Silvia Maria de Araújo · Maria Aparecida Bridi · Benilde Lenzi Motim


Com base em tudo o que você estudou até agora, você diria que os seres humanos podem viver sem trabalho? Por quê? Conceitos-chave



Yüklə 2,99 Mb.
səhifə18/56
tarix02.08.2018
ölçüsü2,99 Mb.
#66341
1   ...   14   15   16   17   18   19   20   21   ...   56

3. Com base em tudo o que você estudou até agora, você diria que os seres humanos podem viver sem trabalho? Por quê?

Conceitos-chave:

Tecnologia, fordismo, taylorismo, toyotismo, reestruturação produtiva, relações de trabalho, flexibilização, trabalho ultraflexível, neoliberalismo, terceirização, acumulação flexível, cadeia produtiva, sindicatos, informalidade, tecnologias informacionais, financeirização, teletrabalho, trabalho em domicílio, precarização do trabalho, trabalho precário, emprego padrão, trabalho por conta própria, agricultura familiar.



Revisar e sistematizar

1. Defina o que são tecnologias e discuta o papel delas nas mudanças sociais.

2. As tecnologias são as únicas responsáveis pelos problemas de deficit de postos de trabalho no mundo?

3. Descreva as principais características do fordismo e do taylorismo e identifique elementos deles na organização do trabalho na indústria brasileira.

4. Indique algumas implicações dos sistemas flexíveis de produção para o mercado de trabalho.

5. Quais são as modalidades flexíveis de trabalho? Como o trabalho flexível está relacionado à terceirização?

6. Qual é o papel dos sindicatos? Quais são os desafios que eles enfrentam diante das transformações no mundo do trabalho?

163

Teste seus conhecimentos e habilidades

1. Observe a tabela dos salários dos trabalhadores e responda ao que se pede.

Distribuição percentual dos trabalhadores diretos e terceirizados por faixa salarial (2010)

Faixa salarial

Terceiros

Diretos

de 1 a 2 salários mínimos (de RS 546,00 a RS 1.090,00)

48%

29%

de 2 a 3 salários mínimos (de RS 1.091,00 a RS 1.635,00)

36%

23%

de 3 a 4 salários mínimos (de RS 1.636,00 a RS 2.180,00)

12%

13%

de 4 a 6 salários mínimos (de RS 2.181,00 a RS 3.270,00)

4%

17%

acima de 6 a 8 salários mínimos (de RS 3.271,00 a RS 4.360,00)

0

10%

acima de 8 salários mínimos (acima de RS 4.361,00)

0

8%

Total

100%

100%

FONTE: : Pesquisa de Percepção dos Trabalhadores em Setores e empresas selecionados, CUT, 2010-2011. DIEESE; CUT. Terceirização e desenvolvimento. Uma conta que não fecha. Dossiê sobre o impacto da terceirização sobre os trabalhadores e propostas para garantir a igualdade de direitos. p. 7. Disponível em: http://2013.cut.org.br/sistema/ck/files/terceirizacao.PDF. Acesso em: 27 jul. 2015.

É correto afirmar que:

a) A maioria dos trabalhadores brasileiros pesquisados em 2010 tinha remuneração de até 3 salários mínimos.

b) Apenas 18% do total de trabalhadores ganhavam acima de 6 salários mínimos, em 2010.

c) A diferença salarial entre trabalhadores terceirizados e diretos não é significativa.

d) Os salários são baixos, mas é visível a desvantagem dos terceirizados (96% ganham até 4 salários mínimos).

e) Os dados apresentados desmentem as teses que se referem aos baixos salários dos terceirizados.

Estão corretas as respostas:

a) c, e.

b) a, b, c.

c) b, e.

d) a, d.


e) a, c, e.

2. Analise a tabela sobre a evolução do PIB por setores econômicos no Brasil no período de 1950 a 2000.

PIB por setores econômicos - Brasil (1950-2000)

Ano

Agropecuária

Indústria

Serviços

1950

25,08

24,96

49,61

1960

18,28

33,19

48,69

1970

12,35

38,30

49,78

1980

10,89

44,09

44,46

1990

8,10

38,69

52,66

2000

5,60

27,73

66,67

FONTE: Fonte: IBGE - Departamento de Contas Nacionais. Extraído de CARDOSO, A. Transições da escola para o trabalho no Brasil: Persistência da desigualdade e frustração de expectativas. RevistaDados. v. 51, n. 3: Rio de Janeiro, 2008. Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52582008000300002. Acesso em: 28 jul. 2015.

