Saint-simonismo: De 1802 a 1825, Henri de Saint-Simon desenvolve uma crítica de ordem social e política: afirma a inelutável regresso do "sistema" feudal e militar, o triunfo da classe industrial e das capacidades, o advento do sistema industrial organizado segundo um plano concertado. Após o seu desaparecimento, S. A. Bazard, B. P. Enfantin, rodeados de fervorosos discípulos, fundaram a Escola e depois a Igreja Saint-Simoniana. Acentuaram a crítica económica ao denunciar, segundo a sua expressão, "a exploração do homem pelo homem". Inculpados em 1832, foram condenados no tribunal de 1ª instância. Após 1850, os mais moderados dentre eles (M. Chevalier, os irmãos Pereire) participaram com sucesso no desenvolvimento do sistema bancário e na extensão dos caminhos-de-ferro. Este movimento saint-simoniano teve influências
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múltiplas, sobre Auguste Comte assim como sobre Marx, mas igualmente sobre as ideologias políticas e as mentalidades. Historicamente, a obra de Saint-Simon marcou os inícios da industrialização e favoreceu o seu desenvolvimento; muitas vezes considerada como fundadora das teorias socialistas, a doutrina saint-simoniana constituiu, mais amplamente, uma primeira reflexão sobre as sociedades industriais e o seu futuro.
P. A.
- Ansart (1970), Charléty (1931), Perroux (1964), Durkheim (1928).
Salário: O salário não é apenas um rendimento monetário entregue por um empregador a um trabalhador que exerce uma actividade no quadro de uma empresa ou de uma administração durante um determinado lapso de tempo. É primeiro que tudo a manifestação de uma relação social complexa.
Como o demonstrou M. Weber, o salariado supõe o "trabalho livre", isto é, o direito que cada um tem de firmar livremente um contrato de trabalho com o possuidor dos meios materiais e financeiros de produção. O trabalhador assalariado é na realidade um competidor no mercado do trabalho que não mantém vínculos de dependência pessoal com os dirigentes da empresa. Pode movimentar-se à sua vontade para procurar as condições mais favoráveis de emprego e de trabalho, ou seja, vender ou alugar a sua força de trabalho nas melhores condições possíveis. A relação que mantém com o empregador é, por conseguinte, uma relação ambivalente. Por um lado, tem interesse em que o dirigente da empresa possa obter lucro e assegurar assim a continuidade do emprego; por outro, tem interesse em que o montante do lucro não seja aumentado em detrimento dos salários. É isso que explica que desde muito cedo os assalariados se tenham coligado para opor ao patronato uma força colectiva e obrigar a reconhecer que a remuneração da força de trabalho não é simplesmente um custo, mas também um rendimento para um certo nível de consumo. No entanto, a união dos assalariados raramente é completa porque eles são na maioria das vezes concorrentes no mercado do trabalho e nem sempre têm interesses idênticos (diversidade de profissões e de qualificações). Esta relação entre empregadores e assalariados imprime uma dinâmica muito particular ao conjunto da sociedade. Implica em primeiro lugar uma intervenção estatal para fixar e implementar regras mínimas de boa conduta de maneira que os conflitos não impeçam a cooperação. Exige igualmente uma regulamentação jurídica extensiva para a protecção dos assalariados para além das relações contratuais (individuais ou colectivas). O Estado apresenta-se de facto como o garante da relação salarial e da sua reprodução alargada (duração do trabalho, salário mínimo, determinação das grelhas de qualificação, organização do mercado do trabalho, indemnização e gratificação do desemprego). Sê-lo-á tanto mais quanto os sistemas de formação ganham cada vez mais importância na qualificação e na medida da força de trabalho. Actualmente, o salário reflecte cada vez menos um dispêndio de energia imediata e cada vez mais a retribuição de capacidades intelectuais específicas em vias de actualização.
J.-M. V.
- Bartoli (1957).
