Esses estranhos Homens deveriam ficar muito satisfeitos por serem julgados mais maldosos dó que realmente são



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E Madame Morrible? E Yackle? Haveria alguma ligação entre elas? Se­riam a mesma pessoa, seriam ásperas divindades, avatares de um poder das trevas, fragmentos de carne venenosos arrancados do corpo demoníaco da Bruxa de Kumbric? Ou seriam elas ― juntas ou separadamente ― a própria velha Kumbricia, ou algo parecido que se presumiria ter sobrevivido à heróica era da mitologia nestes caóticos, limitados dias atuais? Elas governariam o Mágico, movimentando-o como uma marionete?

Quem estava sob o domínio de quem?

E, enquanto você espera para saber, a geleira mortal, formada por todas as forças antagônicas, cai e enfia sua garra gelada na carne penetrável.

Ela deixou as costas de pinheirais do Lago Chorge num estado de alta frustração e energia. Não tendo confiança para decidir sobre questões de hierarquia política ou teológica, sentia-se impelida a fuçar naquelas velhas anotações que recolhera do laboratório do Doutor Dillamond um dia depois que ele fora assassinado. Precisava de alguma coisa concreta sob a ponta de seus dedos. Uma lente de aumento, uma faca cirúrgica, uma sonda esteri­lizada. Talvez agora ela estivesse madura o suficiente para entender com o que ele estivera lidando. Ele fora um unionista essencialista; ela, uma ateísta principiante. Mas ela ainda poderia tirar algum proveito de seu trabalho, depois de todo este tempo.

O vento esteve a seu favor ao cruzar os penhascos mais baixos dos Grandes Kells. Daí em diante, ela encontrou mais dificuldades, tanto em loca­lizar o seu caminho quanto em manter o seu assento firme. Um bom número de vezes teve de desmontar e andar. Felizmente, não estava muito frio, e nos vales fechados ela avistou pequenos grupos de nômades, que a mantiveram trilhando na direção certa. Ainda assim, ela estava empenhada nesse retorno já havia duas semanas, mesmo com o auxílio de uma vassoura. De tardezinha, com o sol ainda quente e alto, se fosse comparado aos hábitos que tinha no inverno, ela moveu-se penosamente pelo caminho que levava aos últimos penhascos, com Kiamo Ko surgindo em seu estreito perfil negro bem lá em cima. Sentiu-se uma criança erguendo a cabeça para olhar o topo do chapéu de um homem muito alto. Ansiosa por evitar formalidades e rebuliços, contornou a aldeia. Sem a vassoura, essa aproximação seria quase impossível; tal como era, mesmo a vassoura dava sinais de estar esgotada com o esforço. Ela deu uma parada no pomar, aproximou-se da porta de trás, e achou-a aberta, o que significava que as irmãs estavam fora, colhendo flores ou alguma tolice assim.

O lugar estava silencioso. Ela pegou uma maçã escurecida do aparador e subiu os degraus de sua torre sem escorregar em nenhum. Quando passou pelo quarto da Babá, girou a maçaneta da porta e disse: “Bá?”.

“Oh,”, ouviu-se um gritinho, “você me assustou!”

“Posso entrar?”

“Um minutinho.” Ouviu-se o som de mobília sendo desencostada da porta. “Bem, esta foi uma bela bagunça, Senhorita Elphaba! Indo embora e largando a gente aqui para ser assassinada, ou coisa parecida!”

“Do que você está falando? Deixe-me entrar.”

“E não diga uma palavra. Você nos deixou loucas de preocupação...” A última peça de móvel foi arranhando o chão, e a Babá escancarou a porta. “Você, mulher medonha e ingrata!” Ela caiu pesadamente em seus braços e arrebentou em lágrimas.

“Por favor, já tive drama em dose suficiente para o resto da minha vida”, disse Elphaba. “O que está acontecendo com vocês?”

Levou algum tempo para a Babá se acalmar. À procura de sais aromá­ticos, fez uma busca minuciosa em sua mala, tirando dela pequenas garrafas e bolsas em quantidade suficiente para abrir seu próprio negócio de farma­cêutica. Havia ali frascos de vidro azuis, níveas caixas de pílulas, envelopes de pele de cobra contendo pós e pílulas, e uma bela garrafa de vidro verde que trazia um velho rótulo rasgado, ELIXIR MILA...

