Tempos modernos tempos de sociologia helena bomeny



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. Acesso em: maio 2016.

WEBER, Max. A ética protestante e o “espírito” do capitalismo [1920]. Antônio Flávio Pierucci (Org.). São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

______. Economia e sociedade [1925]. Brasília: Editora da UnB; São Paulo: Imprensa Oficial, 2004.

______. In: GERTH, H. H.; MILLS, C. W. (Org.). Ensaios de Sociologia. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008.

ZALUAR, Alba. A máquina e a revolta. São Paulo: Brasiliense, 1985.
Página 385

MANUAL DO PROFESSOR



VOLUME ÚNICO

ENSINO MÉDIO

SOCIOLOGIA
Página 386

Sumário


1 Apresentação do livro 388

1.1 – Apostas e desafios 388


1.2 – Proposta pedagógica 389
1.3 – Estrutura do livro 390
1.3.1 – Concepção do livro 391
1.3.2 – Roteiros possíveis 392
1.3.3 – Composição dos capítulos 394
1.3.4 – Construindo seus conhecimentos 395
1.4 – Práticas inter e multidisciplinares no ensino 396
1.5 – A avaliação como processo 398
1.6 – Leitura complementar 399
1.6.1 – Metodologia de ensino das Ciências Sociais 399
1.6.2 – O recurso da pesquisa nas aulas de Sociologia 400
1.7 – Formação continuada do professor de Sociologia 401
1.8 – O uso e a presença das novas tecnologias 401

2 Utilizando o livro 403

Parte I: Saberes cruzados 403
Roteiro de viagem 403
Orientações gerais 403
Comentários e gabaritos 403
Capítulo 1: A chegada dos “tempos modernos”...404
Orientações gerais 404
Comentários e gabaritos 405
Capítulo 2: Saber o que está perto 408
Orientações gerais 408
Comentários e gabaritos 409
Capítulo 3: Saber o que está distante 412
Orientações gerais 412
Comentários e gabaritos 414
Capítulo 4: Saber as manhas e a astúcia da política 417
Orientações gerais 417
Comentários e gabaritos 418
Parte II: A Sociologia vai ao cinema 422
Sociologia e cinema 422
Orientações gerais 422
Comentários e gabaritos 423
Capítulo 5: O apito da fábrica 423
Orientações gerais 423
Comentários e gabaritos 425
Capítulo 6: Tempo é dinheiro! 428
Orientações gerais 428
Comentários e gabaritos 430
Capítulo 7: A metrópole acelerada 432
Orientações gerais 432
Comentários e gabaritos 434
Capítulo 8: Trabalhadores, uni-vos! 436
Orientações gerais 436
Comentários e gabaritos 437
Página 387

Capítulo 9: Liberdade ou segurança? 439
Orientações gerais 439
Comentários e gabaritos 441
Capítulo 10: As muitas faces do poder 443
Orientações gerais 443
Comentários e gabaritos 445
Capítulo 11: Sonhos de civilização 447
Orientações gerais 447
Comentários e gabaritos 449
Capítulo 12: Sonhos de consumo 451
Orientações gerais 451
Comentários e gabaritos 453
Capítulo 13: Caminhos abertos pela Sociologia...455
Orientações gerais 455
Comentários e gabaritos 456
Parte III: A Sociologia vem ao Brasil 460
Que país é este? 460
Orientações gerais 460
Comentários e gabaritos 461
Capítulo 14: Brasil, mostra a tua cara! 462
Orientações gerais 462
Comentários e gabaritos 463
Capítulo 15: Quem faz e como se faz o Brasil? 465
Orientações gerais 465
Comentários e gabaritos 467
Capítulo 16: O Brasil ainda é um país católico? 469
Orientações gerais 469
Comentários e gabaritos 470
Capítulo 17: Qual é sua tribo? 471
Orientações gerais 471
Comentários e gabaritos 473
Capítulo 18: Desigualdades de várias ordens 475
Orientações gerais 475
Comentários e gabaritos 477
Capítulo 19: Participação política, direitos e democracia 479
Orientações gerais 479
Comentários e gabaritos 481
Capítulo 20: Violência, crime e justiça no Brasil 483
Orientações gerais 483
Comentários e gabaritos 485
Capítulo 21: O que os brasileiros consomem? 488
Orientações gerais 488
Comentários e gabaritos 490
Capítulo 22: Interpretando o Brasil 492
Orientações gerais 492
Comentários e gabaritos 493
Referências 496
Página 388

1 Apresentação do livro

1.1 Apostas e desafios

A primeira edição deste livro resultou do trabalho de uma equipe formada por professores e pesquisadores que almejavam produzir um livro didático de Sociologia atraente, contextualizado e denso. Sabíamos que reunir essas características não seria uma meta inatingível, mas certamente nos obrigaria a enfrentar alguns desafios. E pareceu-nos que o principal deles seria despertar o gosto dos estudantes pela disciplina.

Assim, nossa primeira preocupação foi buscar uma mediação entre o objeto de conhecimento a ser transmitido – tomando como referência as linhas gerais das Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (Brasil, 2006) combinadas às escolhas autorais – e a vivência dos estudantes de diversos segmentos sociais, espalhados por todo o Brasil. Após alguns encontros, a equipe chegou ao consenso: o filme Tempos modernos, de Charlie Chaplin (EUA, 1936), funcionaria como o operador metodológico que construiria a ponte entre o conhecimento da disciplina e o dos alunos. Ao tomar essa decisão, partimos da ideia de que os estudantes são submetidos a múltiplos estímulos visuais cotidianamente e estão bastante habituados à linguagem do cinema.

O livro foi estruturado em três partes. A primeira, introdutória, trazia o contexto histórico que possibilitou o surgimento da “ciência da sociedade” – a Modernidade e suas transformações sociais, políticas, econômicas e culturais. A segunda foi pensada para apresentar a especificidade da Sociologia como campo científico com base em temas que mobilizaram teóricos desde meados do século XIX, antes, portanto, de sua institucionalização. Nessa parte foram construídos vínculos entre o filme Tempos modernos, a Modernidade, a teoria social e os conceitos sociológicos. A última parte do livro era um convite para os alunos pensarem sociologicamente a sociedade brasileira. Os temas escolhidos para a elaboração dos capítulos dialogavam intencionalmente com os temas dos capítulos da segunda parte do livro, abordados com base em pesquisas sociais de grande relevância produzidas no Brasil nas últimas décadas.

Na segunda edição, além de uma revisão geral da obra, ampliamos o Livro do Aluno com o objetivo de dar a ele um novo sentido: ser um livro didático de Ciências Sociais para o Ensino Médio. Mantivemos a mesma estrutura, mas introduzimos três capítulos novos na primeira parte, cada um abordando uma das disciplinas das Ciências Sociais, e mantivemos o capítulo de contextualização histórica. Essa ampliação nos possibilitou discutir as origens sociais das disciplinas, suas especificidades e contribuições, apresentar temas e conceitos centrais de cada uma delas e, sobretudo, explicar aos estudantes que esses saberes se cruzam: os conceitos que eles empregam, os temas que estudam e as teorias que os embasam não são do domínio exclusivo de cada uma das disciplinas. Queremos que eles se deparem com um saber menos preocupado em vigiar as fronteiras disciplinares e mais empenhado em mostrar as contribuições de cada campo para a compreensão dos fenômenos sociais. Esses “saberes cruzados” ampliam as possibilidades de entendimento da realidade. Reconhecemos a importância de fortalecer o ensino interdisciplinar das Ciências Sociais, por isso nos esforçamos em trazer a Sociologia aos estudantes do Ensino Médio em sua interface permanente com os ensinamentos da Antropologia e da Ciência Política, entendendo que os avanços dessas disciplinas representam um “patrimônio cultural” que as novas gerações devem conhecer e do qual devem dispor. Por essa razão, o objetivo desse livro é contribuir para que os estudantes desenvolvam a imaginação sociológica – habilidade de conectar experiências pessoais com a história e as estruturas sociais – e, com isso, sejam capazes de se orientar e fazer propostas de intervenção na realidade como cidadãos conscientes, críticos e participantes da vida social e política brasileira.