SCHUMPETER (Joseph Alois), economista austríaco (Třešt', Morávia, 1883 - Salisbury, Connecticut,
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1950): Doutor da Universidade de Viena em 1906, foi ministro das Finanças no gabinete de O. Bauer (1919-1920), depois director de um banco vienense. Mas, quanto ao essencial, a sua carreira foi a de um economista, professor da Universidade de Bona de 1925 a 1937, e depois na Harvard University até à sua morte. É igualmente sociólogo (Capitalisme, socialisme et démocratie, 1942) e historiador da economia (Histoire de L'analyse économique, 1954). Desafia toda a catalogação de escola. Em economia, deve a sua primeira formação a E. von Böhn-Bawerk e F. von Wieser, mas foi sobretudo marcado pela teoria do equilíbrio económico de L. Walras. Manifestou sempre um grande interesse pela tradição histórica e sociológica de W. Sombart e de M. Weber, e sofreu particularmente o fascínio de K. Marx, recusando embora a teoria das classes e a ideia de autodestruição do capitalismo. Reconhece-lhe o mérito de ter tentado estabelecer uma teoria da evolução económica e procurado converter a teoria económica em análise histórica.
Em 1912, na sua Théorie de L'évolution économique, Schumpeter mostrou que o motor do progresso reside na inovação definida como uma combinação nova dos factores de produção. Sem ela, a economia manter-se-ia estacionária e reduzir-se-ia a um simples circuito reprodutor das condições do equilíbrio walrasiano. É a inovação que cria o dinamismo e o lucro, é ela que está na origem do juro e do crédito. Em 1939, na sua teoria dos ciclos, Schumpeter faz da inovação a causa explicativa dos ciclos económicos. Três ciclos longos marcam a história do capitalismo: 1787-1843, algodão, aço, máquinas fixas a vapor; 1842-1897, caminhos-de-ferro, barcos a vapor; 1897-1930, electricidade, química, automóvel.
Segundo Schumpeter, o capitalismo é "essa forma de economia à base de propriedade privada na qual a inovação é realizada por meio de empréstimos que resultam eles próprios da criação de crédito". Em Capitalisme, socialisme et démocratie, mostra como a lógica económica do capitalismo, fundada no lucro pela inovação, se encontra, nas nossas sociedades, limitada pela lógica da democracia e contrariada por uma cultura cada vez mais hostil. Contrariamente ao que Marx afirmou, não é a evolução económica que condena o capitalismo mas a oposição crescente entre as exigências da economia capitalista e as da civilização à qual ele deu origem.
J.-C. L.
- Schumpeter (1929).
Secularização/laicização: A unanimidade religiosa absoluta raramente foi a regra em qualquer país, mesmo quando uma religião ou uma confissão nele dominava a vida pública e regulava a vida privada. Com a Revolução Francesa, a difusão da racionalidade científica e a técnica moderna, a Revolução Industrial, a urbanização industrial, o nascimento de uma classe operária, que escapa em grande parte à influência das Igrejas, e a laicização da vida social, a relação entre religião e cultura tornou-se, no Ocidente, cada vez mais problemática. O pluralismo e a liberdade das opções religiosas individuais, a indiferença religiosa e o ateísmo tornaram-se elementos constitutivos da situação.
As instituições religiosas tradicionais tiveram de constatar, a partir do séc. XIX, o declínio progressivo da sua influência, a baixa da taxa de prática dos seus fiéis, dificuldades crescentes no recrutamento do seu clero. Destinadas a avaliar
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a importância do fenómeno, as "sondagens de prática", às quais G. Le Bras e F. Boulard ligaram o seu nome, multiplicaram-se entre o fim da Segunda Guerra Mundial e o início dos anos 60. A procura de explicações científicas para o processo de "descristianização" registado abriu o caminho às teorias sociológicas da secularização. A tónica passava assim da perda de influência constatada de uma religião (descristianização) para o carácter absolutamente não religioso (neste sentido, secular ou laico) presumido constitutivo da modernidade. Desde o fim do séc. XIX, M. Weber tinha falado de um "desencantamento [*] do mundo" devido à autonomização das esferas do agir social e à privatização da religião nas sociedades modernas. As teorias da secularização propostas a partir dos anos 60 centravam o problema nas ideias desenvolvidas pelos clássicos da sociologia no que se refere à religião, ao seu lugar e ao seu futuro nas sociedades modernas. A obra de S. Acquaviva (1961) prognosticando "o eclipse do sagrado" teve uma certa retumbância. As teorias de B. R. Wilson (1976), de D. A. Martin (1978), assim como as de P. L. Berger (1967) e de T. Luckmann (1963), influenciaram igualmente a pesquisa de modo considerável. Estes teóricos apresentam a secularização quer como um fenómeno de individualização da religião relativamente às instituições religiosas, quer como uma adaptação da religião à modernidade, quer ainda como um processo irreversível de marginalização social do religioso e das suas instituições (Gauchet 1985).
