Tempos modernos tempos de sociologia helena bomeny



Yüklə 3,76 Mb.
səhifə41/54
tarix02.08.2018
ölçüsü3,76 Mb.
#66365
1   ...   37   38   39   40   41   42   43   44   ...   54
. Acesso em: maio 2016.

HOBSBAWM, Eric. A era das revoluções: 1789-1848. 25. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2009.

ROSSI, Paolo. O nascimento da ciência moderna na Europa. Bauru; São Paulo: Edusc, 2001.



Filmes

O nome da rosa. Alemanha/França, 1986, 130 min. Direção de Jean Jacques Annaud.

Descartes (Cartesius). França/Itália, 1973, 162 min. Direção de Roberto Rosselini.

Giordano Bruno. Itália, 1973, 140 min. Direção de Carol Reed.

Danton, o processo da Revolução. França, 1982, 136 min. Direção de Andrej Wajda.

Casanova e a Revolução. França/Itália, 1982, 126 min. Direção de Ettore Scola.

Práticas inter e multidisciplinares no ensino



Exposição: Os grandes nomes da ciência moderna

Organize grupos de trabalho com o objetivo de montar uma galeria de imagens e uma pequena biografia dos “pais fundadores da ciência moderna”. Cada grupo escolherá um campo de saber para desenvolver a pesquisa (Matemática, Física, Química, Biologia, Sociologia, História, Psicologia, Medicina etc.). Os resultados do trabalho poderão ser apresentados em uma exposição visual nos corredores da escola. Essa tarefa será mais interessante se for desenvolvida em conjunto com as demais disciplinas: o professor de Arte pode contribuir na montagem da exposição; os professores das disciplinas relacionadas com a tarefa poderão discutir com os alunos o desenvolvimento de determinados campos de saber e apresentar alguns nomes centrais para o desenvolvimento da disciplina. É importante que eles percebam que a organização do saber escolar que conhecem hoje também se relaciona com a chegada dos tempos modernos.

Comentários e gabaritos

Leitura complementar

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 é um documento histórico que comporta os ideais da modernidade: a ruptura com uma sociedade de privilégios e a constituição de uma sociedade centrada no indivíduo, em seus direitos e deveres, no mérito, na liberdade e responsabilidade, enfim na cidadania. Esses ideais passaram a orientar a conduta das pessoas e sociedades – apesar de as contradições entre princípios e realidade serem constatadas nas práticas sociais.
Página 406

Sugerimos que você discuta os processos históricos abordados nesse capítulo e procure relacioná-los aos artigos da Declaração. Esse documento também poderá ser retomado em outros momentos do curso.

Sessão de cinema

O mercador de Veneza 1492.
A conquista do Paraíso

Os dois longas-metragens indicados abordam o período de transição para os tempos modernos. Com base na peça homônima de William Shakespeare, O mercador de Veneza mostra a importância das atividades comerciais e a condenação moral da usura (cobrança de juros). A conquista do Paraíso é um filme baseado em fatos históricos que põe em discussão o velho conceito de “descobrimento”, definindo o processo como conquista do Novo Mundo pelos europeus. Os diálogos exploram com riqueza as transformações da época. Como recurso didático, você pode exibir cenas dos dois filmes ao apresentar o conteúdo do capítulo ou, com a exibição integral de um deles, desenvolver uma atividade junto com o professor de História.



Construindo seus conhecimentos

Monitorando a aprendizagem

1. Significa que nela as pessoas tinham uma posição social estabelecida antes mesmo do nascimento. Havia poucas chances de haver mobilidade social: em geral, quem nascia servo seria servo por toda a vida, quem nascia nobre seria nobre etc.

2. Resposta pessoal. Espera-se que o aluno perceba que a Expansão Marítima Europeia contribuiu para a ampliação da noção de mundo, com a descoberta de novas sociedades e culturas. Ao mesmo tempo, houve um encurtamento das distâncias com o desenvolvimento dos transportes marítimos, possibilitando viagens intercontinentais mais frequentes. Esses aspectos propiciam pensar que, de fato, a comunicação e o comércio global ganharam sentidos completamente novos naquele momento. Mas não se deve relacionar o processo à atual ideia de globalização. Mesmo numa época de “revoluções” científicas e tecnológicas, as viagens eram penosas e havia muita insegurança – fosse por razões naturais ou por causa da pirataria, estimulada pela competição mercantilista internacional.