Ela ministrou-se agentes tranqüilizantes e, quando conseguiu respirar novamente, disse: “Bem, você sabe -―minha querida ― você deve ter visto, suponho, que todo mundo desapareceu?”.

Elphaba franziu as sobrancelhas, mergulhada em confusão. E num medo crescente, repentino.

A Babá tomou um fôlego profundo. “Agora, não fique brava com a Babá. Não é culpa dela. Aqueles soldados de repente decidiram que seus exercícios estavam concluídos. Eu não sei como, talvez Nor tenha contado a eles que você havia partido? Ela contou para nós; ela dera para andar furtivamente por aí, à procura de sua vassoura, e dissera que você não estava mais lá. Assim, pode ter mencionado isso para eles. Você sabe como eles eram bons para ela, como eles a adoravam. Os soldados vieram à porta da frente e disseram que tinham de escoltar a família inteira, Sarima e suas irmãs e Nor e Irji, de volta a seu campo de base, onde quer que ele fique. Eles não iam me requisitar, disseram, o que me pareceu de fato um insulto, e manifestei isso a eles. Sarima perguntou por que, e aquele belo Comandante Pedra Cereja disse que era para a própria proteção da família. Caso um batalhão de choque chegasse, ele disse, não era bom que houvesse ainda ali algum membro da família real, ou poderia ocorrer algum acidente sangrento.”

“Chegasse um batalhão? Quando?” Elfinha bateu no peitoril da janela com a mão aberta.

“Estou tentando lhe dizer. Não tão cedo, ele disse; isso é apenas plane­jamento antecipado. Eles ficaram insistentes. Dispersaram os camponeses na aldeia ― eu não acho que houve alguma morte, tudo parecia bastante humano exceto pelas correntes ― e só eu fui deixada para trás, sendo velha demais para descer uma montanha, e, ademais, sem relações. Também deixaram Liir, já que ele não era uma ameaça e acho que sentiam afeto por ele. Mas, alguns dias depois, ele também desapareceu. Estou certa de que estava se sentindo desesperadamente só, e deve tê-los seguido até o campo de base.”

“E ninguém protestou?”, gritou Elfinha.

“Não grite comigo. Claro que protestaram. Bem, Sarima desmoronou, apagando-se feito morta, e Irji e Nor ficaram tomando conta dela. Mas as irmãs, aquele bando desbocado, fizeram barricadas na sala de jantar e pu­seram fogo numa ala da capela, tentando chamar atenção, e Três bateu na mão do Comandante Pedra Cereja com uma pedra pontiaguda, e quebrou todos os ossos daquele pulso, aposto. Cinco e Seis bateram o sino, mas os pastores ficam muito longe, e tudo aconteceu depressa demais. Dois escreveu mensagens e tentou amarrá-las nas patas dos seus corvos, mas eles não alça­ram vôo, só ficaram empoleirados nos peitoris das janelas de novo, as velhas criaturas inúteis. Quatro teve uma grande idéia com óleo fervente, mas não conseguiram manter a chama alta o bastante. Oh, rolou uma bela perseguição aqui por um dia ou dois, mas é claro que os soldados venceram. Os homens sempre vencem.”

A Babá prosseguiu petulantemente: “E todas nós pensamos que eles tinham emboscado você antes de tudo, para tirá-la do caminho. Você é a única aqui que tem poder, todo mundo sabe disso. Todos eles pensam que você é uma Bruxa. Os aldeões me disseram que, se você voltasse, era para entrar em contato com o povoado de Moinho de Vento Vermelho lá pelas baixadas da barragem, você sabe qual. Eles acham que você pode resgatar a sua família real, sã e salva. Eu disse que isso era uma confiança equivocada, que você não estaria interessada, mas eu prometi a eles que passaria a mensagem a você, então, aí está”.

Elphaba andou de um lado para outro. Desatou seu cabelo do laço costumeiro e sacudiu-o, como se tentasse livrar-se do que estava escutando. “E Chistérico?”, ela disse, por fim.

“Agachado atrás do piano na sala de música, sem dúvida nenhuma.”

“Bem, esta é uma bela de uma embrulhada.”

Ela andou, sentou, socou seu queixo, deu um chute no urinol da Babá e quebrou-o. “Em que fria eu entrei’, ela resmungou. “Temos a vassoura. Temos as abelhas. Temos o macaco. Temos Matalegria ― eles machucaram o Ma­talegria? Então, temos Matalegria. Temos os corvos. Temos a Babá. Temos os moradores da vila, se não foram feridos. Temos o questionável Livro das Sombras. Não é muito.”