Em fins dos anos 70, o "regresso do religioso e/ou do sagrado" (expressão infeliz) forçou à reabertura de um dossier em vias de se fechar: opor-se-ão de facto modernidade e religião a ponto de não poder conceber-se uma "modernidade religiosa"? (Hervieu-Léger 1986). É doravante a questão que se põe.
J. S.
Segmentária (sociedade): É preciso distinguir nitidamente a segmentação social, divisão de um grupo em subconjuntos separados pela sua existência e pela sua actividade, e a noção de sociedade segmentária. não se trata neste último caso de simples subdivisão em clãs, subclãs, linhagens e sublinhagens, nem do simples processo de cisão em função do crescimento demográfico, de deslocamentos mais ou menos importantes, de querelas internas, mas sim de um tipo de organização social sem governo estável, recortado em segmentos e subsegmentos que se ressoldam segundo certas normas sociais para fazer face temporariamente a conflitos, porque um princípio de solidariedade une esses segmentos graças à existência de uma moral e de rituais comuns.
A afirmação de pertença, quer ao subsegmento, quer ao segmento, quer ao conjunto, varia segundo a origem das pressões exteriores. Assim, os segmentos A' e A" fundir-se-ão face à agressão de um membro de B' que terá então como aliados os B" porque a união de todos os A contra os B é requerida. Mas solidariedade e hostilidade são questões de situação e de regras de pertença aos segmentos encaixados. As tendências centrípetas afirmam-se no perigo, as tendências centrífugas na vida corrente.
Não mais na Córsega que entre os Nuer do Sudão estudados por E. Evans-Pritchard (1939), a vindicta não destrói a unidade global e a solidariedade do grupo. Entre os Tiv da Nigéria, a organização segmentária permite a mobilização de
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milhares de pessoas sem a ajuda de uma organização estatal.
C. R.
- Balandier (1967), Lombar (1972).
Segregação: A segregação é uma forma institucionalizada de distância* social que se traduz por uma separação no espaço. Essa separação ganha sentidos diferentes consoante os contextos sociais. A segregação constitui o princípio de base da organização da aldeia na Índia tradicional, fundada na separação absoluta das várias castas. É imposta e sancionada pela lei no regime do apartheid na África do Sul, justificada pelo princípio do "desenvolvimento separado" das várias componentes étnicas. Pode ser costumeira e social, por exemplo nas cidades do Magrebe na época colonial ou nas cidades americanas dos nossos dias, onde os negros continuam a habitar em bairros separados (Taeuber, Taeuber 1965). não parece, neste último caso, que os progressos globais da população negra sejam suficientes para atenuar ou eliminar a segregação. As sociedades constituídas por populações de origens nacionais e religiosas diferentes são mais susceptíveis de conhecerem estes fenómenos de segregação (Wirth 1928). Em França, os bairros habitados por emigrantes incluem populações de origens variadas, que se misturam com os Franceses do mesmo meio social, ao passo que nos Estados Unidos, país de imigração onde a consciência "étnica" permanece viva, os bairros negros, italianos ou chineses estão justapostos e separados uns dos outros (Gans 1962; Williams 1964).
Na sociologia crítica ou radical, o conceito de segregação, que, em sociedades dominadas pelos valores de igualdade, tem uma conotação fortemente pejorativa, foi utilizado para designar toda a forma de repartição no espaço urbano, mesmo não institucionalizada.