Com base nos dados, podemos depreender que:

a) O setor rural foi paulatinamente perdendo participação na composição do PIB do Brasil.

b) A indústria teve maior participação no PIB na década de 1980 e nos anos 2000 voltou ao patamar dos anos 1950, embora ligeiramente maior.

c) Os setores da agropecuária e de serviços têm participação cada vez mais reduzida na composição do PIB no Brasil.

d) A maior evolução se deu nos setores da indústria e da agropecuária, o que tem relação com a tradição de uma economia industrial fortemente voltada para o mercado interno.

e) O setor de serviços ampliou a sua participação de forma crescente. Isso nos permite supor que é o setor de serviços que comporta o maior número de postos de trabalho no país.

Estão corretas as respostas:

a) a, c, d.

b) c, d, e.

c) b, d, c.

d) a, c, e.

e) a, b, e.

164

Descubra mais

As Ciências Sociais na biblioteca

ANTUNES, Ricardo (Org). Riqueza e miséria do trabalho no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2006.

Apresenta diversos estudos sobre o trabalho, condições de trabalho e formas de organização dos trabalhadores em diferentes setores da economia.

IVO, Anete e outros (Org.). Dicionário temático. Desenvolvimento e questão social. São Paulo: Annablume, 2013.

Contém inúmeros verbetes relacionados ao trabalho como questão social.

MARTINS, José de Souza. A sociedade vista do abismo. Novos estudos sobre exclusão, pobreza e classes sociais. Petrópolis: Vozes, 2012.

Discute temas como migração, escravidão na sociedade contemporânea e questões da Sociologia Rural.

LEGENDA: Capa do livro A sociedade vista do abismo, de José de Souza Martins.

FONTE: Reprodução/Ed. Vozes

POCHMANN, Márcio. A superterceirização do trabalho. São Paulo: LTr, 2008.

Discute a terceirização, uma das manifestações do capitalismo flexível.

VÉRAS DE OLIVEIRA, Roberto. Sindicalismo e democracia no Brasil - do novo sindicalismo ao sindicato cidadão. São Paulo: Annablume, 2011.

Estudo sobre o sindicalismo no Brasil contemporâneo.

As Ciências Sociais no cinema

Dois dias, uma noite, 2014, Bélgica, direção de Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne.

Drama atual do desemprego exposto em uma situação de luta pessoal por contrapor o individualismo e a solidariedade no capitalismo.



Revolução em Dagenham, 2010, Reino Unido, direção de Nigel Cole.

Baseado na história de mulheres que, em 1968, lideraram uma greve por igualdade salarial, permitida pela legislação inglesa.



O corte, 2005, Bélgica/Espanha/França, direção de Costa-Gavras.

Drama do desemprego sobre a vida emocional, familiar e social de um executivo de uma indústria de papel submetida à reestruturação produtiva.



Daens, 1992, Bélgica/França/Holanda, direção de Stijn Coninx.

Expõe as duras condições de crianças e adultos trabalhadores em uma fábrica, no final do século XIX.



Infâncias roubadas, 2007, Reino Unido/África do Sul, direção de Gavin Hood.

Este documentário realiza um mapeamento do trabalho infantil no mundo.



Sob a luz da América, 2004, Índia, direção de Roger Christian.

Trata do deslocamento dos call centers, empresas de telemarketing ou teleatendimento de multinacionais, para países como a Índia.

As Ciências Sociais na rede

Ministério do Trabalho e do Emprego. Disponível em: www.mte.gov.br. Acesso em: 8 jul. 2015.

Portal do Ministério que disponibiliza dados, estatísticas e notícias sobre trabalho, emprego e renda.



Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível em: www.ibge.gov.br. Acesso em: 2 jul. 2015.