Nesta terceira edição que você tem em mãos, atualizamos as imagens e os dados estatísticos, acrescentamos boxes, revimos o conteúdo de alguns capítulos, sugerimos novos filmes como atividades complementares, e na seção Construindo seus conhecimentos substituímos e acrescentamos atividades. Fizemos isso para que você, professor, tenha um livro didático atual e capaz de despertar o interesse dos alunos pelas Ciências Sociais.

Durante a concepção do livro, a equipe orientou-se pela seguinte ideia: a extensão da informação que viesse a ser disponibilizada abriria, aos alunos, oportunidades de pensar no mundo que os cerca e nos problemas que os desafiam diariamente. Assim, tivemos o cuidado de mostrar as discussões a respeito das questões apresentadas sob pontos de vista distintos: políticos, culturais, sociais e econômicos.
Página 389

Os objetivos gerais deste livro são também nossas apostas e nossos desafios.

Pretendemos que os estudantes possam:

• caracterizar a disciplina como um campo científico e diferenciá-la do senso comum;

• identificar questões sociológicas no cotidiano;

• reconhecer a pluralidade de interpretações sobre a vida social oferecida por cientistas sociais e outras disciplinas da área das Ciências Humanas;

• conhecer interpretações sobre a vida social dos leigos;

• ler sociologicamente o mundo usando diferentes linguagens (textos jornalísticos, literários, fotografias, ilustrações, filmes, gráficos, tabelas etc.);

• desenvolver a “imaginação sociológica”.

As Ciências Sociais não pretendem oferecer uma versão única sobre a sociedade ou chegar a uma verdade definitiva. As sociedades se transformam e o conhecimento sobre elas também. Por essa razão, podemos dizer com segurança que o livro, mesmo estando em sua terceira edição, continua em aberto em dois sentidos:

• não esgota as temáticas, as abordagens teóricas, os conceitos, nem mesmo as possibilidades de atividades para os alunos. O ensino de Ciências Sociais tem uma particularidade: a quantidade de informações que recebemos cotidianamente (notícias nacionais e internacionais; filmes, livros, CDs; eventos como eleições, jogos olímpicos, ameaças de guerras, crises etc.) é fonte inesgotável para o trabalho em sala de aula. Esse material pode e deve ser adaptado pelo professor. A proximidade com os estudantes possibilita ao educador elaborar exercícios, propor subtemas relacionados a cada capítulo, selecionar novos materiais (músicas, crônicas, poemas, filmes, romances, imagens etc.), enriquecer o conteúdo com discussões mais próximas das experiências dos estudantes, entre outros;

• para incorporar críticas e sugestões, tanto dos professores como dos estudantes, e para sugestões de avaliações, pois entendemos que elas nos ajudarão a aprimorar este trabalho cada vez mais.

1.2 Proposta pedagógica

Entendemos que o operador metodológico que adotamos – o filme Tempos modernos, presente em todos os capítulos da segunda parte do livro – não representa um retrato da realidade. Ele é produto de uma intenção criativa que reflete a imaginação sociológica de seu autor e provoca nossa imaginação de espectadores. O objetivo, ao recorrermos a esse clássico do cinema, foi enfatizar que podemos pensar sociologicamente tomando como ponto de partida situações trazidas pelos filmes – das mais inusitadas às mais corriqueiras.

O uso de imagens nesse livro – cenas de filmes, fotografias, pinturas, gravuras etc. – visa mobilizar as representações que os alunos fazem do mundo social e, com elas, criar pontes para a aprendizagem e construção de novos conhecimentos. A motivação dos alunos para aprender Ciências Sociais (ou qualquer outra disciplina escolar) não é potencializada pelo recurso didático em si, e sim pela possibilidade que tais recursos lhes oferecem de construir significados para as aprendizagens. Esse processo interno dos alunos leva-os a encontrar razões e sentidos para aprender algo novo e aceitar todos os desafios que isso representa.

Em geral, pressupomos que os estudantes mobilizam esquemas prévios de leitura e interpretação das situações-problema e dos objetos de conhecimento que lhes são apresentados no ensino das Ciências Sociais. Esse fato pode restringir ou potencializar a aprendizagem. No primeiro caso, ele será um obstáculo se os alunos não forem estimulados a estranhar e desnaturalizar suas prenoções e conseguirem manter o distanciamento necessário para descobrir uma nova realidade em uma situação familiar. No segundo, será um reforço para a aprendizagem quando as representações trazidas pelos alunos forem exploradas para a construção de novos sentidos e significados que contribuam para a compreensão desses mesmos fenômenos. Nossa proposta pedagógica afasta-se da noção de que os alunos são meros receptores de conteúdos prontos. Estamos convencidos de que o repertório cultural dos estudantes deve ser considerado; assim, o conteúdo do livro procura dialogar com as redes e experiências sociais dos alunos, tomadas como fontes que permitem fazer de cada aula um verdadeiro laboratório das Ciências Sociais. Entendemos que o papel do livro didático e, principalmente, do professor é oferecer estímulos e catalisar as prenoções dos alunos, de modo a possibilitar uma aprendizagem com sentido, duradoura e eficaz, além do desenvolvimento de competências e habilidades novas.


Página 390

Como professor, você não pode perder de vista, ao adotar este livro, que ele foi produzido com a intenção de provocar nos alunos o interesse pelas Ciências Sociais para que, como leigos, beneficiem-se desse saber. A narração das cenas do filme, as situações imaginadas – em que autores clássicos da Sociologia “assistiriam” a essas cenas –, a linguagem clara e simples usada para expor temas, conceitos e teorias desses autores, as imagens reproduzidas, os textos complementares e as diversas modalidades de exercícios, entre outros recursos utilizados, expressam nosso esforço nesse sentido.

A mensagem que procuramos transmitir é que a Sociologia nos ajuda a refletir sobre as certezas que temos porque põe em observação nossas opiniões mais arraigadas. É um campo do conhecimento que modifica a percepção sobre o que vivemos em nossa rotina e, assim, contribui para alterar a maneira de vermos nossa própria vida e o mundo que nos cerca. Seu papel é, em outras palavras, nos ajudar a estranhar aquilo que se mostra evidente ou familiar; desnaturalizar aquilo que parece natural ou normal; e servir como “mapa” diante das inquietações sociais e culturais dos dias de hoje. Pretendemos que os alunos cheguem à compreensão de que as Ciências Sociais tratam de assuntos que eles já conhecem, mas de uma nova maneira, e se sintam permanentemente convidados a aprender e praticar o “pensar sociológico” por meio de aulas, pesquisas, visitas, práticas inter e multidisciplinares e projetos sugeridos ao longo desse volume.

O livro tem como objetivo contribuir para que os estudantes desenvolvam uma visão crítica da sociedade contemporânea. Ao compreender melhor a dinâmica da sociedade, eles poderão perceber que são agentes, que têm força política e capacidade para construir uma sociedade mais justa. Por isso, são estimulados a mostrar suas interpretações pessoais do mundo e a elaborar propostas de intervenção na realidade.

O aluno, por sua vez, precisa conscientizar-se do papel ativo que tem em sua própria formação escolar, reconhecendo o caminho que terá de percorrer para chegar à compreensão do que está sendo estudado: ler, refletir, dissertar, estudar, discutir, debater, pesquisar, produzir. O livro contribui para isso propondo dinâmicas de estudos que o professor poderá explorar.

1.3 Estrutura do livro

[...] diferentemente das outras disciplinas escolares, a Sociologia não chegou a um conjunto mínimo de conteúdos sobre os quais haja uma unanimidade, pois sequer há consenso sobre alguns tópicos ou perspectivas. [...]