“Não, não é”, disse a Babá, suspirando. “Ruim, ruim, eu diria.”

“Nós podemos resgatá-los”, disse Elfinha. “Nós conseguiremos.”

“Conte com a Babá", disse a Babá, “embora eu nunca tenha gostado des­sas irmãs, confesso.”

Elfinha apertou os punhos e tentou não bater em si mesma. “Liir se foi também”, ela disse. “Vim aqui para pedir desculpas a Sarima, e em troca perdi o Liir. Será que não presto para nada nesta vida?”

Kiamo Ko estava mortalmente silenciosa, a não ser pelo penoso resso­nar da Babá ao tirar uma soneca na cadeira de balanço. Matalegria batia a cauda no chão, feliz por ver a sua dona. Além das janelas, o céu se abria amplo e desesperançado. Elphaba estava muito cansada, mas não conseguia dormir. Pois, de quando em quando, ela imaginava ouvir o som da água batendo de leve nas beiradas do poço dos peixes, como se o lendário lago subterrâneo estivesse subindo para tragá-los a todos.





1

Mais tarde, houve muita discussão sobre o que as pessoas pensavam que havia acontecido. O barulho parecia ter vindo de todos os cantos do céu de uma só vez.

Jornalistas, armados com o vernáculo e com as escrituras apocalípticas, atra­palharam-se e foram derrotados pela coisa. “Uma deliqüescência engolfadora de ar encanado, enlouquecido...” “Um vulcão do invisível, sombriamente construído...”

Para os adeptos da fé no prazer com paixões tiktokistas, era o som de artefatos mecânicos estirando suas cordas e funcionando em louca velocidade. Era a liberação da energia vingativa.

Para os essencialistas, parecia que o mundo havia repentinamente se descoberto farto demais da vida, com células se rachando aos bilhões, mo­léculas se desunindo até a aniquilação, átomos estremecendo e explodindo em seus invólucros.

Para os supersticiosos, era o desmoronar do tempo. Era o esvair-se do mundo numa força crepuscular, que tinha a intenção de golpear o mundo em seu âmago de uma vez por todas.

Para os religiosos mais tradicionais, era o ataque-relâmpago das legiões de anjos vingativos, o medonho nome do Deus Inominável revelando-se por fim ― surpresa ― e a evaporação de todas as esperanças de misericórdia.

Um ou dois fingiram pensar que eram esquadrões de dragões voadores no ar, preparados para o ataque, libertando o céu de suas amarras pelo bater das asas tripartidas.

No curso de destruição que a coisa causou, ninguém teve a ousadia ou coragem (ou a experiência prévia) para sustentar e clamar haver reconheci­do o ato de terror pelo que realmente era: um vento retorcido numa trança giratória.

Em resumo: um tornado.

Foram perdidas as vidas de muitos munchkineses ― junto com milhas quadradas de solo agrícola com centenas de ano de cultivo. Os deslocamentos das reservas de areia do deserto oriental engolfaram várias aldeias sem deixar traço, e não houve sobreviventes para contar a história de seu sofrimento. Rodopiando como algo que saísse de um pesadelo, o funil de vento entrou em Oz a trinta milhas ao norte de Ponta de Espato, e delicadamente contornou Solos de Colwen, deixando cada pétala de rosa intocada e cada espinho em seu devido lugar. O tornado retalhou o Cesto de Milho, devastando a base da economia da nação renegada, e foi se extinguindo, como se cumprisse um desígnio, não apenas no extremo oriental da amplamente defunta Estrada dos Tijolos Amarelos, mas também no lugar preciso ― o povoado de Munch Cen­tral ― onde, nos exteriores de uma capela local, Nessarose distribuía prêmios para o perfeito comparecimento às aulas de educação religiosa. A tempestade fez desabar uma casa em sua cabeça.

Todas as crianças sobreviveram para rezar pela alma de Nessarose no ofício em louvor à sua memória. O perfeito comparecimento nunca fora mais perfeito.