3. O Iluminismo propunha a emancipação dos indivíduos do estado de tutela ao qual estavam condenados (pensar conforme os dogmas da Igreja Católica), a fim de que se tornassem responsáveis por seus atos e pensamentos (ideia de razão). A consequência dessa maneira de pensar foi apostar na capacidade de mudar aquilo que os próprios indivíduos haviam criado. Essa ideia inspirou as duas grandes revoluções políticas do fim do século XVIII: a Revolução Americana, de 1776, e a Revolução Francesa, de 1789. Dessas revoluções saíram dois documentos importantes que fortaleceram a ideia de liberdade e responsabilidade dos homens: a Constituição Americana e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

4. A expressão Revolução Industrial foi aplicada a várias inovações técnicas que ampliaram os meios de sobrevivência dos homens e das cidades, possibilitando uma nova forma de sociabilidade. Esse acontecimento não tem uma localização precisa no tempo – é um processo longo, cujo fundamento é a ideia de que a mudança é a norma. A validade desse princípio pode ser facilmente percebida até hoje: inventa-se algo e, em pouco tempo, uma nova técnica ou um novo instrumento mais eficiente torna o anterior obsoleto. Além de alterar a forma de lidar com a técnica, a Revolução Industrial produziu outras mudanças. A fábrica tornou-se um importante local de trabalho; os capitalistas transformaram-se em detentores dos meios de produção (terra, equipamentos, máquinas); e o trabalhador, contratado livremente, passou a receber salário, podendo mudar de um emprego para outro. A Revolução Industrial alterou profundamente os meios de produção, estimulou e provocou a competição por mercados internos e externos. As mudanças foram acompanhadas da ideia de liberdade de pensamento e do apoio político para a produção de novos e mais sofisticados instrumentos.

A Revolução Francesa garantiu as bases políticas para que as transformações decorrentes da Revolução Industrial fossem alicerçadas – uma sociedade com a possibilidade de mobilidade social, meritocrática, politicamente livre, fundamentada em normas constitucionais e na soberania do povo. Nesse sentido, as transformações políticas e o fortalecimento dos Estados Nacionais foram cruciais para o desenvolvimento do liberalismo político e econômico. Os ideais da Revolução Francesa foram centrais nas lutas de emancipação das colônias europeias nas Américas e, ao longo do século XIX, toda a Europa foi “varrida” por revoluções liberais, como as Revoluções de 1848 e a Unificação de Alemanha e Itália.


Página 407

De olho no Enem

As três primeiras questões abordam aspectos que estavam em discussão no alvorecer da ciência moderna: a diferença entre opinião e conhecimento racional, o papel dos sentidos na construção do conhecimento e o embate entre ciência e religião. Essas atividades possibilitam explorar as bases do conhecimento científico – fundamentação primordial, pois nos capítulos seguintes serão abordadas as três disciplinas que integram as Ciências Sociais. Compreender as bases do conhecimento científico é importante para perceber as especificidades das Ciências Humanas em relação às Ciências da Natureza e à Matemática, além de conferir o estatuto de ciência a todas elas. A questão 4 tem uma linha de continuidade com as três primeiras, pois aborda a transformação na mentalidade e cultura por meio do movimento iluminista, no qual razão, ciência e conhecimento foram fortemente associados.



Assimilando conceitos

1. a) No primeiro quadro estão retratados o clero (primeiro estado), a nobreza e a monarquia (segundo estado) – representantes de dois dos três estados (ordens ou estamentos) do Antigo Regime (nome dado pelos revolucionários de 1789 à sociedade aristocrática que eles contestavam).

b) Os “reprimidos” são os representantes do terceiro estado – a burguesia e os camponeses (maior parte da população).

c) Não é possível apontar um único fato como “causa” dos processos revolucionários do final do século XVIII, pois há um conjunto de variáveis em jogo: a difusão de ideias liberais por meio do movimento iluminista, o crescimento do poder econômico da burguesia, as insatisfações populares com os dois estados não envolvidos nos processos produtivos e que viviam de impostos e dízimos, o enfraquecimento do absolutismo e do poder eclesiástico, entre outros fatores. Todos esses aspectos mostram o cruzamento das mudanças culturais, políticas e econômicas que deram origem a uma nova ordem social. O conceito de revolução (absolutamente moderno) pode ser explorado e relacionado à ideia de agência, ação e movimento social.

Olhares sobre a sociedade

Professor, para o melhor aproveitamento dessa atividade, sugerimos que o texto seja lido junto com os alunos e suas ideias centrais sejam esclarecidas. Recomendamos que as perguntas sejam debatidas e respondidas coletivamente.