D. S.
Seita - vd. Igreja e seita.
Senso comum: Uma parte da tradição sociológica exerceu a sua crítica em sentido oposto ao do senso comum, que assimilou a prenoções (Durkheim 1895) ou a evidências imediatas e muitas vezes ilusórias (Bourdieu et al. 1968). P. Bourdieu em particular (1980) considera o senso comum como um produto do ajustamento entre as situações e as inculcações (ou hábitos) que os indivíduos receberam ao longo da sua história. Nesta perspectiva, a sociologia tem de operar uma ruptura radical em relação ao senso comum (dita também corte epistemológico), de maneira a descobrir relações objectivas que escapam à consciência dos agentes mas condicionam o seu comportamento.
O senso comum desempenha, no entanto, um papel essencial nas actividades sociais, dado que é ele que permite às pessoas orientar as suas condutas umas em relação às outras (Weber 1922b). O senso comum põeem jogo um verdadeiro saber social Schütz 1971) partilhado pelos membros de uma sociedade e que lhes permite reconhecer as pessoas e as situações em função de certas características típicas, como a profissão, o estatuto social, as finalidades e as normas de acção ligadas a funções institucionais. Além disso, fez-se notar (Garfinkel 1967) que a competência que permite ao senso comum exercer a sua sagacidade não é de uma natureza diferente da que fundamenta as análises efectuadas pelos sociólogos, porquanto se trata em ambos os casos de interpretar factos sociais.
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Nesta perspectiva, a sociologia não teria de corrigir os erros do senso comum mas sim de estudar as suas propriedades formais. Contudo, uma tal sociologia afasta-se fortemente dos processos do senso comum e confirma a contrario a especificidade do trabalho científico frente ao senso comum.
P. P.
Sexualidade: Tomado no seu sentido estrito (o de numerosos sexólogos actuais), o termo "sexualidade" designa o conjunto dos comportamentos que visam directamente o prazer erótico. Mas é difícil dissociar as práticas e os prazeres sexuais dos sentimentos que podem acompanhá-los (amor, pudor, ciúme, etc.) e das representações (por palavras, imagens, fantasmas) que essas práticas, essas sensações e esses sentimentos suscitam.
A sociologia da sexualidade tem de tomar em consideração a totalidade destes elementos. O seu ponto de partida é a diversidade das atitudes e dos comportamentos sexuais: diversidade no tempo (na Europa Ocidental, por exemplo, a masturbação, condenada pelos médicos no séc. XVIII, é, em certos casos, encorajada pelos sexólogos contemporâneos) e diversidade no espaço (os muçulmanos aceitam a poligamia simultânea ao passo que as sociedades influenciadas pelo cristianismo toleram a poligamia sucessiva, isto é, várias uniões livres e/ou casamentos ao longo de uma vida). No que se refere à evolução recente e previsível dos países ditos desenvolvidos, os sociólogos da sexualidade põem geralmente a tónica nas seguintes tendências: 1. a proliferação dos discursos sobre a sexualidade mas igualmente das imagens qualificadas de eróticas ou de pornográficas; 2. a progressão da concepção higienista da sexualidade encarada como uma "técnica" ou um passatempo sem risco; 3. o progresso da contracepção como prática e como norma (considera-se que os nascimentos deveriam ser doravante desejados e programados); 4. o florescimento da união livre, primeiro nas jovens gerações das classes médias, depois nos mais velhos e em outras camadas sociais; 5. a masculinização dos comportamentos sexuais das mulheres sob o efeito do feminismo, do igualitarismo democrático, da extensão do trabalho assalariado feminino.
Um certo número de autores interroga-se, entretanto, se a liberalização sexual dos anos 60 e 70 não irá ser posta em causa na sequência do medo suscitado pelo vírus da sida. Esse medo poderia; nomeadamente, contribuir para uma revalorização da virgindade e da fidelidade.
A. B.
- Ariès, Béjin (1982), Balandier, Béjin (1984), Garcia Guadilla (1981), Schelsky (1955).