Houve um grande número de piadas sobre o desastre, naturalmente. “Você não pode se esquivar ao destino”, alguém disse, “aquela casa tinha seu nome gravado nele.” “Aquela Nessarose, ela estava fazendo um sermão tão bom sobre lições religiosas, que a casa realmente veio abaixo!” “Todo mundo precisa crescer e deixar o lar algum dia, mas às vezes O LAR NÃO GOSTA DA IDÉIA,” “Que diferença há entre uma estrela e uma casa cadente?” “Uma que seja propícia satisfaz desejos e concede delícias, outra que seja viciosa esmaga bruxas horrorosas.” “O que é grande, grosso, faz a terra se mover, e quer se aproximar de você?” “Eu não sei, mas você pode me apresentar?”

Um redemoinho de tais proporções nunca fora visto em Oz. Vários grupos terroristas reivindicaram a autoria, especialmente quando chegaram notícias de que a Malvada Bruxa do Leste ― também conhecida como Emi­nente Thropp, dependendo da filiação política de cada um ― havia sido traga­da. A princípio, nem todos entenderam que a casa tinha passageiros. A mera presença de uma casa de padrão exótico, despencando quase intacta sobre o palanque armado para os dignitários visitantes, era o bastante para aumentar a credulidade. Que criaturas humanas pudessem haver sobrevivido a uma tal queda ou era patentemente inacreditável ou era clara prova da mão do Deus Inominável no acontecimento. Previsivelmente, surgiram algumas pessoas cegas que de repente gritaram: “Eu posso ver!”. Um Porco aleijado que ficou em pé e dançou uma jiga, apenas para ser piedosamente levado embora ― essa espécie de coisa. A garota desconhecida ― ela se chamava Dorothy ― foi, em virtude de sua sobrevivência, elevada ao posto de santidade viva. O cão foi considerado apenas importuno.

2
Quando a notícia da morte prematura de Nessarose chegou a Kiamo Ko por pombo-correio, a Bruxa estava profundamente envolvida com uma cirurgia de espécies, costurando as asas de um Pássaro Roca macho de crista branca num músculo traseiro de uma de suas atuais crias da prole de macacos da neve. Ela tinha mais ou menos aperfeiçoado o procedimento, após anos de fracassos desajeitados e hediondos, quando a morte por misericórdia parecia a única coisa justa a fazer à criatura que deles fora objeto. Os velhos livros de escola de ciências da vida, do curso do Doutor Nikidik, pertencentes a Fiyero, deram-lhe algumas orientações. O Livro das Sombras também fora de ajuda, se é que ela o estava lendo corretamente: ela descobrira feitiços que tinham a finalidade de convencer os nervos axiais a pensar em direção ao céu e não em direção às árvores. E, assim que conseguiu acertar, os macacos de asas pareceram ficar bem felizes com seu quinhão. Era coisa ainda por ser vista uma macaca da nova população gerar um bebê dotado de asas, mas ela conservava as suas esperanças.

Seguramente, os bichos aprenderam melhor a voar que a usar a lingua­gem. Chistérico, agora um patriarca no zoológico do castelo, estacionara nas palavras de uma sílaba, e ainda parecia não ter uma idéia clara do que estava dizendo.

Foi Chistérico, na verdade, quem levou a carta trazida pelo pombo à sala de cirurgia de Elphaba. A Bruxa o teve ao lado, segurando o cortador de folhas, enquanto virava a página. A breve mensagem de Shell falava a respeito do tornado e a informava da cerimônia em honra à memória da irmã, que fora programada para várias semanas mais tarde na esperança de que ela recebesse a mensagem a tempo de comparecer.

Ela pôs a mensagem de lado e voltou ao trabalho, expulsando de sua mente a aflição e o remorso. Era um trabalho cheio de manhas, a anexação de asas, e o sedativo que ela ministrara a este macaco não duraria a manhã toda. “Chistérico, é hora de ajudar a Babá a descer as escadas, e encontrar Liir se você puder, e dizer a ele que precisamos conversar na hora do almoço”, ela disse, rangendo os dentes, olhando de novo para seus próprios diagramas para se assegurar de que arrumara corretamente, da frente para trás, a superposi­ção dos grupos musculares.

Agora, era uma proeza quando a Babá conseguia chegar à sala de jantar uma vez ao dia. “Este é meu trabalho, isto e dormir, e a Babá faz os dois muito bem”, ela dizia todo meio-dia ao chegar, faminta devido aos esforços que tinha de fazer nas escadas. Liir trazia o queijo e o pão e o ocasional acompanhamen­to frio, que os três cortavam e mordiscavam, em geral de um modo insociável, antes de se atirarem às suas tarefas vespertinas.