O objetivo da atividade é provocar a reflexão sobre uma palavra corriqueira – moderno – mas que ganha sentido novo quando usada pelos cientistas sociais, historiadores e filósofos.

a) “Moderno” e “modernidade” remetem à noção de tempo e à ideia de estágio de desenvolvimento – daí oporem-se a “antigo” e “atrasado”. Elas comportam imagens que as sociedades ocidentais elaboraram a respeito de si, especialmente a partir do século XVIII com o movimento iluminista. Os não modernos seriam os “outros”. Além de termos que servem de contraste, eles expressam o “projeto” dessas sociedades alicerçado no progresso, ciência, democracia e desenvolvimento social.

b) É com base nesse “projeto” que Latour questiona se é possível falar em vencedores – em outras palavras, ele se pergunta se nossas sociedades alcançaram as metas iluministas que seriam progresso, ciência, democracia e desenvolvimento social. Esse questionamento vem sendo feito desde o final do século XIX pela primeira geração de cientistas sociais, e é por essa razão que se diz que essas disciplinas nasceram na modernidade com o objetivo de interpretá-la, compreendê-la, desvendá-la. Estimule os estudantes a debaterem o tema.

Exercitando a imaginação sociológica

O texto proposto para a reflexão mostra a ruptura social e cultural que houve na modernidade. Do ponto de vista social, a sociedade passou a ser orientada pela ideia de mobilidade em oposição à noção de privilégio de nascimento.

Do ponto de vista cultural, emergiu a cultura individualista, que toma o indivíduo como valor. O “‘esquecimento’ do social no individual” torna-se a condição para a consolidação da ideologia meritocrática porque os indivíduos precisam acreditar que tudo depende exclusivamente de suas escolhas e de seu mérito (vontade e força de vontade), e com isso a ordem social é justificada.

Antes de encaminhar os alunos para a dissertação, explore os conceitos individualismo, mobilidade social, estratificação social e ideologia (ver seção Conceitos sociológicos).


Página 408

Ao discutir as diretrizes da redação com os alunos, levante questões que possibilitem problematizar a ideologia meritocrática, como: Em uma sociedade desigual como a brasileira, a pobreza decorre da falta de empenho dos pobres que não trabalham o suficiente? Em quais aspectos da vida do estudante a lógica do desempenho está presente e como ela é percebida? Quais são as oportunidades abertas para a mobilidade social na sociedade brasileira?

Capítulo 2: Saber o que está perto

Orientações gerais

Objetivos

Ao longo das aulas, os alunos deverão:

• diferenciar conhecimentos sobre o mundo social baseados em opiniões, tradições, costumes e religião daqueles disponibilizados pela Sociologia – disciplina científica;

• entender que Sociologia é um campo de conhecimento que depende da liberdade de pensamento, do exercício da razão, da controvérsia (debate), da possibilidade de manifestação pública de ideias distintas e muitas vezes opostas;

• compreender que a Sociologia nasceu com o desafio de perceber as profundas transformações nas diversas dimensões da vida em sociedade que ocorreram na chegada da modernidade e refletir sobre como homens e mulheres reagiram a elas;

• dominar noções fundamentais das Ciências Sociais: contexto social; temporalidade; relação indivíduo-sociedade; conceitos sociológicos.

Recursos e questões motivadoras

O processo de urbanização na Europa a partir do século XVI proporcionou à Sociologia um importante objeto de estudo: a intensificação da diferenciação social e da divisão social do trabalho como partes mais evidentes desse processo. É importante chamar a atenção da turma para as condições históricas que possibilitaram a emergência desse campo do saber, ou seja, a emergência do indivíduo moderno como agente pensante, contestador, crítico, fenômeno articulado com duas revoluções culturais – Renascimento e Iluminismo –, exploradas no capítulo anterior (se julgar necessário, retorne a ele). A mensagem central desse capítulo é: a Sociologia nasceu na modernidade com o objetivo de interpretá-la. Essa frase, bastante conhecida dos cientistas sociais, deve ser esclarecida, possibilitando à turma identificar o contexto que propiciou o surgimento da disciplina e como as transformações sociais, políticas, econômicas e culturais modernas se converteram em objetos da Sociologia Clássica.

Os temas e as explicações que mobilizam a Sociologia no século XXI não são exatamente os mesmos com os quais a Sociologia Clássica lidava. O texto didático mostra alguns desafios das sociedades contemporâneas que estão na ordem do dia e que a Sociologia tem buscado compreender. A Sociologia não pretende dar respostas definitivas para as questões sociais. O conhecimento que ela disponibiliza é parcial: primeiro, porque as pesquisas sociológicas possibilitam compreender “parcelas” da realidade social; segundo, porque o conhecimento produzido é provisório, está permanentemente sendo testado, discutido, ampliado, refutado e renovado; terceiro, porque a “sociedade” (objeto da disciplina) passa por transformações permanentes, exigindo pesquisas sobre as novas realidades que emergem.

