últimos versos são paradoxos, construídos a partir da oposição dos mesmos elementos: frio × calor; fogo × neve. Elas encerram o mesmo sentido? Por quê?

c) Considerando que a neve simboliza a prudência/o controle e o fogo, a paixão, qual é o significado, no contexto do poema, das expressões “neve ardente” e “chama fria”?

5. O eu lírico afirma que o Amor “temperou” sua tirania. De que maneira isso foi feito? Por quê?

Literatura e contexto histórico

O julgamento de Galileu Galilei pelo Tribunal do Santo Ofício e a condenação do cientista (por defender a tese de Copérnico de que a Terra se move em torno do Sol) ilustram como o século XVII era uma época dividida entre a razão e a fé. Explique de que forma esses acontecimentos exemplificam o contexto que gera o conflito do ser humano durante o Barroco.


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O Barroco brasileiro

São três as condições para a existência de uma literatura nacional: a presença de escritores que produzam continuamente, a possibilidade de publicação e circulação das obras literárias e um público que leia regularmente as obras produzidas. Quando essas três condições são atendidas, começa a funcionar o que o crítico Antonio Candido chamou de sistema literário.

Essas condições ainda não estavam presentes no Brasil colonial. Apenas os centros urbanos mais importantes, como Salvador e Recife, apresentavam alguma organização. Por isso, os poucos escritores que surgiram viviam isolados. As obras que escreviam raramente chegavam a ser publicadas, o que dificultava muito sua circulação. Os textos dependiam de uma difusão oral ou manuscrita, mas isso não acontecia com frequência.

Por esse motivo, quando se estudam as obras dos escritores que viveram no período colonial, diz-se que elas caracterizam manifestações literárias. A produção literária brasileira só alcança a condição plena de literatura nacional no século XIX, quando é possível identificar uma produção constante de obras literárias publicadas e lidas com regularidade.



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MAPOTECA DO ITAMARATI, MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, BRASÍLIA

Gravura Urbs Salvador, de 1625, que ilustra o livro de Arnold Montanus. No século XVII, Salvador era um dos poucos centros urbanos que mostravam alguma organização.

Como tudo começou

Em 1601 surgiu o poema épico Prosopopeia, escrito por Bento Teixeira. Esse texto costuma ser considerado o marco inicial da literatura barroca brasileira, embora não apresente grandes qualidades literárias.

Os maiores e melhores escritores barrocos em língua portuguesa no Brasil surgiram na Bahia: padre Antônio Vieira e Gregório de Matos. Como a vida econômica da colônia estava concentrada na região Nordeste, era lá que se encontravam os principais artistas e escritores, com destaque para Salvador, que foi capital do Brasil de 1549 até 1763.

Os textos de Vieira e de Gregório de Matos permanecem importantes e influenciam escritores brasileiros e portugueses. Conheça a seguir um pouco da obra desses dois autores.



Vieira: o engenhoso pregador português

No século XVII, em meio às disputas entre católicos e protestantes, o sermão, discurso religioso sobre algum conceito da doutrina cristã, tornou-se uma importante arma para divulgar os valores da Igreja Romana.

Os sermões escritos pelo padre Antônio Vieira ficaram famosos pela argumentação engenhosa e pela retórica perfeita. O domínio incomum das palavras garantiu ao jovem jesuíta entrada nas cortes mais importantes da Europa e influência junto ao rei de Portugal. Essa mesma habilidade tornou-o vítima da perseguição pelo Tribunal do Santo Ofício.

Entre os sermões mais conhecidos do padre Vieira, destacam-se dois, em que o pregador trata de aspectos da vida na colônia:

Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda (pregado na Bahia, em 1640): Vieira convoca o povo baiano a reagir contra a invasão holandesa, defendendo-se da ameaça protestante.

Sermão da primeira dominga da Quaresma (pregado no Maranhão, em 1653): Vieira tenta convencer os colonos a libertarem os indígenas que escravizavam.



A montagem argumentativa de um sermão

O sermão barroco devia demonstrar uma posição moral por meio de uma imagem que, associada a um fato ou a uma citação da Bíblia, pudesse ser um símbolo da posição a ser defendida.

A agudeza e o engenho só se manifestavam caso o autor da argumentação fosse capaz de ilustrar por meio de imagens e metáforas o tema do sermão. Vieira era um mestre nesse processo.