Apresenta dados sobre o mundo do trabalho no Brasil.



Instituto Observatório Social. Disponível em: www.observatoriosocial.org.br. Acesso em: 9 jul. 2015.

Traz informações sobre o panorama do trabalho e dos salários, do mercado de trabalho e da organização dos trabalhadores no Brasil.



Organização Internacional do Trabalho (OIT). Disponível em: www.oitbrasil.org.br. Acesso em: 2 jul. 2015.

O site traz informações atualizadas sobre temas como diálogo social, emprego, gênero e raça, proteção social, trabalho escravo e forçado, trabalho infantil, além de normas e convenções do trabalho e publicações.



Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Disponível em: www.ipea.gov.br/portal. Acesso em: 2 jul. 2015.

Informações atualizadas e resultados de pesquisas sobre a realidade socioeconômica brasileira.



Democracia e mundo do trabalho em debate. Disponível em: www.dmtemdebate.com.br. Acesso em: 2 ago. 2015.

Artigos e notícias, dicas de livros e publicações sobre a realidade do trabalho no Brasil e no mundo.



Portal Brasil. Economia e emprego. Disponível em: www.brasil.gov.br/economia-e-emprego. Acesso em: 27 jul. 2015.

Site com informações, notícias e artigos relativos à situação do trabalho no país.

165

Bibliografia

ALVES, Giovanni. O novo (e precário) mundo do trabalho: reestruturação produtiva e crise do sindicalismo. São Paulo: Fapesp/Boitempo Editorial, 2000.

ANTUNES, Ricardo (Org.). Riqueza e miséria do trabalho no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2006.

BAUMGARTEN, Maíra; HOLZMANN, Lorena. Tecnologia. In: CATTANI, Antônio; HOLZMANN, Lorena (Orgs.) Dicionário de trabalho e tecnologia. 2ª ed. Porto Alegre: Zouk, 2011. p. 391-398.

BRAVERMAN, Harry. Trabalho e capital monopolista; a degradação do trabalho no século XX. 3ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.

BOLTANSKI, Luc; CHIAPELLO, Éve. O novo espírito do capitalismo. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

CARDOSO, Adalberto Moreira. Trabalhar, verbo transitivo: destinos profissionais dos deserdados da indústria automobilística. Rio de Janeiro: Ed. da FGV, 2000.

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. A era da informação: economia, sociedade e cultura, v. 1. 3ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.

CATTANI, Antonio (Org.). Trabalho: horizonte 2021. Porto Alegre: Escritos Editora, 2014.

CATTANI, Antonio; HOLZMANN, Lorena (Orgs.). Dicionário de trabalho e tecnologia. 2ª ed. Porto Alegre: Zouk, 2011.

LEGENDA: Capa do Dicionário do trabalho e tecnologia, de Antonio Cattani e Lorena Holzmann (ed. Zouk).

FONTE: Reprodução/Ed. Zouk

DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. Anuário dos trabalhadores 2010-2011. 11ª ed. São Paulo, 2011.

DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. O processo de terceirização e seus efeitos sobre os trabalhadores no Brasil, dez. 2007. Disponível em: www.dieese.org.br/relatoriotecnico/2007/terceirizacao.pdf. Acesso em: 7 jul. 2015.

DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. Terceirização e morte no trabalho: um olhar sobre o setor elétrico no Brasil. Estudos e Pesquisas Dieese, n. 50, mar. 2010. Disponível em: www.dieese.org.br/estudosepesquisas/2010/estPesq50TercerizacaoEletrico.pdf. Acesso em: 25 ago. 2015.

DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos; CUT. Terceirização e desenvolvimento. Uma conta que não fecha, set. 2011. Disponível em: http://2013.cut.org.br/sistema/ck/files/terceirizacao.PDF. Acesso em: 27 jul. 2015.

DOWBOR, Ladislau. O que acontece com o trabalho? São Paulo: Senac-SP, 2002.

GARCIA, Sandro Ruduit. Terceirização. In: CATTANI, A. D.; HOLZMANN, L.(Orgs.). Dicionário de trabalho e tecnologia. 2ª ed. Porto Alegre: Zouk, 2011. p. 423-426.