Liir estava com quatorze anos, e insistiu que queria ir com a Bruxa para Solos de Colwen. “Eu nunca fui a lugar nenhum, exceto aquela vez com os soldados”, ele se queixou. “Você nunca me deixa fazer nada.”

“Alguém tem de ficar e tomar conta da Babá”, disse a Bruxa. “Não vai resolver nada a gente discutir isso agora.”

“Chistérico pode cuidar dela.”

“Chistérico não pode. Ele está ficando esquecido, e ele com a Babá seria o mesmo que botar fogo na casa e derrubá-la. Não, não há mais nada a dis­cutir, Liir; você não vai. Além disso, eu vou viajar em minha vassoura, acho, para chegar a tempo.”

“Você nunca me deixa fazer nada.”

“Você pode fazer a faxina.”

“Você sabe o que eu quero dizer.”

“Do que ele está reclamando agora, meu doce?”, perguntou a Babá em voz alta.

“De nada”, disse a Bruxa.

“O que é isso que você está dizendo?”

“Nada.”

“Você não vai contar para ela?”, disse Liir. “Ela ajudou a criar a Nessa­rose, não ajudou?”



“Ela é velha demais, ela não precisa saber. Ela tem oitenta e cinco anos, isso só vai perturbá-la.”

“Babá”, disse Liir, “Nessinha morreu.”

“Cale-se, moleque inútil, antes que eu arranque seus testículos com meu pé.”

“Nessinha fez o quê?”, berrou a Babá, com os olhos úmidos a fitá-los.

“Mesmo morreu morta”, entoou Chistérico.

“Fez o quê?”

“Nessinha MORREU”, disse Liir.

A Babá começou a chorar com a idéia mesmo antes de confirmá-la. “Isso pode ser verdade, Elfinha? Sua irmã está morta?”

“Liir, você vai me pagar por esta”, disse a Bruxa. “Sim, Bá, não posso mentir para você. Houve uma tempestade e um prédio desmoronou. Ela se foi placidamente, dizem.”

“Ela foi direto para o seio de Lurlina”, disse a Babá, soluçando. “A car­ruagem de ouro de Lurlina veio para levá-la de volta para casa.” Ela deu uma palmadinha no pedaço de queijo de seu prato, inexplicavelmente. Depois, passou manteiga num guardanapo e deu uma mordida. “Quando partiremos para o funeral?”

“Você é velha demais para viajar, querida. Eu parto dentro de alguns dias. Liir vai ficar e cuidar de você.

“Não vou, não”, disse Liir.

“Ele é um bom menino”, disse a Babá, “mas não tão bom quanto Nes­sarose. Oh, dia miserável! Liir, eu vou tomar meu chá no meu quarto, eu não posso ficar aqui e conversar com vocês como se nada tivesse acontecido.” Ela ergueu-se com dificuldade, apoiando-se na cabeça de Chistérico. (O macaco era devotado a ela.) “Você sabe, querida”, ela disse à Bruxa, ‘Eu não acho que o menino tenha idade suficiente para perceber as minhas necessidades. E se o castelo for atacado novamente? Lembre-se o que aconteceu da última vez que você viajou.” Ela fez uma pequena careta acusadora.

“Bá, a milícia arjiki guarda este lugar dia e noite. O exército do Mágico está bem alojado na cidade de Moinho de Vento Vermelho lá embaixo. Eles não têm intenção de deixar aquele porto seguro e arriscar a aniquilação nesses desfiladeiros ― não depois do que fizeram. Aquela foi a escaramuça, aquela foi a missão deles. Agora, são apenas cães de vigia. Há auxiliares no posto da fronteira para informar se há sinais de invasão ou problema com os clãs das montanhas. Você sabe disso. Não há nada a temer.”

“Sou velha demais para ser levada em correntes como a pobre Sarima e a sua família”, a Babá disse. “E como você poderia me resgatar, se você não pôde trazê-los de volta?”

“Eu ainda estou trabalhando nisso’, disse a Bruxa no ouvido esquerdo da Babá.

“Sete anos. Você é muito teimosa. Minha opinião é que eles estão viran­do pó num túmulo só, nesses sete longos anos. Liir, você tem de dar graças a Lurline por não ter ficado com eles.”