Desenvolvendo as aulas

Sugerimos que você apresente a Sociologia para a turma por meio de um desafio intelectual. A atividade Exercitando a imaginação sociológica (página 39) pode ser o recurso motivador para trabalhar as questões teóricas apresentadas nesse capítulo de forma dinâmica.

Sugerimos que você explore com a turma os temas destacados no texto Agenda para as Ciências Socias, de Elisa Reis (página 34). Fique atento ao conhecimento social dos alunos: como eles explicam esses processos, quais espaços possibilitaram a construção desses saberes e quais explicações que formulam espontaneamente para esses temas. Anote essas informações e desenvolva estratégias de ensino com base nas prenoções deles. Problematize as compreensões prévias e motive-os a conhecer o aporte das Ciências Sociais para verem “uma realidade familiar mudar de significação”, como diria Peter Berger.

Recursos complementares para o professor

Leitura

DOMINGUES, José Maurício. Sociologia e modernidade: para compreender a sociedade contemporânea. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.


Página 409

JOHNSON, Allan G. Dicionário de Sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.

MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia. 38. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. (Coleção Primeiros Passos).

REIS, Elisa P. Reflexões sobre o homo sociologicus. Revista Brasileira de Ciências Sociais. Disponível em: . Acesso em: maio 2016.



Site

Sociedade Brasileira de Sociologia: . Acesso em: maio 2016.



Filmes

Freud, além da alma. EUA, 1962, 142 min. Direção de John Houston.

Na natureza selvagem. EUA, 2007, 148 min. Direção de Sean Penn.

Show de Truman. EUA, 1998, 103 min. Direção de Peter Weir.

Um herói do nosso tempo. França, 2005, 140 min. Direção de Radu Mihaileanu.

Um outro mundo é possível! Itália, 2001, 120 min. Direção de Alfredo Angeli, Giorgio Arlorio, Mario Balsamo e outros.

Programa de TV

Fronteiras do Pensamento. Conferências com Zygmunt Baumann. Disponível em: . Acesso em: maio 2016.

Práticas inter e multidisciplinares no ensino



Observadores da cidade

Os grupos de trabalho deverão escolher espaços da cidade para realizar essa atividade. Exemplos: uma praça pública, um shopping center, uma rua com grande circulação de pessoas e veículos etc. A tarefa é observar por algum tempo aquele espaço da cidade que o grupo visitou e depois relatar por escrito o que se passa nele. Os grupos deverão observar as interações entre as pessoas, os encontros, as trocas, a circulação etc. O objetivo é sensibilizar o olhar dos estudantes para os fatos sociais do cotidiano e estimular o “pensar” e a “imaginação sociológica” sobre a cidade em que vivem. Essa atividade deve ser compartilhada com a turma pela leitura em sala de aula dos relatos dos jovens pesquisadores ou por meio de uma exposição em um mural. Enfatize a diversidade de experiências que os grupos apreenderam: o que selecionaram, o que impressionou a cada grupo, como descreveram as situações etc.

Desenvolva um projeto em parceria com os professores da área de Ciências Humanas, na qual, com base em uma mesma proposta de observação em campo, os alunos explorem de forma interdisciplinar a experiência urbana.

Comentários e gabaritos

Leitura complementar

A Sociologia é uma das disciplinas novas no currículo do Ensino Médio, e os alunos talvez se perguntem sobre o porquê de ela ter sido reintroduzida, aumentando a carga de estudos, que já era tão pesada. Essas questões não são inadequadas. De fato, os estudantes estão sobrecarregados de matérias escolares. Apesar de tais ponderações serem legítimas, é fundamental que os professores de todas as disciplinas sejam capazes de estimular o prazer de conhecer por conhecer (não apenas conhecer o que é útil) e apresentar de forma clara e significativa os sentidos e significados da aprendizagem de determinado saber.

O conhecimento do mundo social por meio da Sociologia possibilita a construção de novas imagens sobre o que já é conhecido. Contribuir para que os alunos desenvolvam a capacidade para desnaturalizar a realidade social é uma das razões para a reintrodução da Sociologia no Ensino Médio. Esse aprendizado possibilita alcançar outras metas, como construir uma base de compreensão do “outro” em nossa sociedade multicultural e, consequentemente, de entendimento da própria sociedade em que se vive e de suas possibilidades dentro dela.