GORZ, André. Adeus ao proletariado: para além do socialismo. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982.

GORZ, André. Metamorfoses do trabalho: crítica da razão econômica. São Paulo: Annablume, 2003.

GUIMARÃES, Nadya Araújo; HIRATA, Helena; SUGITA, Kurumi (Orgs.). Trabalho flexível, empregos precários? Uma comparação Brasil, França, Japão. São Paulo: Edusp, 2009.

HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. São Paulo: Loyola, 1993.

HARVEY, David. O novo imperialismo. São Paulo: Loyola, 2004.

HELLER, Agnes et al. A crise dos paradigmas em ciências sociais e os desafios para o século XXI. Rio de Janeiro: Contraponto, 1999.

HOLZMANN, Lorena; PICCININI, Valmiria. Flexibilização. In: CATTANI, Antonio; HOLZMANN, Lorena (Orgs.). Dicionário de trabalho e tecnologia. Porto Alegre: Zouk, 2011, p. 196-199.

HOLZMANN, Lorena. O trabalhador por conta própria no Brasil. Revista Paranaense de Desenvolvimento, Curitiba, v. 34, n. 124, jan.-jun. 2013. p. 119-137.

IBGE. Indicadores Sociais 2014. Disponível em: ftp://ftp.ibge.gov.br/Indicadores_Sociais/Sintese_de_Indicadores_Sociais_2014/SIS_2014.pdf. Acesso em: 2 ago. 2015.

INSTITUTO OBSERVATÓRIO SOCIAL. Disponível em: www.observatoriosocial.org.br. Acesso em: 20 ago. 2012.



166

KREIN, José Dari. O aprofundamento da flexibilização das relações de trabalho no Brasil nos anos 90. (Dissertação de Mestrado). Campinas: Ed. da Unicamp, 2001.

KREIN, José Dari. Neoliberalismo e trabalho. In: CATTANI, Antonio D.; HOLZMANN, Lorena (Orgs.). Dicionário de trabalho e tecnologia. 2ª ed. Porto Alegre: Zouk, 2011. p. 245-250.

LIANZA, Sydnei; ADDOR, Felipe (Orgs.). Tecnologia e desenvolvimento social e solidário. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 2005.

MARQUES, Maria Elizabeth; NEVES, Magda; CARVALHO NETO, Antonio (Orgs.). Trabalho infantil: a infância roubada. Belo Horizonte: MTE / PUCMinas, 2002.

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. 28ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011. Também 9ª ed. Difel, 1984.

MORAIS, Regis de. Filosofia da ciência e da tecnologia. 6ª ed. São Paulo: Papirus, 1988.

Organização Internacional do Trabalho (OIT). Uma aliança global contra o trabalho forçado. Relatório Global do Seguimento da Declaração da OIT sobre Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho 2005. Disponível em: www.oit.org.br/sites/default/files/topic/forced_labour/pub/relatorio_global_2005_alianca_contra_trabalho_forcado_316.pdf. Acesso em: 25 ago. 2015.

PIKETTY, Thomas. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014.

LEGENDA: Capa de O capital no século XXI| de Thomas Piketty (ed. Intrínseca).

FONTE: Reprodução/Ed. Intrinseca

POCHMANN, Marcio. Entrevista à Rádio Brasil Atual. Disponível em: www.redebrasilatual.com.br/economia/2015/04/terceirizacao-e-um-retrocesso-economico-para-o-pais2019-afirma-economista-2441.html. Acesso em: 27 jul.2015.

POCHMANN, Marcio. Sindeepres: as relações do trabalho terceirizado. Disponível em: www.diap.org.br/images/stories/terceirizacao_nobrasil.pdf. Acesso em: 27 jul. 2015.

POCHMANN, Marcio. Desempregados do Brasil. In: ANTUNES, Ricardo (Org.). Riqueza e miséria do trabalho no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2006, p. 59-76.

POCHMANN, Marcio. A década dos mitos: o novo modelo econômico e a crise do trabalho no Brasil. São Paulo: Contexto, 2001.

RIFKIN, Jeremy. O fim dos empregos. São Paulo: Makron Books, 1995.