Essa aparente desvantagem da Sociologia em relação a outras disciplinas escolares – não ter um corpus consensualmente definido e consagrado – pode revelar uma vantagem [...] a não existência de conteúdos consagrados favoreceria uma liberdade do professor que não é permitida em outras disciplinas, mas também importa numa certa arbitrariedade ou angústia diante das escolhas... [...]

Apesar desse contexto, pode-se verificar que pelo menos três tipos de recortes são reiterados nas propostas construídas para o ensino de Sociologia no nível médio e encontráveis nas propostas curriculares oficiais, nos livros didáticos e mesmo nas escolas. São eles: conceitos, temas e teorias.

Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio: Ciências Humanas e suas Tecnologias, 2006. p. 115-117.

O trecho das OCNEM em destaque traduz a sensação que tivemos ao selecionar os temas, os teóricos e os conceitos a serem abordados no livro, dada a amplitude do conhecimento abrangido pelas Ciências Sociais. A transferência do conhecimento acadêmico para o público leigo – em nosso caso, para a formação de estudantes secundaristas – é uma questão desafiadora para qualquer disciplina científica. Como traduzir com clareza e em linguagem acessível um conhecimento denso, sem empobrecê-lo, traí-lo ou induzir os alunos a erro? Outro fato com igual dificuldade é a construção da sequência didática: Por onde começar? Aonde se pretende chegar? O que vem antes e depois? Existe, ainda, a necessidade de definir com clareza os objetivos da relação ensino-aprendizagem das Ciências Sociais e os instrumentos de avaliação dessa trajetória longa e complexa de construção de novos conhecimentos.

Considerando a necessidade de construir pontes entre as prenoções dos alunos e o conhecimento das Ciências Sociais, o filme Tempos modernos nos ajudou na escolha dos temas a serem estudados. Podemos dizer que o roteiro é tão rico que diversos temas sociais abordados por ele, ainda que pertinentes para estudantes de Ensino Médio, não puderam, até o momento, ser incorporados neste livro. As cenas selecionadas tratam de situações sociais que foram estudadas pelos autores clássicos e contemporâneos das Ciências Sociais.
Página 391

Procuramos escolher aqueles que deram contribuições relevantes aos temas ou que abriram novas possibilidades de reflexão sobre eles. Esse foi o critério que pautou a escolha dos oito teóricos que apresentamos na segunda parte do livro. Os mesmos temas são retomados na terceira parte, quando estudamos a sociedade brasileira.

A sequência que adotamos para o conteúdo respeita a sequência do filme. O ordenamento dos capítulos do livro não representa, portanto, uma sequência didática. Nada impede que o conteúdo seja abordado linearmente, mas essa não é a única opção para elaborar os programas de cada série e, possivelmente, não é a melhor (ver seção 1.3.2 Roteiros possíveis).

No que se refere aos objetivos de ensino e aprendizagem e dos instrumentos de avaliação, procuramos disponibilizar e sugerir atividades com diversas intenções pedagógicas, de modo que você tenha em mãos estratégias de ensino variadas para o desenvolvimento de competências e habilidades. Entendemos que uma das contribuições do ensino de Ciências Sociais na escola média brasileira não consiste apenas no bom aproveitamento da sala de aula, mas em redescobrir o espaço escolar, ensinando na biblioteca, no laboratório de ciências, no pátio de educação física ou do lado de fora da escola. Essa compreensão esbarra em inúmeros obstáculos, como o tempo reservado à disciplina, a formação do docente, a expectativa dos alunos, o espaço escolar e as concepções pedagógicas que trazemos. Levando tudo isso em conta, procuramos sugerir atividades que contribuam para dar novos sentidos à presença dos professores de Ciências Sociais nas escolas brasileiras. Esperamos que, mesmo com todos esses desafios, as aulas, ou melhor, o encontro entre você e seus alunos seja inovador e recrie a razão de ser da escola.

1.3.1 Concepção do livro

O livro está organizado em três partes que, juntas, atendem ao objetivo de não fragmentar o ensino escolar de Sociologia em conceitos, teorias e temas, mas articular essas três dimensões.



Parte I: Saberes cruzados

A primeira parte do livro procura responder à seguinte indagação: Se as Ciências Sociais tratam da vida em sociedade e se existem sociedades desde os primórdios da humanidade, por que o tipo de conhecimento ao qual elas se propõem nem sempre esteve disponível? Por que essas disciplinas, como as conhecemos hoje, só foram criadas (institucionalizadas) a partir de meados do século XIX? Por que nesse momento histórico preciso?

O objetivo dessa parte é apontar como o desenvolvimento histórico-social dos “tempos modernos” possibilitou o surgimento de novos problemas e fenômenos, mostrando que essas transformações repercutiram na formação das Ciências Sociais. É importante não separá-las das condições histórico-sociais de sua existência, pois elas são o resultado cultural das fermentações intelectuais provocadas pela modernidade, em especial, das revoluções industriais e político-sociais que abalaram o mundo social moderno.

Parte II: A Sociologia vai ao cinema

Essa parte do livro se dedica à apresentação da teoria social com base na análise de oito autores clássicos e contemporâneos: Émile Durkheim, Max Weber, Georg Simmel, Karl Marx, Alexis de Tocqueville, Michel Foucault, Norbert Elias e Walter Benjamin. Na concepção da obra estávamos conscientes de que a escolha das teorias sociais que figurariam no livro seria arbitrária. A questão que nos moveu em nossa escolha foi: Como os problemas estudados por tais autores contribuíram para a formação do campo das Ciências Sociais ou para a inclusão de novos problemas, novos objetos e novas abordagens nos estudos sociológicos? Justificamos a presença desses autores como uma forma de ilustrar a amplitude das Ciências Sociais ao dialogar com outros campos e reorganizar vários conhecimentos sobre a vida social.

Para o desenvolvimento dessa parte, utilizamos o filme Tempos modernos como operador metodológico. Em cada capítulo, há uma cena do filme que introduz o tema abordado. O objetivo é criar um clima de motivação, e ao mesmo tempo esperamos que, após ler a descrição da cena – ou, se houver possibilidade, assistir ao filme –, o aluno faça a conexão da questão social com a teoria social.

Cabe destacar que os autores não são apresentados no livro obedecendo a uma ordem cronológica, mas em conformidade com o roteiro do filme. E suas ideias não são expostas como respostas definitivas aos problemas por eles levantados. Nesse sentido, a mensagem principal que desejamos deixar registrada é: esses autores trataram em suas análises de um conjunto razoavelmente homogêneo de questões sociais. Contudo, suas reações foram diferentes, e eles analisaram as questões de ângulos distintos. O objetivo é mostrar que as Ciências Sociais são um campo fértil de respostas diferentes a uma pergunta comum: Como a vida em sociedade é possível?


Página 392

Ainda nessa parte, as características da disciplina (objetos, métodos, teorias, problemas e abordagens) são exploradas capítulo a capítulo, tanto no texto como nos exercícios propostos. Os conceitos do campo (mudança social, status, movimentos sociais, racionalização etc.), relacionados na seçãoConceitos sociológicos (parte final do Livro do Aluno), têm forte conexão com as teorias apresentadas, e nossa sugestão é que sempre sejam conferidos para fortalecer o entendimento da teoria social. Os temas (trabalho, tecnologia, cultura, consumo etc.) também estão presentes, especialmente nos exercícios propostos.



Parte III: A Sociologia vem ao Brasil

A terceira e última parte do livro abrange nove temas relacionados ao contexto social brasileiro – urbanização, trabalho, religião, tribos urbanas, desigualdade, democracia, violência, consumo e pensamento social brasileiro – e toma como base discussões presentes em estudos clássicos e contemporâneos.