No texto, Anthony Giddens procura mostrar que a Sociologia tornou-se tão necessária nas sociedades modernas que o conhecimento disponibilizado por ela ficou aparentemente banal dada sua difusão social. Essa difusão justifica em grande parte o ensino na escola média, pois possibilita ampliar o conhecimento dos estudantes sobre os objetos, os problemas, as abordagens, as recentes pesquisas desenvolvidas nesse campo, que povoam os meios de comunicação. Saber ler e compreender as pesquisas divulgadas, saber como os cientistas sociais trabalham e desenvolver um olhar crítico a respeito dos resultados delas é fundamental para o exercício da cidadania.


Página 410

Conhecer as regras dos discursos científicos (independentemente da área) é condição indispensável para quem vive em sociedades científicas. Nesse sentido, compreender os fundamentos da disciplina deve ser encarado muito mais como uma oportunidade de crescimento e de autonomia do que um “fardo” a mais no currículo escolar.

Sugerimos a você que debata o texto com a turma logo nas primeiras aulas. As falas de apreço ou de rechaço à disciplina devem ser acolhidas com respeito, mas desinstalar os alunos dos seus “pré-conceitos” sobre a Sociologia deve ser a meta das aulas.

Sessão de cinema



Oliver Twist
Os miseráveis

Os dois filmes são baseados em obras literárias do século XIX de origens inglesa e francesa. São textos que apresentam fortes críticas sociais à ordem social nascida nos tempos modernos. A exibição de cenas desses longas-metragens pode contemplar diferentes objetivos didáticos: mostrar as condições sociais precárias das classes trabalhadoras (também chamadas de classes perigosas pelos burgueses da época) e abordar as questões sociais que chamaram a atenção dos pensadores sociais do século XIX; os contextos sociais de cada filme são ricos para abordar a importância da Revolução Industrial e da Revolução Francesa na formação do mundo moderno; por terem origem literária, os filmes possibilitam explorar como a Sociologia teve de se afastar de outras formas de conhecimento do mundo social para constituir-se em disciplina científica autônoma voltada para o estudo das sociedades.

Construindo seus conhecimentos

Monitorando a aprendizagem

1. As transformações nos campos intelectual, político e econômico que deram origem às sociedades modernas contribuíram para a formação da Sociologia como saber científico, porque essas transformações concorreram para a liberdade de pensamento, o exercício da razão e a possibilidade de manifestação pública de ideias muitas vezes opostas às formas de pensamento convencionalmente aceitas (religião ou tradição). Essa condição foi alcançada na Europa do século XIX, mas suas raízes remontam ao século XVI – com o Renascimento, a Revolução Científica e a Reforma Protestante. Por essa razão se diz que a Sociologia é filha da modernidade. Por outro lado, ela nasceu para interpretar a modernidade e suas transformações, com objetivo de, por exemplo, explicar as razões para as desigualdades de diferentes ordens persistirem apesar de o discurso moderno valorizar a igualdade e a cidadania.

2. a) Conhecimento prático – conhecimento pautado na experiência transmitida de geração a geração. Às vezes é chamado de conhecimento de senso comum ou de conhecimento tradicional. Conhecimento religioso e mítico – são formas de compreender o mundo baseadas em crenças, dogmas, relatos das origens de determinados fatos sociais ou naturais, com caráter de verdades absolutas e incontestáveis porque reveladas por Deus (ou deuses).

Conhecimento científico – baseado na observação e experimentação controlada, na verificação de hipóteses, na formulação de teorias explicativas provisórias sem considerá-las verdades absolutas.



b) A Sociologia é uma disciplina científica, ou seja, produz conhecimento sobre o mundo social pautando-se na investigação, no uso de metodologia científica, na formulação de hipóteses, na confirmação ou contestação de teorias precedentes. Além disso, esse conhecimento é produzido por uma comunidade de cientistas que verificam os critérios de pesquisa empregados pelos sociólogos e tornam públicos os resultados das investigações.

c) Outras disciplinas que estudam o mundo social: Antropologia e Ciência Política formam, com a Sociologia, as Ciências Sociais; Direito (tem como objeto as leis e a justiça), Educação (campo dedicado ao estudo dos processos de ensinar e aprender), Serviço Social (disciplina que estuda o planejamento e a implementação de políticas públicas e programas sociais voltados para o bem-estar da coletividade), Demografia (estudo das populações) e Administração (estudo das organizações) são exemplos de ciên cias sociais aplicadas; há também a Ecologia (interação dos organismos com o meio ambiente) e a Medicina Social (campo voltado para a saúde das coletividades), exemplos de disciplinas que interligam as Ciências Naturais e as Sociais.