ROSA, Maria Inês. Usos de si e testemunhos de trabalhadores. São Paulo: Letras & Letras, 2004.

SAHUQUILLO, Maria R. Trabalhadores ultraflexíveis. El País, 3 maio 2015. Disponível em: http://brasil.elpais.com/brasil/2015/05/01/internacional/1430504838_853098.html. Acesso em: 30 jul. 2015.

SENNETT, Richard. La cultura del nuovo capitalismo. Bologna: Il Mulino, 2006.

SUPIOT, Alain (Org.). Il futuro del lavoro. 2. Ristampa. Roma: Carocci, 2006.

VERASZTO, Estéfano Vizconde et al. Tecnologia: buscando uma definição para o conceito. PRISMA. COM, nº 7, 2008. Disponível em: http://revistas.ua.pt/index.php/prismacom/article/viewFile/681/pdf. Acesso em: 2 ago. 2015.

WOOD JR., Thomaz. O fim do trabalho? Carta Capital, 29 jul. 2015, p. 49.



167

CAPÍTULO 6 - A cultura e as suas raízes

LEGENDA: Apresentação da quadrilha Mistura Gostosa em festa junina em Campina Grande (PB). Foto de 2015.

FONTE: Rubens Chaves/Pulsar Imagens



ESTUDAREMOS NESTE CAPÍTULO:

A cultura, um aprendizado social que compreende a produção de bens materiais e simbólicos. Trataremos sobre a diversidade cultural na sociedade brasileira e veremos que a identidade cultural envolve a experiência e a consciência de pertencer a um coletivo. Desde que se firmou a sociedade de massas, os hábitos culturais também passaram a ser influenciados pelos meios de comunicação de massa. Por outro lado, os grupos sociais minoritários produzem culturas alternativas ou contra-hegemônicas. Analisando os sistemas tecnológicos de comunicação da sociedade global, aprenderemos como eles podem aproximar grupos geograficamente distantes e, ao mesmo tempo, aprofundar as diferenças sociais, sinal de que a cultura é um fenômeno heterogêneo.

168

Comunicação e cultura

Se você faz uso da internet ou de jogos eletrônicos, saiba que você integra uma nova tendência cultural - a "cultura virtual do real", assim denominada pelo sociólogo espanhol Manuel Castells (1942-). A realidade virtual é a simulação de um mundo artificial com base na relação ser humano-máquina, cuja meta é envolver todos os sentidos do usuário. Acompanhemos a narrativa sobre uma mulher, no Japão, que destina algum tempo do seu dia para vivenciar outra identidade em um cenário de um mundo paralelo.



O mundo de Mariko Ito, de 32 anos, moradora de Tóquio, usuária de Habitat, essa cidade japonesa de dez mil habitantes, que não se encontra no mapa, porque é uma cidade virtual [...] e lançada [...] em 1990. Mariko Ito vai à Habitat ciberespacial, por uma ou duas horas todos os dias, porque, diz ela, "é fantástico, lá posso ser outra pessoa". Lá, Mariko pode escolher sua roupa, sua aparência e seu sexo, optando entre os 1100 rostos possíveis, depois de ter se registrado como avatar ou residente. Atravessando o espelho da tela e entrando, do outro lado, num mundo ciberespacial, Mariko torna-se um avatar, isto é, uma reencarnação, ou uma metamorfose. Parece ficção, mas é realidade virtual.

SANTOS, Laymert. Considerações sobre a realidade virtual. In: FERREIRA, Leila (Org.). A Sociologia no horizonte do século XXI. São Paulo: Boitempo, 2002. p. 113-114.

FONTE: Filipe Rocha/Arquivo da editora

LEGENDA: Na foto, cena do filme Avatar, dirigido por James Cameron (Estados Unidos, 2009).

FONTE: Century Fox/Divulgação th 20

Glossário:



avatar: palavra derivada de avatara, que significa 'descida do céu à Terra' em sânscrito, antiga língua indiana. Atualmente, a palavra tem sido utilizada nos meios de comunicação e na informática para designar personagens que são criadas virtualmente à semelhança de seu usuário, possibilitando sua "entrada" no mundo virtual.