No Sermão da sexagésima, pregado na Capela Real de Lisboa, em 1655, ele pretende responder a uma pergunta básica: por que não faz fruto a palavra de Deus? Com sua argumentação, o jesuíta tenta convencer os fiéis de que a culpa é dos pregadores, que, em lugar de desenvolverem uma argumentação consistente, preocupam-se em enfeitar a linguagem, tornando o texto incompreensível.

No trecho a seguir, Vieira usa a imagem da árvore como símbolo do conceito que procura demonstrar: o sermão precisa desenvolver um único tema (uma só matéria), que deve estar em seu início e ao qual deve retornar o pregador ao concluir sua argumentação.

[...] Não nego nem quero dizer que o sermão não haja de ter variedade de discursos, mas esses hão de nascer todos da mesma matéria e continuar e acabar nela. Quereis ver tudo isto com os olhos? Ora vede: uma árvore tem raízes, tem tronco, tem ramos, tem folhas, tem varas, tem flores, tem frutos. Assim há de ser o sermão: há de ter raízes fortes e


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sólidas, porque há de ser fundado no Evangelho; há de ter um tronco, porque há de ter um só assunto e tratar uma só matéria; deste tronco hão de nascer diversos ramos, que são diversos discursos, mas nascidos da mesma matéria e continuados nela; estes ramos não hão de ser secos, senão cobertos de folhas, porque os discursos hão de ser vestidos e ornados de palavras. Há de ter esta árvore varas, que são repressão dos vícios; há de ter flores, que são as sentenças; e por remate de tudo, há de ter frutos, que é o fruto e o fim a que se há de ordenar o sermão. De maneira que há de haver frutos, há de haver flores, há de haver varas, há de haver folhas, há de haver ramos, mas tudo nascido e fundado em um só tronco, que é uma só matéria. Se tudo são troncos, não é sermão, é madeira.

Se tudo são ramos, não é sermão, são maravalhas. Se tudo são folhas, não é sermão, são verças. Se tudo são varas, não é sermão, é feixe. Se tudo são flores, não é sermão, é ramalhete. Serem tudo frutos, não pode ser; porque não há frutos sem árvore. Assim que nesta árvore, a que podemos chamar árvore da vida, há de haver o proveitoso do fruto, o formoso das flores, o rigoroso das varas, o vestido das folhas, o estendido dos ramos, mas tudo isto nascido e formado de um só tronco, e esse não levantado no ar, senão fundado nas raízes do Evangelho:Seminare semen. Eis aqui como hão de ser os sermões, eis aqui como não são. E assim não é muito que se não faça fruto com eles.

VIEIRA, Antônio. Sermões. 12. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1995. p. 132-133. (Fragmento).



Sentenças: frases que contêm um pensamento de ordem geral e de valor moral; provérbios, máximas.
Maravalhas: aparas ou lascas de madeira.
Verças: folhas de couve. Em sentido figurado: palavreado pobre de ideias, oco.
Seminare semen: em latim, semear a semente.

Passos da argumentação

A estrutura consagrada para os sermões no século XVII envolvia quatro passos, em que fica clara a preocupação com as ideias que marcaram a corrente conceptista do Barroco:

Exórdio: o orador começa a expor o plano a que vai se submeter e as ideias que vai defender.

Invocação: o orador pede auxílio divino para expor suas ideias.

Confirmação: desenvolvimento e exposição do tema, realçado com alegorias, sentenças e exemplos.

Peroração: conclusão; o orador, recapitulando tudo o que foi dito, termina com um desfecho vibrante para impressionar os fiéis e estimulá-los a seguirem os ensinamentos bíblicos apresentados.

Observe, no esquema a seguir, como funciona a metáfora da árvore para representar o sermão.

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Gregório de Matos: o primeiro grande poeta brasileiro

Gregório de Matos teve sólida formação cultural. Estudante de Direito em Coimbra, lá entrou em contato com a perspectiva humanista que incentivava a leitura dos autores clássicos. Ele seguiu os ensinamentos aprendidos com esses mestres literários em sua obra. Tornou-se conhecido por sua poesia lírica, sacra e satírica.



A poesia lírica

A lírica amorosa de Gregório de Matos retoma temas clássicos, como a oposição entre espírito e matéria, para desenvolver sua poesia.