3. Respostas pessoais. Professor, essa atividade, que envolve os interesses dos estudantes, pode ser uma fonte rica para conhecer sua turma.
Página 411

Fique atento aos temas aos quais eles atribuem importância; à forma pela qual relacionam as situações sociais; ao modo como constroem suas interpretações e de onde extraem as informações que usam para explicar a realidade social. No planejamento das aulas, procure reservar tempo para trocas dessa natureza, nas quais os alunos são convidados a falar sobre questões que os mobilizam e os interessam. Além disso, a atividade pode ser uma chave para desmistificar a Sociologia como uma disciplina que estuda temas distantes da realidade deles. Você pode selecionar algumas pesquisas recentes divulgadas em artigos da área de Ciências Sociais e apresentar para a turma alguns de seus resultados. Sugerimos que a seleção de temas seja variada, de modo que alargue a compreensão dos objetos de estudo dos sociólogos. Se um levantamento desse tipo mostrar-se inviável, sugerimos que você percorra alguns capítulos do Livro do Aluno – especialmente os da Parte III.



De olho no Enem

As duas primeiras questões abordam como a modernidade – através do progresso técnico e científico – alterou a experiência social, promovendo a urbanização e criando subcondições de vida nas cidades para os camponeses expulsos do campo e agora operários das indústrias, além de propiciar a ampliação da jornada de trabalho em decorrência da iluminação artificial. Esse quadro de transformações sociais foi a matéria-prima dos pensadores sociais de meados do século XVIII e de todo o século XIX, que acabou culminando na institucionalização da Sociologia.

A terceira questão aborda, com base em um fragmento de Karl Mannheim – sociólogo húngaro da geração entreguerras –, a construção social do conhecimento. A questão remete à relação indivíduo-sociedade e ao princípio básico explorado pelo francês Émile Durkheim de que o social está inscrito nos indivíduos. Essa é a premissa central da Sociologia.

Assimilando conceitos

1. A mobilização da sociedade – seja no caso do Fórum Social Mundial, seja em outro tipo de ação social – mostra que a lógica do mercado não é a única e que ele não se impõe sobre a sociedade tornando-a passiva, sem possibilidade de se opor ou de se autorregular. O mercado não é uma força irresistível, e os movimentos sociais mostram que a imagem da “mão invisível do mercado” de Adam Smith não explica satisfatoriamente a experiência social. Dessa forma, os movimentos sociais agem também por outros valores que vão além da dimensão econômica, apresentando um conjunto complexo de motivações, que foi percebido com maior clareza por Karl Polanyi.

2. Resposta pessoal. Oriente os alunos na elaboração da resposta destacando que, além da dimensão econômica (ou dos interesses), as pessoas agem pautadas por valores, solidariedade, senso de responsabilidade, crenças, o que leva a experiência social a sofrer a interferência de várias dimensões, além do campo econômico (cultura, política, justiça etc.).

Olhares sobre a sociedade

1. Professor, o objetivo da atividade é discutir com os alunos a noção de indivíduo para as Ciências Sociais. Todos aqueles que fazem parte de sociedades ocidentais e individualistas partilham a ideia de que os indivíduos são singulares e livres, entes com vontade própria e autônomos para escolher o modo de vida pelo qual desejam viver. Essa concepção é cultural e vem sendo discutida desde os autores clássicos das Ciências Sociais até os dias de hoje, por meio de nomes como Louis Dumont (Antropologia), Norbert Elias e Pierre Bourdieu (Sociologia), para citar apenas alguns. É importante que os estudantes comecem a diferenciar a ideologia individualista – que gerou o “indivíduo moral” – do átomo da análise sociológica, ou seja, o homo sociologicus, que é o indivíduo contextualizado no tempo, no espaço, socializado em determinado ambiente social, que compartilha visões de mundo com outras pessoas e que, enfim, participa de uma cultura.

Assim como a Sociologia, a Psicologia, que na visão do senso comum trabalha com as subjetividades e suas volições, teve de refletir sobre o indivíduo moldado pela cultura – tema central do ensaio O mal-estar na civilização (1929), de Sigmund Freud. Ambas nascidas no século XIX, as duas disciplinas precisaram diferenciar o indivíduo moral de seus objetos de estudo.



Exercitando a imaginação sociológica

Sugerimos que o tema de dissertação proposto seja um recurso para explorar com a turma algumas especificidades da análise do mundo social feita pelos cientistas sociais – em especial pelos sociólogos.