Símbolo social: Segundo a etimologia grega, a palavra refere-se ao sinal de reconhecimento de duas pessoas que possuem cada uma delas pedaços de um objecto quebrado, que serve de meio de identificação. Actualmente, o símbolo associa um significante concreto (gesto, fórmula, animal, cor, ponto cardeal) a um significado geralmente abstracto e valorizado (bandeira = nação, punho levantado = protesto, número 3 = perfeição).
Diferente do do signo matemático ou linguístico, que é uma convenção para uma compreensão e para operações logísticas, o símbolo tem a ver com a expressão pela sua iconicidade e pela sua ressonância afectiva. A acção simbólica, por seu turno, significa uma actividade de
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substituição e de compensação à falta de um resultado obtido previamente. Equívoco dentro de uma mesma cultura (lua: símbolo de fecundidade, de feminidade, de regime nocturno), o mesmo símbolo pode ter várias dimensões, política, económica, religiosa, etc., e entrar como elemento em diversos sistemas míticos e rituais. Reveste significações diferentes segundo os povos (elefante real: na Índia, poder; na África, longevidade) e segundo as circunstâncias históricas (suástica, cruz gamada).
Para É. Durkheim e M. Mauss, os símbolos sociais dão sentido a estatutos e papéis desempenhados num cerimonial. Traduzem a adesão de uma comunidade a valores que a especificam. Para M. Leenhardt e M. Griaule, é a ordem cósmica e social que uma cultura enuncia por metáfora nos seus sistemas simbólicos de mitos e de ritos. Para além destes símbolos culturais, C. G. Jung pressupõe a existência de arquétipos universais que exprimem as relações constantes entre o homem e o universo. Descurando no simbolismo os seus aspectos cognitivo e objectivo, S. Freud encara-o, nomeadamente através do sonho, como uma maneira de encobrir o recalcado e de operar um compromisso entre o prazer e a realidade. G. H. Mead, F. de Saussure e E. R. Leach insistem, sobretudo, nos fenómenos de interacção e de comunicação que facilitam as associações simbólicas. A semiologia indica a aura de sentido à volta de signos arbitrários e definidos. Se o simbolismo remete por vezes para um imaginário desligado da realidade, permite em outros casos a codificação de acontecimentos por meio de ritos que sãomarcadores de lugar e de identidade.
C. R.
- Alleau (1958), Augé (1979), Durand (1969), Eliade (1952).
SIMMEL (Georg), filósofo e sociólogo alemão (Berlim 1858 - Estrasburgo 1918): Redescobre-se actualmente em França a sociologia de Simmel que por duas vezes foi vítima do esquecimento: primeiro, por causa das reticências de É. Durkheim; depois, em virtude da voga do estruturalismo e do neo-marxismo que, entre 1960 e 1970, não reconheceram a legitimidade da sociologia da acção que inspira a sua obra. Se a sua psicologia social pôde inspirar a escola de Chicago*, se os seus estudos sobre a galantaria, a conversa e o segredo interessam os sociólogos da vida quotidiana, o essencial do seu interesse está noutro lado. Na sua opinião, são as acções recíprocas (que implicam necessariamente interacção com pelo menos um outro indivíduo) que criam em cada indivíduo características que permaneceriam inexplicáveis se o considerássemos isoladamente. Assim, instaurou uma sociologia formal que, abstraída dos conteúdos que têm a ver com outras ciências (economia, direito, etc.), toma em conta as formas de uma socialização em vias de concretização: em grupos sociais que correspondem a fins diferentes, encontram-se formas semelhantes (forma da concorrência, da hierarquia, etc.). A sua sociologia das formas* pretende, graças à sua generalidade e à sua idealidade, tornar inteligíveis sequências do real sem se aplicar a isso de maneira realista. Não se trata pois de subsumir a vida social sob leis. Entre as obras de Simmel traduzidas em francês contam-se: Philosophie de l'argent (1900), Problèmes de la philosophie de l'histoire (1892).
L. D.-G.
- Simmel (1892, 1900, 1917).