“Eu tentei resgatá-los”, disse o obstinado Liir, que havia reescrito a fuga em sua própria mente para dar a si mesmo um papel mais heróico nela. Não era a saudade da companhia dos soldados, ele dizia a si mesmo, não, era o corajoso esforço de tentar salvar a família! Na verdade, o Comandante Pe­dra Cereja, com sua amabilidade, mantivera Liir amarrado e o deixara num saco no estábulo de alguém, para evitar que o tivessem de encarcerar com os outros. O Comandante não havia percebido que Liir era o filho bastardo de Fiyero, já que nem o próprio Liir sabia disso.

“Sim, bem, esse é um bom menino.” A Babá estava agora esquecida das tristes notícias, voltando a sua atenção para a tragédia que ela lembrava mais visceralmente. “Claro que fiz tudo que pude, mas a Babá era uma mulher idosa já naquela época. Elfinha, você acha que eles estão mortos?”

“Eu não descobri nada”, disse a Bruxa pela décima-milésima vez. “Se foram seqüestrados e levados para a Cidade Esmeralda ou se foram assassi­nados. Não consegui apurar. Você sabe disso, Bá. Subornei gente. Espionei. Contratei agentes para seguir toda a rota. Escrevi para a Princesa Nastoya dos Scrows para ouvir um conselho. Passei um ano seguindo toda pista falsa que surgiu. Você sabe disso. Não me torture com a lembrança de meu fracasso.”

“Foi fracasso meu, tenho certeza”, disse a Babá pacificamente; eles todos sabiam que ela não pensava assim em momento algum. “Eu devia ser mais jovem e vigorosa. Eu teria dito àquele Comandante Pedra Cereja o que eu pensava! E agora Sarima desapareceu, desapareceu, e suas irmãs também. Suponho que não seja falha nossa, realmente”, ela concluiu menos engenho­samente, lançando um olhar severo sobre a Bruxa. “Você tinha um lugar para ir, portanto, foi; quem pode criticar você por isso?”

Mas a imagem de Sarima acorrentada, Sarima como um cadáver em decomposição, ainda negando à Bruxa o perdão pela morte de Fiyero ― era tão dolorida quanto a água para ela. “Sai pra lá, velha megera”, disse a Bru­xá, “minha própria família deve me fustigar desse jeito? Vá tomar seu chá, demônio.”

A Bruxa se sentou, enfim, e pensou em Nessarose, e no que estava por vir. Ela tentara ficar alheia aos negócios do mundo político, mas sabia que uma mudança de liderança na terra de Munchkin poderia desequilibrar as coisas ― talvez até com resultado positivo. Sentia uma culposa leviandade em relação à morte da irmã.

Fez uma lista de coisas a levar para a cerimônia de louvor à memória de Nessarose. A primeira delas era uma página do Livro das Sombras. Em seu quarto, estudou cuidadosamente o enorme tomo mofado, e finalmente arrancou dele uma página especialmente misteriosa. Suas letras ainda con­tinuavam a se contorcer sob seus olhos, por vezes se misturando e se remis­turando, como se fossem formadas por uma colônia de formigas. Toda vez que ela olhava para o livro, emergia de uma página um sentido que no dia anterior havia sido não mais que ilegíveis ciscadas de galinha; e por vezes o sentido desaparecia assim que ela fixava os olhos. Ela indagaria seu pai, que, com seus olhos santos, enxergaria melhor a verdade.


3
Solos de Colwen estava coberta por cortinas negras e por bandeiras roxas. Quando a Bruxa chegou, foi saudada por um pouco acolhedor comitê de um homem só, um munchkinês barbudo chamado Nipp, que parecia encar­nar a um só tempo as funções de porteiro, zelador e ativo Primeiro-Ministro. “Sua linhagem não mais lhe permite quaisquer liberdades particulares na terra de Munchkin”, foi-lhe dito. “Com a morte de Nessarose, o título hono­rífico de Eminência foi enfim abolido.” A Bruxa não se importou muito, mas, por natureza, não era dada a aceitar uma sentença unilateral sem uma réplica. Ela respondeu: “Estará abolido quando eu decidir que está abolido”. Não que o honorífico fosse muito usado nos anos recentes; segundo a carta por vezes divagadora que ela recebera de Frex, Nessarose começara a se divertir com o estigma de “Maléfica Bruxa do Leste”, e o considerava uma penitência pública digna de uma pessoa com tanta elevação moral. Ela dera até mesmo para referir-se a si mesma daquela forma.


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