O tema envolve a reflexão sobre a juventude – o que, para os cientistas sociais, representa um ator social (“ator coletivo”, “agente” e “sujeito” são expressões correlatas, embora tenham diferentes significados de acordo com a corrente teórica em questão).
Página 412

No texto proposto, o historiador tece comparações sobre o impacto de movimentos juvenis nas sociedades ocidentais e nas islâmicas, o que possibilita o trabalho com a noção de contexto. Juventude, como categoria sociológica, não comporta apenas a condição biológica ou natural (idade da vida); logo, não se trata de uma categoria abstrata e universal. A ideia e o sentido de juventude são perpassados por atributos culturais que variam de sociedade para sociedade, de contexto para contexto. O contexto histórico que deve ser trabalhado na dissertação já está definido no enunciado: a geração do presente. Importa saber qual juventude do presente o aluno abordará: juventude latino-americana, juventude brasileira, juventude urbana, juventude rural etc. Ao problematizar o tema da redação, você realiza um exercício de contextualização que contribui para mostrar aos estudantes a diferença entre “dar uma opinião” sobre algum tema e uma postura científica que procura conferir maior precisão ao objeto de reflexão. Os cientistas sociais lidam com seus objetos de pesquisa procurando delimitá-los ou contextualizá-los.

No texto proposto, o historiador mostra-se reticente em enunciar algo sobre o futuro. Por quê? Essa questão é importante porque permite abordar algumas especificidades das Ciências Humanas relacionadas à ideia de temporalidade. O futuro é um tempo que não aconteceu ou que está por vir. Nesse sentido, não é apropriado falar em alteração daquilo que não existe. O tema da redação pressupõe a projeção e análise de uma “realidade” futura, considerando que as condições atuais (ou parte delas) serão mantidas. Chamado de contrafactual, esse tipo de raciocínio é bem diferente do raciocínio científico – muito embora cientistas (de todas as áreas) frequentemente arrisquem “palpites” sobre algum aspecto do futuro com base na análise de processos que apresentem certa constância ou continuidade.

Qual seria o aproveitamento didático de um exercício que envolve a especulação sobre o futuro? O aproveitamento didático é estimular o desenvolvimento da imaginação sociológica dos estudantes, pois requer o conhecimento de subgrupos juvenis atuais e envolve a identificação de padrões de comportamento, demandas e fatores que os afetam.

É importante discutir com a turma o primeiro cuidado metodológico dos cientistas sociais: o distanciamento. Como isso é possível se os cientistas sociais fazem parte da sociedade que estudam? Lembre-se de que os alunos estão começando a tomar contato com a Sociologia e é possível que se surpreendam com a ideia de “distanciamento” ou “estranhamento”. Explore com a turma a possibilidade de transformar algo de que já se tem conhecimento prévio em objeto de análise para conhecê-lo de uma forma que não se conhecia antes. Quais seriam os caminhos possíveis para chegar a esse objetivo?

Proponha à turma que pesquise na internet ou biblioteca – em livros, jornais ou revistas – um dos subgrupos juvenis brasileiros da atualidade. Ainda que a pesquisa se mostre incipiente para dar conta da complexidade do objeto, ela propiciará o desenvolvimento de uma nova base para a construção do conhecimento: o levantamento de dados e informações sobre o objeto em questão.

Oriente a turma sobre a pesquisa de dados, a organização deles de forma coerente e, finalmente, a análise visando responder à questão proposta: O subgrupo juvenil escolhido reúne condições para uma ação social que leve à mudança nas estruturas da sociedade? Posto desse modo, o tema, que parecia tão claro, mostra-se obscuro e repleto dos “jargões” que, segundo Anthony Giddens, os sociólogos gostam de usar. Ao fazer esse exercício, você demonstra as diferenças entre o vocabulário conceitual do cientista social e o linguajar do leigo quando trata dos mesmos temas, problemas ou questões sociais.

Antes de encaminhar a atividade da redação propriamente dita, promova um debate com a turma sobre “as juventudes” pesquisadas pelos grupos de trabalho.

Capítulo 3: Saber o que está distante

Orientações gerais

Objetivos

Ao longo das aulas, os alunos deverão:

• compreender o contexto cultural que criou as condições para o nascimento da Antropologia;

• conhecer, analisar e avaliar as consequências sociais das teorias evolucionistas e racialistas que vigoraram de meados do século XIX até meados do século XX;

• identificar argumentos fundamentados no etnocentrismo e no relativismo cultural;

• reconhecer a importância das pesquisas antropológicas e dos estudos culturais para a promoção de uma melhor convivência social em sociedades multiculturais, como a brasileira.