As características da disciplina (conceitos, teorias, métodos, objetos etc.), exploradas nas partes anteriores, são reforçadas tanto no texto dos capítulos como nas atividades.

Diante de um Brasil que se urbanizou em um dos maiores movimentos de transição rural-urbano da contemporaneidade, propomos aos estudantes uma reflexão sobre os impactos desse movimento em aspectos fundamentais da nossa sociedade. Qual é o perfil de quem estuda? Como se posicionam os gêneros e as etnias no mercado de trabalho? Permanecemos um país católico? Qual é a participação de negros, brancos e indígenas na vida social? Como estão estruturadas as famílias? Como explicar o problema da violência que tanto nos aflige? Onde estão, como estão e o que produzem os grupos culturais que compõem a diversidade brasileira?



Conceitos sociológicos

Os conceitos possuem história, e é necessário que isso seja levado em conta ao trabalhar com eles. É preciso contextualizar o conceito para que sua história e seu sentido próprio possam ser entendidos pelos alunos não como uma palavra mágica que explica tudo, mas como um elemento do conhecimento racional que permite melhor explicar ou compreender a realidade social.



Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio: Ciências Humanas e suas Tecnologias, 2006. p. 118.

Reunimos nessa seção, ao final do livro, alguns conceitos e algumas noções centrais da disciplina. Embora alguns tenham relação direta com autores estudados na Parte II, não devem ser restringidos às suas teorias. São conceitos que pertencem às Ciências Sociais, e não a algum teórico em particular. A seleção realizada seguiu a lógica de articulação dos conceitos com as teorias e os temas.

1.3.2 Roteiros possíveis

O livro foi pensado para ser utilizado de três maneiras.

A primeira delas é acompanhar a sequência das partes e dos capítulos conforme as apresentamos. Desse modo, o aluno terá uma compreensão das condições históricas que propiciaram a criação do campo da Sociologia e do desenvolvimento de teorias sociais; por fim, conhecerá alguns estudos sociológicos sobre a sociedade brasileira.

A segunda sugestão de sequência didática que fazemos é, após o estudo da Parte I, intercalar os capítulos da Parte II (teóricos) com os capítulos da Parte III (temáticos sobre o Brasil), de acordo com o quadro da página a seguir.

O benefício dessa escolha consiste em fortalecer os vínculos entre conceitos, teorias e temas ao percorrer o conteúdo do livro.

0392_001.jpg

Fernando Favoretto/Criar Imagem

Adolescentes estudando, 2008.
Página 393

Parte II: A Sociologia vai ao cinema Capítulos teóricos

Parte III: A Sociologia vem ao Brasil Capítulos temáticos sobre o Brasil




Capítulo 14: Brasil, mostra a tua cara!

Capítulo 5: O apito da fábrica

Capítulo 15: Quem faz e como se faz o Brasil?

Capítulo 6: Tempo é dinheiro!

Capítulo 16: O Brasil ainda é um país católico?

Capítulo 7: A metrópole acelerada

Capítulo 17: Qual é sua tribo?

Capítulo 8: Trabalhadores, uni-vos!

Capítulo 18: Desigualdades de várias ordens

Capítulo 9: Liberdade ou segurança?

Capítulo 19: Participação política, direitos e democracia

Capítulo 10: As muitas faces do poder

Capítulo 20: Violência, crime e justiça no Brasil

Capítulo 11: Sonhos de civilização

Capítulo 22: Interpretando o Brasil

Capítulo 12: Sonhos de consumo

Capítulo 21: O que os brasileiros consomem?

Capítulo 13:Caminhos abertos pela Sociologia




A terceira sugestão toma como base para a elaboração do programa de cada série escolar e para a sequência didática das aulas os três conceitos estruturadores das Ciências Humanas: cultura, cidadania e trabalho. Naturalmente, esses conceitos estão inter-relacionados, mas, para fins didáticos, sugerimos que cada série do Ensino Médio tenha um deles como base.

Para tornar mais clara nossa proposição, exemplificamos com o quadro abaixo. Ele representa uma entre várias possibilidades de ordenamento do programa da disciplina. Vale lembrar que a melhor sequência didática é aquela que dialoga com a realidade dos alunos e da escola. Por essa razão, a sugestão que apresentamos é genérica.



Série

1º ano

2º ano

3º ano

Conceitos estruturadores

Trabalho

Cultura

Cidadania

Temas

Economia e Sociedade

Cultura e Sociedade

Política e Sociedade

Contextualização histórica

Capítulo 1

Capítulo 1

Capítulo 1

Sequência programática

Capítulo 2
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 8
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 18


Capítulo 3
Capítulo 7
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 21


Capítulo 4
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 22
Capítulo 13

Página 394

1.3.3 Composição dos capítulos

Os capítulos contêm subseções que procuram atender aos objetivos pedagógicos. Algumas estão presentes em todos os capítulos, enquanto outras são específicas de cada parte do livro.



Em cena – Não ignoramos os problemas de infraestrutura de muitas escolas brasileiras. Muitas não têm aparelhos de TV e de reprodução de imagens, nem salas adequadas para a exibição de filmes, nem videoteca. Geralmente, o tempo de aula é curto para a exibição de um longa-metragem, e os alunos preferem filmes de ação ou animações, demonstrando pouco interesse por filmes históricos ou de época, documentários, filmes etnográficos etc. Esses fatos nos levaram a narrar as cenas de Tempos modernos no corpo dos capítulos da Parte II. Com isso, pretendemos que a utilização do livro não exija a exibição do filme em sala de aula.

Os filmes têm recepções diferentes: os indivíduos incorporam representações e interpretam as imagens com base em sua cultura e biografia. Cada pessoa apreen de aspectos diferentes em um mesmo filme. Com base nessa ideia, construímos a argumentação do livro: como cada espectador se prende a pontos diferentes da narração – encanta-se mais com um ou com outro e lê a história de forma particular –, imaginamos quais cenas impactariam os autores apresentados se assistissem a Tempos modernos. De acordo com essa ideia, associamos o tema da cena às formulações teóricas sobre as sociedades modernas, abordando, até mesmo, questões fora do tempo vivido pelo autor. O último capítulo da Parte II é também movido por uma situação imaginária: terminado o filme, é como se os autores tivessem se reunido para conversar sobre o que viram.



Apresentando o autor – Nessa subseção, também exclusiva dos capítulos da Parte II, são apresentados o autor, seu contexto social, suas reflexões, os conceitos que utilizou e alguns de seus livros.

São feitas também conexões entre as cenas do filme e as formulações teóricas da Sociologia.



Biografias – São pequenos textos inseridos no corpo dos capítulos com informações sucintas sobre os autores estudados ou citados, oferecendo uma visão geral de seu trabalho intelectual.

Boxes – Presentes em todos os capítulos, contêm textos com informações complementares ao tema central do capítulo. O objetivo é ampliar os horizontes dos alunos e esclarecer algumas ideias apresentadas no corpo do texto.

Leitura complementar – Nessa seção disponibilizamos fragmentos de textos de cientistas sociais de diversas épocas e contextos sociais para serem lidos nas aulas ou em casa e propiciar atividades como debates e trabalhos em grupo, além de consolidar a aprendizagem de conceitos e análise de algum aspecto da vida social. Ao trabalhar com esses textos, fique atento ao vocabulário e ao nível de dificuldade que apresentam, pois, em sua maioria, são textos acadêmicos. Nosso objetivo com essa seção é possibilitar aos alunos a leitura de textos mais elaborados e densos, o contato com a produção das Ciências Sociais e uma compreensão mais ampla do que foi apresentado no texto didático.

Recapitulando – Nessa subseção são revistos alguns pontos fundamentais de cada capítulo do livro com o objetivo de fixar a aprendizagem.

É importante que você estimule os alunos a fazer a leitura do texto do capítulo para que essa parte seja, de fato, uma recapitulação.