Mesmo com o cuidado na construção de metáforas e na estruturação sintática do poema, Gregório de Matos jamais transforma sua poesia em um exercício exagerado do artificialismo da linguagem cultista. Por trás de suas imagens, sempre é possível identificar o desenvolvimento de um raciocínio exemplar.

Pintura admirável de uma beleza

Vês esse sol de luzes coroado?


Em pérolas a aurora convertida?
Vês a lua de estrelas guarnecida?
Vês o céu de planetas adorado?

O céu deixemos; vês naquele prado


A rosa com razão desvanecida?
A açucena por alva presumida?
O cravo por galã lisonjeado?

Deixa o prado; vem cá, minha adorada:


Vês desse mar a esfera cristalina
Em sucessivo aljôfar desatada?

Parece aos olhos ser de prata fina?


Vês tudo isto bem? Pois tudo é nada
À vista do teu rosto, Catarina.

MATOS, Gregório de. In: Wisnik, José Miguel (Sel. e org.). Poemas escolhidos. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 237.



Açucena: planta procedente da Ásia, muito conhecida pelas flores alvas e perfumadas.
Presumida: vaidosa.
Aljôfar: pérola muito miúda. Em sentido figurado: gotas de água, o orvalho da manhã.
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Seguindo a tradição inaugurada por Shakespeare e Camões de comparar a beleza feminina às maravilhas da natureza, Gregório de Matos retoma esse tema para desenvolvê-lo segundo os princípios da composição barroca.

A beleza de Catarina é afirmada por meio de uma estrutura bastante regular que identifica os aspectos mais louváveis do Sol, da Lua, do Céu, da rosa, da açucena e do mar. Se o ideal clássico de beleza pode ser encontrado na natureza, o que dizer de Catarina, que a tudo supera, como expressa o paradoxo final: “tudo é nada / À vista do teu rosto”?

A poesia sacra

O que sobressai, na poesia sacra de Gregório de Matos, é o senso de pecado, a constatação da fragilidade humana e o temor diante da morte e da condenação eterna. Essa faceta de pecador arrependido aparece nos poemas compostos na fase final de sua vida, já que, na juventude, o poeta fez várias composições que desafiavam o poder divino. O poema a seguir é da fase mais madura do poeta.



Buscando a Cristo

A vós correndo vou, braços sagrados,


Nessa cruz sacrossanta descobertos,
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.

A vós, divinos olhos, eclipsados


De tanto sangue e lágrimas abertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.

A vós, pregados pés, por não deixar-me,


A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, p’ra chamar-me.

A vós, lado patente, quero unir-me,


A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.

MATOS, Gregório de. In: Wisnik, José Miguel (Sel. e org.). Poemas escolhidos. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 316.

Esse soneto ilustra uma característica típica do estilo barroco: o uso de situações ambivalentes, que possibilitam dupla interpretação. Assim, os braços de Cristo são apresentados como abertos e cravados (presos); seus olhos estão despertos e fechados. Cada um desses estados permite ao poeta fazer uma interpretação sempre positiva do gesto divino. Os braços estão abertos para acolher o fiel que se dirige a Deus e cravados para não castigá-lo pelos pecados que cometeu.

O soneto desenvolve uma argumentação que busca convencer o leitor de uma verdade religiosa: o perdão de Deus é absoluto. A imagem de Jesus crucificado dá origem às metonímias (utilização da parte para referir-se ao todo) que constituirão os “argumentos” apresentados pelo poeta. Cada uma das partes do corpo de Cristo representa uma atitude acolhedora, magnânima, uma manifestação de bondade e comiseração.

Na última estrofe, podemos identificar o tema do fusionismo: o fiel, reconhecendo os sinais de que será acolhido por Deus, manifesta o seu desejo de “ficar unido, atado e firme” ao Cristo crucificado.

De olho no livro

O Boca do Inferno

....................................................

[...] Gregório de Matos queria, como o poeta espanhol, escrever coisas que não fossem vulgares, alcançar o culteranismo. [...] Gregório de Matos estava ali, no lado escuro do mundo, comendo a parte podre do banquete. Sobre o que poderia falar? [...]

MIRANDA, Ana. Boca do Inferno. 2. ed. revista pela autora. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. p. 13. (Fragmento).

....................................................