Página 413

Recursos e questões motivadoras

Cabe ao cientista julgar seu objeto de estudo? Essa pergunta parece um falso problema para os físicos, pois uma partícula ou um feixe de luz não são “entes” que agem com base em valores morais ou éticos. Mas indivíduos e sociedades o são, e suas formas de compreender a vida e a experiência humana podem ser bastante diferentes das do cientista. Então, como é possível o sujeito não julgar o objeto pelo que faz, pensa e sente?

Essa questão está presente em todas as disciplinas que formam as chamadas Ciências Humanas. Já houve momento de amplo “etnocentrismo” científico, mesmo entre as correntes que mais defendiam a objetividade das Ciências Sociais. A história da Antropologia relaciona-se profundamente com essa discussão.

O conhecimento científico da “alteridade” (seja do passado, de lugares distantes ou de uma subcultura de meu próprio país) requer cuidados quanto aos juízos de valor. Dar voz ao outro envolve ouvi-lo tendo em vista sua cultura, e não com as lentes “culturais” do investigador. Nesse sentido, o relativismo cultural e a etnografia são importantes contribuições trazidas pela Antropologia para o desenvolvimento das pesquisas sociais.

Seu ensino na escola deve-se ao fato de os leigos poderem beneficiar-se das reflexões antropológicas sobre a alteridade e a cultura e, com isso, contribuir para que a convivência com a diversidade se dê em ambiente de tolerância e respeito. Desse modo, o desafio que você, professor, terá ao apresentar a Antropologia para os alunos é criar pontes entre os instrumentos que ela disponibiliza para ampliar o conhecimento das sociedades humanas e instrumentalizá-los para uma forma de reflexão que não coloca a diferença no eixo da superioridade ou inferioridade, do desenvolvimento ou atraso, da civilização ou barbárie. O desafio também envolve a compreensão de que a diversidade cultural – considerada patrimônio da humanidade – é tão importante quanto a diversidade no meio ambiente e que cada cultura tem o direito de existir (ver Declaração universal sobre a diversidade cultural, Unesco, 2001).

Entendemos que o trânsito entre o objeto de conhecimento (Antropologia) e a formação para a cidadania (respeito à diversidade cultural) pode ocorrer sem que uma abordagem limite ou empobreça a outra.

Desenvolvendo as aulas

Sugerimos que o conceito de cultura seja o primeiro a ser trabalhado com os alunos. É importante explorar o sentido dela na experiência humana e por que ela representa a nossa “segunda natureza”.

Um aspecto que pode atrair os estudantes é a relação entre natureza e cultura. Os instintos sexuais, maternos e de sobrevivência são transmitidos geneticamente ou se desenvolvem com base na socialização? Até que ponto agimos constrangidos pela natureza e pela cultura? Esse debate é importante para a compreensão de que há muitas formas de viver a experiência humana e que a genética não definiu tudo de antemão.

Depois de explorar o conceito de cultura, sugerimos que você discuta o processo que possibilitou o desenvolvimento da ciência da cultura ou da alteridade na modernidade. Se julgar necessário, remeta os alunos ao Capítulo 1, que mostra como a chegada da modernidade foi importante para o desenvolvimento das Ciências Sociais. O “descobrimento” do Novo Mundo foi decisivo e obrigou os europeus a refletir sobre a unidade e a diversidade humanas. Dessa reflexão, surgiram as teorias evolucionistas e racialistas, que se mostraram insatisfatórias do ponto de vista científico. A Antropologia cultural veio como resposta a elas, mostrando que é possível conhecer a alteridade sem se deixar levar pelas armadilhas do etnocentrismo.

Recursos complementares para o professor



Leitura

DAMATTA, Roberto. Relativizando: uma introdução à antropologia social. Rio de Janeiro: Rocco, 1987.

DURHAM, Eunice R. et al. A aventura antropológica: teoria e pesquisa. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2004.

GEERTZ, Clifford. Nova luz sobre a Antropologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.

LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2003.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 14. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.

UNESCO. Declaração universal sobre a diversidade cultural. Brasília, 2002. Disponível em:


Yüklə 3,76 Mb.

Dostları ilə paylaş:
1   ...   37   38   39   40   41   42   43   44   ...   54




Verilənlər bazası müəlliflik hüququ ilə müdafiə olunur ©muhaz.org 2024
rəhbərliyinə müraciət

gir | qeydiyyatdan keç
    Ana səhifə


yükləyin