Fique atento! – Todos os capítulos têm um quadro que lista os conceitos sociológicos abordados no texto. Esse quadro funciona como um mapa de localização, indicando onde encontrar, no livro, as explicações desses conceitos.

Sessão de cinema – Sabemos que nossos estudantes estão muito mais treinados para ver do que para ouvir, mas eles precisam aprender a criticar o que veem. Nessa subseção os filmes têm função lúdica – motivar, interessar, descontrair, entreter – e, ao mesmo tempo, são objeto de estudo. Ao serem empregados com intenção pedagógica, eles precisam ser desnaturalizados. Por essa razão, associamos a exibição de filmes a debates em sala de aula com um tema motivador. Esperamos que o aluno faça a crítica ou a defesa do roteiro com base em suas impressões pessoais e nas informações novas que vem construindo.

Sugerimos que você assista aos filmes indicados antes de escolher o que atende melhor às necessidades da turma. Além disso, às vezes é preciso que se faça uma seleção de cenas, pois as aulas nem sempre comportam um filme inteiro. Estimule os alunos a assistir a alguns filmes em casa e a escrever seus comentários críticos. Procuramos oferecer uma série de opções – curtas e longas-metragens, ficções, documentários e animações, filmes nacionais e estrangeiros – para que tomem gosto por diferentes estilos narrativos.


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1.3.4 Construindo seus conhecimentos

A aula não se reduz à exposição por parte do professor. Há uma variedade fenomênica de que as pessoas pouco se dão conta, mas que é praticada por boa parte dos professores. Apenas a título de lembrança, seguem-se algumas citações: seminários, estudo dirigido de texto, apresentação de vídeos, dramatização, oficina, debate, leitura de textos, visita a museus, bibliotecas, centros culturais, parques, estudos do meio, leitura de jornais e discussão das notícias, assembleia de classe, série e escola, conselho de escola etc. Tudo isso é praticado, mas ou há uma estreiteza conceitual ou uma rotinização das práticas, de tal modo que só se reconhece ou se pratica como aula, a expositiva.

Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio: Ciências Humanas e suas Tecnologias, 2006. p. 127.

A proposta da seção Construindo seus conhecimentos, presente no final de todos os capítulos, visa superar a ideia de que uma aula deve ser expositiva. As atividades reunidas nessa seção possibilitam motivar um debate e levantar pontos importantes a serem tratados na exposição de conteúdos. O aluno traz suas contribuições, reflete, faz críticas e, ao mesmo tempo, aprende aquilo que desconhece. Assim, a aula se desenvolve sem um centro único (o professor), e o aluno torna-se mais ativo. Mesmo quando houver necessidade de exposição do professor, a aula poderá converter-se em diálogo, com possibilidade de troca.

A primeira modalidade de atividade – Monitorando a aprendizagem – pode ser realizada concomitante ou posteriormente à apresentação dos conteúdos. As demais são aplicáveis em diferentes momentos da aprendizagem, prestando-se à verificação e à troca de saberes. Exemplo: um capítulo pode ser introduzido por um levantamento de reportagens sobre temas sugeridos pela modalidade Olhares sobre a sociedade (nesse caso, recomendamos que o desenvolvimento da pesquisa se dê paralelamente à apresentação do conteúdo para que não se afaste dos conceitos e das teorias apresentados).

Sugerimos também algumas atividades “adaptáveis” ao contexto específico da escola e que podem, segundo sua avaliação, ser aprimoradas ou simplificadas. Cada uma delas tem como meta que os alunos desenvolvam habilidades distintas – assimilação de informações, observação, criação, crítica, reflexão, investigação, opinião etc. Esperamos que as cinco modalidades de atividades contribuam para melhorar a relação professor-aluno em sala de aula, dinamizar a aprendizagem de conteúdos e ampliar a formação dos estudantes.

Antes de apresentá-las, fazemos algumas recomendações.

• Não deixe para o final do estudo do capítulo a indicação das atividades. Para cada aula, escolha os exercícios levando em conta os objetivos da modalidade. Os alunos poderão fixar a aprendizagem paulatinamente e se sentir desafiados a contribuir, durante a aula e na aula seguinte, com alguma informação ou novas descobertas com base nas atividades indicadas.

• Sempre que possível, inclua na programação escolar atividades que demandem habilidades e conhecimentos de várias disciplinas do Ensino Médio. Isso envolve uma programação alinhada com professores de outras áreas para estabelecer tanto as metas específicas das disciplinas quanto as metas conjuntas para o trabalho multi e interdisciplinar.

Monitorando a aprendizagem – Essa modalidade é composta de questões discursivas em que os estudantes são desafiados a escrever sobre conceitos, temas e teorias que aprenderam. Pretendemos estimulá-los a fazer a leitura do texto e desenvolver a reflexão crítica sobre esse conteúdo – pois, ao fixar as informações, eles poderão criticá-las de forma mais consistente.

De olho no Enem – Incluímos essa modalidade por causa da natureza do exame, que se propõe a formular questões com interseções entre as disciplinas da área de Ciências Humanas. Cobrimos as edições do exame ocorridas entre 2000 e 2015, com até seis questões por capítulo. Nessa seção, temos a oportunidade de explorar a multi e a interdisciplinaridade dos temas estudados, certos de que o domínio de várias linguagens científicas ajudará o estudante a compreender de forma mais ampla um problema ou questão social.

Assimilando conceitos – Sabemos que as imagens estão presentes em nossa vida desde sempre e que não são neutras – elas nos comunicam a percepção de mundo de seus autores (fotógrafos, desenhistas, pintores, grafiteiros etc.), por isso elas dependem tanto da contextualização quanto da recepção do observador. Assim como os filmes, as imagens não são um retrato da realidade, e sim produto de uma intenção criativa.

Essa modalidade de atividade pretende, por meio do uso de imagens (charges, cartuns, tiras, gravuras, fotografias, pinturas etc.), desafiar o aluno a articular sua observação pessoal com alguns conceitos sociológicos.


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É uma proposta de sensibilização do olhar para identificar questões sociais nas imagens do dia a dia (outdoors, cartazes, letreiros etc.). Envolve também trabalho de descrição, interpretação e crítica do que é observado.



Olhares sobre a sociedade – Apenas os sociólogos produzem interpretações sobre a vida em sociedade? Essa pergunta nos motivou a criar um tipo de atividade que indicasse a multiplicidade de olhares sobre a sociedade, que podem convergir ou se afastar das interpretações sociológicas propriamente ditas. Priorizamos o uso de textos artísticos – letras de músicas, crônicas, trechos de literatura, poesias – e, em alguns casos, textos de colunistas de jornais e manifestos populares.

Nosso objetivo é contribuir para que o aluno seja capaz de reconhecer diversas interpretações da realidade social feitas por intelectuais e artistas. Essas versões ajudam a refletir sobre a noção de verdade e a operar com a subjetividade do conhecimento. Ao mesmo tempo, esperamos que a especificidade científica da Sociologia seja marcada e que se configure uma oportunidade para o aluno desenvolver a interpretação e a crítica.



Exercitando a imaginação sociológica – Essa atividade tem como objetivo a produção textual. Os alunos são desafiados em cada capítulo a elaborar uma dissertação relacionada com o tema estudado. As propostas de redação foram selecionadas de antigas edições de vestibulares e do Enem. Sugerimos que essa atividade seja realizada em parceria com os professores da área de linguagens. A leitura e a escrita não são objetivos exclusivos dessa área. Trata-se de um compromisso multidisciplinar desenvolver essas habilidades. Nossa expectativa é que essas dissertações aliem os saberes relacionados à produção de textos com os objetos de conhecimento das Ciências Sociais – a contribuição desta última é estimular a reflexão que precede a construção do texto.