Fim do glossário.

Que culturas emergirão dessas realidades vividas virtualmente? Os novos sistemas de comunicação da era da informática transformam o espaço e o tempo, reintegrando-os em redes funcionais na cultura moderna.

As alterações em ritmo acelerado nos meios de comunicação contribuíram para transformar o nosso estilo de vida, o modo de nos relacionarmos, produzirmos, consumirmos, enfim, de vivermos. Essas grandes mudanças resultaram de uma Revolução Tecnológica que ocorreu na metade do século XX, segundo alguns historiadores e sociólogos. Originada nos Estados Unidos e centrada na informação, essa revolução decorreu de inovações na microeletrônica, como o circuito integrado, o microprocessador e o microcomputador. Essas tecnologias da informação e da comunicação (TICs) permitem conciliar as atividades de trabalho e de lazer.



169

Os sistemas de comunicação modificaram alguns de nossos hábitos cotidianos. Atualmente é possível usar a telefonia móvel, a partir de lugares remotos, para estabelecer contato com amigos, parentes, e até comprar ou vender produtos. As transações comerciais que antes exigiam, necessariamente, a presença de duas ou mais pessoas agora podem ser mediadas por máquinas.

A comunicação em tempo real entre os mercados do mundo também só foi possível com as tecnologias de informação. O sistema financeiro internacional habita o ciberespaço, que é a via responsável por retransmitir, de forma simultânea aos acontecimentos, informações sobre crises e mudanças no mundo todo, com desdobramentos globais imediatos. Mesmo que uma pessoa não utilize os meios de comunicação virtuais, o seu cotidiano está ligado de alguma forma a eles.

Você já entrou em uma agência bancária e observou seu movimento? Para ter seu acesso liberado pela porta giratória, a pessoa se despoja de seus pertences metálicos; a seguir, retira uma senha que lhe dá acesso a um atendente se pretender abrir uma conta-corrente ou resolver um problema específico, porque quase todos os demais serviços podem ser realizados por meio de máquinas eletrônicas de autoatendimento. Retirar e depositar dinheiro, pagar contas, verificar saldos: todas essas atividades, a partir dos anos 1990, passaram a ser realizadas diretamente entre o cliente e a máquina.

As sociedades humanas se produzem e reproduzem em ambientes simbólicos por meio dos processos de socialização, como estudamos no Capítulo 3. Isso significa que internalizamos sistemas de signos produzidos culturalmente, como é o caso da linguagem, da escrita, dos números, entre outros signos, ajustando-nos aos padrões de comportamento vigentes. Em toda relação que os seres humanos estabelecem com o seu entorno, eles o modificam: das árvores fazem móveis, com os metais elaboram utensílios domésticos, em uma roda de batuque compõem músicas, etc. Nessas situações - e também naquelas virtuais - eles criam uma cultura plena de significados que dá sentido à sua existência, como afirma o antropólogo polonês Bronislaw Malinowski (1884-1942).

As conversas cotidianas, os assuntos sobre os quais falamos, o modo de nos relacionarmos com fatos como nascimento, crescimento e morte são culturais. A maneira de prepararmos as refeições e lidarmos com os alimentos, o modo como trabalhamos, nos vestimos, nos divertimos, as músicas que ouvimos, os filmes a que assistimos, enfim, o relacionamento com aquilo que nos rodeia: tudo o que pode ser aprendido e ensinado faz parte da cultura.

LEGENDA: Comunicar-se com familiares e amigos à distância, registrar momentos de lazer ou resolver pendências como pagamentos em tempo real foram facilitados graças às novas tecnologias da informação e da comunicação, entre outras facilidades. Na foto, de 2014, jovens em Cumuruxatiba (BA).

FONTE: Marcos André/Opção Brasil Imagens



Yüklə 2,99 Mb.

Dostları ilə paylaş:
1   ...   14   15   16   17   18   19   20   21   ...   56




Verilənlər bazası müəlliflik hüququ ilə müdafiə olunur ©muhaz.org 2024
rəhbərliyinə müraciət

gir | qeydiyyatdan keç
    Ana səhifə


yükləyin