Simulação: Técnica que permite experimentar sobre um modelo teórico,
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a fim de observar as consequências (output) de manipulações dos parâmetros de entrada do modelo (input). Por exemplo, é possível construir vários modelos teóricos que visem explicar o funcionamento do sistema educativo, a maneira como a origem social das crianças influencia sobre o seu sucesso escolar e a sua inserção profissional (output) e a maneira como esse funcionamento evolui sob a influência de factores económicos, demográficos e políticos exteriores ao modelo (input). Um modelo deste tipo é necessariamente complexo se se pretender que ele traduza correctamente o conjunto das observações passadas e presentes; é portanto difícil deduzir todas as implicações. E então cómodo "fazer virar" esse modelo em computador, como se se tratasse de uma maqueta da sociedade real, e examinar as consequências sobre o sucesso escolar de certas decisões políticas. Pode assim reconstituir-se um passado hipotético (que se teria passado se a III República tivesse criado um tronco comum indiferenciado para todos em vez de um ensino com dois ramos distintos?) ou experimentar diversos cenários para prognosticar a evolução do sistema e suas consequências sociais (que se passará se se modificarem as modalidades de atribuição das bolsas de estudo?; quais seriam os efeitos a prazo de tal reforma, tendo em conta a evolução demográfica?).
A simulação de um modelo sociológico complexo é uma técnica muito flexível de exploração das consequências concretas de uma teoria. Permite fazer previsões condicionais, da forma: "se sobrevier tal acontecimento, ou se se tomar tal decisão, e se o meu modelo traduz completamente a realidade, então observar-se-á tal resultado". Esta técnica pode igualmente servir para comparar entre si várias teorias relativas a um mesmo processo social.
J.-P. G.
Sindicatos: Associações privadas que representam um agrupamento de indivíduos ou de instituições encarregadas de defender os seus interesses (sindicatos operários e patronais, sindicatos de interesses locais).
O sindicalismo em França e na Europa está em crise, senão mesmo em declínio. O fenómeno é comummente apreciado a partir das taxas de sindicalização: as taxas francesas baixaram em cerca de metade em 15 anos, passando de 20 para cerca de 10 por cento. Mas esta avaliação não é nem fiável nem verdadeiramente significativa do alcance da crise. Mais importante é a combinação da dessindicalização com o movimento de institucionalização do sindicalismo: as organizações acabam por apoiar-se mais no seu eleitorado que nos seus aderentes; mais no reconhecimento que o Estado lhes confere que no que lhe concedem os empregadores. Por outro lado, põe-se a questão da adaptação dos sindicatos a um salariado em evolução rápida e demasiado heterogénea para se reconhecer nos discursos unificadores herdados do passado. A questão sindical dá lugar a duas orientações intelectuais diferentes. Para quem privilegia o critério político, o facto sindical reduz-se a uma forma social contingente, adaptada num dado momento da evolução do sistema democrático: no contexto da III República, o florescimento do sindicalismo permitiu conciliar a subida da consciência de classe e a salvaguarda da integração social. De igual modo compensou os inconvenientes
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individualistas do sufrágio universal ao legitimar uma concepção orgânica da representação dos interesses (Rosanvallon 1988). Para quem observa o facto sindical de um ponto de vista propriamente sociológico, a tónica é colocada na continuidade mais que nas rupturas: além da coligação ter preexistido à organização, o sindicato alimentou-se na fonte das corporações do Antigo Regime. A lógica sindical é em parte intangível: não há acção colectiva sem afirmação de um princípio de solidariedade; não há verdadeira participação na regulação produtiva sem aptidão para se manter órgão fundador de vida social. Confrontadas com a crise sindical, as duas teses não chegam ao mesmo prognóstico. O primeiro anuncia uma reconversão radical do sindicalismo: deixando de identificar-se com o movimento social, este é chamado a tornar-se uma agência de serviços e de negociação, trabalhando na redefinição das regras de abono na sociedade global (Touraine 1984). A segunda aposta na existência de um futuro para um sindicalismo de movimento social, na condição de este aceitar redefinir a sua identidade a partir das realidades do mundo do trabalho tal como ele é.
D. SN.
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