1.4 Práticas inter e multidisciplinares no ensino

Em algumas partes deste manual utilizamos as expressões multidisciplinaridade e interdisciplinaridade. Cabe alguns esclarecimentos a respeito do sentido que damos a esses termos.

A multidisciplinaridade caracteriza-se por uma ação simultânea de várias disciplinas em torno de uma temática comum, sem que haja exploração mais densa da relação entre os conhecimentos disciplinares. Sugerimos algumas atividades que têm essas características, como visitas a espaços culturais, elaboração de projetos que abranjam a comunidade escolar e palestras.

A interdisciplinaridade caracteriza-se pela cooperação e diálogo entre as disciplinas, na forma de uma ação coordenada. Ela supõe um eixo integrador, que pode ser o objeto de conhecimento, um projeto de investigação ou um plano de intervenção que desafia uma disciplina isolada e atrai a atenção de mais de um olhar, e que deve ainda partir da necessidade das escolas, dos professores e dos alunos. São exemplos: sugestão de elaboração de um roteiro de filme; realização de campanhas na escola e criação de projetos de pesquisa.

Em certo sentido, não há diferença entre os termos multidisciplinar e interdisciplinar se os objetivos educacionais mais amplos estiverem no centro das atividades. Um trabalho é multi e interdisciplinar quando promove a unidade entre as práticas docentes: ênfase no uso correto da língua portuguesa (oral e escrita), na participação em sala de aula, na leitura de textos com diversas linguagens, na promoção do espírito crítico etc. Tais objetivos não descaracterizam as disciplinas, não retiram dos professores a autonomia, nem rompem com a disciplinaridade nas escolas.

Mencionamos anteriormente que o ensino das Ciên cias Sociais já contém em si a perspectiva interdisciplinar por articular três saberes sobre o mundo social. Mas é importante destacar que o conhecimento social abarca um campo tão amplo que tangencia os objetos de outras disciplinas. Não é possível pensar o debate entre natureza e cultura presente na Antropologia sem dialogar com o conhecimento das Ciências Biomédicas sobre raça e sexo, por exemplo. Não é possível compreender o impacto das tecnologias sobre o meio ambiente e as relações sociais sem discutir aspectos tratados pelas Ciências da Natureza. Como entender números e dados estatísticos sem os fundamentos da Matemática? Como compreender as diferentes formas de conhecimento sobre o mundo social sem dialogar com a Arte, as práticas corporais na Educação Física, a Música e a Literatura? Isso para não falar de outras três disciplinas que não estão no currículo do Ensino Médio, mas cujos fundamentos são recomendados no ensino de Sociologia, a saber, Psicologia, Economia e Direito. Além dos conteúdos, o desenvolvimento de competências e habilidades tem caráter multidisciplinar, como a leitura e a produção textual, a análise de informações gráficas e mapas, o uso das linguagens informacionais etc. As sugestões de atividade inter e multidisciplinares estão na seção Utilizando o livro deste manual, mas muitos capítulos do livro são estruturados de modo que essa perspectiva seja adotada em suas aulas, mesmo sem o contato com o professor das demais disciplinas.
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O quadro abaixo exemplifica com algumas situações.



Áreas

Disciplinas

Objetos de conhecimento, competências e habilidades

Exemplos

Matemática e suas tecnologias

Matemática

Aprendizagem da metodologia de pesquisa quantitativa (nº absoluto e relativo; estatística; produção de gráficos etc.).

Capítulo 14

Ciências da Natureza e suas tecnologias

Biologia, Física e Química

Método científico; meio ambiente e desenvolvimento sustentável; gênero e sexualidade; saúde dos trabalhadores; raça e etnia; desenvolvimento tecnológico e seu impacto social etc.

Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 18
Capítulo 21

Linguagens, códigos e suas tecnologias

Língua Portuguesa, Literatura, Línguas Estrangeiras, Arte, Educação Física, Informática

Produção textual; cultura e arte; literatura como conhecimento do mundo social.

Seção Exercitando a imaginação sociológica em todos os capítulos;
Capítulo 12

Ciências Humanas e suas tecnologias

História, Geografia e Filosofia

Contextualização (tempo e espaço); pensadores sociais (filósofos) e teoria social; leitura de mapas, gráficos e dados estatísticos e demográficos; memória e patrimônio cultural.

Capítulo 1
Capítulo 9
Capítulo 14

Há outro aspecto multidisciplinar que você deve considerar ao adotar este livro: não há conflito entre os objetivos cognitivos e os formativos. Hoje, o ensino das Ciências Sociais no Ensino Médio tem de enfrentar algumas marcas deixadas pela história da educação brasileira. Por muito tempo, a escola contou em seu currículo com a disciplina Educação Moral e Cívica, que esvaziou o ensino de seu caráter crítico e abordou a questão da cidadania de forma moralizante. Há uma preocupação legítima dos educadores em relação à possibilidade do ensino de Sociologia se converter em aulas de educação cívica (com orientação ideológica de direita) ou em aulas doutrinárias (com orientações ideológicas de esquerda). No entanto, as Ciências Sociais e todas as disciplinas escolares estão comprometidas com os aspectos formativos da educação, ou seja, a escola não se presta apenas ao ensino de conteúdos, mas visa formar as novas gerações. Nesse processo de formação, os desafios que a sociedade enfrenta são trabalhados na escola de modo que introduzam a criança e o jovem nas questões sociais e cultive valores, o senso de responsabilidade social, a solidariedade, o respeito etc. Essas questões são trabalhadas de acordo com o que se convencionou chamar de perspectiva transversal – porque atravessa toda a vivência escolar e é um objetivo compartilhado por todos os envolvidos na educação. Com isso, importa aos professores de Ciências Sociais saber transitar entre a reflexão, a análise e crítica desses temas no aporte de suas disciplinas e, ao mesmo tempo, exercer seu papel de formador.

Em diversos capítulos do livro, essas questões são abordadas: no Capítulo 11, por exemplo, quando discutimos civilidade; no Capítulo 21, quando discutimos consumo responsável; ou no Capítulo 17, quando a questão da diversidade cultural é debatida. Reiteramos: não há conflito entre a aprendizagem de conhecimentos e a formação para a cidadania; no entanto, é preciso saber transitar entre esses dois caminhos e articulá-los. Quem ganha são os alunos.

Frequentemente, o desenvolvimento de projetos pedagógicos, que envolvem mais de uma disciplina resulta em pesquisas escolares. Assim como os estudantes universitários, os estudantes do Ensino Médio precisam ser orientados para a realização desses trabalhos.
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Ele [o professor] deve organizar os grupos, distribuir os temas, mas orientar cada um deles a respeito de uma bibliografia mínima, analisar o material encontrado pelos grupos, estar presente, intervir durante a apresentação e “fechar” o seminário. Dessa forma, o professor auxiliará os alunos na produção e na apresentação do seminário, complementando o que possivelmente tiver sido deixado de lado. Possibilitará aos alunos a oportunidade de pesquisarem e de exporem um determinado tema, desenvolvendo uma autonomia no processo e na exposição dos resultados da pesquisa.



Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio: Ciências Humanas e suas Tecnologias, 2006. p.128.

Seguem algumas sugestões que poderão enriquecer seu trabalho de orientador de projetos de pesquisa.

• Definir o tema/problema: selecionar a questão fundamental que se pretende desenvolver e a viabilidade de responder a ela.

• Coletar material: especificar que tipo de material deve ser utilizado, lembrando que enciclopédias (impressas ou de internet) não devem ser as únicas fontes. Mais de uma fonte é importante para que apareçam diferentes interpretações.

• Organizar a leitura do material: elaborar vocabulário, destaques nos textos, resumo e síntese do trabalho de campo.

• Apresentar os resultados: orientar o aluno na confecção do trabalho final indicando as diferentes formas possíveis de apresentação (exposição oral, seminário, dramatização, texto escrito, filme, fotografias e cartazes, poemas, crônicas, ensaios etc.).