Ana Miranda recria, em seu romance, a corrupta e violenta sociedade baiana do século XVII. Protagonizado por Gregório de Matos, o Boca do Inferno, e pelo padre Vieira, o livro revela o perfil da sociedade que negará tanto um como outro por suas críticas afiadas ao cenário político e social do período.



A poesia satírica

Foram os poemas satíricos que deram fama ao poeta baiano, chegando mesmo a causar o seu degredo para Angola, em 1694. No poema a seguir, Gregório de Matos expõe de modo exemplar a prática da maledicência.



Reprovações

Se sois homem valoroso,


Dizem que sois temerário,
Se valente, espadachim,
E atrevido, se esforçado.

Se resoluto, — arrogante,


Se pacífico, sois fraco,
Se precatado, — medroso,
E se o não sois, — confiado.

[...]


Se falais muito, palreiro,
Se falais pouco, sois tardo,
Se em pé, não tendes assento,
Preguiçoso, se assentado.

E assim não pode viver


Neste Brasil infestado,
Segundo o que vos refiro
Quem não seja reprovado.

MATOS, Gregório de. In: Wisnik, José Miguel (Sel. e org.). Poemas escolhidos. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 316.



Espadachim: aquele que luta com espada. Em sentido figurado: pessoa que briga muito, valentona.
Precatado: prevenido.
Palreiro: falador, tagarela.
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O olhar crítico de Gregório de Matos revela aspectos negativos da vida na Bahia e em Pernambuco em fins do século XVII. Ele denuncia, com irreverência, a corrupção econômica dos políticos e a corrupção moral dos padres e freiras. Como ele mesmo afirmou em um de seus textos: “Eu falo, seja o que for”.



TEXTO PARA ANÁLISE

As questões de 1 a 4 referem-se ao texto a seguir.



Sermão de Santo Antônio (aos peixes)

Neste sermão, pregado na cidade de São Luís do Maranhão, em 1654, Vieira utiliza seu poder argumentativo para tratar da tarefa do pregador em uma terra corrompida. Depois de se dirigir aos pregadores, passa a pregar para os “peixes”, já que não estava sendo ouvido por seus fiéis.

Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando com os Pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra, o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os Pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os Pregadores dizem uma coisa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem; ou é porque o sal não salga, e os Pregadores se pregam a si, e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. [...]

Suposto, pois, que, ou o sal não salgue, ou a terra se não deixe salgar; que se há de fazer a este sal, e que se há de fazer a esta terra? O que se há de fazer ao sal, que não salga, Cristo o disse logo: [...] Se o sal perder a substância e a virtude, e o Pregador faltar à doutrina, e ao exemplo; o que se lhe há de fazer, é lançá-lo fora como inútil, para que seja pisado de todos. Quem se atrevera a dizer tal coisa, se o mesmo Cristo a não pronunciara? Assim como não há quem seja mais digno de reverência, e de ser posto sobre a cabeça, que o Pregador, que ensina e faz o que deve; assim é merecedor de todo o desprezo, e de ser metido debaixo dos pés, o que com a palavra, ou com a vida prega o contrário.

Isto é o que se deve fazer ao sal, que não salga.

VIEIRA, Antônio. In: PÉCORA, Alcir (Org.). Sermões. Tomo I. São Paulo: Hedra, 2000. p. 317-318. (Fragmento).

1. Nesse sermão, os pregadores são comparados ao sal da terra. Qual é, segundo o texto, a função daquele que prega?

a) Vieira inicia o sermão com a fala de Cristo aos pregadores para fazer um questionamento aos seus ouvintes. Qual é ele?

b) Por que esse questionamento é, na verdade, uma estratégia para iniciar o raciocínio apresentado ao longo do texto?

2. Releia.

“Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar.”



a) Quais são os motivos apontados por Vieira para explicar por que a pregação não consegue eliminar a corrupção?

b) Segundo o texto, que razões têm os fiéis para não acatarem as palavras dos pregadores?

c) De que recurso estilístico Vieira se vale para construir a sua argumentação? Explique.

d) Como esse recurso contribui para que a argumentação seja eficaz?

3. Qual é a conclusão a que Vieira chega sobre o pregador?

4. Você acha que as colocações feitas por Vieira permanecem válidas até hoje? Nos dias atuais, ainda é possível identificar “o sal que não salga” e “a terra que não se deixa salgar”? Explique.
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