O momento de realização da pesquisa pode variar de acordo com seus objetivos. A pesquisa pode ser utilizada como instrumento de avaliação – posteriormente às discussões teóricas, conceituais e temáticas – ou como elemento motivador – com base no resultado das pesquisas realizadas pelos alunos.

Com essa atividade, nosso objetivo é:

• oferecer noções preliminares sobre algumas metodologias de pesquisa utilizadas nas Ciências Sociais;

• contribuir para que o aluno descubra novas questões e novos temas sociais relacionados ao capítulo estudado e reflita criticamente sobre eles;

• sensibilizar o aluno para as transformações que a sociedade contemporânea atravessa;

• propiciar o desenvolvimento da autonomia de pesquisa e estudo.

1.5 A avaliação como processo

A primeira imagem que vem à mente quando se menciona a palavra avaliação é a de uma fileira de alunos nervosos fazendo prova. A avaliação, por isso, tem se tornado uma prática escolar malvista por muitos educadores, mesmo quando se considera o fato de que ela está presente em outras dimensões da vida. Há motivos para que a avaliação escolar seja tão criticada: em geral, os alunos estudam às vésperas das provas e assimilam o conteúdo superficialmente, apenas para atingir a média e passar de ano; tão logo o exame termina, esquecem o que estudaram (porque o conteúdo só serviu para fazer a prova). Quando não atingem a média, engrossam as fileiras dos alunos em recuperação ou são reprovados na disciplina. Às vezes, a avaliação é usada como um mecanismo para controlar os alunos: nela só se considera o conteúdo formal, deixando-se de lado outras competências desenvolvidas ao longo do trabalho pedagógico.

Já faz algum tempo que a avaliação no Brasil está associada à ideia de fracasso escolar, na medida em que todo o processo educacional orbita em torno dessa prática, cujo objetivo é extrair medidas e construir hierarquias entre alunos. Não podemos negar que a avaliação assim concebida empobrece o processo ensino-aprendizagem.

Contudo, uma nova concepção de avaliação vem crescendo entre os educadores brasileiros. Primeiramente, ela passou a ser entendida como um processo, e não como um momento (a prova); começou a contemplar outras dimensões educativas, além dos conteú dos disciplinares (em geral, não quantificáveis, como motivação, cooperação, participação, interesse etc.); passou a considerar os aspectos individuais, e não só os coletivos; voltou-se para os objetivos de cada disciplina ao mesmo tempo que contempla as habilidades desenvolvidas em atividades multi e interdisciplinares, entre outros. Com base nessa nova com preen são do papel e da abrangência da avaliação, ela aparece como um diagnóstico das dificuldades e facilidades dos alunos, e não mais como uma sentença que irá puni-los ou absolvê-los.


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A dificuldade é inerente à aprendizagem, mas os indivíduos não apresentam ao mesmo tempo as mesmas dificuldades. Por essa razão, é importante que haja instrumentos que ajudem os professores a tomar novos caminhos, a fim de que todos os estudantes tenham êxito ao final do processo.

Um dos objetivos deste livro é estimular a renovação dos procedimentos de avaliação no ensino da Sociologia no Ensino Médio do Brasil. Para isso, entendemos que é importante estimular o dinamismo das aulas e a criatividade do professor, o que, em outras palavras, representa a qualidade do trabalho docente. Pesquisas têm comprovado que alunos alcançam resultados surpreendentes quando têm bons professores. A qualidade da educação que perseguimos é aquela que faz com que todos eles aprendam. Assim, professor e alunos devem ser vistos como parceiros, e não como rivais, quando pensamos em avaliação.

A avaliação dos alunos relaciona-se diretamente com os objetivos didáticos pretendidos. Pedro Morales nos faz a seguinte advertência: “Se não tivermos clareza sobre o que exatamente queremos que os alunos consigam, os objetivos e os resultados serão definidos, no final, pelo modo como avaliamos” (MORALES, 2003: 10). O que isso significa?

Tendo clareza a respeito dos objetivos, o professor chega a boas metodologias e práticas educativas, e isso tem impacto direto na aprendizagem do aluno. O estudante, quando submetido apenas a aulas expositivas, se preocupará apenas em decorar os conteúdos e se sairá muito mal na avaliação se lhe for solicitada uma reflexão ou crítica sobre o tema estudado, pois não aprendeu a refletir nem a criticar. Ao estudar, ele se pauta na avaliação que imagina que o professor fará. Se quisermos que ele aprenda Sociologia, devemos dar a devida importância à avaliação que faremos. Não importa apenas saber qual conteúdo será solicitado, mas como esse conteúdo será solicitado. Por isso, sugerimos neste livro diferentes exercícios, que possibilitam fixar o conteúdo e avaliar a aprendizagem não só por meio de perguntas mas também por meio da análise de imagens, do debate de filmes, de comparações de letras de música, interpretação e produção de textos, pesquisas bibliográficas e de campo, exposições etc. Em alguns momentos, sugerimos explicitamente que tais atividades sejam usadas como instrumentos de avaliação. Com isso, nossa proposta torna-se eclética – vai além da prova dissertativa ou de múltipla escolha. Abrange o conteúdo disciplinar e também a capacidade de o aluno produzir conhecimento; às vezes, ela é individual e, às vezes, coletiva – levando em conta a participação nos debates e a cooperação na realização dos diversos trabalhos e pesquisas propostos –; ora é restrita ao campo da disciplina em questão, ora abrange os campos vizinhos; pode se dar em um momento específico, como também se desenvolver ao longo do processo, diagnosticando e refazendo o caminho com os estudantes.

Entendemos que todos os métodos de avaliação têm potencialidades e limitações. Assim, as provas em si não são empobrecedoras, pois perguntas bem-feitas podem se transformar em conhecimento consolidado. No entanto, encontramos mais vantagens em adotar um enfoque eclético para as avaliações porque corremos menos risco de deformar os estudantes, em vez de formá-los.

Tenha sempre em mente os objetivos pretendidos com o ensino da Sociologia. Procuramos afirmá-los ao longo deste manual, sem a pretensão de esgotá-los. Nossa aposta é que eles o ajudarão a exercitar sua criatividade, tornando suas aulas mais dinâmicas. Desse modo, todos ganham – você, os alunos e a escola.

1.6 Leitura complementar

1.6.1 Metodologia de ensino das Ciências Sociais

Mediações pedagógicas referem-se às diferentes e possíveis maneiras de se traduzir o conhecimento sociológico, tornando-o compreensível e interessante para os estudantes do Ensino Médio. A prática docente de sala de aula reclama a adequação ao universo juvenil. Mais que isso, remete à necessidade de os professores articularem os recursos didáticos aos interesses desse universo. [...] Questões concretas e que fazem parte do ciclo de interesse dos estudantes, por mais que pareçam banais, podem ser um estímulo para se introduzir um conteúdo sociológico. A mediação pedagógica nem sempre está comprometida unicamente com o rigor conceitual ou teórico; muitas vezes, faz-se uso de uma postura lúdica, criativa ou provocativa, outras, recorre-se às artes, particularmente à música e ao cinema para garantir o aprendizado da disciplina Sociologia, tornando isso uma experiência reconhecida pelos alunos, com sua participação efetiva, descobrindo neste conhecimento científico a possibilidade de ser um reconhecimento do papel dos estudantes na sociedade.


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Aula expositiva associada a outros recursos didáticos

A aula expositiva é considerada o recurso universal para o ensino escolarizado. É aceita, esperada e praticada na grande maioria das escolas de Ensino Médio. Difícil é imaginar uma unidade de Sociologia se desenvolver sem que a aula expositiva se torne um recurso didático preponderante, dado o caráter teórico da disciplina; ela é utilizada para introduzir e desenvolver os mais variados conteúdos em sala de aula. Em geral, as expectativas dos estudantes convergem em torno desse tipo de recurso, o que, de certa forma, pode reduzir o interesse diante do esperado. Como fazer, então, para que a aula expositiva transforme-se em um recurso capaz de provocar a participação dos estudantes?

Uma vez que a aula expositiva se caracteriza pela apresentação docente de um determinado assunto, o esperado para a disciplina Sociologia é que a exposição enfatize a contextualização e explicações sobre o conteúdo. Exigir que uma turma de jovens mantenha-se atenta durante 30 ou mais minutos unicamente em torno de questões exclusivamente sociológicas pode não ser tarefa das mais fáceis. A sugestão é associar a apresentação do tema a recursos capazes de provocar interesse e conferir materialidade ao conteúdo trabalhado. Recortes de jornais, por exemplo, são recursos provocativos e podem informar sobre a atualidade do conteúdo ensinado. [...]

Talvez não haja recurso didático mais contraditório que a aula expositiva. Ao mesmo tempo que conserva o tradicionalismo original da sala de aula, guarda um universo de possibilidades de que o professor pode lançar mão ao associar sua exposição oral a diferentes recursos didáticos. Convidar os estudantes do Ensino Médio a pensar de modo diferente sobre situações sociais conhecidas, desconfiar que explicações já consagradas podem não ser as mais coerentes, instigar a curiosidade para saber mais sobre questões tidas como inquestionáveis, são provocações que acontecem durante as aulas expositivas. O estranhamento e a desnaturalização, posturas básicas apontadas pelo documento das OCEM-Sociologia, se concretizam a partir de experiências possíveis de se desenvolver durante a aula expositiva.

Caracterizar a aula expositiva como um recurso ultrapassado é pensá-la isoladamente, separada das possibilidades de associações a uma série de outras atividades que despertam o interesse dos estudantes. Imaginar que ela acontece exclusivamente entre as quatro paredes da sala de aula é excluir diferentes espaços da escola e da comunidade da possibilidade de se trabalhar o conhecimento escolarizado ao restringi-lo à institucionalização da sala de aula.

MORAES, Amaury César; GUIMARÃES, Elisabeth da Fonseca. Metodologia de Ensino de Ciências Sociais: relendo as OCEM-Sociologia. In: MORAES, Amaury César (Coord.). Sociologia: Ensino Médio. Brasília: Ministério da Educação; Secretaria de Educação Básica, 2010. v. 15. p. 54-56. (Coleção Explorando o Ensino).

1.6.2 O recurso da pesquisa nas aulas de Sociologia

Pesquisar significa indagar, buscar, inquirir, investigar; é o ato de colher informações e procurar respostas, ou seja, compreende tanto a busca como a produção de conhecimento. Nesse sentido, um professor de Sociologia pode pedir que os alunos pesquisem em livros e na internet, por exemplo, o que são os movimentos de contracultura. Pesquisas semelhantes são demandadas ao longo de toda a trajetória educacional, de forma que os alunos estão acostumados com elas desde as séries iniciais de ensino.

Mas a nossa reflexão aqui é sobre a utilização de um tipo específico de pesquisa: a sociológica, científica, com questões, métodos, procedimentos, rigor, que possa fazer o estudante investigar algum tema de interesse e acompanhar mais de perto a lógica específica da produção sociológica. Cabe-nos perguntar: Que tipo de pesquisa é possível na escola? Quais são as possibilidades de estabelecer essa prática no nível médio de ensino? Quais são seus ganhos e obstáculos?

A pesquisa nesses moldes acompanha a lógica do pensamento sociológico, que tem dois papéis centrais ressaltados pelas Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (OCNEM): a desnaturalização e o estranhamento, ambos necessários à análise dos fenômenos sociais.

A importância da pesquisa está centrada no fato de que não há nada melhor para frisar que a Sociologia é uma ciência e como tal segue um conjunto de procedimentos nas investigações que realiza. Isso é vital, pois, por vezes, os alunos têm dificuldade para entender em que nível as afirmações do senso comum se diferem das afirmações feitas pela Sociologia. A pesquisa permite compreender mais claramente que, embora ambas sejam formas de conhecer a realidade, apenas a Sociologia tem o rigor metodológico da ciência, enquanto o senso comum é superficial, assistemático e não questionador.

Junto aos muitos materiais didáticos e métodos de ensino ( filmes, dinâmicas, debates, análises de textos, charges, música...), a pesquisa representa uma maneira mais dinâmica para chegar à compreensão do que é a Sociologia ou para iluminar algum tema, teoria ou conceito que esteja sendo trabalhado.

Se a particularidade da Sociologia no Ensino Médio é a desconstrução das prenoções socialmente construídas e reproduzidas [...] e se, muitas vezes, a Sociologia aparece para os alunos sem sentido prático [...], a atividade de pesquisa pode contribuir para essas duas dimensões, ratificando a primeira e retificando a segunda.

É importante frisar que qualquer pesquisa sociológica demanda certos procedimentos metodológicos, planejamentos e cuidados que precisam ser compreendidos pelos alunos e acompanhados de perto pelo professor.


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Do contrário, não se estabelecerá uma distinção entre o conhecimento sociológico e o senso comum, o que invalidará a contribuição que está no cerne dessa atividade. Mas isso de jeito nenhum significa dizer que a pesquisa tenha que ser uma dissertação ou tese. O ideal na educação básica é uma pesquisa simples, mas metodologicamente correta.

[...]

O importante é assegurar que os alunos vivenciem todas as etapas de uma pesquisa e que as conheçam juntamente com os procedimentos metodológicos. Se os alunos forem pesquisar qualquer coisa e de qualquer jeito, a pesquisa vai acabar prestando um desserviço à compreensão do que é a Sociologia, pois seus resultados vão reunir apenas ideias do senso comum. Nos dois casos investigados, essa preocupação poderia estar mais presente.



O professor deve estimular o olhar sociológico, problematizando e levantando outras interpretações para os resultados das pesquisas. As temáticas escolhidas para serem investigadas nas aulas de Sociologia devem, preferencialmente, expressar situações que façam parte da vida dos alunos. Uma primeira opção é estudar aspectos presentes no espaço escolar e no seu entorno, contribuindo para que a escola se conheça mais [...]. Outra possibilidade, que caminha lado a lado com a anterior, é oferecer aos alunos a oportunidade de escolher, coletivamente, questões motivadoras para serem investigadas por eles próprios. [...]

Ensinar Sociologia é apresentar temas, teorias e conceitos sociológicos, mas é, acima de tudo, sob risco de perder o sentido, explicitar as questões que os sociólogos se fizeram e que os levaram a pensar, investigar e desenvolver instrumentos teóricos e modelos explicativos. Dessa forma, a utilização do recurso da pesquisa nas aulas permite que os alunos formulem as suas próprias perguntas, de forma que seja possível formar com a Sociologia e com os autores clássicos e modernos um elo: a busca pelos “comos” e “porquês” da vida social.

FRAGA, Alexandre Barbosa; LAGE, Gisele Carino. Tornando os alunos pesquisadores: o recurso da pesquisa nas aulas de Sociologia. In: HANDFAS, Anita; MAIÇARA, Julia Polessa (Org.). Dilemas e perspectivas da Sociologia na educação básica. Rio de Janeiro: E-papers, 2012. p. 207-208; 220-221.

1.7 Formação continuada do professor de Sociologia

Diversos atores sociais mostram-se preocupados com a formação dos professores de Sociologia de nível médio. Assim, iniciativas nessa direção surgiram recentemente em todo o país, tanto no âmbito público quanto no privado.

Visando estimular os professores de Sociologia a usufruir dos espaços existentes em ambientes virtuais, indicamos alguns portais nos quais estão disponíveis materiais de diversas naturezas que certamente serão úteis para a formação continuada do docente.



Laboratório de Ensino de Sociologia (LES) – USP
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